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10 <strong>Brasil</strong> <strong>Econômico</strong> Quarta-feira, 9 de fevereiro, 2011<br />
OPINIÃO<br />
José Sarney<br />
Presidente do Senado<br />
2010 versus 2011<br />
O clima político em 2010 foi contaminado pela disputa<br />
eleitoral, num ano em que se escolhiam presidente,<br />
governadores e parlamentares. Aplicou-se a máxima<br />
de Lenine, de que o adversário é um inimigo a destruir.<br />
Isto repercutiu sobre toda a sociedade, afetando sobretudo<br />
o trabalho no Congresso Nacional, que se afastou<br />
das grandes reformas necessárias.<br />
Mas Lula fez um governo admirável e além do que<br />
realizou internamente na área social, com distribuição<br />
de renda e melhoria de vida das classes mais pobres,<br />
elevouo<strong>Brasil</strong>aumpatamarinternacionalqueocoloca<br />
entre os mais importantes países do Ocidente, participando<br />
da formulação das políticas mundiais. Depois fez<br />
a sua sucessora, seu braço direito na administração pública<br />
ao longo de seu mandato. Assim, estamos vivendo<br />
acontinuidadesemcontinuísmoeapresidenteimprimindo,<br />
como era natural, o seu próprio estilo, marcado<br />
pela firmeza com que exerce sua autoridade.<br />
No Congresso, este ano de 2011 deve ser um ano em<br />
que as questões de fundo vão emergir para discussão,<br />
colocadas no centro das decisões. Dentre elas a prioridadeéareformapolítica,semprepostergadaenecessária<br />
para que haja melhoria no desempenho dos nossos<br />
costumes políticos.<br />
No <strong>Brasil</strong>, sempre tivemos, talvez como herança do<br />
Estado português presente em nossos hábitos desde a<br />
Colônia e muitos remanescentes até hoje, a cobrança pela<br />
melhoria dos nossos costumes políticos, que não davam<br />
legitimidade às eleições. Chegamos a ter uma reforma<br />
eleitoral, feita pelo Conselheiro Saraiva, pelos anos 1980<br />
do século 19, que todos acreditavam iria resolver de vez<br />
essa questão. Criou-se o voto distrital que permaneceu<br />
até a República, sucedido pelo voto proporcional, reminiscência<br />
dos ideais positivistas do fim do século 19, implantado<br />
sob a inspiração de Assis <strong>Brasil</strong>.<br />
O voto proporcional uninominal que temos no <strong>Brasil</strong><br />
é um modelo que praticamente desapareceu no mundo,<br />
e não é adotado em nenhum país com nossas características<br />
de extensão territorial e população. A fórmula ideal<br />
talvez seja o voto distrital misto, que reúne o sistema de<br />
distritos majoritários com o voto em listas partidárias,<br />
atendendo às necessidades de representatividade e<br />
construção de partidos fortes, programáticos.<br />
Outro problema que temos de atacar,<br />
saindo do sonho para o feijão, é a<br />
infraestrutura brasileira de portos,<br />
aeroportos e estradas<br />
Outro problema que temos de atacar, saindo do sonho<br />
para o feijão, é a infraestrutura brasileira de portos, aeroportos,<br />
estradas, todos afogados pelo nosso crescimento<br />
econômicoeanecessidade de escoar a produção, não só<br />
para o consumo interno, como para a selva da disputa do<br />
mercado internacional, onde já somos presença importante,<br />
sobretudo na exportação de produtos agrícolas e<br />
minérios. Temos que dar atenção especial a nossas ferrovias,<br />
como já tive oportunidade de escrever aqui.<br />
Não podemos esquecer o trinômio educação, saúde e<br />
segurança, os problemas que mais preocupam os brasileiros,<br />
em que temos um atraso grave, que afeta diretamente<br />
o nosso futuro. Contabilizamos termos saído<br />
bemdacriseeconômicaeareduçãodapobreza.Coma<br />
segurança da presidente, vamos buscar soluções brasileiras<br />
e avançar no caminho aberto por Lula. ■<br />
Roberto Jefferson<br />
Presidente do PTB<br />
Reforma política já!<br />
No período de transição do regime militar para a democracia<br />
e durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte,<br />
era comum que as dificuldades e torpezas da vida<br />
política fossem atribuídas à falta de experiência. Era difícil<br />
encontrar quem discordasse. Afinal, é pura verdade que a<br />
história republicana foi marcada por rupturas institucionais,<br />
irregularidade nas eleições e vida partidária frágil.<br />
A República Velha era tudo, menos democrática. O<br />
sistema político instaurado após a redemocratização de<br />
1945 não durou 20 anos e foi demolido e soterrado pelas<br />
duas décadas de governos militares com a política em liberdade<br />
condicional, quando muito. A atual Constituição,<br />
com seus 22 anos, ultrapassou a marca simbólica da<br />
maioridade e já é mais que evidente que não será com o<br />
andar da carreta que se arranjarão as abóboras políticas.<br />
Tampouco o será com um “freio de arrumação”.<br />
O sistema político eleitoral brasileiro é, atualmente, o<br />
que há de mais arcaico e ineficaz de todas as dimensões<br />
da vida nacional. Temos uma economia dinâmica, uma<br />
cultura rica, uma ciência e uma tecnologia que merecem<br />
reconhecimento internacional e uma população cada<br />
vez mais consciente de seus direitos e deveres, composta<br />
por pessoas que exercem sua cidadania. O <strong>Brasil</strong> deixou<br />
deoscilarentreocenáriodautopiaeopalcodafarsa.<br />
Quando defendo a urgência<br />
de uma reforma política profunda,<br />
nãoofaçocomofrancoatirador<br />
Nosso sistema político eleitoral, entretanto, é pior do<br />
que lamentável. É um tremendo estorvo, um corpo em<br />
acelerado processo de necrose que não pode mais ser<br />
tratado com band-aid, analgésico e homeopatia. É preciso<br />
uma intervenção cirúrgica. Não daquelas praticadas<br />
em hospitais de campanha a base de amputações<br />
sem anestesia, mas à semelhança dos excelentes hospitais<br />
e médicos com que contamos, ainda que infelizmente<br />
sem a abrangência necessária.<br />
Estamos no início do ano legislativo, de um novo governo<br />
e de uma nova legislatura. Volta-se a falar em reforma<br />
política e o cidadão que acompanha o noticiário,<br />
quando se dá ao trabalho de ouvir a íntegra das reportagens<br />
a respeito, dificilmente tem outra reação que a de<br />
desdém. Isso tem que mudar e tem que mudar já.<br />
Quando defendo a urgência de uma reforma política<br />
profunda, não o faço como um franco atirador, um crítico<br />
distante dos parlamentares e dos partidos, mas como<br />
alguém que fez da política a sua vida. Faço-o como um<br />
dos que tem o dever – e a honra – de assumir essa responsabilidade<br />
perante seus conterrâneos. A inércia não<br />
levará a nada, enquanto a colocação dos interesses particulares<br />
como medida e justificativa para endossar ou<br />
recusar propostas de mudanças em relação a questões<br />
como financiamento público de campanhas e posse de<br />
suplentes, para citar apenas dois, conduz ao pior dos<br />
mundos políticos, com o qual já flertamos em demasia.<br />
É preciso entender que, no tocante à reforma política,<br />
jánãoháespaçoparaadistinçãoentreinteressescoletivos,<br />
de grupos ou pessoais. Hoje, aquele que pensa que<br />
tem a ganhar no varejo está condenado a perder no atacado<br />
porque não fazer uma reforma política profunda já<br />
nãoéumaquestãodedar-seaoluxooudepagarum<br />
preço elevado. Ela é indispensável para que tenhamos<br />
instituições dignas dos brasileiros e para que não venhamosatersaudadesdomensalão.<br />
■<br />
Ciro Dias Reis<br />
Presidente da Associação<br />
<strong>Brasil</strong>eira das Agências<br />
de Comunicação (Abracom)<br />
Oolhodofuracão<br />
No <strong>Brasil</strong>, o verbo prevenir é conjugado menos do<br />
que seria desejável, inclusive no meio empresarial.<br />
As políticas corporativas capazes de integrar a leitura<br />
crítica de cenários, a identificação de riscos<br />
potenciais e o uso de sistemas de prevenção e gestão<br />
de crises não ocupam o topo da agenda da maioria<br />
dos executivos em posição de liderança nas grandes<br />
<strong>empresas</strong>. Frequentemente, o olhar do board está<br />
tão voltado para as metas de vendas, aumento da<br />
participação de mercado e retorno aos acionistas<br />
que outros tópicos não focados em performance<br />
acabam relegados a um segundo plano.<br />
Uma pesquisa mostra que as crises corporativas no<br />
<strong>Brasil</strong> somaram 397 ocorrências em 2007, subiram<br />
para 402 em 2008, alcançaram 502 em 2009 e caíram<br />
para 353 ocorrências em 2010. Uma análise cuidadosa<br />
mostra que pelo menos dois terços desses casos poderiam<br />
ter sido evitados ou ter seus impactos negativos<br />
diminuídos se as <strong>empresas</strong> tivessem à sua disposição<br />
mecanismos estruturados para prevenir situações limite<br />
e/ou lidar com seus efeitos negativos.<br />
O economista Nouriel Roubini foi um dos poucos<br />
que se arriscaram a prever uma terrível turbulência<br />
no sistema financeiro internacional nos<br />
longínquos anos de 2006 e 2007. Para ele, seu mérito<br />
consistiu em montar um quebra-cabeças cujas<br />
peças estavam disponíveis para quem quisesse ver<br />
e tivesse paciência de encaixar.<br />
Um dos principais gurus corporativos da atualidade,<br />
Jim Collins afirma que as <strong>empresas</strong> “feitas<br />
para vencer” não se concentram apenas no que fazer<br />
para alcançar excelência, mas também no que<br />
não fazer e no que parar de fazer.<br />
Esperar que a crise comece é abrir<br />
mão da responsabilidade de líder.<br />
Engana-se a liderança que se<br />
considera capaz de improvisar ou<br />
construir uma estratégia quando<br />
o olho do furacão já está próximo<br />
Crises podem ser evitadas se os radares corporativos<br />
estiverem regulados para captar e/ou repelir a<br />
aproximação de fator ou conjunto de fatores indesejáveis.<br />
A inclusão de tal atitude pró-ativa e protetora<br />
entre as prioridades dos executivos permite<br />
queotemapermeieaempresaesetransformeem<br />
ativo da cultura interna. Esse estado de alerta garante<br />
simultaneamente monitoramento de ameaças<br />
e identificação de novas oportunidades.<br />
Empresas que enfrentam situações indesejáveis<br />
ao sabor do improviso raramente obtêm os melhores<br />
resultados na defesa dos seus relacionamentos,<br />
seus negócios, sua imagem e reputação. Peter<br />
Drucker, referência do universo corporativo até<br />
sua morte em 2006, dizia: “A tarefa mais importante<br />
do líder de uma organização é se antecipar às<br />
crises. Talvez não para evitá-las, mas a fim de estar<br />
de prontidão para encará-las e transpô-las.<br />
Esperar até que a crise comece é abrir mão da responsabilidade<br />
de líder”.<br />
Engana-se a liderança que se considera capaz<br />
de improvisar ou construir uma estratégia quando<br />
o olho de furacão já está próximo. ■