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elas por elas- agosto 2009_Elas por elas revista - ive minas

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ase em conceitos conservadores, com raras exceções,<br />

enfocando a mulher-mãe ou a antiga e atual<br />

imagem da mulher-objeto. Imagens criadas ao longo<br />

da história da civilização ocidental de dependência<br />

da mulher, da submissão ao homem.<br />

Mesmo quando a mídia busca avançar ao falar<br />

da mulher, o padrão utilizado é o mesmo: a mulher<br />

branca, magra, bela, jovem e sensual. A socióloga<br />

cita o livro Backlash (“Recuo” em <strong>por</strong>tuguês),<br />

bastante atual, de autoria da jornalista americana<br />

Susan Faludi, que discute o “contra-ataque<br />

organizado dos meios de comunicação de massa e<br />

de determinadas instituições, na década de 1980, ao<br />

pensamento feminista e à determinação das mulheres<br />

na luta pela igualdade de direitos no trabalho,<br />

na política, no lar e na sexualidade”. Ela mostra<br />

vários efeitos do que considera “uma campanha da<br />

mídia contra a mulher”.<br />

Mônica Bara concorda com Faludi na interpretação<br />

de que há uma tentativa de esvaziar , de<br />

banalizar ou ainda penalizar as mulheres p<strong>elas</strong><br />

conquistas advindas da luta feminista. A abordagem<br />

de temas em <strong>revista</strong>s femininas, como, <strong>por</strong> exemplo,<br />

jornadas duplas ou triplas de trabalho fora e dentro<br />

de casa, as separações cada vez mais comuns; as<br />

exigências do mercado de trabalho, o retorno de<br />

algumas mulheres ao lar , seriam tentativas de<br />

redirecionamento do pensamento feminista e da<br />

ação dos movimentos de mulheres. “Em alguns<br />

momentos, a mídia elabora um discurso de que os<br />

pequenos avanços trouxeram mais sobrecarga para<br />

as mulheres”, diz a socióloga. O que a autora<br />

denuncia é que a mídia utiliza uma “pseudociência”<br />

para, no final das contas, dizer para a mulher que<br />

essa revolução custa muito caro. Nesses momentos<br />

ressurgem os chavões muito cultuados: filho de mulher<br />

que trabalha fora de casa sofre mais que<br />

aqueles que estão no colo da mãe, dentro de casa;<br />

mulheres separadas, nem se fala! Coitadas! Se<br />

esfolam para garantir o sustento da casa e dos filhos.<br />

“São modelos muito rígidos e conservadores de representar<br />

a mulher e nossas questões. A impressão<br />

que passa é que chegamos onde chegamos, mas não<br />

teríamos muitas saídas. O que não é verdadeiro.<br />

Muito ainda está <strong>por</strong> ser feito para a emancipação<br />

da mulher”, conclui Mônica Bara.<br />

Preconceito e discriminação racial<br />

Quando se trata da mulher negra a situação é<br />

ainda mais grave, afirma Benilda Regina de Brito,<br />

militante do Coletivo de Mulheres Negras – N´Zinga<br />

e gestora de Educação Municipal, na região Norte<br />

de Belo Horizonte. Ela observa que não se sente representada<br />

da forma como as mulheres são interpretadas<br />

pela mídia. Para Benilda Regina, prevalece<br />

“uma herança cultural machista que prioriza o<br />

com<strong>por</strong>tamento masculino com a subserviência do<br />

feminino”. Esta herança é reproduzida em todos os<br />

aspectos da sociedade, em que é forte um<br />

imaginário coletivo preconceituoso. A mulher em<br />

ascensão é ainda um estereótipo congelado de uma<br />

figura que tem um padrão aceitável na mídia. Entretanto,<br />

Benilda Regina acredita que as ações<br />

afirmativas vêm forçando alterações. Na teledramaturgia<br />

e comerciais, <strong>por</strong> exemplo, há a<br />

exigência de cota de participação de negros. Benilda<br />

de Brito observa que as desigualdades ainda são<br />

muito grandes, e o capitalismo avança mais que as<br />

políticas públicas, na absorção dessas mudanças, em<br />

uma lógica de reserva de mercado.<br />

Os estereótipos, o padrão congelado da mulher<br />

branca, bem-sucedida, magra, malhada, eterna -<br />

mente jovem, impedem, de acordo com Benilda de<br />

Brito, a visibilidade da mulher . Ela cita o exemplo<br />

do senso comum, o de que a mulher é “ruim de<br />

roda”, quando as estatísticas apontam que o número<br />

de acidentes provocados <strong>por</strong> mulheres é menor em<br />

relação aos causados <strong>por</strong> homens. Otimista, Benilda<br />

de Brito acredita que, diante da força das ações<br />

afirmativas, em que o lema é “não somos todos<br />

iguais”, o mercado vai ter que ceder . As escolas<br />

municipais, em Belo horizonte, de acordo com<br />

Benilda Regina, têm buscado tratar essas questões<br />

em sala de aula. Mas ainda é muito comum o choque<br />

com os preconceitos, e esta é a dificuldade dos<br />

educadores acredita que é um círculo virtuoso que<br />

ELAS POR ELAS - AGOSTO DE <strong>2009</strong> 41

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