elas por elas- agosto 2009_Elas por elas revista - ive minas
elas por elas- agosto 2009_Elas por elas revista - ive minas
elas por elas- agosto 2009_Elas por elas revista - ive minas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
desde 1974 na região do Araguaia. Para a pedagoga<br />
Valéria Costa Couto, irmã de Walkíria, é fundamental<br />
que a verdade venha à tona, com a abertura de<br />
arquivos do período da ditadura (1964-1985) e da<br />
guerrilha do Araguaia, conforme reivindicam os<br />
familiares dos mortos e desaparecidos no período.<br />
Na ditadura militar , as mulheres t<strong>ive</strong>ram um<br />
im<strong>por</strong>tante papel na luta armada, participaram de<br />
organizações que organizaram sequestros de diplomatas<br />
e assaltos a banco. Est<strong>ive</strong>ram em papéis de<br />
liderança ou em ações quase invisíveis, apoiando<br />
familiares e amigos presos, tirando os perseguidos do<br />
país e salvando suas vidas. Para não serem presas<br />
como subversivas, as militantes viviam na<br />
clandestinidade com nomes falsos. Jô Morais, hoje<br />
deputada federal, foi uma d<strong>elas</strong>. Ela conta que já<br />
utilizou os nomes “Josideméia”, “Joana” e “Maria<br />
José”. “Acrescentei ‘Jô’ ao meu nome Maria do<br />
Socorro <strong>por</strong>que era o outro pedaço da minha vida,<br />
quando fiquei escondida no meu país <strong>por</strong> dez anos.<br />
Mais do que lutadora pela anistia fui beneficiária dela”.<br />
Para a deputada, a anistia foi, sobretudo, uma obra<br />
das mulheres e das mães que t<strong>ive</strong>ram seus filhos<br />
condenados, presos, escondidos e mortos. “A força<br />
de uma bandeira quando é abraçada pela mulher é<br />
muito grande. Nada as detém quando <strong>elas</strong> compreendem<br />
a necessidade da mudança”, afirma.<br />
Movimento feminino pela anistia<br />
Foi entre as mulheres que surgiu um dos<br />
principais movimentos políticos brasileiros. O<br />
Movimento Feminino pela Anistia (MFP A) foi o<br />
primeiro a levantar a bandeira da anistia em plena<br />
ditadura. Idealizado <strong>por</strong> Terezinha Zerbini, mulher de<br />
general, que já havia sido presa <strong>por</strong> abrir a sua casa<br />
para “subversivos”. Seu pedido para que fossem<br />
levantados os nomes de todos os presos políticos dentro<br />
e fora do país deu início ao movimento, criado em<br />
15 de março de 1975 na cidade de São Paulo. Em<br />
função das perseguições políticas, o ato de fundação<br />
do MFPA teve de ser convocado como mesa redonda<br />
[ Capa ]<br />
sobre a mulher e a paz, no primeiro Ano Internacional<br />
da Mulher. Terezinha, como coordenadora nacional<br />
do movimento, viajou para vários estados, onde<br />
reunia mulheres a fim de ampliar os núcleos de luta<br />
pela anistia aos presos políticos e exilados.<br />
Um grupo inicial de oito mulheres redigiu o<br />
manifesto do movimento, que se tornou de conhecimento<br />
nacional. O documento diz: “Nós, mulheres<br />
brasileiras, assumimos nossas res ponsa bi -<br />
lidades de cidadãs no quadro político nacional.<br />
Através da história provamos o espírito solidário da<br />
mulher, fortalecendo aspirações de amor e justiça. Eis<br />
<strong>por</strong> que nós nos antepomos aos destinos da nação,<br />
que só cumprirá sua finalidade de paz se for concedida<br />
anistia ampla e geral a todos aqueles que foram<br />
atingidos pelos atos de exceção. Conclamamos todas<br />
as mulheres no sentido de se unirem a esse<br />
movimento, procurando o apoio de todos que se<br />
identifiquem com a ideia da necessidade de anistia,<br />
tendo em vista um dos objetivos nacionais: a união<br />
da nação”.<br />
Magda Neves, hoje professora do Programa de<br />
Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC Minas, foi<br />
uma das fundadoras do Movimento Pela Anistia em<br />
Minas, em 1976, juntamente com outras mulheres<br />
como Zélia Rogêdo, Eleonora Menicucci, Efigênia de<br />
Ol<strong>ive</strong>ira, Ângela Pezutti, que se tornou vicepresidente,<br />
e D. Helena Greco, eleita presidente do<br />
movimento em Minas. <strong>Elas</strong> divulgaram os primeiros<br />
documentos de denúncia sobre a tortura no Brasil.<br />
No trabalho de ajuda aos presos políticos, buscavam<br />
o apoio de autoridades, arriscando suas vidas.<br />
Inicialmente, reuniam-se, em sua maioria, mulheres<br />
da classe média; depois o movimento foi agregando<br />
pessoas de vários segmentos da sociedade, chegando<br />
a reunir cerca de 300 mulheres no Estado.<br />
No início, os padres cediam as sacristias para as<br />
reuniões, depois <strong>elas</strong> chegaram a ter uma sala na igreja<br />
do Carlos Prates. Magda conta que, numa reunião<br />
realizada no Colégio Santo Antônio, o Dops chegou<br />
lá dizendo que ia verificar a denúncia de uma bomba,<br />
e o pânico foi geral. A reunião teve que ser transferida<br />
para o DCE da UFMG, de onde todos seguiram em<br />
32 ELAS POR ELAS - AGOSTO DE <strong>2009</strong>