Sendo assim, a Teoria em espiral de Swanwick (Swanwick, 1988, apud Fernandes, 1998), por está de acordo com o próprio desenvolvimento infantil pode ser abordado também sob a perspectiva da <strong>psicomotricidade</strong> que pode contribuir justamente com sua fundamentação prática a partir da intervenção direta no desenvolvimento das capacidades psicomotoras da criança seja por meio da terapia ou da atividade escolar. Ou seja, trazer da experiência dos psicomotricistas a habilidade de ajudar a criança no seu próprio processo de desenvolvimento <strong>musical</strong>. Como Cabral descreve, há na cena psicomotora um verdadeiro diálogo, uma inter-relação estruturante entre o sujeito, visto em si mesmo e não apenas enquanto sintoma, e o psicomotricista que busca observar, decodificar e intervir nas produções corporais e lúdicas de seu paciente (Cabral, 2001, p. 20, grifos do original). O psicomotricista ajuda o aluno ou paciente a superar as etapas do próprio desenvolvimento corporal e psíquico. O educador <strong>musical</strong> da mesma forma pode pensar em não simplesmente ensinar música, mas em ajudar o aluno a superar as etapas do desenvolvimento <strong>musical</strong> sem deixar também de observar o desenvolvimento global, pois muitos impasses no desenvolvimento <strong>musical</strong> podem estar ligados a questões mais amplas do desenvolvimento do sujeito como todo. Desta forma o educador <strong>musical</strong> pode estar mais preparado também para lidar com a heterogeneidade de uma sala de aula. Mais preparado para uma educação <strong>musical</strong> inclusiva, que respeita o tempo de cada aluno. Da mesma forma que a <strong>psicomotricidade</strong> considera a expressividade da criança sob a perspectiva sensório-motora. O educador <strong>musical</strong> pode também considerar a expressividade <strong>musical</strong> (entendendo que a expressividade é a única forma de termos acesso ao pensamento da criança) sob esta perspectiva, pois como afirma Sánchez, a prática psicomotora é dirigida à criança porque nela se encontra a plenitude da expressividade motora, nela ocorre a união entre estrutura motora, afetiva e as possibilidades cognitivas. Isso significa que a criança, através da ação (sensóriomotora) (...) explora o mundo do espaço, dos objetos e das pessoas. Dessa forma, podemos afirmar que a carga emocional que acompanha sua ação está diretamente relacionada com sua atividade mais profunda, ou seja, com sua história afetiva e com seu inconsciente. Por essa via, manifesta também tudo o que estava reprimido em sua consciência, o que viveu com relação ao desprazer e a frustração. Essa maneira original de ser, de estar no mundo, constitui a noção de expressividade motora, que pode ser considerada como um discurso composto de significante e significado (Sánchez, 2003, p. 73, grifos do original). 24
A relação entre <strong>psicomotricidade</strong> e música está tanto na forma de apreensão como de expressão. Música enquanto arte e <strong>psicomotricidade</strong> enquanto entendimento da unidade mente e corpo no desenvolvimento humano. A criança apreende o conhecimento <strong>musical</strong> e se expressa <strong>musical</strong>mente de forma única, externalizando o seu pensamento e construindo uma identidade artística frente ao mundo em que vive. 25