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Lara Adrian - CloudMe

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Veil of Midnight<br />

Midnight Breed 05<br />

Disponibilização: Oscuro y Seductor<br />

Envio/Tradução/Formatação: Gisa<br />

Revisão Inicial: Sandra Maia<br />

Revisão Final: Gisa<br />

Logo e Arte: Suzana Pandora<br />

Tiamat - World<br />

Unidos pelo sangue, viciados no perigo, eles entraram no mais sombrio e<br />

– e no mais erótico — lugar de todos.<br />

Uma guerreira treinada com balas e lâminas, Renata não pode ser superada por nenhum<br />

homem, seja vampiro ou mortal. Mas sua arma mais poderosa é sua extraordinária capacidade<br />

psíquica — um presente tão inaudito como mortal. Agora, um desconhecido ameaça sua<br />

independência duramente ganha, um vampiro com cabelos dourados que a atrai a um reino de<br />

escuridão… e de prazer além de sua imaginação.<br />

Um viciado na adrenalina que gosta do combate, Nikolai executa sua própria justiça aos<br />

inimigos da Raça — e seu último objetivo é um assassino desumano. Uma mulher se interpõe em<br />

seu caminho: a sedutora, fria como o gelo guarda-costas, Renata. Mas os poderes de Renata são<br />

postos a prova quando um ser querido, uma criança, é ameaçada e ela é obrigada a recorrer a<br />

Niko em busca de ajuda. Quando os dois unem suas forças, o desejo abana sobre as chamas<br />

formando uma fome mais profunda. A vida de Renata se encontra sitiada por um homem que<br />

oferece o prazer mais delicioso dado por um vinculo de sangue – e uma paixão que poderia<br />

salvar ou acabar com o destino de ambos para sempre…<br />

Formatada: Inglês (Estados Unidos)<br />

Formatada: Inglês (Estados Unidos)


Tiamat World<br />

Capítulo 1<br />

2<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

No cenário do cavernoso clube de jazz sob o nível da rua de Montreal, uma cantora de lábios<br />

vermelhos arrastava as palavras no microfone sobre a crueldade do amor. Embora sua sedutora<br />

voz era o suficiente encantada, as letras falando sangue, dor e prazer claramente eram sinceras,<br />

mas Nikolai não estava escutando. Perguntava-se se ela sabia que alguma das dúzias de humanos<br />

agrupados no íntimo clube desconfiavam que estavam compartilhando o espaço com vampiros.<br />

As duas jovens que tomavam martinis rose na esquina escura dos tamboretes com toda<br />

segurança não sabiam.<br />

Estavam cercadas por quatro indivíduos, um grupo de homens alcoolizados vestidos de<br />

motoqueiros com quem estava conversando – sem muito êxito— e tentando atuar como se seus<br />

olhos sedentos de sangue não tivessem estado permanentemente fixados sobre as jugulares das<br />

mulheres durante os últimos quinze minutos. Mesmo estando claro que os vampiros estavam<br />

negociando forte para que as humanas saíssem do clube com eles, eles não estavam obtendo<br />

muito progresso com seus respectivos anfitriões de sangue.<br />

Nikolai riu baixo.<br />

Aficionados.<br />

Pagou a cerveja que tinha deixado intacta no bar e se dirigiu facilmente para a mesa do<br />

canto. Enquanto se aproximava, olhou às duas humanas escapulindo-se do balcão com pernas<br />

trementes. Rindo, foram para o banheiro juntas, desaparecendo por um tênue corredor<br />

abarrotado de gente que chegava à sala principal.<br />

Nikolai se se sentou à mesa de forma negligente.<br />

—Boa tarde, senhoras.<br />

Os quatro vampiros o olharam fixamente em silêncio, instantaneamente reconhecendo os<br />

de sua própria espécie. Niko elevou uma das taças de Martini com uma mancha de batom até seu<br />

nariz e farejou os sedimentos com sabor de fruta. Estremeceu-se, empurrando a asquerosa bebida<br />

de lado.<br />

—Humanos—, disse em voz baixa. —Como podem beber essa porcaria?<br />

Um cauteloso silêncio caiu sobre a mesa enquanto o olhar de Nikolai viajava entre os<br />

obviamente jovens, civis da Raça. O maior dos quatro esclareceu sua garganta enquanto olhava<br />

Niko, seus instintos não duvidaram ao captar que Niko não era dali, e era um longínquo lamento<br />

do civilizado.<br />

A juventude adotava algo que eles provavelmente pensavam que era um olhar perseguido e<br />

moviam seu queixo para o corredor onde estavam os banheiros.<br />

—Nós as vimos primeiro— murmurou ele. —As mulheres. Nós as vimos primeiro.<br />

Ele esclareceu sua garganta de novo, enquanto esperava que seu trio de homens<br />

retrocedesse. Nenhum o fez.


Tiamat World<br />

3<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Nós chegamos aqui primeiro. Quando as mulheres voltem para a mesa, vão embora<br />

conosco.<br />

Nikolai riu ante a tremente tentativa do jovem por reclamar seu território.<br />

—De verdade acredita que haveria algum concurso se eu estivesse aqui para caçar seu jogo?<br />

Relaxe. Não me interessa isso. Estou procurando informação.<br />

Ele havia passado por um dramalhão similar duas vezes já esta noite em outros clubes,<br />

procurando os lugares onde os membros da Raça tendiam a reunir-se e caçar sangue, procurando<br />

alguém que pudesse lhe assinalar um vampiro mais velho chamado Sergei Yakut.<br />

Não era fácil encontrar alguém que não queria ser encontrado, especialmente um homem<br />

reservado e nômade como Yakut. Estava em Montreal, disso estava muito seguro Nikolai. Tinha<br />

falado com o vampiro recluso por telefone algumas semanas antes, quando o tinha rastreado para<br />

informar de uma ameaça que parecia dirigida a um dos membros mais raros e mais poderosos da<br />

Raça – os vinte indivíduos ainda em existência tinham nascido da primeira geração.<br />

Alguém se estava centrando na extinção dos Gen Um. Vários haviam sido dados como<br />

mortos durante o mês passado, e para Niko e seus irmãos voltar para Boston – um pequeno<br />

quadro de guerreiros altamente preparados e altamente letais conhecidos como a Ordem — o<br />

assunto de erradicar e enclausurar os assassinos dos Gen Um era uma missão crítica. Por isso, a<br />

Ordem tinha decidido contatar todos os Gen Um conhecidos que ficavam entre a população da<br />

Raça e conseguir sua cooperação.<br />

Sergei Yakut tinha sido menos entusiasta com o fato de estar comprometido. Não temia<br />

ninguém e tinha seu próprio clã para lhe proteger. Tinha declinado o convite da Ordem para vir a<br />

Boston e conversar, assim Nikolai tinha sido enviado a Montreal para lhe persuadir. Uma vez que<br />

Yakut fora consciente do alcance da atual ameaça – a estupefata verdade de que a Ordem e toda a<br />

Raça estavam em contra — Nikolai estava seguro de que o Gen Um estaria disposto a ajudá-los.<br />

Primeiro tinha que encontrar ao cauteloso filho da puta.<br />

Até o momento as averiguações ao redor da cidade não tinham dado em nada. A paciência<br />

não era exatamente seu forte, mas tinha toda a noite e seguiria investigando. Mais cedo ou mais<br />

tarde, alguém poderia lhe dar a resposta que estava procurando. E se ele seguisse atuando de<br />

forma seca, talvez se fizesse suficientes pergunta, Sergei Yakut viria lhe procurar.<br />

—Preciso encontrar alguém—, disse Nikolai aos quatro jovens da raça. —Um vampiro de<br />

fora da Rússia. Da Sibéria, para ser exato.<br />

—De onde é?— perguntou o líder do grupo. Ele havia evidentemente captado o ligeiro<br />

timbre de um acento que Nikolai não tinha perdido durante os longos anos que tinha estado<br />

vivendo nos Estados Unidos com a Ordem.<br />

Niko deixou que seus olhos cor azul glacial falassem de suas próprias origens.<br />

—Conhece esse homem?<br />

—Não. Não o conheço.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Duas cabeças mais se agitaram em imediata negativa, mas o último dos quatro, o anti—<br />

social que estava com os ombros caídos no balcão, disparou um ansioso olhar a Nikolai do outro<br />

lado da mesa.<br />

Niko captou esse olhar falador e o manteve.<br />

—E você? Alguma idéia do que estou falando?<br />

A princípio, não pensava que o vampiro fosse responder. Os olhos de serpente sustentavam<br />

os seus em silêncio, depois, finalmente, o menino ascendeu um ombro encolhido nos braços e<br />

exalou uma maldição.<br />

—Sergei Yakut,— murmurou.<br />

O nome foi apenas audível, mas Nikolai o ouviu. E da periferia de sua visão, percebeu uma<br />

mulher de cabelo cor mogno sentada no bar perto deles também. Podia ver tudo sobre ela, desde<br />

a súbita rigidez de sua espinha dorsal até debaixo de seu top negro de mangas longas e da<br />

maneira em que sua cabeça se partia brevemente a um lado enquanto chegavam empurrados ali<br />

pelo poder desse simples nome.<br />

—Conhece-o?— perguntou Nikolai ao varão da Raça, enquanto mantinha os olhos na<br />

morena do bar.<br />

—Conheço, isso é tudo. Ele não vive nos Darkhaven—, disse o jovem, referindo-se às<br />

comunidades com segurança que albergavam à maioria das populações civilizadas da Raça por<br />

todo Norte da América e Europa. —O cara é desagradável pelo que ouvi.<br />

Sim era, Nikolai admitiu para si.<br />

—Alguma idéia de onde poderia lhe encontrar?<br />

—Não.<br />

—Está certo disso?— perguntou Niko, olhando enquanto a mulher do bar se deslizava de<br />

seu tamborete e se preparava para partir. Ela ainda tinha mais de meio coquetel em sua taça, mas<br />

com a mera menção do nome de Yakut, parecia ter pressa subitamente por sair do lugar.<br />

O jovem da Raça agitou sua cabeça.<br />

—Não sei onde encontrar o cara. Não sabemos por que ninguém estaria disposto a procurálo,<br />

a menos que tenha vontade de morrer.<br />

Nikolai olhou por cima de seu ombro enquanto a alta morena começava a dirigir-se através<br />

da multidão reunida perto do bar. Por impulso, ela se voltou para olhá-lo então, seus olhos de cor<br />

verde jade apareceram sob a franja de seu cabelo negro e o brilho de seu magro e agitado queixo.<br />

Havia uma nota de medo em seus olhos enquanto lhe devolvia o olhar fixamente, um medo nu<br />

que ela nem sequer tentava ocultar.<br />

—Estarei condenado— murmurou Niko.<br />

Ela sabia algo de Sergei Yakut.<br />

Algo mais que só um conhecimento passageiro, ele estava supondo. Esse olhar assustado e<br />

cheio de pânico enquanto ela girava e procurava uma saída dizia tudo.<br />

Nikolai foi atrás dela. Ele abriu caminho através da confusão de humanos que enchiam o<br />

clube, seus olhos seguiam o sedoso e negro cabelo de sua presa. A mulher era rápida como uma


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

frota 1 e ágil como uma gazela, suas roupas e cabelo escuros lhe permitiam virtualmente<br />

desaparecer pelos arredores.<br />

Mas Niko era da Raça, e não existia humano que pudesse deixar para trás um de sua Estirpe.<br />

Ela evitou a porta do clube e fez um giro rápido para a rua exterior. Nikolai a seguiu. Ela deve ter<br />

lhe sentido logo atrás porque olhou ao redor para avaliar sua perseguição e esses pálidos olhos<br />

verdes se fecharam sobre os seus como lasers.<br />

Ela corria mais rápido agora, dobrando a esquina no final da rua. Dois segundos mais tarde,<br />

Niko estava ali também. Sorriu enquanto a avistava alguns metros diante dele. O beco em que ela<br />

entrou entre dois altos edifícios de tijolos era estreito e escuro — um fim letal se fechou por um<br />

contêiner de metal pontudo e uma cerca de uns três metros de altura.<br />

A mulher girou-se sobre os saltos de suas botas negras, ofegando forte, seus olhos curtidos<br />

sobre ele, olhando cada um de seus movimentos.<br />

Nikolai deu poucos passos para o mal iluminado beco, depois parou, suas mãos se<br />

sustentaram benevolamente a seu lado.<br />

—Está bem—, disse-lhe. —Não precisa correr. Só quero falar contigo.<br />

Ela o olhou em silêncio.<br />

—Quero te perguntar sobre Sergei Yakut.<br />

Ela engoliu em seco visivelmente, seu doce estômago flexionando-se.<br />

—Conhece-o, não?<br />

O extremo de sua boca se arqueou somente uma fração, mas suficiente para lhe dizer que<br />

tinha razão —ela estava familiarizada com o recruta Gen Um. Agora se poderia guiar Niko até ele<br />

era outro assunto. Justo agora, ela era sua melhor, possivelmente sua única, esperança.<br />

—Me conte onde está. Preciso lhe encontrar.<br />

Tinha as mãos apoiadas nos quadris, como punhos. Seus pés estavam abraçados<br />

ligeiramente como se ela estivesse preparada para sair correndo. Niko viu seu olhar sutilmente<br />

para uma maltratada porta a sua esquerda.<br />

Ela gritou.<br />

Niko vaiou uma maldição e voou atrás dela com toda a velocidade que tinha. No momento<br />

que ela abriu a porta sobre os rangidos das dobradiças, Nikolai estava em frente a ela na soleira,<br />

bloqueando seu passo para a escuridão do outro lado. Ele riu com facilidade.<br />

—Disse que não há necessidade de correr— falou ele, dando de ombros ligeiramente<br />

enquanto ela retrocedia um passo atrás se afastando. Deixou que a porta se fechasse detrás dele<br />

enquanto seguia seu lento retrocesso para o beco.<br />

Jesus, ela estava impressionante. Ele só tinha conseguido vislumbrá-la no clube, mas agora,<br />

estando a alguns metros dela, deu-se conta que ela era absolutamente sensacional. Alta e magra,<br />

esbelta sob sua roupa negra, com uma irrepreensível pele branca como o leite e luminosos olhos<br />

com forma de amêndoa. Sua cara com forma de coração era uma combinação cativante de<br />

1 Uma frota ou armada é um grande agrupamento de navios de guerra sob o comando de um oficial general.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

fortaleza e suavidade, sua beleza igualava partes claras e obscuras. Nikolai sabia que estava<br />

ofegando, mas maldita seja se podia evitá-lo.<br />

—Me fale— disse ele. —Me diga seu nome.<br />

Ele estendeu o braço para ela, um movimento fácil e nada ameaçador de sua mão. Sentiu<br />

uma sacudida de adrenalina que se disparou em sua corrente sanguínea — pôde cheirar o<br />

penetrante aroma azedo no ar, de fato— mas não viu a patada circular vindo até que tomou o<br />

afiado salto de sua bota de cheio em seu peito.<br />

Maldita seja.<br />

Ele caiu para trás, mais surpreso que desacordado.<br />

Era todo o tempo que ela necessitava. A mulher saltou pela porta de novo, esta vez<br />

conseguindo desaparecer no escuro edifício antes que Niko pudesse dar a volta e pará-la. Ele a<br />

perseguiu, amaldiçoando detrás dela.<br />

O lugar estava vazio, muito concreto vazio sob seus pés, tijolos nus e vigas expostas ao<br />

redor. Um pouco de sentido fugaz de premonição lhe ardeu na nuca enquanto corria entrando<br />

mais na escuridão, mas toda sua atenção estava centrada na mulher que permanecia no centro do<br />

espaço vazio. Ela o olhou em expectativa enquanto ele se aproximava, cada músculo de seu magro<br />

corpo parecia tenso, preparado para atacar.<br />

Nikolai sustentava esse afiado olhar enquanto se colocava em frente dela.<br />

—Não vou te fazer mal.<br />

—Eu sei. Ela sorriu, marcando uma ligeira curva em seus lábios. —Não terá essa<br />

oportunidade.<br />

Sua voz era brandamente aveludada, mas o brilho de seus olhos era de um matiz frio.<br />

Sem avisar, Niko sentiu uma súbita tensão que fez pedacinhos sua cabeça. Um som de alta<br />

freqüência explodiu em seus ouvidos, mais alto do que podia suportar. Depois mais alto até.<br />

Sentiu como suas pernas cediam. Caiu de joelhos, sua visão nadando enquanto sua cabeça se<br />

sentia a ponto de explodir.<br />

A distância, registrou o som de botas chegando — vários pares, pertencentes a homens,<br />

todos vampiros. Vozes apagadas zumbiam sobre ele enquanto sofria um repentino e extenuante<br />

ataque em sua mente.<br />

Era uma armadilha.<br />

A puta o tinha guiado ali deliberadamente, sabendo que ele a seguiria.<br />

—Suficiente, Renata— disse um dos vampiros da raça que tinha entrado no lugar. —Pode<br />

liberá-lo agora.<br />

Algo da dor de cabeça de Nikolai parou à ordem. Ele elevou os olhos a tempo de ver o bonito<br />

rosto de seu atacante lhe olhando onde ele permanecia perto de seus pés.<br />

—Lhe tirem as armas— disse ela a seus companheiros. —Precisamos tirá-lo daqui antes que<br />

recupere as forças.<br />

Nikolai cuspiu umas quantas maldições, mas sua voz se afogou em sua garganta, e ela já<br />

estava caminhando longe, as magras pontas de seus saltos clicando no chão do frio concreto<br />

debaixo dele.


Tiamat World<br />

Capítulo 2<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Renata não podia sair da adega o suficientemente rápido. Seu estômago se revolveu. Um<br />

frio suor apareceu ao longo de sua testa e na parte posterior de seu pescoço. Ela ansiava o ar<br />

fresco da noite, como seu último fôlego, mas ela manteve um passo longo constante e forte. Os<br />

punhos apertados sustentados rigidamente ao seu lado eram os únicos indícios de que ela não<br />

estava nada tranqüila.<br />

Sempre era assim para ela, uma das conseqüências de usar o poder paralisante de sua<br />

mente.<br />

Fora agora, a sós no beco, ela tragou rapidamente bastante ar. A pureza do oxigênio<br />

refrescou sua garganta ardente, mas isso era tudo o que ela podia fazer para não dobrar-se com o<br />

aumento da dor que percorria como um rio de fogo através de seus membros e no centro de seu<br />

ser.<br />

—Maldita seja!—, murmurou na escuridão, balançando-se um pouco sobre a altura de seus<br />

saltos. Tomando mais algumas respirações profundas, ela cravou os olhos no pavimento negro<br />

que estava sob seus pés e se concentrou simplesmente para manter-se em pé.<br />

Detrás dela chegaram passos rápidos, pesados, de pés calçados que já se encontravam fora<br />

do armazém. O som atraiu sua cabeça bruscamente. Forçando um olhar de apatia tranqüila sobre<br />

a tensão ardente de sua cara.<br />

—Tomem cuidado com ele—, disse ela, dando uma olhada ao amplo vulto frouxo, do macho<br />

inconsciente que ela tinha deixado incapacitado, e que estava sendo transportado agora como um<br />

simples brinquedo pelos quatro guardas que trabalhavam com ela. —Onde estão suas armas?<br />

—Seguras—. Uma mala de couro preta veio voando para ela com apenas um prévio aviso,<br />

lançada por Alexei, o líder designado para esta noite. Ela não perdeu o sorriso satisfeito em seu<br />

rosto magro quando a lona repleta de metal se estrelou contra seu peito. O impacto foi como<br />

milhares de pregos em sua sensível pele e músculos, mas ela agarrou a bolsa e abriu o zíper para<br />

cima ao longo de seu ombro sem pronunciar sequer um grunhido de moléstia.<br />

Mas Lex sabia. Sabia de sua debilidade, e ele nunca a deixava esquecê-la. A diferença dela,<br />

Alexei e seus outros companheiros eram vampiros da Raça, todos eles. Assim como o era seu<br />

cativo, Renata não tinha nenhuma dúvida. Ela tinha suspeitado primeiro quando o tinha visto no<br />

clube, uma suspeita confirmada pelo simples fato de que ela pôde incapacitá-lo com sua mente.<br />

Sua capacidade psíquica era formidável, mas não sem suas limitações. Esta só influía nos da raça; o<br />

humano mas simples com as células do cérebro que eles tinham não se viam afetados pela<br />

explosão de alta freqüência que ela era capaz de projetar mentalmente com a concentração de<br />

um momento.<br />

Ela era um ser humano, nascida ligeiramente diferente às ações básicas do Homo sapiens.<br />

Mas para o Lex e sua espécie, ela era conhecida como uma companheira de raça, uma de um


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

pequeno número de mulheres humanas que nasciam com habilidades únicas extra-sensoriais e a<br />

capacidade ainda mais rara de reproduzir-se com êxito com aqueles dos da raça. Para as mulheres<br />

como Renata, a ingestão de sangue da raça sempre proporcionava uma força maior. E a<br />

longevidade também. Uma companheira de raça podia viver durante alguns longos séculos<br />

enquanto se alimentasse regularmente das veias de um vampiro.<br />

Até dois anos, Renata não tinha idéia de por que era diferente dos outros, ou aonde ela<br />

poderia pertencer. Cruzar o caminho de Sergei Yakut a tinha levado rapidamente ao<br />

conhecimento. Ele era a razão para que ela, Lex e todos os outros estivessem de guarda esta noite,<br />

rondando a cidade e procurando o indivíduo que tinha estado perguntando nos arredores pelo<br />

solitário Yakut.<br />

O macho da Raça encontrado pela Renata no clube de jazz tinha sido tão descuidado com<br />

suas perguntas em toda a noite, que ela tinha que perguntar-se se estava tratando de provocar o<br />

Sergei Yakut para que chegasse a ele. Se fosse assim, o cara era um idiota ou suicida, ou alguma<br />

combinação de ambos. Teria a resposta a sua pergunta muito em breve.<br />

Renata pegou seu telefone celular do bolso, abriu-o, e marcou com velocidade o primeiro<br />

número que estava armazenado na agenda.<br />

—Sujeito recuperado—, ela anunciou quando a chamada conectou. Ela deu sua localização,<br />

logo desligou a comunicação do telefone fechando-o e o jogou longe. Deu uma olhada para onde<br />

estava Alexei e os outros guardas que se detiveram com seu cativo inconsciente e disse:<br />

—O carro está a caminho. Deveria estar aqui em aproximadamente dois minutos.<br />

—Deixem cair este saco de merda—, ordenou Lex a seus homens. Todos eles soltaram o<br />

macho da Raça, e seu corpo golpeou o asfalto com um ruído tremendo. Com as mãos nos quadris,<br />

e com os punhos que emolduravam por um lado sua pistola embainhada e pela outra uma faca<br />

grande de caça que se encontravam embainhados em seu cinturão, Lex olhou atentamente para<br />

baixo à cara do vampiro inconsciente a seus pés. Ele soltou um fôlego agudo, de desaprovação, e<br />

logo cuspiu, esbarrando por pouco sobre a manga da lâmina afiada que tinha por baixo. O branco<br />

espumoso de sua saliva aterrissou com um molhado som no pavimento, não a mais de uma<br />

polegada de distância da cabeça loira do homem.<br />

Quando Alexei os olhou de novo, havia um brilho duro em seus olhos escuros.<br />

—Talvez deveríamos matá-lo.<br />

Um dos guardas riu entre dentes, mas Renata sabia que Lex não estava brincando.<br />

—Sergio disse que o levássemos.<br />

Alexei se mofou.<br />

—E dar a seus inimigos outra oportunidade para tomar sua cabeça?<br />

—Não sabemos se este homem teve algo a ver com o ataque.<br />

—Podemos estar seguros que ele não o fez?— Alexei voltou a olhar fixamente sem<br />

pestanejar a Renata.<br />

—De agora em diante, não confio em ninguém. Eu pensei que você não daria nenhuma<br />

possibilidade de arriscar sua segurança como eu.<br />

—Eu sigo suas ordens—, respondeu ela. —Sergio disse que encontrássemos quem estava na


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

cidade pedindo informações a respeito dele e o levássemos para interrogá-lo. Isso é o que me<br />

proponho a fazer.<br />

Os olhos de Lex se estreitaram como lâminas debaixo de suas sobrancelhas de cor marrom<br />

intensa.<br />

—Bem—, ele disse, com voz muito tranqüila, muito calma. —Você tem razão, Renata. Temos<br />

nossas ordens.—Vamos levá-lo, como você diz. Mas, o que vamos fazer enquanto esperamos que<br />

chegue o transporte?<br />

Renata o observou, perguntando-se aonde se dirigia agora. Lex passeava ao redor do macho<br />

da Raça que estava inconsciente e lhe deu um chute com a bota nas costelas que estavam<br />

desprotegidas. Não houve reação alguma. Só a dilatação suave e a queda do peito do macho<br />

quando este respirava.<br />

Alexei desnudou os lábios para trás e sorriu abertamente, movendo seu queixo para os<br />

outros homens.<br />

—Minhas botas estão sujas. Talvez esta bagagem inútil os limpe enquanto nós esperamos,<br />

hã?<br />

No calor das gargalhadas de seus companheiros, Lex levantou um de seus pés e o deixou<br />

voar sobre a cara inerte de seu cativo.<br />

—Lex— Renata começou, sabendo que não a ouviria se ela tratava de persuadi-lo e<br />

convencê-lo para que se detivera. Mas foi nesse preciso momento que ela notou algo estranho no<br />

macho loiro, que se encontrava caído no chão. Sua respiração era estável e pouco profunda, seus<br />

membros se encontravam imóveis, mas seu rosto… ele o sustentava muito bem, inclusive se<br />

realmente estava inconsciente. Mas ele não o estava.<br />

Em uma fração de segundo de claridade, Renata se deu conta, sem a menor duvida de que<br />

ele se encontrava muito acordado e consciente. Muito consciente de tudo o que estava<br />

acontecendo.<br />

Oh, Cristo!<br />

Alexei pôs-se a rir entre dentes agora, enquanto baixava a perna e começava a transladar a<br />

sola grossa da bota para baixo sobre a cara do macho.<br />

—Lex, espera! Ele não está…<br />

Nada do que ela pôde haver dito teria trocado a explosão que resultou de todo esse caos.<br />

Lex ainda estava em movimento quando o macho levantou as mãos e o agarrou pelo<br />

tornozelo. O segurou com força, enviando Lex voando e gritando em agonia para o chão que<br />

estava próximo. Não passou um segundo antes que o homem estivesse em pé, fluido e forte,<br />

como nada que Renata tivesse visto alguma vez antes em algum guerreiro.<br />

E merda Santa— ele tinha a pistola de Lex.<br />

Renata deixou cair a mala incomodamente e tentou buscar sua própria arma, uma 45 mm<br />

que estava oculta em uma capa em suas costas. Seus dedos se encontravam ainda endurecidos<br />

por seu esforço mental antes empregado, e um dos outros guardas respondeu antes que ela<br />

pudesse liberar sua arma. Ele disparou uma rajada precipitada, perdendo seu objetivo que se<br />

encontrava a menos de um metro.


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E mais rápido que qualquer deles pudessem supor, o que antes era seu cativo lhes devolveu<br />

o fogo, pondo uma bala diretamente na frente do crânio do guarda. Um dos guarda-costas se<br />

encolheu sobre suas mãos, um dos que mais tempo tinham servido ao Sergei Yakut caiu sobre o<br />

pavimento em um monte sem vida.<br />

OH, Jesus, pensou Renata com uma preocupação que aumentava, vendo que a situação se<br />

dirigia rapidamente ao descontrole. Poderia Alexei ter razão? Tinha sido este macho da Raça o<br />

mesmo assassino que tentou atacar aqui antes?<br />

—Quem é o próximo?— perguntou ele, com um pé plantado no centro da coluna vertebral<br />

de Lex enquanto balançava com tranqüilidade as pistolas dos outros dois guardas de Renata. —O<br />

qu0? Não há nenhum interessado agora?<br />

—Matem este filho da puta!— rugiu Lex, retorcendo-se como um inseto apanhado sob a<br />

sola da bota pesada que o aprisionava dominando-o. Com sua bochecha esmagada contra o chão,<br />

suas presas emergindo pela raiva, Lex lançou um olhar brilhante para Renata e seus homens. —<br />

Façam voar a cabeça dele longe, maldita seja!<br />

Antes que a ordem estivesse totalmente fora da boca de Alexis, puxaram ele até deixá-lo em<br />

pé. Gritou quando seu peso caiu sobre o tornozelo lesado, mas foi a presença repentina de sua<br />

própria pistola que o acariciava detrás da orelha o que realmente fez seus olhos cor âmbar<br />

tornarem-se loucos com pânico. Seu captor, pelo contrário, estava tão tranqüilo e acalmado, como<br />

podia ser.<br />

—Oh, mãe de Deus!<br />

Simplesmente com quem demônios estavam tratando eles?<br />

—Vocês o escutaram,— disse o captor de Lex. Sua voz era baixa e tranqüila, sem pressa, e<br />

com o olhar fixo que penetrava até na escuridão. Ele cravou fixamente seus olhos em Renata. —<br />

Venham aqui, se algum de vocês é o suficientemente homem. Por outro lado, se vocês não<br />

preferem ver seu cérebro salpicar toda a parede do edifício, então lhes sugiro que deixem cair<br />

suas armas. No chão, de forma tranqüila e fácil.<br />

Ao lado junto a ela no beco, Renata registrou os grunhidos baixos e ofegos dos machos de<br />

Raça transformados. Individualmente, nenhum dos vampiros era fisicamente muito mais forte que<br />

ela; como uma equipe, eles poderiam ser mais fortes que o atacante de Lex, embora nenhum<br />

deles parecesse disposto a averiguá-lo. Um suave estalo de metal semelhante ao de uma arma foi<br />

colocado com cuidado sobre o pavimento. Isto deixava então, só um guarda de segurança com ela.<br />

Um segundo mais tarde, ele entregou sua arma também. Ambos os vampiros se retiraram alguns<br />

passos lentamente, rendendo-se no silêncio cauteloso.<br />

E agora, Renata ficava sozinha frente a esta ameaça inesperada.<br />

Ele lhe dedicou um meio sorriso por reconhecimento, mostrando os dentes e as pontas de<br />

suas presas emergentes. Se encontrava furioso; essas largas presas eram prova suficiente disso.<br />

Como era a luz ambarina que começava a preencher seus olhos, eles começavam a transformar-se<br />

com seus característicos traços da raça. Seu sorriso se alargou, fazendo aparecer covinhas duplas<br />

debaixo de suas maçãs do rosto afiadas como uma navalha.<br />

—Parece que depende de ti e de mim, querida. Eu não vou pedir mais cortesmente por


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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

muito que me faça esperar. Ponha sua maldita arma no chão ou terá restos dele.<br />

Renata rapidamente considerou suas opções — as poucas que ela tinha nesse momento. Seu<br />

corpo ainda seguia estando tão cru como um nervo exposto, as réplicas de seu esforço mental<br />

ainda a estavam maltratando, golpeando-a para baixo. Ela poderia tentar outro assalto a sua<br />

mente, mas sabia que estava operando e atuando sobre as fumaças. Inclusive se ela o golpeasse<br />

com tudo o que tinha, não seria capaz de incapacitá-lo outra vez, e uma vez que ela estivesse<br />

esgotada por essa tentativa, não séria de alguma utilidade para ninguém.<br />

Sua outra única opção era um risco de igual magnitude. Normalmente ela era uma águia<br />

disparando, com reflexos rápidos e precisos de um franco-atirador, mas não podia contar com<br />

nenhuma de suas habilidades quando necessitava a maior parte de sua atenção só para mover<br />

seus membros e comandar seus dedos para trabalhar. Não importava o que ela fizesse, agora<br />

mesmo considerava as probabilidades escassas para que Alexei pudesse sair disto em uma só<br />

peça. Demônios, as possibilidades dela ou de alguém mais que não se afastasse desta situação<br />

eram de ver-se nulas.<br />

Este macho da raça sustentava todas as cartas, e olhar em seus olhos quando ele a<br />

observava, esperava por ela para decidir seu futuro, parecendo dizer que ele estava muito<br />

cômodo em sua posição de poder. Ele tinha Renata, Lex, e o resto deles justo onde ele os queria.<br />

Mas ela estaria condenada se se rendesse sem lutar.<br />

Renata respirou fundo para reunir sua determinação, então puxou sua arma e apontou para<br />

o peito dele. Seus braços gritaram pelo esforço que levou para fazê-lo e ficar estável, mas ela<br />

absorveu a dor, e a empurrou de lado.<br />

Ela puxou o seguro da arma.<br />

—Solta-o. Agora.<br />

O canhão da arma de Lex se manteve no lugar, apertado detrás da orelha dele.<br />

—Você não acredita de verdade que estamos negociando aqui, não é? Joga-a-sua-arma.<br />

Renata tinha um tiro limpo, mas ele também. E ele tinha a vantagem acrescentada da<br />

velocidade sobre-humana. Ele podia ser capaz de esquivar seu disparo já que facilmente o veria<br />

aproximar-se. Havia uma fração de segundo de atraso entre as rodadas do carregador, inclusive<br />

em seu melhor momento. Isto significava uma grande oportunidade para ele para abrir fogo,<br />

assim, se ele decidia dar um tiro em Lex antes ou depois de que ela atirasse. Em outro segundo,<br />

todos eles podiam estar comendo bala. Este homem era da Raça, com seu acelerado metabolismo<br />

e seu poder de cura, ele mantinha uma oportunidade decente de sobreviver mesmo com os<br />

disparos, mas e ela? Ela ficava observando e certamente iria morrer. —Você tem um problema<br />

comigo em concreto, ou é ele que realmente quer me ver morto esta noite? Talvez só odeia algo<br />

que tenha um membro. É isso?<br />

Embora ele manteve seu objetivo focado, seu tom era leve, como se ele estivesse jogando só<br />

com ela. Não a estava tomando a sério absolutamente. Seu tom era arrogante. Não lhe<br />

respondeu, simplesmente puxou o gatilho da pistola para trás e apoiou seu dedo indicador<br />

ligeiramente no gatilho.<br />

—Deixa-o ir. Não queremos nenhum problema contigo.


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Muito tarde para isso, não te parece? Tudo o que você observa é um problema agora.<br />

Renata não se alterou. Ela nem sequer se atreveu a piscar por medo que este homem<br />

pudesse tomar como uma debilidade e decidisse atuar.<br />

Lex tremia agora, o suor corria por seu rosto.<br />

—Renata—, disse ele com voz entrecortada, mas se ele queria dizer que se retirasse ou que<br />

fizesse seu melhor movimento, ela não estava segura. —Pelo amor de Deus Renata… diabos…<br />

Ela tinha um objetivo estável no captor de Alexei, seus cotovelos completamente fechados,<br />

ambas as mãos agarrando sua arma. Uma brisa ligeira de verão começou a levantar-se, e a rajada<br />

suave de ar passou por sua pele hipersensível, como fragmentos irregulares de cristal. Na distância<br />

ela podia escutar a música pop e a explosão de foguetes do final do festival que havia esse fim de<br />

semana, as silenciosas explosões que vibravam como trovões em seus ossos doloridos. O barulho<br />

do tráfego e as freadas na rua fora do beco, os motores dos veículos que lançavam uma<br />

repugnante mistura de gases do escapamento, de borracha quente, e a queima de óleo.<br />

—Quanto tempo deseja alargar isto, querida? Porque tenho que dizer, a paciência não é<br />

uma de minhas virtudes. —Seu tom era casual, mas a ameaça não podia ter sido mas evidente. Ele<br />

atraiu o gatilho da pistola de novo, preparado para levar a noite a seu final sangrento. —Me dê<br />

uma boa razão para que não encha este cérebro de idiota com chumbo.<br />

—Porque ele é meu filho.— A voz masculina mais baixa veio de trás do beco. As palavras<br />

careciam de emoção, mas inquietavam e eram sinistras em sua cadência e densamente<br />

acentuadas com a áspera lima da fria pátria siberiana de Sergei Yakut.<br />

Capítulo 3<br />

Nikolai agitou sua cabeça e olhou Sergei Yakut aproximar-se do estreito beco. O vampiro<br />

Gen Um passava pela frente de seus dois ansiosos guarda-costas, seu direto e imutável olhar se<br />

moveu casualmente desde Niko até o macho da Raça que ainda sustentava com uma pistola. Com<br />

um assentimento de reconhecimento, Niko pôs o seguro da pistola de novo e lentamente baixou a<br />

arma. Logo que afrouxou o braço, o filho de Yakut lançou uma maldição e se afastou de seu<br />

alcance.<br />

—Insolente bastardo— grunhiu ele, todo veneno e fúria agora que permanecia a uma<br />

distância segura. —Eu disse a Renata que este cão era uma ameaça, mas ela não me escuta. Me<br />

deixe matá-lo, pai. Me deixe machucá-lo.<br />

Yakut ignorou o pedido de seu filho e sua presença, em vez de tomar-lhe em silêncio onde<br />

Nikolai permanecia esperando de pé.<br />

—Sergei Yakut— disse Niko, girando a descarregada pistola e oferecendo-lhe com um gesto<br />

pacífico. —Muitas maneiras de bem vinda tem aqui. Minhas desculpas por tomar um de seus<br />

homens. Não me deu escolha.


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Yakut meramente grunhiu enquanto tomava a pistola e estendia ao guarda mais próximo a<br />

ele. Vestido com uma camisa de algodão e desgastadas calças de couro, que pareciam couro cru,<br />

seu cabelo castanho claro e a barba selvagem e enorme, Sergei Yakut tinha o aspecto de um<br />

ardiloso guerreiro feudal, séculos fora de seu tempo.<br />

Então, de novo, apesar de sua cara sem rugas e lista e musculosa compleição, nada mostrava<br />

que estava próximo dos quarenta ao menos, só os grossos dermaglifos de macho da Raça<br />

marcando seus nus braços lhe deram uma indicação de que Yakut era um membro velho da Raça.<br />

Como Gen Um, podia ter mil anos ou mais.<br />

—Guerreiro,— disse Yakut com maus olhos, seu olhar inquebrável, lasers gêmeos se<br />

fechando no objetivo. —Te disse que não viesse. Você e o resto da Ordem estão perdendo tempo.<br />

Em sua visão periférica, Niko captou a troca de olhares de surpresa que viajaram entre o<br />

filho de Yakut e o resto de seus guardas. A mulher especialmente — Renata, chamava-se —<br />

parecia completamente surpreendida de ouvir que era um guerreiro, um da Ordem. Tão<br />

rapidamente como a surpresa fez aparição em seu Olhar, desvaneceu-se, sumiu como se tivesse<br />

imaginado a emoção em seu rosto. Ela estava placidamente calma agora, enquanto estava de pé a<br />

poucos metros trás de Sergei Yakut e o olhava, sua arma ainda na mão, sua postura precavida e<br />

preparada para qualquer ordem.<br />

—Necessitamos sua ajuda— disse Nikolai a Yakut. —E nos apoiando em que vai estar perto<br />

de nós entre Boston e algum lugar com população da Raça, vais necessitar nossa ajuda também. O<br />

perigo é muito real. Muito letal. Sua vida está em perigo, inclusive agora.<br />

—O que sabe sobre isso?— grunhiu o filho de Yakut ao Niko. —Como demônios pode saber<br />

algo sobre isso? Não dissemos nada a ninguém sobre o ataque da semana passada…<br />

—Alexei.<br />

O som de seu nome nos lábios de Yakut, seu senhor, sossegaram o jovem como se uma mão<br />

tivesse abafado sua boca.<br />

—Não fale por mim, menino. Seja útil—, disse ele, gesticulando para o vampiro que Nikolai<br />

tinha tido que matar com um disparo. —Leva o Urien para o terraço e deixe-o ali para que tome<br />

sol. Depois limpa este beco de toda evidência.<br />

Alexei olhou durante um segundo, como se a tarefa estivesse por baixo dele, mas não teve<br />

coragem de dizê-lo.<br />

—Já ouviram meu pai—, grunhiu aos outros guardas parados de pé ao redor dele. —O que<br />

estão esperando? Desfaçam desse inútil montão de lixo.<br />

Quando começaram a mover-se com a ordem de Alexei, Yakut olhou para a mulher.<br />

—Agora você, Renata. Pode me levar de volta para casa. Terminei aqui.<br />

A mensagem para Niko era clara: Ele não era convidado, bem vindo a ficar nos domínios de<br />

Yakut. E, no momento, despedido.<br />

Provavelmente a coisa mais inteligente que fazer seria contatar com Lucan e o resto da<br />

Ordem, lhes dizer que tinha dado sua melhor aposta com o Sergei Yakut, mas que tinha sido em<br />

vão, depois deixar Montreal antes que Yakut decidisse arrancar suas partes. O mau gênio do Gen<br />

Um tinha sido pior com outros por pecados menores.


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Sim, recolher e partir eram definitivamente a ação mais sábia neste ponto. Exceto pelo fato<br />

de que Nikolai não estava acostumado a não ter uma resposta, e a situação enfrentada pela<br />

Ordem como à Raça, humanos incluídos, não acabava sem dúvida logo. Estava fazendo-se mais<br />

volátil, mais catastrófica com cada segundo que passava.<br />

E então ali estava essa atitude despreocupada do Alexei sobre um recente ataque…<br />

—O que ocorreu aqui a semana passada?— perguntou Nikolai, uma vez que estiveram<br />

sozinhos no beco Yakut, Renata e ele. Sabia a resposta, mas formulou a pergunta de todos os<br />

modos. —Alguém tentou te assassinar… como avisei que ocorreria, não foi?<br />

O macho ancião da Raça olhou com o cenho franzido para Niko, seus ardilosos olhos<br />

brilhando. Niko sustentou esse olhar desafiante, vendo um idiota arrogante de longa vida que se<br />

acreditava fora do alcance da morte, mesmo quando essa chamou a sua porta há poucos dias.<br />

—Houve uma tentativa, sim. Os lábios de Yakut se curvaram em uma ligeira careta,<br />

enquanto dava de ombros. —Mas sobrevivi — tão certo como eu o faria. Vá para casa, guerreiro.<br />

Luta as batalhas da Ordem em Boston. Deixa que eu me ocupe de minhas coisas aqui.<br />

Ele coçou seu queixo olhando para Renata, e a silenciosa ordem a pôs em movimento.<br />

Enquanto suas longas pernas a levavam fora do alcance do ouvido do beco, Yakut arrastou as<br />

palavras:<br />

—Meu agradecimento pelo aviso. Se este assassino for o suficientemente idiota para atacar<br />

de novo, estarei preparado para ele.<br />

—Ele atacará de novo— respondeu Niko com total certeza. —Isto é pior do que suspeitamos<br />

no princípio. Mais dois Gen Um foram assassinados desde que falamos pela última vez. Isso eleva<br />

a conta a cinco agora — menos de vinte de sua geração ainda existem. Cinco dos mais antigos e<br />

poderosos membros da nação da Raça, morreram no espaço de um mês. Cada um aparentemente<br />

localizado e eliminado por meios peritos. Alguém os quer todos mortos, e já tem um plano em<br />

marcha para que isso ocorra.<br />

Yakut pareceu considerar, mas só por um momento. Sem outra palavra, girou e começou a<br />

afastar-se.<br />

—Há mais— acrescentou severamente Niko. —Algo que não fui capaz de te dizer quando<br />

falamos por telefone há algumas semanas. Algo que a Ordem tem descoberto oculto em uma<br />

caverna montanhosa na República Tcheca.<br />

Enquanto o ancião vampiro continuava lhe ignorando, Niko exalou em voz baixa uma<br />

maldição.<br />

—Achamos uma câmara de hibernação, uma muito antiga. Uma cripta onde um dos mais<br />

poderosos de nossa espécie tinha estado guardado em segredo durante séculos. A câmara tinha<br />

sido feita para proteger um Antigo.<br />

Finalmente Niko teve sua atenção.<br />

Os passos de Yakut diminuíram, depois pararam.<br />

—Os Antigos foram assassinados na grande guerra contra a Estirpe— disse ele, recitando a<br />

história que até muito recentemente tinha sido aceita por toda a Raça como fato irrefutável.<br />

Nikolai conhecia a história da revolução tão bem como qualquer de sua espécie. Dos


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selvagens de outro mundo que haviam fecundado a primeira geração da Raça vampira na Terra,<br />

ninguém sobreviveu à batalha com o pequeno grupo de guerreiros Gen Um que tinham declarado<br />

a guerra contra seus próprios pais para a proteção tanto da Raça como dos humanos. Estes poucos<br />

e valorosos guerreiros tinham sido guiados por Lucan, que esse dia reteve seu papel como líder do<br />

que ia chegar a ser a Ordem.<br />

Yakut lentamente se virou para dar de cara com Nikolai.<br />

—Todos os Antigos foram assassinados faz setecentos anos. Cravaram uma espada em meu<br />

próprio senhor – e justamente. Se ele e seus irmãos aliens tivessem sido deixados sem restrições,<br />

teriam destruído toda a vida neste planeta em sua insaciável sede de sangue.<br />

Niko assentiu com gravidade.<br />

—Mas havia alguém mais que estava em desacordo com o decreto de que os Antigos<br />

deveriam ser destruídos: Dragos. A Ordem descobriu provas que demonstram que em vez de<br />

eliminar à criatura que o originou, Dragos lhe ajudou a ocultar-se. Ele fez um santuário para a<br />

criatura em uma zona remota das Montanhas Boêmias.<br />

—E a Ordem sabe se isto é verdade?<br />

—Encontramos a câmara e vimos a cripta. Infelizmente, estava vazia quando chegamos lá.<br />

Yakut grunhiu, considerando aquilo.<br />

—E o que há sobre Dragos?<br />

—Ele foi assassinado na Velha Guerra— mas seus descendentes vivem. Assim como sua<br />

traição. Acreditam que foi o filho de Dragos que localizou a câmara antes que nós e liberou o<br />

Antigo de seu sonho. Também suspeitamos que o filho de Dragos seja o único que está por trás<br />

dos recentes assassinatos entre os Gen Um da nação.<br />

—E o que ganha com isso?— perguntou Yakut, com os braços cruzados sobre seu peito.<br />

—Isso é o que queremos descobrir. Temos unidades de inteligência sobre ele, mas não é<br />

suficiente. Desapareceu do nada e vai ser muito difícil lhe fazer sair. Mas conseguiremos.<br />

Enquanto isso não pode permitir que ele avance com o plano que tenha em mente. Isso é pelo que<br />

a Ordem está estendendo a mão a você e ao resto dos Gen Um. Qualquer coisa que pudesse ouvir,<br />

qualquer coisa que tenha visto…<br />

—Há uma testemunha— disse Yakut, interrompendo Niko com a abrupta entrada. —Uma<br />

garota jovem, um membro de meu serviço. Ela estava ali. Ela viu o indivíduo que me atacou a<br />

semana passada. De fato, ela assustou o bastardo o suficiente para que eu pudesse escapar.<br />

A cabeça de Nikolai estava dando voltas com as inesperadas notícias. Duvidava muito que<br />

uma menina pudesse assustar um hábil e experiente assassino, mas estava suficientemente<br />

interessado para escutar mais.<br />

—Preciso falar com essa garota.<br />

Yakut assentiu vagamente, os lábios apertados enquanto elevava os olhos ao escuro céu que<br />

havia sobre sua cabeça.<br />

—Amanhecerá em poucas horas. Pode esperar a que passe a luz do dia em minha casa.<br />

Fazer suas perguntas, fazer seu trabalho para a Ordem. Então, amanhã de noite, irá embora.<br />

Na medida em que a cooperação continuasse, não era muito. Mas era mais do que tinha


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

obtido inclusive por uns poucos minutos do galo de briga vampiro Gen Um.<br />

—Está bem— respondeu Niko, enquanto se aproximava de Sergei Yakut e caminhava com<br />

ele para o sedan negro que lhes esperava parado no meio—fio.<br />

Capítulo 4<br />

Renata não tinha nem idéia do que o desconhecido loiro podia ter dito para persuadir Sergei<br />

Yakut a convidá-lo a seu refúgio que se encontrava no recinto privado ao norte da cidade.<br />

Nos anos desde que Renata se introduziu na vida como membro da guarda pessoal de Yakut,<br />

ninguém fora desse pequeno circulo de funcionários vampiros e do detalhe de sua guarda privado<br />

tinha sido permitido alguma vez nas terras do bosque isolado que estava rodeado por grades.<br />

Suspeito por natureza e solitário, cruel até o ponto da tirania, o mundo de Sergei Yakut era<br />

um de controle e desconfiança. Que Deus os ajudasse se alguém o cruzasse de qualquer forma, já<br />

que quando o punho de sua raiva golpeava, este caía lançando-se como uma bigorna 2 . Sergei<br />

Yakut tinha poucos amigos e inclusive menos inimigos, nenhum parecia sobreviver muito ao fio de<br />

sua sombra.<br />

Renata tinha chegado a conhecer o macho que ela protegia muito bem, para saber que ele<br />

não era exatamente suscetível à idéia de companhia não convidada, mas o fato de que não tivesse<br />

assassinado esse intruso — esse guerreiro — como se tinha referido a ele lá atrás no beco, faria<br />

com que merecesse ao menos um pequeno grau de respeito. Se não era pelo guerreiro em si<br />

mesmo, então era pelo grupo ao que pertencia, a Ordem.<br />

Quando ela moveu o Mercedes blindado que conduzia até a entrada da áspera casa principal<br />

construída em madeira que estava no final da longa passagem, Renata não resistiu a dar uma<br />

olhada pelo espelho retrovisor nos dois vampiros que se encontravam sentados em silencio nos<br />

bancos traseiros.<br />

Os olhos azuis claro se encontraram com o olhar fixo que estava no espelho. Ele não piscou,<br />

nem sequer quando seu olhar se estendeu além da curiosidade daquele simples desafio. Ele<br />

estava longe de estar zangado, seu ego sem dúvida ainda golpeado pelo fato de que ela o tivesse<br />

enganado no beco e conduzido a uma armadilha. Renata fingiu ignorá-lo cortesmente quando ela<br />

quebrou a pesada conexão de seu fixo olhar e conduziu o carro até deter-se diante das portas.<br />

Um dos machos da Raça que estava de guarda na entrada sob as amplas escadas veio abrir a<br />

porta traseira do carro de quatro portas. Atrás dele, a alguns passos, estava outro guarda, que<br />

tinha dois galgos russos 3 que soltou. Seus dentes imediatamente apareceram, grunhindo, os cães<br />

guardiães emitiam grandes latidos e rosnavam como selvagens até o momento em que Sergei<br />

2<br />

Muitas vezes usada em desenhos animados, como arma de tortura, ou até mesmo morte instantânea.<br />

http://saraunanet.files.wordpress.com/2008/05/yunke.jpg (imagem)<br />

3<br />

Galgos russos, ou Bórzoi – raça de cão usada antigamente na Rússia para defender-se dos lobos que infestavam as<br />

regiões mais desoladas. http://www.saudeanimal.com.br/borzoi.htm (imagem)


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17<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Yakut saiu do carro. Os animais estavam tão bem treinados assim como o resto do pessoal do<br />

vampiro: um olhar de seu mestre e eles se calaram automaticamente, um silêncio submisso, com<br />

suas grandes cabeças sustentando-se para baixo quando ele e o guerreiro entravam na casa.<br />

O guarda que estava de pé perto do carro fechou a porta traseira que tinha ficado aberta e<br />

disparou um olhar interrogativo a Renata através do cristal escuro da janela.<br />

Quem diabos é esse? Era a pergunta evidente que seu rosto expressava mas antes que ele<br />

pudesse pedir que ela baixasse a janela para interrogá-la, ela pôs em marcha o carro de quatro<br />

portas, deixando atrás só um simples rastro de fumaça.<br />

A medida que afastava o carro do caminho de cascalho e o levava ao redor da garagem que<br />

estava na parte posterior da porta de entrada, a dor e a tensão que tinha estado sentindo antes<br />

começou novamente a correr através de seu corpo. Ela estava cansada da confrontação desta<br />

noite, seus membros e mente igualmente torpes e doloridos. Tudo o que desejava era sua cama e<br />

um longo e quente banho de imersão. E não se importava qual ocorresse primeiro.<br />

Renata tinha seu próprio quarto na casa, um luxo que Yakut não dava a nenhum dos machos<br />

que lhe serviam. Inclusive Alexei dormia com os outros guardas em quartos comuns, dormindo<br />

sobre colchões de palha estendidos no chão, como se fossem uma guarnição vinda diretamente da<br />

idade Média. O quarto de Renata era ligeiramente melhor que isso: um estreito espaço o<br />

suficientemente grande só para a cama, a mesinha de noite e o baú que continha sua pobre<br />

roupa. Um banheiro acondicionado com uma banheira com pés se encontrava no corredor e o<br />

compartilhava com a única outra mulher que trabalhava para Sergei Yakut.<br />

As comodidades eram rústicas, no melhor dos casos, como era o resto dos antigos e<br />

escassos móveis no recinto. Para não mencionar um pouco revoltante.<br />

Apesar de que Yakut, uma vez lhe comentou que ele e sua família só estavam vivendo ali há<br />

uma década, o antigo pavilhão de caça estava cheio do que parecia ser meio século de peles de<br />

animais, e para completar o jogo, cabeças empalhadas. Ela tinha pensado que a decoração de —<br />

empalhamento—, tinha pertencido ao proprietário anterior, mas Yakut não parecia se importar<br />

em compartilhar sua casa com toda essa coisa doentia. De fato, parecia que ele desfrutava do<br />

caráter primitivo do lugar. Renata sabia que o vampiro siberiano era mais velho do que aparentava<br />

ser, muito, muito mais velho, como aqueles de sua Estirpe com freqüência eram. Mas não<br />

precisava ser um gênio para imaginá-lo envolto em peles e mais peles, e armaduras de aço e ferro,<br />

causando sangrentos estragos em indefesas aldeias das regiões remotas do norte da Rússia. O<br />

tempo não tinha suavizado nenhum de seus talentos, e Renata podia atestar de primeira mão a<br />

natureza letal de Yakut.<br />

Que ela tivesse que servir alguém como ele, fazia seu estomago retorcer-se com pesar. Mas<br />

ela se comprometeu a protegê-lo, a lhe ser leal, tanto em pensamento como na prática, e isso a<br />

fazia sentir-se como uma estranha em sua própria pele. Tinha suas razões para permanecer ali,<br />

sobretudo agora – que havia muito que desejava poder mudar.<br />

Tanto pelo que ainda podia lamentar…<br />

Ela apartou esses pensamentos, era muito perigoso deixá-los sair mesmo que somente fora<br />

de sua mente. Se Sergei Yakut pudesse sentir a mínima debilidade em sua lealdade para ele,


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

haveria repercussões rápidas, com graves conseqüências.<br />

Renata fechou a porta depois que entrou no quarto. Tirou os coldres de suas armas e<br />

colocou as pistolas e as adagas cuidadosamente em cima do antigo baú que se encontrava ao pé<br />

da cama. Tinha dores pelo corpo, seus músculos e ossos estavam gritando pelo uso anterior de sua<br />

mente. Seu pescoço estava tenso, cheio de nós que lhe fizeram fazer uma careta de dor quando<br />

ela tentou uma massagem para desfazê-los.<br />

Deus, ela necessitava um pouco de paz dessa dor.<br />

Um suave ruído de arranhões se escutou do outro lado da parede. Este chiado em seus<br />

ouvidos pareciam como se fossem unhas em um quadro—negro, fazendo que sua cabeça se<br />

sentisse tão sensível como um sino de cristal.<br />

—Rennie?. A voz de menina de Mira era suave, apenas um pequeno sussurro manso<br />

chegando através dos ocos da madeira. —Rennie… é você?<br />

—Sim, ratinho—, respondeu Renata. Ela foi até a cabeceira e apoiou a bochecha contra a<br />

madeira lisa da parede. —Sou eu. O que está fazendo ainda acordada?<br />

—Não sei. Não podia dormir.<br />

—Mais pesadelos?<br />

—Uh-huh. Sigo… vendo-o. Aquele homem malvado.<br />

Renata suspirou, ao ouvir a vacilação nessa admissão débil. Ela pensava no banho quente<br />

que estava a só uns poucos minutos fora de seu alcance. Dando a bem vinda a solidão que ela<br />

necessitava mais que nada em momentos como esse, onde as conseqüências de sua capacidade<br />

psíquica, — a mesma coisa que lhe tinha salvado a vida há dois anos neste remoto lugar, de terras<br />

florestadas, parecia decidida a lhe dar uma patada no traseiro.<br />

—Rennie? Escutou novamente a voz tranqüila de Mira. —Está aí?<br />

—Estou aqui.<br />

Ela imaginou a cara inocente através das uniões de madeira. Ela não tinha que ver a menina<br />

para saber que Mira provavelmente tinha estado sentada ali na escuridão todo este tempo,<br />

esperando para ouvir quando Renata voltasse, e assim não se sentisse tão sozinha. Ela tinha sido<br />

bastante sacudida os últimos dias – o que era compreensível, levando em conta o que tinha<br />

testemunhado.<br />

OH, esqueça o maldito banho, pensou Renata severamente. Engolindo a dor que passou por<br />

cima de sua pele, quando ficou de pé, se aproximou e tirou um livro do Harry Potter da gaveta de<br />

sua mesa de noite.<br />

—Ei, ratinho? Eu também não estou conseguindo dormir. E se vou aí te visitar e leio para<br />

você por um momento?<br />

O grito alegre de Mira soou apagado, como se ela teve que cobrir a boca com o travesseiro<br />

para não alarmar à família inteira com seu estouro.<br />

Apesar de sua dor e fadiga, Renata sorriu.<br />

—Vou tomar isso como um sim.<br />

* * * *


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Sergei Yakut levou Nikolai a uma sala grande e aberta que poderia ter sido uma sala para<br />

banquetes quando o antigo pavilhão de caça se encontrava em seu apogeu. Agora não havia<br />

registros de mesas ou bancos, só algumas poltronas de couro colocadas em frente a uma chaminé<br />

de pedra imponente no outro extremo da área e uma escrivaninha de madeira maciça colocada<br />

perto. As peles dos ursos, os lobos e outros depredadores mais exóticos se estendiam como<br />

tapetes no piso de tábuas de madeira. Montado sobre a pedra em cima da chaminé estava a<br />

cabeça de um alce com um enorme cabide de galhada branca como o osso, seus escuros olhos de<br />

cristal fixos em um ponto longínquo na vasta expansão da sala. Sua desejada liberdade se foi?<br />

Pensou Niko com ironia enquanto seguia Yakut às poltronas de couro junto a lareira e se sentava<br />

com o Gen Um quando este lhe fez um gesto de convite.<br />

Nikolai ociosamente deu uma olhada a seu redor, adivinhando que o albergue ao menos<br />

tinha um século de antigüidade, e foi construído para moradores humanos a princípio, embora as<br />

escassas janelas estavam atualmente equipadas com venezianas cruciais para bloquear os raios<br />

ultravioletas. Não era o tipo de lugar que alguém pudesse esperar para quem um vampiro<br />

estabelecesse como sua casa. A Raça tendia a preferir lugares mais modernos, luxuosos, vivendo<br />

em grupos familiares ou comunidades do Darkhavens chamados assim na maioria dos casos,<br />

muitos desses lugares equipados com perímetros de alarmes e cercas de segurança. Como os<br />

domicílios da raça civil estavam, do acampamento rústico de Yakut o suficientemente distantes<br />

para a boa quantidade de privacidade dos seres humanos curiosos, isso era algo menos típico.<br />

Então novamente, ele não era Sergei Yakut.<br />

—Quanto tempo estiveste em Montreal?— perguntou Nikolai.<br />

—Não muito tempo.— Yakut deu de ombros, os cotovelos apoiados nos braços da poltrona<br />

em que estava sentado com os ombros caídos. Sua postura podia ter parecido relaxada, mas seus<br />

olhos não tinham deixado de estudar Niko — fazendo uma avaliação dele, do momento em que<br />

eles se sentaram. —Pareceu—me vantajoso manter-se em movimento e não me pôr muito<br />

cômodo em qualquer lugar. Os problemas têm uma maneira de nos encontrar quando você fica<br />

mais tempo que o adequado.—<br />

Nikolai considerou o comentário, perguntando-se se Yakut falava de uma experiência<br />

pessoal ou se isso era uma espécie de advertência a seu convidado inesperado.<br />

—Conte—me sobre o ataque contra você—, disse ele, imperturbável, seja pelo olhar fixo ou<br />

pela evidente natureza suspeita do Gen um. —E terei que falar com essa testemunha também.<br />

—É obvio.—Yakut fez gestos a um de seus guardas da Raça. —Busquem a menina—. O<br />

macho alto assentiu com a cabeça em reconhecimento, logo se dirigiu à esquerda para cumprir a<br />

ordem. Yakut se inclinou para frente.—O ataque ocorreu aqui nesta sala. Eu estava sentado nesta<br />

mesma cadeira, revisando algumas de minhas contas no momento em que o guarda da frente que<br />

vigiava escutou um ruído fora do alojamento. Ele foi investigar, e voltou me dizendo que eram<br />

somente guaxinins que se esconderam em um dos abrigos dos fundos.— Yakut deu de ombros. —<br />

Isso não era incomum, por isso o enviei tirar os animais para fora. Quando passaram vários<br />

minutos e ele não voltou, soube que havia problemas. Mas então, sem dúvida, o guarda já estava


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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

morto.<br />

Nikolai assentiu com a cabeça.<br />

—E o intruso já estava dentro da casa.<br />

—Sim, já estava.<br />

—Quanto à menina, a testemunha?<br />

—Ela tinha terminado seu jantar e estava descansando aqui comigo. Estava dormindo no<br />

chão perto do fogo, mas despertou bem a tempo para ver que meu atacante de pé bem atrás de<br />

mim. Eu nem sequer pude ouvir o bastardo mover-se, ele foi tão sigiloso e rápido.<br />

—Ele era da Raça,— sugeriu Niko.<br />

Yakut assentiu com a cabeça em acordo.<br />

—Sem dúvida nenhuma, ele era da raça. Vestido como um ladrão, todo de preto, a cabeça e<br />

o rosto coberto com uma máscara de nylon, que deixava só seus olhos visíveis, mas sem dúvida<br />

nenhuma em minha mente que era de nossa Raça. Se eu tivesse que adivinhar, diria que ele<br />

inclusive poderia ter sido até um Gen Um apoiado em sua força e velocidade. Se não fosse pela<br />

menina que abriu seus olhos e gritou uma advertência, eu teria perdido a cabeça nesse instante.<br />

Ele tinha um arame enrolado diante de mim e estava detrás da cadeira. O grito de Mira chamou<br />

sua atenção durante o momento crucial, e eu fui capaz de subir minha mão e bloquear o arame<br />

antes de me cortar a garganta. Enrolei—me e antes que eu pudesse saltar sobre ele ou chamar<br />

meus guardas, escapou.<br />

—Assim tão simples, ele deu meia volta e saiu correndo?— perguntou Nikolai.<br />

—Assim, simples,— respondeu Yakut, com um lento sorriso zombador na esquina de sua<br />

boca. —Um olhar a Mira, e o covarde fugiu.<br />

Niko jurou em voz baixa.<br />

—Você é um maldito com muita sorte—, disse ele, encontrando difícil conciliar que um mero<br />

olhar de uma menina pudesse causar tal distração a um assassino altamente adestrado, perito.<br />

Simplesmente não tinha sentido.<br />

Antes que ele pudesse assinalar esse ponto a Yakut, escutaram o ruído de passos que se<br />

aproximavam do outro extremo da sala. Os que entraram em frente ao guarda que Yakut tinha<br />

enviado foram Renata e uma delicada menina desamparada. Renata havia retirado suas armas em<br />

algum lugar, mas ela andava junto à menina protetoramente, seu frio olhar fixo e cauteloso<br />

quando ela levou Mira para dentro da sala.<br />

Nikolai não podia deixar de contemplar o estranho traje da menina. O pijama de cor rosa e<br />

as pantufas de coelhinho eram inesperados, mas era o véu negro curto que cobria a parte superior<br />

de seu rosto o que lhe pareceu mais discordante.<br />

—Renata me estava lendo uma história,— falou Mira, sua voz suave com um tom de<br />

inocência brilhando que parecia tão fora de lugar no domínio cru de Yakut.<br />

—E a história é boa?— O Gen Um perguntou, uma resposta lenta que parecia dirigida mais a<br />

Renata que à menina. —Aproxime-se, Mira. Há alguém que quer te conhecer.<br />

O guarda deu um passo atrás uma vez que Mira esteve de pé ante Yakut, mas as botas de<br />

Renata se mantiveram ao lado da moça. Em primeira instância Niko se perguntou se a menina


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

seria cega, mas ela se movia sem titubear, caminhando os poucos passos restantes para onde<br />

Yakut e Nikolai estavam agora parados.<br />

A pequena cabeça se voltou para o Nikolai sem engano. Ela definitivamente estava<br />

observando-o.<br />

—Olá—, disse ela, e deu uma educada pequena inclinação de cabeça.<br />

—Olá—, respondeu Nikolai. —Ouvi o que ocorreu a outra noite. Você deve ser muito<br />

valente.— Ela deu de ombros, mas era impossível ler sua expressão quando simplesmente uma<br />

parte pequena de seu nariz e sua boca eram visíveis debaixo da dobra do revestimento dianteiro.<br />

Nikolai observou na jovem garota travessa, uma menina desamparada de —um metro de altura—<br />

que de algum jeito tinha conduzido para fora um vampiro da Raça em uma missão de matar um<br />

dos membros mais formidáveis da Estirpe. Tinha que ser uma brincadeira. Estava Yakut burlandose<br />

dele de algum jeito? O que essa menina poderia ter feito para frustrar o ataque?<br />

Nikolai contemplou Yakut, preparado para enfrentá-lo pelo que tinha que ser uma linha de<br />

pura estupidez. Não havia nenhuma forma em que o infernal ataque pudesse ter tomado, o<br />

caminho que ele havia descrito.<br />

—Tire o véu—, instruiu Yakut à garota, como se ele conhecesse a linha de pensamentos de<br />

Niko.<br />

Suas pequenas mãos chegaram até o inicio da pequena tira negra de gaze. Ela apartou o véu<br />

arrastando-o fora de seu rosto, mas parecia cuidadosa de manter seus olhos para baixo. Renata<br />

ficou muito quieta ao lado da menina, sua expressão agradável, inclusive enquanto seus dedos se<br />

apertavam em punhos do seu lado. Ela parecia estar sustentando a respiração, esperando com um<br />

ar de antecipação cautelosa.<br />

—Levanta seus olhos, Mira—, ordenou Yakut a menina, sua boca curvada em um sorriso. —<br />

Olhe a nosso convidado, e lhe mostre o que ele deseja saber.<br />

Pouco a pouco a franja de pestanas de cor marrom escuro se elevou. A menina levantou seu<br />

queixo, e inclinou a cabeça para cima e se encontrou com o olhar fixo de Niko.<br />

—Jesus Cristo—, ele disse entre dentes, apenas consciente de que falava em voz alta,<br />

quando teve seu primeiro vislumbre dos olhos de Mira.<br />

Eles eram extraordinários. As íris eram tão brancas, eles estavam tão claros, como se fossem<br />

líquidos e indecifráveis, como uma piscina de água incolor. Ou melhor, como um espelho, ele se<br />

corrigiu, olhando mais profundo neles porque não podia evitar, aproximando-se, muito mais perto<br />

por sua alarmante beleza, insólita de seu olhar fixo.<br />

Ele não sabia quanto tempo ficou olhando fixamente — não podia ter sido mais que alguns<br />

segundos, mas agora suas pupilas estavam ficando menores, encolhendo-se debaixo dos<br />

pequenos furos negros dentro do circulo infinito de cor branca prateada. A cor brilhava, ondeando<br />

como se uma brisa tivesse patinado através da superfície tranqüila.<br />

Incrível. Ele nunca tinha visto nada igual. Ele olhou atentamente mais profundo, incapaz de<br />

resistir o jogo estranho da luz em seus olhos.<br />

Quando estes se limparam, Nikolai se viu refletido ali.<br />

Ele se viu si mesmo e a alguém mais… uma mulher. Eles estavam nus, seus corpos


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

pressionados juntos, banhados em suor. Ele a estava beijando calorosamente, enterrando suas<br />

mãos nos fios lustrosos de seu escuro cabelo. Empurrando-a debaixo dele enquanto ele se<br />

afundava profundamente em seu interior. Ele se viu expondo suas presas, baixando a cabeça e<br />

colocando sua boca na curva sensível de seu pescoço.<br />

Saboreando a doçura de seu sangue quando perfurou sua pele e sua veia e começou a<br />

beber…<br />

—Santo inferno—, ele saiu do transe, arrancando seu olhar fixo de surpresa alarmante, toda<br />

– aparição — muito real. Sua voz estava áspera, sua língua grossa detrás da repentina aparição de<br />

suas presas. Seu coração pulsava a grande velocidade, e mais abaixo, seu pênis se havia posto<br />

duro como uma pedra. Que justamente tinha acontecido?<br />

Todo mundo estava olhando para ele com exceção de Renata, que parecia mais interessada<br />

em ajudar Mira a colocar o véu. Ela sussurrou algo no ouvido da menina, palavras de consolo, pelo<br />

tom suave delas. Um riso baixinho, que retumbou de Sergei Yakut, foi secundada ecoando pelas<br />

alegres risadas de satisfação dos outros homens.<br />

—O que ela acaba de fazer em mim?— exigiu Niko, no mais mínimo entretido. —Que<br />

demônios foi isso?<br />

Yakut se recostou na poltrona e sorriu abertamente como um czar que faz uma brincadeira<br />

publica a um de seus opositores.<br />

—Diga—me o que viu.<br />

—A mim mesmo—, disse Nikolai, ainda tratando de encontrar algum sentido. A visão era tão<br />

real. Como se tudo isso houvesse realmente ocorrido nesse momento, não a miragem que tinha<br />

que ser. Deus sabia que seu corpo estava convencido de que era real.<br />

—Que mais viu você?— perguntou Yakut alegremente. —Diga—me diga, por favor.<br />

Que merda. Niko silenciosamente negou com a cabeça. Ele estaria condenado se fosse<br />

comentar a experiência completamente luxuriosa a cada um dos que estavam na sala.<br />

—Vi a mim mesmo… uma visão de mim mesmo, refletida nos olhos da menina.<br />

—O que você viu foi um vislumbre de seu futuro—, informou-lhe Yakut. Ele fez uns gestos<br />

para que a garota fosse para seu lado, onde ele envolveu o braço ao redor de seus ombros magros<br />

e a atraiu para si, como um bem muito prezado. —Um olhar aos olhos de Mira e você vê uma<br />

visão dos acontecimentos em sua vida que estão destinados a vir.<br />

Não demorou e nem necessitou muito para evocar a imagem de novo em sua cabeça. OH,<br />

diabos, não, não muito absolutamente. Essa imagem era tão boa para ficar permanentemente<br />

gravada em sua memória e em todos seus sentidos. Nikolai tratou de controlar seu pulso para<br />

tranqüilizá-lo. Chamando sua firme força – sobre seus pés.<br />

—O que mostrou Mira a seu atacante na semana passada?— ele perguntou, desesperado<br />

por trocar a atenção de si mesmo agora.<br />

Yakut deu de ombros.<br />

—Só ele pode saber. A menina não tem nenhum conhecimento do que seus olhos refletem.<br />

Graças a Deus por isso. Niko odiava pensar na educação que ela poderia ter obtido de outra<br />

maneira.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Algo que o filho de puta tenha visto—, adicionou Yakut, —foi suficiente para fazê-lo vacilar<br />

e me dar uma oportunidade para escapar da morte que ele veio entregar.— O Gen Um sorriu com<br />

satisfação.—O futuro pode ser alarmante, especialmente quando não o espera, não é?<br />

—Sim—, murmurou Nikolai. —Suponho que pode ser.<br />

Ele acabava de conseguir uma dose decente daquele conhecimento de primeira mão.<br />

Sobretudo quando a mulher que tinha estado envolvida ao redor dele, nua e retorcendo-se de<br />

maneira tão apaixonada entre seus braços, não era outra a não ser a fria e formosa Renata.<br />

Capítulo 5<br />

Essas imagens carnais, todas muito reais, perseguiram Nikolai durante as seguintes horas de<br />

luz enquanto ele rondava pelas zonas com árvores do recinto, procurando qualquer evidência que<br />

pudesse ficar do ataque frustrado ao Sergei Yakut. Ele comprovou o perímetro da casa principal,<br />

mas não encontrou nada. Nem sequer uma pegada no chão argiloso e de barro.<br />

A pista, se o intruso tinha deixado uma, estava fria agora. Ainda assim, não era difícil supor<br />

como o assaltante poderia haver-se aproximado de seu objetivo. Esta profundidade nos bosques,<br />

sem cercas de segurança, câmaras, ou detectores de movimento para alertar à casa de intrusos na<br />

propriedade, o atacante de Yakut poderia ter se escondido no bosque circundante a maior parte<br />

da noite, esperando a melhor oportunidade de atacar. Ou poderia ter eleito uma localização mais<br />

destacada, pensou Nikolai, seu olhar posto em um pequeno celeiro situado a poucos metros da<br />

parte traseira do recinto.<br />

Ele passeou até ali, pensando que a fachada seria uma aquisição recente à propriedade. O<br />

bosque estava escuro, não das inclemências naturais do tempo como o resto do lugar, mas sim de<br />

uma tintura que o fazia combinar com seus arredores. Não havia janelas em nenhum lado, e a<br />

ampla porta de painéis da frente estava reforçada com uma Z de dois por quatro e perfilava uma<br />

grande fechadura de aço.<br />

Através do fedido azeite do envernizado bosque, Nikolai podia ter jurado captar um vago<br />

cheiro acobreado.<br />

Sangue Humano?<br />

Ele arrastou outra respiração, peneirando o sabor disso através de seus dentes, sobre as<br />

sensíveis glândulas de sua língua. Era definitivamente sangue, e definitivamente humano. Não<br />

muito tinha sido derramado no outro lado da porta, e pelo débil comichão em suas fossas nasais,<br />

julgou estar muito seco e envelhecendo provavelmente vários meses ou mais. Não podia estar<br />

seguro a menos que desse uma olhada dentro.<br />

Curioso agora, colocou a mão na grande fechadura e estava a ponto de girá-la quando o<br />

rangido de uma folha detrás dele captou sua atenção. Enquanto se virava para encontrar o ruído,<br />

estendeu o braço até uma de suas pistolas e amaldiçoou ao recordar que Yakut estava de posse de<br />

todas suas armas.


Tiamat World<br />

24<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Elevou a vista para encontrar Alexei lhe olhando de onde permanecia em pé na esquina do<br />

celeiro. A julgar pelo desprezo brilhante em seus olhos, parecia que seu orgulho ferido não se<br />

recuperou ainda de sua confrontação na cidade. Não é que Niko se preocupasse. Tinha pouco uso<br />

para idiotas civis pavoneando-se, especialmente aqueles com questões de direito e egos<br />

delicados.<br />

—Conseguiu uma chave para esta fechadura?— perguntou ele, sua mão ainda curvada ao<br />

redor do vulto do aço reforçado. Se queria, como macho da Raça, podia rasgar a coisa com um giro<br />

de seu pulso. Melhor ainda, podia flexionar sua mente e abrir a fechadura com uma ordem<br />

mental. Mas era mais interessante chatear o Alexei no momento:<br />

—Importa-se em abrir a porta, ou possivelmente precise pedir permissão ao seu pai<br />

primeiro?<br />

Alexei grunhiu na esquina, os braços dobrados sobre o peito.<br />

—Por que deveria abri-la para você? Não há nada de interessante aí dentro. É somente um<br />

celeiro. Além disso, está vazio.<br />

—É mesmo? — Niko deixou que a fechadura caísse de sua mão, o metal golpeou<br />

pesadamente contra os painéis de madeira. —Cheira como se tivesse estado armazenando<br />

humanos aqui dentro. Ensangüentados. O fedor da hemoglobina me golpeou quanto mais me<br />

aproximava.— Um exagero, mas queria ver a reação de Alexei.<br />

O jovem vampiro franziu o cenho e lançou um cauteloso olhar à porta impedida. Lentamente<br />

agitou sua cabeça.<br />

—Não sabe do que está falando. Os únicos humanos que puseram o pé neste celeiro eram<br />

carpinteiros locais que o construíram faz uns poucos anos.<br />

—Então não te importará se eu der uma olhada. — apontou Nikolai.<br />

Alexei pôs-se a rir baixinho.<br />

—O que está fazendo aqui, guerreiro?<br />

—Tratando de descobrir quem tentou matar seu pai. Quero saber como o intruso pôde ter<br />

se aproximado o suficiente para atacar e onde poderia ter ido depois.<br />

—Perdoa minha surpresa — disse Alexei, sem desculpa em seu tom, — mas encontro difícil<br />

acreditar que um ataque falido — mesmo que a um ancião da raça como meu pai — seja<br />

suficiente para trazer um membro da Ordem para uma visita pessoal.<br />

—Seu pai teve sorte. Houve outros Cinco Gen Um da população que não foram tão<br />

afortunados.<br />

O olhar de suficiência de Alexei se apagou, substituído por uma sombria gravidade.<br />

—Teve outros ataques? Outros assassinatos?<br />

Nikolai fez um assentimento sério.<br />

— Dois na Europa, os outros nos Estados Unidos. Muitos para ser ao azar, e demasiado<br />

peritos para ser nada exceto o trabalho de um profissional. E não parece ser um único esforço.<br />

Durante as últimas semanas, uma vez que soubemos dos primeiros assassinatos, a Ordem esteve<br />

contatando com todos os Gen Um conhecidos para lhes avisar do que tinha ocorrido. Precisam<br />

entender o perigo potencial para poder tomar medidas apropriadas de segurança. Seu pai não lhe


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

disse isso?<br />

O cenho franzido de Alexei sulcou sua escura sobrancelha.<br />

—Ele não disse nada disto. Maldito seja, lhe teria protegido pessoalmente.<br />

Sergei Yakut não tinha informado seu filho do contato recente de Niko, ou da atual erupção<br />

da caça de Gen Um, pelo que estava dizendo. Não importa como Alexei tentasse apoiar-se no<br />

braço direito de seu pai, Yakut evidentemente o manteria a distância quando chegou a confiar.<br />

Sem surpreender-se, dada a natureza suspeita de Yakut. Evidentemente essa suspeita se estendeu<br />

a sua própria família de sangue também.<br />

Alexei amaldiçoou.<br />

—Deveria ter me dito isso. Teria me assegurado que tivesse proteção própria no lugar em<br />

todo momento. Em vez disso, o bastardo que lhe atacou está ainda livre. Como podemos estar<br />

seguros de que não voltará a tentar novamente?<br />

— Não podemos estar seguros disso. De fato, será melhor que continuemos com a hipótese<br />

de que haverá outro ataque. Meu convidado chegará mais cedo que tarde.<br />

—Precisa me manter informado — disse Alexei, seu tom tomando essa ponta irritante<br />

novamente. — Espero ser alertado imediatamente de algo que encontre, e tudo o que você ou a<br />

Ordem pudessem saber sobre esses ataques. Tudo. Entendeu?<br />

Nikolai deixou que um sorrisinho de resposta se estendesse lentamente sobre sua cara.<br />

—Tratarei de recordar.<br />

—Meu pai acredita que é intocável, já vê. Tem a seu guarda—costas à mão, todos eles<br />

treinados por ele, leais a ele. E ele tem o conselho de seu oráculo privado também. — Niko deu<br />

um assentimento de reconhecimento. — A menina, Mira.<br />

—Viu-a? — o Olhar de Alexei se estreitou, não sabia se com desconfiança ou curiosidade<br />

básica. — Assim, — o filho de Yakut disse, — ele lhe permitiu conhecê-la, então. Te deixou olhar<br />

seus olhos de bruxa.<br />

—Fez-o.<br />

Quando a mandíbula de Niko permaneceu firme, provavelmente rígida, Alexei sorriu. Sua<br />

voz arrastava sarcasmo.<br />

— Agradável vista a que ela te deu de seu destino, não, guerreiro?<br />

Uma repetição instantânea da visão calorosa se moveu através de sua mente como uma<br />

maleza lhe queimando do interior. Deu de ombros com um calafrio que não sentiu.<br />

—Vi coisas piores.<br />

Alexei riu. —Bem, não me preocuparia se fosse você. O talento da pequena arpía está longe<br />

de ser perfeito. Ela não pode te mostrar todo seu futuro, só imagens breves do que pode vir,<br />

apoiado no agora. E ela não pode te ajudar a pôr tudo o que vê dentro de um contexto.<br />

Pessoalmente, não encontro à pirralha tão divertida como a meu pai parece. Ele grunhiu, subindo<br />

um ombro junto com a esquina de sua zombadora boca. —O mesmo poderia ser dito da outra<br />

mulher que ele insiste em manter protegida apesar de minhas dúvidas.<br />

Não havia dúvida de quem ele falava.<br />

—Não é fã da Renata, não?


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Fã dela— murmurou Alexei, cruzando seus braços sobre o peito. —Ela é arrogante. Pensa<br />

nela mesma sobre todos outros porque conseguiu impressionar meu pai uma vez ou duas com sua<br />

destreza mental. A noite que ela chegou aqui, foi muito audaz para seu próprio bem. Estaria em<br />

apuros para encontrar um macho entre todos estes que trabalham para meu pai que não<br />

gostariam de vê-la aumentar de intensidade. Pondo à fria e presunçosa arpía em seu lugar, né?<br />

Possivelmente se sinta da mesma maneira, depois do que te fez esta noite na cidade?<br />

Nikolai deu de ombros. Ele estaria morto se dizia quão irritante foi ter estado no receptor<br />

final de seu ataque mental. Nikolai não podia rechaçar qualquer quantidade de sobressalto.<br />

Obviamente ela era uma da Raça, posto que a natureza era contraria a esbanjar poderosos<br />

presentes extra-sensoriais sobre o stock básico de Homo Sapiens.<br />

—Nunca vi ninguém como ela— admitiu a Alexei. —Nunca ouvi sobre uma companheira de<br />

Raça com esse nível de habilidade. Posso ver por que seu pai dormiria melhor sabendo que ela<br />

está perto.<br />

Alexei franziu o cenho.<br />

—Não esteja muito impressionado com ela, guerreiro. A destreza da Renata tem seus<br />

méritos, outorgarei-te. Mas ela é muito fraca para controlá-lo.<br />

—Por quê?<br />

—Ela pode enviar a onda mental fora, mas o poder volta para ela, como um eco. Uma vez<br />

que a reverberação a golpeia, ela é completamente inútil até que passe.<br />

Nikolai recordou a debilitada rajada de energia mental que Renata lhe tinha dado rédea<br />

solta dentro do armazém. Ele era um macho da Raça — seus gens aliens lhe davam a fortaleza e<br />

resistência de facilmente dez homens humanos — e tinha sido incapaz de confrontar a dor desse<br />

incrível assalto sensorial. Para que Renata atravessava essa mesma angústia cada vez que ela<br />

usava sua destreza?<br />

—Cristo— disse Niko. —Deve ser pura tortura para ela.<br />

—Sim—, esteve de acordo Alexei, sem preocupar-se de dissimular seu tom leviano. —Estou<br />

bastante seguro disso.<br />

Nikolai não deixou de ver o sorriso no fraco rosto do mais jovem dos Yakut.<br />

—Desfruta em vê-la sofrer?<br />

Alexei grunhiu.<br />

—Não poderia me preocupar menos. Renata é inadequada para o papel em que meu pai a<br />

colocou. Ela é ineficaz como sua guarda—costas – um risco que temo poderia lhe levar a ser<br />

assassinado um dia. Se estivesse em seu lugar, não duvidaria em jogá-la sobre seu arrogante<br />

traseiro.<br />

—Mas você não está no lugar de seu pai— Niko lhe recordou, só porque Alexei parecia<br />

muito entusiasta imaginando-o.<br />

O vampiro olhou Niko em silencio durante um longo e incômodo momento. Então<br />

esclareceu sua garganta e cuspiu no chão.<br />

—Termina sua investigação, guerreiro. Se encontrar algo interessante, me informe em<br />

seguida.


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Nikolai meramente olhou o filho de Yakut, sem palavras que apoiassem o civil a contar com<br />

sua promessa. Alexei não o pressionou, só girou lentamente sobre seus calcanhares e partiu em<br />

direção ao recinto.<br />

Capítulo 6<br />

Renata silenciosamente abriu a porta do quarto de Mira e olhou com atenção dentro a<br />

adormecida menina que descansava pacificamente sobre a cama. Simplesmente uma menina<br />

normal com um pijama cor rosa, sua suave bochecha apoiada contra o travesseiro magro,<br />

soprando o fôlego ritmicamente da boca em forma de querubim delicada. Sobre a mesinha rústica<br />

próxima à cama estava o curto véu negro que cobria os olhos notáveis de Mira em todo momento<br />

quando ela esta acordada.<br />

—Doces sonhos, anjo—, sussurrou Renata em voz baixa, palavras esperançadoras. Ela se<br />

preocupava com Mira mais e mais ultimamente. Não eram só pelos pesadelos que se<br />

estabeleceram depois do ataque que tinha presenciado, a não ser a saúde geral de Mira pelo que<br />

Renata se preocupava à maioria do tempo. Apesar de que a garota era forte, sua mente rápida e<br />

aguda, ela não estava de todo bem.<br />

Mira rapidamente estava perdendo a visão.<br />

Cada vez que ela era obrigada a exercitar seu dom da reflexão pré-cognitiva, algo de sua<br />

própria vista se deteriorava. Isto tinha estado ocorrendo constantemente durante meses antes<br />

que Mira tivesse crédulo na Renata sobre o que estava acontecendo com ela. Ela tinha medo,<br />

como qualquer criança teria. Possivelmente mais então, porque Mira era sábia além de seus oito<br />

anos de idade. Ela tinha entendido que o interesse de Sergei Yakut se evaporaria no momento em<br />

que o vampiro a considerasse sem nenhuma utilidade para ele. Ele a expulsaria, possivelmente<br />

inclusive a mataria se isso lhe agradava.<br />

Assim nessa noite, Renata e Mira haviam feito um pacto: Manteria a condição de Mira em<br />

segredo entre elas, levando-lhe à tumba, se fosse necessário. Renata tinha levado a promessa<br />

mais adiante, jurando a Mira que a protegeria com sua própria vida. Jurou que nenhum dano ia<br />

acontecer a ela, causado nem pelo Yakut ou qualquer outra pessoa, seja da raça ou humano. Mira<br />

estaria a salvo da dor e a escuridão da vida de uma maneira que Renata jamais tinha conhecido.<br />

Que a menina tivesse sido exibida para entreter o hóspede não convidado de Sergei Yakut<br />

esta noite só adicionou mais irritação ao estado atual de Renata. O pior de sua repercussão<br />

psíquica tinha passado, mas ainda persistia uma dor de cabeça nos extremos de seus sentidos. Seu<br />

estômago ainda não tinha deixado de revolver-se. As pequenas ondas de náuseas formavam<br />

ondas nela como uma maré que retrocede pouco a pouco.<br />

Renata fechou a porta de Mira, tremendo e estremecendo-se um pouco com o balanço de<br />

outro pequeno tremor sobre seu corpo. O longo banho que acabava de tomar tinha ajudado a<br />

aliviar alguns de seus mal-estares, embora até por debaixo de suas calças folgadas de cor grafite e


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

seu pulôver suave de algodão branco, sua pele ainda seguia zumbindo, em carne viva com o<br />

chiado da eletricidade que nadava debaixo.<br />

Renata esfregou as palmas das mãos sobre as mangas de sua camisa, tratando de afugentar<br />

algo da sensação ainda acesa como fogo que viajava pelos seus braços. Muito acordada para<br />

dormir, ela se deteve em seu próprio quarto só o tempo necessário para recuperar um pequeno<br />

contrabando de adagas de seu baú de armas. O treinamento sempre tinha demonstrado ser um<br />

ponto de bem vinda para sua inquietação. Ela desfrutava das horas do castigo físico ao qual infligia<br />

a si mesmo, feliz pelo treinamento rigoroso de exercícios que levava a cabo, com o intuito de<br />

levantar-se.<br />

Da terrível noite em que ela se encontrou inundada no mundo perigoso de Sergei Yakut,<br />

Renata tinha aperfeiçoado cada músculo de seu corpo a sua condição máxima, trabalhava<br />

servilmente para assegurar-se de que era tão aguda e letal como as armas que levava cobertas no<br />

envoltório de seda e veludo que agora sustentava na mão.<br />

Sobreviver. Esse simples pensamento de guia tinha sido seu farol do momento em que era<br />

uma menina inclusive mais jovem que Mira. E tão somente… Uma órfã abandonada na capela de<br />

um convento de Montreal, Renata não tinha nenhum passado, nenhuma família, nenhum futuro.<br />

Ela somente existia, só isso.<br />

E para a Renata, isso tinha sido suficiente. Era suficiente, inclusive agora. Sobretudo agora,<br />

que navegava pelo mundo subterrâneo do reino traiçoeiro de Sergei Yakut. Havia inimigos por<br />

todos os lados, ao redor dela neste lugar, tanto escondidos como visíveis. Inumeráveis formas de<br />

que ela desse um passo em falso, para equivocar-se. Infinidade de oportunidades para ela de<br />

desgostar ao desumano vampiro que segurava sua vida nas mãos e terminar morta, sangrando.<br />

Mas nunca sem uma briga.<br />

Seu mantra dos dias tempranos da infância serviu a ela de maneira acertada aqui: Sobreviver<br />

outro dia. Depois outro e outro.<br />

Não havia nenhum espaço para a brandura nesta equação. Nenhum direito de emissão para<br />

a piedade ou a vergonha ou o amor. Especialmente, não para o amor, de nenhuma espécie.<br />

Renata sabia que seu afeto por Mira — que alimentava o impulso que lhe dava forças para nivelar<br />

o caminho da menina, para protegê-la como a alguém de sua própria família — provavelmente ia<br />

custar lhe muito caro no final.<br />

Sergei Yakut tinha perdido pouco tempo explorando essa debilidade nela, Renata tinha as<br />

cicatrizes para demonstrar.<br />

Mas ela era forte. Não tinha encontrado nada nesta vida que não pudesse suportar,<br />

fisicamente ou de outra maneira. Tinha sobrevivido a tudo isso. Afiada e forte, letal quando tinha<br />

que ser.<br />

Renata saiu alojamento do albergue e caminhou a grandes passos através da escuridão para<br />

um dos edifícios periféricos anexos que estavam atrás. O caçador que originalmente tinha<br />

construído o bosque composto evidentemente tinha adorado seus cães. Um velho canil de<br />

madeira estava de pé atrás da residência principal, disposto como um estábulo, com um amplo<br />

espaço que se reduzia ao centro e quatro baias de acesso controladas alinhadas em ambos os


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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

lados. O teto de viga aberto alcançava seu ponto máximo a uns quatro metros e meio de altura.<br />

Embora pequeno, era um espaço aberto, bem ventilado. Havia um celeiro maior, mais novo<br />

na propriedade que permitia uma circulação mais fluída, mas Renata tendia a evitar o outro<br />

edifício.<br />

Uma vez dentro desse lugar escuro, insalubre e úmido era suficiente. Se ela pudesse fazer o<br />

que queria, já teria queimado a maldita coisa até as cinzas.<br />

Renata acendeu o interruptor dentro da porta do canil e se estremeceu quando a lâmpada<br />

nua no alto derramou uma luz amarela áspera pelo espaço. Ela entrou, caminhando pelo chão liso<br />

e apertado de terra, para frente, além dos extremos pendurados de duas correias largas,<br />

trançadas de couro que se colocavam ao redor da viga que estavam no centro da estrutura. No<br />

extremo mais afastado do canil interior se encontrava um poste de madeira alto que estava<br />

acostumado a ser equipado com pequenos ganchos de ferro e laços para o armazenamento de<br />

correias e demais artes. Renata tinha bisbilhotado e havia se desfeito dos arranjos faz uns meses,<br />

e agora o poste funcionava como um alvo, a madeira escura marcada com cortes profundos e<br />

rupturas. Renata colocou suas lâminas envoltas em um fardo de palha próximo e se agachou.<br />

Tirou os sapatos e caminhou descalça até o centro do canil. Moveu-se até alcançar o par de<br />

correias de couro compridas que havia, uma em cada mão. Ela enrolou o couro ao redor de seus<br />

pulsos algumas vezes, provando a folga destas. Quando o sentiu cômodo, se estendeu flexionando<br />

os braços e se levantou do chão tão brandamente como se tivesse asas. Suspensa, com essa<br />

sensação de falta de gravidade, temporalmente transportada, Renata começou seu aquecimento<br />

com as correias. O couro rangia brandamente quando deu a volta e girou seu corpo a vários<br />

metros do chão. Esta era a paz para ela, a sensação de seus membros ardendo, ficando mas fortes<br />

e mais ágil com cada movimento controlado.<br />

Renata se deixou deslizar-se em uma meditação ligeira, seus olhos fechados, todos seus<br />

sentidos treinados para o interior, concentrando-se em seu ritmo cardíaco e sua respiração, no<br />

fluido concerto de seus músculos quando ela se soltou de um de um agarre longo, para manter a<br />

imposição a outro. Não foi até que ela tinha girado sobre seu eixo para ficar em uma postura com<br />

a cabeça para baixo, e seus tornozelos agora afiançando bem as correias para sustentá-la no alto,<br />

que ela sentiu uma leve agitação no ar a seu redor. Foi repentino e sutil, mas inconfundível.<br />

Tão inconfundível como o calor de um fôlego que exalava agora esquentando sua bochecha.<br />

Seus olhos se abriram de repente. Lutado para enfocar nos arredores invertidos e o intruso<br />

que estava de pé debaixo dela. Era o guerreiro da Raça —Nikolai.<br />

—Merda!— ela disse entre dentes, sua falta de atenção fazendo oscilar um pouco o domínio<br />

das correias. —Que diabos acredita que está fazendo?<br />

—Tranqüila—, disse Nikolai. Ele levantou as mãos como se fora estabilizá-la. —Não estava<br />

tentando te assustar.<br />

—Você não o fez—. Respondeu ela com palavras planas, pronunciadas com frieza. Com uma<br />

líquida flexão de seu corpo, moveu-se fora de seu alcance. –Se importa? Está interrompendo meu<br />

treinamento.<br />

—Ah—. Suas sobrancelhas loiras se arquearam para cima enquanto seu olhar seguia a linha


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

de seu corpo aonde ainda pendurava dos tornozelos. —O que é exatamente o que está treinando<br />

ali em cima, para o Cirque du Soleil?<br />

Ela não lhe o prazer de uma resposta. Não é que ele esperasse uma. Ele girou longe dela e se<br />

dirigiu para o poste que estava no outro extremo do canil. Ele estendeu a mão e seus dedos<br />

rastrearam as mais profundas das muitas cicatrizes que havia na madeira. Então ele encontrou<br />

suas adagas e levantou o tecido que as continha. O metal tilintou ao chocar brandamente dentro<br />

do quadrado dobrado de seda atado com a cinta de veludo.<br />

—Não toque nisso—, disse Renata, liberando-se das correias e balançando-se ao redor para<br />

colocar seus pés no chão. Ela caminhou para frente com passos majestosos. —Eu disse, que não os<br />

tocasse. São meus.<br />

Ele não resistiu quando ela lhe arrebatou a apreciada posse -as únicas coisas de valor que ela<br />

podia reclamar como suas – estavam em suas mãos. O aumento em suas emoções lhe fez girar a<br />

cabeça um pouco, os efeitos secundários até persistentes da repercussão psíquica que ela<br />

esperava tivessem passado. Ela deu um passo para trás. Teve que trabalhar para manter estável<br />

sua respiração.<br />

—Está bem?<br />

Não gostou do olhar de preocupação refletido em seus olhos azuis, como se ele pudesse<br />

sentir sua debilidade. Como se soubesse que ela não era tão forte como queria, necessitava<br />

aparentar.<br />

—Estou bem.<br />

Renata colocou as adagas em uma das baias do canil e as desembrulhou. Uma por uma, ela<br />

cuidadosamente colocou cada uma das quatro esculpidas adagas feitas a mão sob a divisória de<br />

madeira diante dela. Forçando um tom ligeiramente presumido em sua voz.<br />

—Parece que quem deveria estar te fazendo essa pergunta deveria ser eu, não parece? Te<br />

deixei cair bastante duro lá atrás na cidade.<br />

Ela escutou seu grunhido baixo em algum lugar detrás dela, quase como se fora uma<br />

brincadeira.<br />

—Nunca se pode ser muito cauteloso quando se trata de estrangeiros,— disse ela. —<br />

Sobretudo agora. Estou segura de que você entende.<br />

Quando ela finalmente o percorreu com um olhar, o encontrou olhando-a fixamente. —<br />

Querida, a única razão pela que você teve a possibilidade de poder me derrubar foi porque você<br />

jogou sujo. Assegurou-te de que eu te notasse, fingindo que tinha algo que ocultar e sabendo que<br />

ia seguir-te fora daquele clube. Diretamente para sua pequena armadilha.<br />

Renata levantou seus ombros, sem arrependimento.<br />

—Tudo vale no amor e na guerra—. Deu um suave sorriso acompanhado por um par de<br />

covinhas em suas bochechas magras. —É isto, a guerra?<br />

—É seguro como o inferno que não é o amor.<br />

—Não—, ele disse, tornando-se todo sério agora. —Isso nunca.<br />

Bem, ao menos eles estavam de acordo em algo.<br />

—Quanto tempo esteve trabalhando para Yakut?


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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Renata sacudiu a cabeça como se fosse incapaz de recordar isso particularmente, apesar de<br />

que a noite estava gravada em sua mente como se tivesse sido queimado ali. Alagada pelo sangue.<br />

Imponente. O começo de um fim.<br />

—Não sei—, disse ela ligeiro. —Alguns anos, suponho. Por quê?<br />

—Simplesmente me perguntava como uma fêmea, sem importar que seja uma Companheira<br />

de Raça com sua habilidade psíquica poderosa — terminou nesta linha de trabalho, especialmente<br />

para um Gen Um como ele. É estranho, isso é tudo. Demônios, é inaudito. Tão somente, me diga.<br />

Como é que você está conectada com Sergei Yakut?<br />

Renata ficou contemplando fixamente este guerreiro, este forasteiro, perigoso e ardiloso,<br />

que de repente estava intrometendo-se em seu mundo. Ela não estava segura de como responder.<br />

Certamente ela não estava a ponto de lhe dizer a verdade.<br />

—Se você tiver perguntas, talvez devesse perguntar a ele.<br />

—Sim—, disse ele, estudando-a mas estreitamente agora. —Talvez o faça. E o que passa<br />

com a menina — Mira? Ela está aqui tanto tempo como você?<br />

—Não tem muito tempo, não. Logo que faz seis meses. Renata tratou de parecer<br />

indiferente, mas um feroz instinto de proteção se levantou nela com a simples menção do nome<br />

de Mira sobre os lábios deste macho da Raça. —Ela passou por muito em tão pouco tempo. Coisas<br />

que nenhuma criança deveria testemunhar.<br />

—Como o ataque contra Yakut semana passada?<br />

E outras, mais sombrias, coisas, Renata reconheceu interiormente.<br />

—Mira tem pesadelos quase todas as noites. Ela quase não dorme mais que algumas horas<br />

faz um tempo.<br />

Ele assentiu com a cabeça em reconhecimento sóbrio.<br />

—Este não é um bom lugar para uma menina. Alguns poderiam dizer que não é lugar para<br />

uma fêmea tampouco.<br />

—É isso o que você diria, guerreiro?<br />

Seu sorrisinho afogado de resposta nem confirmou nem negou isso.<br />

Renata o observou, enquanto surgiam nela pergunta borbulhando em sua mente. Uma em<br />

particular.<br />

—O que viu nos olhos de Mira mais cedo esta noite?<br />

Ele grunhiu algo baixo em seu fôlego.<br />

—Confia em mim, você não deseja sabê-lo.<br />

—Estou te perguntando, não? O que lhe mostrou ela?<br />

—Esquece—. Sustentando seu olhar, passou uma mão pelos fios de cor ouro de seu cabelo e<br />

logo exalou uma maldição forte e desviou o olhar dela. —De qualquer maneira, isso não é<br />

possível. A garota definitivamente se equivocou.<br />

—Mira não se equivoca nunca. Ela não se equivocou nenhuma vez, não em todo o tempo<br />

que a conheci.<br />

—É isso assim?— Seu penetrante olhar azul voltou fixamente para ela, ambos o calor e frio<br />

viajaram ao longo de seu corpo com seu lento e avaliador olhar. —Alexis me disse que sua


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

habilidade é imperfeita.<br />

—Lex—. Renata burlou-se. —Faça um favor e não ponha sua fé em nada do que Lex diga. Ele<br />

não diz e não faz nada sem um motivo oculto.<br />

—Obrigado pelo conselho—. Ele se recostou atrás contra o poste marcado com cicatrizes<br />

pelas adagas. —Então, se é assim, não é certo, o que ele disse — que os olhos de Mira só refletem<br />

os acontecimentos que poderiam ocorrer no futuro, apoiado no agora?<br />

—Lex pode ter suas próprias razões pessoais para desejar que não seja assim, mas Mira<br />

nunca se equivoca. Tudo o que ela mostrou esta noite, esta destinado a acontecer.<br />

—Destinado—, disse ele, parecendo divertido com isso. —Pois bem, merda. Então acredito<br />

que estamos condenados.<br />

Ele a olhou fixamente quando pronuncio essas palavras, tudo a desafiava para que<br />

perguntasse se ele deliberadamente a tinha incluído em sua observação. Dado que a idéia parecia<br />

terrivelmente divertida, ela não estava a ponto de lhe dar a satisfação de perguntar o por que.<br />

Renata agarrou uma de suas adagas e provou o peso dela em sua palma aberta. O frio do aço se<br />

sentia bem contra sua pele, sólido e familiar. Seus dedos morriam de vontade de trabalhar. Seus<br />

músculos agora estavam flexíveis pelo aquecimento, preparados para ser empurrados por uma ou<br />

duas horas de duro treinamento. Ela girou ao redor com a lâmina na mão e dirigiu um sinal para o<br />

poste onde Nikolai se encontrava apoiado.<br />

—Se importa? Eu não quero julgar mal minha marca e golpear acidentalmente em seu lugar.<br />

Ele percorreu com o olhar o poste e deu de ombros.<br />

—Mas não seria mais interessante o combate de treinamento com um oponente real que<br />

pode te devolver o golpe? Ou talvez para ti funcione melhor com as probabilidades empilhadas de<br />

forma desigual em seu favor.<br />

Ela sabia que ele estava pondo uma isca, mas o brilho de seus olhos era de brincalhão,<br />

brincalhão. Estava ele realmente paquerando com ela? Sua natureza prática lhe fez arrepiar os<br />

pelos da nuca com cautela. Ela passou o polegar pelo bordo da lâmina enquanto o olhava,<br />

insegura do que fazer com ele agora.<br />

—Prefiro trabalhar sozinha.<br />

—Muito bem. — Ele inclinou sua cabeça, mas só fez um pequeno deslocamento do caminho.<br />

Desafiando-a com seu olhar. —Faz o que queira.<br />

Renata franziu o cenho.<br />

—Se você não se mover, como pode estar seguro que não vou ter acertar?<br />

Ele sorriu abertamente, completamente cheio de arrogância divertida, seus grossos braços<br />

cruzados sobre seu peito.<br />

—Aponta a tudo o que você queira. Nunca me golpearia.<br />

Ela deixou à lâmina voar sem a mas mínima advertência.<br />

O aço afiado lhe deu uma dentada à madeira fazendo uma fenda profunda, golpeando no<br />

lugar exatamente onde ela o tinha enviado. Mas Nikolai se foi. De qualquer jeito, desaparecendo<br />

de sua linha de visão por completo. Merda. Ele era da Estirpe, muito mais rápido que qualquer ser<br />

humano, e tão ágil como um depredador da selva. Ela não era nenhuma rival para ele com as


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

armas ou a força física, sabia isto inclusive antes de enviar a adaga voando pelo ar. Entretanto, ela<br />

havia esperado ao menos diminuir o arrogante, presunçoso filho da puta por provocá-la.<br />

Seus próprios reflexos afiados pela precisão, Renata estirou seu braço e alcançou outra de<br />

suas adagas na espera. Mas quando seus dedos se fecharam ao redor do punho lavrado, ela sentiu<br />

o ar revolver-se detrás dela, sentindo o calor através da longitude dos fios de cabelo que estavam<br />

sobre seu queixo.<br />

O metal afiado de um facão, subiu por debaixo de sua mandíbula. Uma dura parede<br />

muscular lhe apertava a coluna vertebral.<br />

—Não me acertou!. Sentiu minha falta?.<br />

Ela tragou saliva cuidadosamente ao redor da prensa da lâmina que estava sob seu queixo.<br />

Tão brandamente como ela poderia fazer, relaxou seus braços para os lados. Então nesse<br />

momento atraiu com a mão a adaga sobre seu eixo desde detrás dela para descansá-la<br />

significativamente entre suas coxas separadas.<br />

—Parece que te encontrei.<br />

Simplesmente porque ela podia, Renata o golpeou com uma pequena sacudida do poder de<br />

sua mente.<br />

—Merda—, grunhiu ele, e no instante em que seu agarre sobre ela relaxou, ela saiu de seu<br />

alcance e se voltou para enfrentá-lo. Ela esperava a cólera dele, temia-a um pouco, mas ele só<br />

levantou sua cabeça e dirigiu a ela um pequeno encolhimento de ombros. —Não se preocupe,<br />

querida. Só vou ter que jogar contigo até que as repercussões se ativem e lhe derrubem.<br />

Enquanto ela o contemplava, confusa e aflita pensando que ele pudesse saber sobre a<br />

imperfeição que tinha sua habilidade, ele disse:<br />

—Lex me pôs a par de algumas coisas sobre você também. Ele me contou o que acontece<br />

cada vez que disparas um daqueles mísseis psíquicos. Componente muito poderoso. Mas eu em<br />

seu lugar, não o gastaria só porque se sente na necessidade de demonstrar um ponto.<br />

—A merda com o Lex—, murmurou Renata. —E a merda você também. Não necessito seus<br />

conselhos, e seguro como o inferno não necessito nenhum de vocês dois falando merda a respeito<br />

de mim pelas minhas costas. Esta conversa terminou.— Zangada como estava agora, ela<br />

impulsivamente flexionou para trás seu braço e lançou a adaga em sua direção, sabendo que ele<br />

facilmente podia sair de seu caminho justo como antes. Só que dessa vez ele não se moveu. Com<br />

um estalo rápido como um relâmpago de sua mão livre, ele estendeu a mão e capturou a lâmina<br />

que navegava sobre o ar. Com um sorriso totalmente satisfeito conseguiu que ela —perdesse as<br />

estribeiras.<br />

Renata arrancou a última adaga de seu lugar de descanso no suporte do canil e a enviou<br />

voando para ele. Mas igual a outra antes desta, também foi pega no ar e agora estavam<br />

apanhadas nas mãos hábeis do guerreiro da Raça.<br />

Ele a olhou, sem piscar, com um calor masculino que deveria deixá-la gelada, mas que não o<br />

fez.<br />

—E agora o que vamos fazer para nos divertir, Renata?<br />

Ela o fulminou com o olhar.


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Se entretenha você mesmo. Eu vou embora daqui.<br />

Se deu a volta, pronta para sair com passo majestoso do canil. Apenas tinha dado dois<br />

passos quando escutou um som agudo em ambos os lados de sua cabeça tão perto que alguns fios<br />

errantes de seu cabelo voaram para frente de sua cara.<br />

Então, por diante dela, observou sobrevoar uma mancha imprecisa de aço, que estalou para<br />

o outro extremo da parede.<br />

Golpe seco – golpe seco.<br />

As duas adagas que tinham navegado por diante de sua cabeça com um objeto errático –<br />

estavam agora sepultadas na velha madeira a metade de caminho de seus punhos. Renata se deu<br />

a volta, furiosa.<br />

—Seu filho da puta…<br />

Ele se lanço justo em cima dela, seu enorme corpo obrigando-a a ir para trás, seus olhos<br />

azuis brilhando intermitentemente com algo mais profundo que a simples diversão ou a básica<br />

arrogância masculina. Renata retrocedeu um passo, só o suficiente para que ela pudesse equilibrar<br />

seu peso sobre os calcanhares. Ela foi para trás e girou sobre seu corpo, elevando sua outra perna<br />

em um chute giratório.<br />

Dedos tão inflexíveis como barras de ferro se fecharam ao redor de seu tornozelo,<br />

retorcendo-o.<br />

Renata caiu no chão do canil, asperamente sobre suas costas. Ele a seguiu até ali,<br />

estendendo-se assim mesmo sobre ela e encurralando-a por debaixo dele enquanto ela lutava<br />

agitando violentamente seus punhos e ondulando as pernas. Só lhe requereu um minuto para<br />

dobrá-la.<br />

Renata ofegava pelo esforço excessivo, seu peito elevava-se pela velocidade de seu pulso.<br />

—Agora, quem é o que deseja demonstrar algo, guerreiro? Você ganhou. Está feliz agora?<br />

Ele ficou com o olhar fixo nela em um estranho silêncio, nem demonstrando regozijo ou<br />

aborrecimento.<br />

Seu olhar fixo se mantinha estável e tranqüilo, muito íntimo. Ela podia sentir seu coração<br />

martelando contra o peito. Suas coxas posadas escancaradas sobre ela, enquanto tinha suas duas<br />

mãos presas por cima de sua cabeça. Ele a sustentava com firmeza, seus dedos segurando-se ao<br />

redor de seus punhos em um suave apertão, incrivelmente carinhoso. O olhar fixo dele se desviou<br />

até onde a segurava por suas mãos, com um brilho de fogo que crepitava sobre sua íris quando se<br />

encontrou com a pequena marca de nascimento cor carmesim de uma lagrima que caía montada<br />

sobre uma meia lua que havia dentro de seu pulso direito. Com seu polegar acariciou aquele<br />

preciso lugar, uma carícia fascinante e hipnótica que enviou um calor correndo por suas veias.<br />

—Ainda quer saber o que vi nos olhos de Mira?<br />

Renata ignorou a pergunta, segura de que isso era a ultima coisa que ela precisava saber<br />

nesse momento. Ela lutou com força debaixo da molesta laje muscular de seu corpo pesado, mas<br />

ele a dominava com maldito pouco esforço. Bastardo.<br />

—Saia de cima de mim!<br />

—Me pergunte outra vez, Renata. O que foi que vi?


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—Eu te disse para sair de cima de mim—, grunhiu ela, sentindo o aumento do pânico dentro<br />

de seu peito. Tomou uma respiração para acalmar-se, sabendo que tinha que manter a calma.<br />

Tinha que manter a situação sob controle, e rapidamente. A última coisa que precisava era que<br />

Sergei Yakut saísse para procurá-la e a encontrasse cravada e impotente debaixo deste outro<br />

macho. —Me deixe sair agora.<br />

—Do que tem medo?<br />

—De nada, maldito seja!<br />

Ela cometeu o engano de levantar seu olhar fixo para ele. Um calor âmbar infiltrou-se dentro<br />

do interior do azul de seus olhos, fogo devorando o gelo. Suas pupilas começaram a estreitar<br />

rapidamente, e detrás da limpa careta de seus lábios, ela observou as pontas agudas de suas<br />

emergentes presas.<br />

Se ele estava zangado agora, essa era só uma parte da causa física de sua transformação; já<br />

que onde sua pélvis se posava ameaçadoramente sobre ela, ela sentia a crista dura em sua virilha,<br />

a dilatação muito evidente de seu membro pressionando-se deliberadamente entre suas pernas.<br />

Ela se moveu, tentando escapar desse calor, da erótica posição de seus corpos, mas isso só o<br />

deixou mais encaixado sobre ela. O pulso acelerado de Renata se elevou até mais em um ritmo<br />

urgente, e um calor não desejado começou a florescer em seu núcleo.<br />

OH, Deus!. Não é bom. Isto não é nada bom.<br />

—Por favor—, ela gemeu, odiando a si mesmo pelo débil tremor que soou no momento de<br />

pronunciar a palavra. Odiando a ele também.<br />

Queria fechar os olhos, recusando-se a ver o ardente e fixo olhar faminto ou sua boca que<br />

estava tão perto da sua. Queria negar-se a sentir todo o ilícito que ele movia nela — o perigo deste<br />

inesperado, desejo mortal. Mas seus olhos ficaram arraigados nos seus, incapaz de apartar o olhar,<br />

a resposta de seu corpo para ele era mais forte que o mesmo ferro, inclusive que sua vontade.<br />

—Me pergunte o que a menina me mostrou esta noite em seus olhos—, exigiu ele, com voz,<br />

tão baixa como um ronrono. Seus lábios estavam tão perto dos seus, a pele suave roçou sua boca<br />

quando lhe falou. —Pergunte-me isso Renata. Ou talvez prefira ver por ti mesmo a verdade.<br />

O beijo passou através de seu sangue como fogo.<br />

Os lábios se pressionaram juntos com paixão, o quente fôlego apressando-se, mesclando-se.<br />

Sua língua explorou as comissuras de sua boca, inundando-se em seu interior afogando seu grito<br />

mudo de prazer. Ela sentiu seus dedos acariciando suas bochechas, deslizando-se sobre o cabelo<br />

de sua têmpora, e depois, ao redor de sua nuca sensível. Ele a elevou para ele, inundando-a mais<br />

profundamente no beijo que a estava derretendo, rompendo toda sua resistência.<br />

Não. OH, Deus! Não, não, não.<br />

Não posso fazer isto. Não posso sentir isto.<br />

Renata se separou da erótica tortura de sua boca, voltando a cabeça para um lado. Ela<br />

estava tremendo, suas emoções estavam subindo a um nível perigoso. Ela arriscava muito aqui,<br />

com ele agora. Muito.<br />

Maria Mãe, mas ela tinha que apagar esta chama que ele tinha aceso dentro de seu interior.<br />

Estava derretendo-se, mortalmente. Tinha que apagá-la rapidamente. Seus dedos quentes


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

tocaram seu queixo, dirigindo seu olhar novamente à fonte de sua angústia.<br />

—Está bem?<br />

Ela extraiu suas mãos de seu afeto, do punho por cima de sua cabeça e o separou de um<br />

empurrão, incapaz de falar.<br />

Ele se afastou imediatamente. Tomou a mão dela e a ajudou a ficar de pé, ela não queria<br />

nenhuma ajuda, mas estava muito afetada para rechaçá-lo. Ficou ali de pé, incapaz de olhá-lo,<br />

tratando de reagrupar-se.<br />

Rezando como o inferno para que não tivesse acabado de assinar sua própria sentença de<br />

morte.<br />

—Renata?<br />

Quando finalmente encontrou sua voz, filtrou-se através dela, tranqüila e fria, com<br />

desespero.<br />

—Te aproxime de mim outra vez—, disse ela, —E juro que vou te matar.<br />

Capítulo 7<br />

Alexei estava esperando há mais de dez minutos fora do quarto privado de seu pai, sua<br />

chamada para uma audiência não tinha mais consideração que a de qualquer um dos outros<br />

guardas de segurança de Yakut. A falta de respeito – a flagrante indiferença — doeu durante<br />

muito tempo. Tinha mudado esse passado amargo e inútil de anos a favor de coisas mais<br />

produtivas.<br />

Oh, na cavidade mais profunda do estômago de Lex ainda doía saber que seu pai — seu<br />

único parente vivo — podia pensar embora só um pouco nele, mas o calor do constante e patente<br />

rechaço tinha chegado de alguma forma a ser menos doloroso. Era assim simplesmente como<br />

eram as coisas. E Lex era mais forte por isso, de fato. Era igual a seu pai de maneiras que nem o<br />

velho bastardo nunca poderia imaginar, caminhando curvado e só para admiti-lo.<br />

Mas Lex conhecia suas próprias capacidades. Sabia suas próprias fortalezas. Sabia sem<br />

dúvida nenhuma que podia ser muito mais do que era agora, e desejava a oportunidade de<br />

demonstrá-lo. A ele mesmo e, sim, ao filho da puta que o engendrou também.<br />

O entalhe de metal ondulou quando a porta finalmente aberta fez que os pés de Lex se<br />

detivessem.<br />

—Bem a tempo— grunhiu ele ao guarda que ficou ao seu lado para deixá-lo entrar.<br />

O lugar estava às escuras, iluminado só pelo brilho das lenhas que ardiam na enorme<br />

chaminé de pedra na parede oposta. A casa estava conectada com eletricidade, mas era<br />

raramente utilizada – não havia necessidade real para luzes quando Sergei Yakut e o resto da Raça<br />

tinha extraordinária visão, especialmente na escuridão.<br />

Os outros sentidos da Raça eram também bastante agudos, mas Lex suspeitava que inclusive<br />

um humano estaria em apuros ao sentir os aromas misturados de sangue e sexo que se fundiam


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

com o aroma azedo da fumaça da chaminé.<br />

—Perdoe por interromper— murmurou Lex, enquanto seu pai saía de um quarto anexo.<br />

Yakut estava nu, seu pênis ainda parcialmente ereto, sua corada longitude inclinando-se<br />

obscenamente com cada movimento. Enojado pela vista, Lex piscou, e desviou o olhar.<br />

Rapidamente pensou melhor nisso, rejeitando dar um débil impulso que estava seguro seria usado<br />

contra ele. Em vez disso olhou seu pai entrar no quarto, os olhos do velho vampiro brilhavam<br />

como carvões âmbar colocados no fundo de seu crânio, com suas pupilas reduzidas a estreitas e<br />

verticais frestas em seu centro. Suas presas eram enormes em sua boca, completamente<br />

estendidas e afiadas como lâminas. Uma camada de suor cobria o corpo de Yakut, cada polegada<br />

da lívida cor latente de seus dermaglifos, as únicas marcas de sua pele da Raça que se estendiam<br />

da garganta aos tornozelos dos Gen Um. Sangue fresco — inequivocamente humano, entretanto<br />

fraco – mas com suficiente aroma para indicar a origem de um Subordinado — manchava todo seu<br />

torso e flancos. Lex não estava surpreso pela evidência da recente atividade de seu pai, nem pelo<br />

fato que o trio de vozes fracas no outro quarto fossem as de seu atual grupo de escravas humanas.<br />

Criar e manter subordinados, algo que só as estirpes mais puras e poderosas da raça eram capazes<br />

de fazer, tinha sido durante longo tempo uma prática ilegal entre a educada sociedade da Raça.<br />

Entretanto, assim era feito pelo menos entre os segmentos de Sergei Yakut. Fazia suas próprias<br />

regras, dispensava sua própria justiça, e aqui, neste lugar remoto, deixava claro a todos que era o<br />

rei. Inclusive Alex podia apreciar esse tipo de liberdade e poder. Demônios, podia virtualmente<br />

saboreá-lo.<br />

Yakut lhe dirigiu um olhar desdenhoso do outro lado do quarto.<br />

—Você olhou e viu a morte diante de mim.<br />

Lex franziu o cenho.<br />

—Senhor?<br />

—Se não fosse pelas restrições do guerreiro e minha intervenção nesta noite, estaria<br />

acompanhando Urien nesse depósito da cidade, ambos os corpos esperando o amanhecer.<br />

O desprezo alagava cada sílaba. Yakut recolheu uma ferramenta de ferro do lado da chaminé<br />

e moveu as lenhas no lugar.<br />

—Salvei sua vida esta noite, Alexei. O que mais espera que te dê esta tarde?<br />

Lex se zangou ao recordar sua recente humilhação, mas sabia que o ódio não o ajudaria,<br />

particularmente não quando estava enfrentando seu pai. Fez um movimento diferente com sua<br />

cabeça, encontrando uma maldita dura resistência para manter o tom de sua voz.<br />

—Sou seu fiel servente, pai. Não me deve nada. E não peço nada exceto a honra de sua<br />

contínua confiança em mim.<br />

Yakut grunhiu.<br />

—Fala mais como um político que como um soldado. Não necessito políticos em minhas<br />

filas, Alexei.<br />

—Sou um soldado— respondeu rapidamente Lex, elevando sua cabeça e olhando enquanto<br />

seu pai continuava movendo o pau de ferro no fogo. As lenhas se rompiam, faíscas saltavam para<br />

cima, golpeando o comprido e letal silêncio que caía sobre o ambiente. —Sou um soldado—


Tiamat World<br />

38<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

afirmou de novo Lex. —Quero te servir o melhor que possa, Pai.<br />

Uma brincadeira agora, mas Yakut girou sua descabelada cabeça para olhar Lex por cima do<br />

ombro.<br />

—Dá-me palavras, menino. Eu não tenho nenhuma obrigação de confiar em suas palavras.<br />

Ultimamente não posso ver que me tenha devotado nada mais.<br />

—Como espera que eu seja eficiente se não me mantêm melhor informado?<br />

Quando esses olhos matizados de âmbar com suas estilhaçadas pupilas se estreitaram<br />

afiadamente sobre ele, Lex se deu pressa em acrescentar:<br />

—Corri até o guerreiro nos campos. Ele me disse sobre os recentes assassinatos dos Gen<br />

Um. Disse que a Ordem tinha contatado com você pessoalmente para te avisar do perigo<br />

potencial. Deveria haver me participado isso, pai. Como capitão de sua guarda, mereço ser<br />

informado.<br />

—Merece o que?— a pergunta saiu dos lábios de Yakut. —Por favor, Alexei… me diga só o<br />

que sente que merece.<br />

Lex permaneceu em silêncio.<br />

—Nada a acrescentar, filho?— Yakut moveu sua cabeça em um ângulo exagerado, sua boca<br />

mostrou um sorriso sarcástico. —Uma acusação semelhante me foi lançada há anos pelos lábios<br />

de uma estúpida mulher que pensava poder apelar a meu sentido de obrigação. A minha<br />

misericórdia, possivelmente. Riu entre dentes, voltando sua atenção de novo ao fogo, para<br />

removê-lo de novo nas brasas. —Sem dúvida recorda o que aconteceu.<br />

—Recordo— respondeu com cuidado Lex, surpreso pela seca situação de sua garganta<br />

enquanto falava.<br />

As lembranças formaram redemoinhos junto com as ondulantes chamas da chaminé.<br />

Ao norte da Rússia, no fim do inverno. Lex era um menino, mal tinha dez anos, mas era o<br />

homem de seu precário lar tanto como podia recordar. Sua mãe era tudo o que tinha. A única que<br />

sabia como era realmente, e o queria apesar de tudo.<br />

Tinha se preocupado na noite que havia dito que ia levá-lo para conhecer seu pai pela<br />

primeira vez. Ela disse a Lex que tinha sido um segredo que tinha mantido — seu pequeno<br />

tesouro. Mas o inverno tinha sido duro, e eram pobres. Necessitavam refúgio, alguém que os<br />

protegesse. O campo estava em confusão, inseguro para uma mulher cuidando de um menino<br />

como Lex sozinha. Ela rogou ao pai de Lex que os ajudasse. Prometeu que ele abriria seus braços<br />

em boas vindas uma vez que tivesse conhecido seu filho.<br />

Sergei Yakut lhes tinha dado boas vindas com uma fria ira e um terrível e impensável<br />

ultimato.<br />

Lex recordava as preces de sua mãe a Yakut para que os acolhesse...completamente<br />

ignoradas. Recordava à orgulhosa e bela mulher ajoelhando-se diante de Yakut, rogando que se<br />

não se preocupava com ambos que cuidasse somente de Alexei.<br />

Essas palavras se cravavam nos ouvidos de Lex, inclusive agora: “É seu filho! Não significa<br />

nada para você? Não merece algo mais?”<br />

Tão rápido a cena tinha perdido o controle.


Tiamat World<br />

39<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Tão fácil foi para Sergei Yakut tirar sua espada e deslizar essa lâmina limpamente através do<br />

pescoço da mãe indefesa de Lex.<br />

O brutal de suas palavras, que só tinha lugar para soldados em seu reino, e que Lex tinha<br />

uma escolha a fazer nesse momento: servir ao assassino de sua mãe ou morrer junto com ela.<br />

Tão débil a resposta de Lex tinha sido, dita entre soluços. Servirei-te, havia dito, e sentiu que<br />

uma parte de sua alma o abandonava enquanto olhava com horror o corpo sangrento e<br />

destroçado de sua mãe. Servirei-te, pai.<br />

Tão frio foi o silêncio que continuou.<br />

Tão frio como uma tumba.<br />

—Sou seu servente— disse alto agora Lex, baixando a cabeça mais pelo peso das velhas<br />

lembranças que por respeito ao tirano que o governava. —Minha lealdade sempre foi tua, pai. Só<br />

sirvo ao seu prazer.<br />

Um repentino calor, tão intenso que pareciam chamas ardentes apertou sob o queixo de<br />

Lex. Sobressaltado, levantou sua cabeça, estremecendo de dor com um grito afogado. Viu a<br />

fumaça sair diante de seus olhos, sentiu o cheiro adocicado de carne queimando.<br />

Yakut Sergei estava diante dele segurando o atiçador de ferro longo em sua mão. A ponta<br />

brilhante da haste de metal queimando vermelha, exceto pelo resíduo de pele branca pendurada,<br />

que havia sido arrancada do rosto de Lex.<br />

Yakut sorriu, mostrando as pontas de seus dentes.<br />

—Sim, Alexei, serve apenas para o meu prazer. Lembre-se disso. Só porque meu sangue<br />

corre em suas veias, não significa que eu me recuso a te matar.<br />

—Claro que não,— Lex murmurou, seus dentes cerrados pela devastadora agonia de sua<br />

queimadura. O ódio fervilhava nele pelo insulto que tinha que engolir e sua própria impotência,<br />

quando viu o homem da raça que desafiou-o com a testa franzida para fazer um movimento<br />

contra ele de novo. Yakut desistiu no final. Ele arrastou uma túnica de linho marrom de uma<br />

cadeira e deu de ombros para ele. Seus olhos ainda estavam brilhantes, com fome e sede de<br />

sangue. Ele deixou sua língua deslizar em seus dentes e presas.<br />

—Como você está tão ansioso para me agradar, traga Renata. Necessito-a agora.<br />

Lex apertou seus dentes tão forte que deveriam ter-se feito pedacinhos em sua boca.<br />

Sem palavras saiu do quarto com sua mandíbula rígida, seus próprios olhos cintilavam com a<br />

luz âmbar de sua indignação. Não perdeu de vista o olhar confuso do guarda postado na porta, o<br />

rumo inquieto dos olhos dos outros vampiros enquanto disfarçava o aroma de carne queimada e o<br />

provável calor da turvada ira de Lex.<br />

Sua queimadura cicatrizaria, de fato, já o estava fazendo, seu acelerado metabolismo da raça<br />

reparava a pele queimada enquanto os pés de Lex o levavam a zona principal do refúgio. Renata<br />

vinha de fora. Ela viu Lex e se deteve, girando ao redor como se quisesse o evitar. Não era<br />

fodidamente provável.<br />

—Ele te quer— gritou Lex através da estadia, sem preocupar-se quantos outros guardas o<br />

ouvissem. Todos sabiam que ela era a puta de Yakut, assim não havia razão para fingir outra coisa.<br />

—Me disse que te chamasse. Está esperando para que o sirva.


Tiamat World<br />

40<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Os frios olhos verde jade o demoliram.<br />

—Estive treinando. Preciso lavar a sujeira e o suor.<br />

—Disse agora, Renata.<br />

Uma ordem curta, uma que sabia seria obedecida. Havia mais que uma pequena satisfação<br />

nesse pequeno e raro triunfo.<br />

—Muito bem.<br />

Ela deu de ombros, apoiada sobre seus pés descalços.<br />

Sua insossa expressão enquanto se aproximava dizia que não a preocupava o que ninguém<br />

pensasse dela, e muito menos Lex, e essa falta de adequada humilhação só o fazia querer degradála<br />

mais. Farejou em sua direção, mais por efeito que por nada mais.<br />

—Não importará sua imundície. Todos sabemos que as melhores putas são as sujas.<br />

Renata não fez mais que piscar com o vulgar comentário. Ela podia reduzi-lo com uma rajada<br />

de seu poder mental se o decidisse — de fato, Lex quase esperava que o fizesse, só para<br />

demonstrar que a tinha ferido. Mas o rápido giro de seu olhar disse que ela não sentia que<br />

merecesse a pena o esforço.<br />

Ela passou junto dele com uma dignidade que Lex não podia inclusive começar a entender.<br />

Ele a olhou – todos os guardas na zona imediata a olharam — enquanto caminhava para o quarto<br />

de Sergei Yakut tão calma como uma rainha da nobreza em seu caminho à forca.<br />

Não precisou muito para Lex imaginar o dia quando ele poderia ser o único a controlar tudo,<br />

que mandaria sobre este lugar, incluindo à altiva Renata. É obvio, a puta não seria tão altiva se sua<br />

mente, vontade e corpo pertencessem completamente a ele. Uma subordinada para servir cada<br />

um de seus caprichos…e os dos outros homens a seu comando.<br />

Sim, Lex refletiu com muito maus olhos, seria condenadamente bom ser rei.<br />

Capítulo 8<br />

Nikolai pegou uma das adagas de Renata que caiu do grosso poste onde ela as tinha jogado.<br />

Tinha que lhe dar crédito, se tivesse acertado o objetivo estaria morto. Se fosse simplesmente um<br />

humano, não da Raça, condenado com os reflexos lentos dos seres humanos, o treinamento de<br />

Renata o teria convertido certamente em espetinhos para assar.<br />

Ele riu entre dentes ao colocar a lâmina em seu envoltório elegante com as outras três do<br />

conjunto. As armas eram formosas, elegantes e perfeitamente equilibradas, obviamente, feitas à<br />

mão. Niko deixou que seu olhar vagasse sobre o lavrado esculpido nos punhos de prata esterlina.<br />

O padrão parecia ser um jardim de videiras e flores, mas quando as olhou mais de perto, deu-se<br />

conta que cada uma das quatro lâminas também continham uma só palavra gravada com amor<br />

dentro de seu desenho ornamentado: Fé. Coragem. Honra. Sacrifício.<br />

A oração de um guerreiro?, ele se perguntou. Ou eram esses os princípios da disciplina<br />

pessoal de Renata?


Tiamat World<br />

41<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Nikolai pensou no beijo que tinham compartilhado. Bom, dizer que eles o tinham<br />

compartilhado era um tanto presunçoso, tendo em conta como ele tinha descido sobre sua boca<br />

com toda a delicadeza de um trem de carga. Ele não tinha tido a intenção de beijá-la. Sim, e a<br />

quem estava tentando enganar? Ele não poderia ter parado mesmo que tivesse tentado. Não que<br />

fosse uma desculpa. E não é que Renata tivesse dado qualquer possibilidade para xeretar ou<br />

pensar em alguma desculpa ou perdão.<br />

Niko ainda podia ver o horror em seus olhos, a inesperada mas óbvia repulsão pelo que ele<br />

tinha feito. Ainda podia sentir a sinceridade da ameaça que pronunciou justo antes que ela<br />

tempestuosamente saísse do edifício.<br />

A parte destruida de seu ego tentava acalmá-lo com a possibilidade que talvez ela realmente<br />

desprezasse todos os machos em geral. Ou que talvez ela fosse tão fria como Lex parecia pensar,<br />

um soldado assexuado, frígida apesar de ter a cara de um anjo e um corpo que conduzia sua<br />

mente a todo tipo de pecado. Muitos pecados, cada um mais tentador e atraente que o anterior.<br />

Nikolai tinha um encanto fácil quando se tratava de mulheres, não era simples alarde, mas<br />

uma conclusão a que ele tinha chegado apoiado nos anos de experiência. Quando se tratava de<br />

mulheres, desfrutava tranqüilamente das conquistas sem complicações, quanto mais temporárias<br />

melhor. A perseguição e as lutas eram divertidas, mas o melhor reservava para o combate<br />

verdadeiro, em batalhas sangrentas, com vampiros Renegados e outros inimigos da Ordem. Esses<br />

eram os desafios que ele desfrutava mais.<br />

Então, por que estava lutando contra este impulso perverso de ir atrás de Renata agora e ver<br />

se não podia descongelar parte do gelo que a cobria?<br />

Porque ele era um idiota, por isso. Um idiota com uma fúria perigosa – e — um aparente<br />

desejo mortal.<br />

Hora de voltar os olhos sobre a maldita bola. Não importava o que seu corpo estivesse<br />

dizendo — não mais do que importava o que ele viu no olhar de Mira. Ele tinha um trabalho a<br />

fazer, uma missão da Ordem, e isso era a única razão pela qual estava aqui.<br />

Niko cuidadosamente envolveu as adagas de Renata em seu estojo de seda e veludo e<br />

colocou o pequeno embrulho no fardo de palha para esperar que voltasse buscá-los juntamente<br />

com seus sapatos desprezados.<br />

Ele abandonou o edifício do canil e se dirigiu à escuridão para acumular informação sobre as<br />

terras da mansão. Uma meia lua pendurava no alto do céu noturno, velada por um punhado de<br />

nuvens cinza como o carvão. A brisa de meia-noite era cálida, abatendo-se brandamente através<br />

dos pinheiros altos e carvalhos espinhosos dos bosques circundantes. Os aromas se mesclavam no<br />

ar úmido do verão: o sabor forte da resina de pinheiro, a marca mofada do chão protegido do sol e<br />

musgo, a nitidez de tantos minerais que rodavam pela água doce, na corrente que evidentemente<br />

atravessava a propriedade não longe de onde estava Niko.<br />

Nada inesperado. Nada fora do lugar.<br />

Até que...<br />

Nikolai levantou seu queixo e inclinou a cabeça ligeiramente para o oeste. Algo muito<br />

inesperado entrou a deriva através de seus sentidos. Algo que não podia, não deveria, encontrar


Tiamat World<br />

42<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

aqui.<br />

Era a morte o que cheirava agora.<br />

Sutil, velha… mas certa.<br />

Ele correu na direção que seu nariz conduzia. Mais profundo no bosque. Uns cem metros de<br />

distância da mansão, a espessura surgiu bruscamente. Niko reduziu sua marcha quando chegou ao<br />

lugar onde suas fossas nasais começavam a arder com o fedor envelhecido da decomposição. A<br />

seus pés, o chão estava esparso com folhas, enredado por videiras que caíam longe pela ravina<br />

escarpada.<br />

Nikolai olhou para baixo pela fenda, adoecendo, inclusive antes que seus olhos pousassem<br />

no açougue.<br />

—Santo Inferno—, murmurou ele, sob seu fôlego.<br />

Uma fossa de morte se encontrava no fundo da ravina. Esqueletos de restos humanos.<br />

Dúzias de corpos, sem enterrar, esquecidos, simplesmente jogados um em cima do outro, como se<br />

fossem lixo. Tantos, que levaria muito tempo para contar todos eles. Adultos. Crianças pequenas.<br />

Um massacre que não mostrava nenhuma discriminação ou misericórdia a suas vítimas. Um<br />

massacre que poderia ter levado anos para ser feito.<br />

A pilha de ossos brancos brilhava sob a escassa luz da lua, as pernas e braços empilhados<br />

juntos onde quer que o mortos tivessem caído, crânios olhando para ele, com as bocas abertas em<br />

macabros gritos silenciosos. Nikolai havia visto o suficiente. Ele recuou da beira da ravina<br />

enquanto assobiava outra maldição na escuridão.<br />

—Que porra esteve acontecendo aqui?<br />

Em suas vísceras, ele sabia.<br />

Jesus Cristo, não havia muita margem para dúvida.<br />

Um Clube de sangue.<br />

A fúria e a repugnância passaram através dele em uma onda negra. Ele teve por instantes, o<br />

desejo entristecedor de rasgar os membros de cada vampiro comprometido em violar a lei,<br />

assassinatos em grande quantidade destas pessoas. Não é que ele tivesse esse direito, inclusive<br />

como um membro guerreiro da Ordem. Ele e seus irmãos não tinham muitos amigos entre os<br />

ramos governantes da raça, e muito menos na Agência de Controle, que atuavam tanto como<br />

policiais como políticos responsáveis pelas populações de vampiros em geral. Eles pensavam que a<br />

Ordem e todos os guerreiros que a serviam estavam acima da sociedade civilizada. Vigilantes e<br />

militantes. Cães selvagens que só desejavam uma desculpa para fazê-la cair.<br />

Nikolai sabia que estava fora dos limites nisto, mas isso não fez que o desejo de prescindir<br />

sua própria marca de justiça se fizesse menos tentadora.<br />

Embora se revolvesse com o ultraje e a indignação, Niko precisava mesmo assim acalmar-se.<br />

Sua fúria não ajudaria nenhuma das vidas que estavam esparramadas lá embaixo. Muito tarde<br />

para eles. Não podia fazer nada, exceto mostrar um pouco de respeito, algo que lhes tinha sido<br />

negado inclusive depois da morte.<br />

Solenemente agora, embora fosse só por uns momentos necessários, Nikolai se ajoelhou na<br />

borda afiada da profunda ravina. Ele estendeu amplamente seus braços longos, invocando o poder


Tiamat World<br />

43<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

luminoso que estava dentro dele, um talento da raça que se encontrava unicamente nele, e que<br />

em sua linha de trabalho em particular, era de pouca utilidade. Sentiu o poder arder em seu<br />

interior quando o invocou. O poder se voltou em energia e luz, propagando-se através de seus<br />

ombros e para baixo em seus braços, logo em suas mãos, esferas gêmeas que brilhavam sob a pele<br />

no centro das palmas de suas mãos.<br />

Nikolai tocou com seus dedos a terra dos seus lados.<br />

As videiras e arbustos se agitavam ao seu redor em resposta, gavinhas verdes e pequenas<br />

flores silvestres do bosque despertaram acima fazendo movimentos. Tudo isso aumentando cada<br />

vez mais em acelerada velocidade. Niko enviou os brotos que estavam crescendo de novo para a<br />

ravina, logo ficou de pé para ver como os mortos estavam sendo cobertos por um manto de<br />

suaves folhas novas e flores.<br />

Como um rito funerário, não era muito, mas era tudo o que ele tinha a oferecer às almas<br />

que foram deixadas ali para apodrecer na intempérie.<br />

—Descansem em paz—, murmurou ele.<br />

Quando o último osso esteve coberto, ele se dirigiu para a mansão. O celeiro de<br />

armazenamento em que ele tinha farejado o sangue antes agora captou sua atenção.<br />

Só para confirmar suas suspeitas, Niko inspecionou por cima e moveu o ferrolho solto. Ele<br />

abriu a porta, e olhou dentro. O celeiro estava vazio, tal como Lex havia dito. Mas novamente, as<br />

jaulas de aço construídas no interior não tinham sido feitas para nenhum tipo de armazenamento<br />

permanente. Eram altas gruas, celas da prisão com ferrolhos desenhadas para os prisioneiros<br />

humanos com caráter de contenção temporária.<br />

Brinquedos vivos para serem postos em liberdade para o esporte ilegal aqui no remoto<br />

bosque que Sergei Yakut dominava.<br />

Com um grunhido, Nikolai saiu do celeiro e partiu para a casa principal.<br />

—Onde está ele? — perguntou ao guarda armado que o percebeu assim que atravessou a<br />

porta. —Onde demônios está ele? Diga agora!<br />

Ele não esperou por uma resposta. Não quando os outros dois guardas, ambos do lado de<br />

fora de uma porta fechada no grande corredor, tomaram uma postura de batalha repentina. Atrás<br />

deles, estavam os aposentos privados de Yakut, obviamente.<br />

Nikolai irrompeu e empurrou um dos cabeças dura de seu caminho. O outro tinha um rifle e<br />

começou a apontar para ele. Niko rompeu a arma na cara do guarda, e então lançou o vampiro<br />

tonto à parede mais próxima.<br />

Deu um chute na porta, estilhaçando a madeira velha e rompendo as dobradiças de ferro<br />

arrancando-as limpamente. Nikolai caminhou a grandes passos através dos escombros, ignorando<br />

os gritos dos homens de Yakut. Ele encontrou o Gen Um no centro do quarto, diante de um sofá<br />

de couro, inclinado possessivamente sobre a garganta nua de uma fêmea de cabelos escuros que<br />

estava enjaulada dentro dos braços do vampiro.<br />

Com a interrupção, Yakut levantou a cabeça de sua alimentação e elevou a vista. Também o<br />

fez sua anfitriã de sangue…<br />

Renata. De maneira nenhuma, merda.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Ela estava unida com o laço de sangue? Poderia ser ela possivelmente a companheira de<br />

Raça deste monstro?<br />

Todas as acusações que Nikolai tinha preparado para lançar a Sergei Yakut tiveram uma<br />

morte repentina em sua garganta. Ele ficou olhando fixamente, com seus sentidos da Raça<br />

turvados e trincados, mais acordados ao ver o sangue da fêmea que gotejava dos lábios e enormes<br />

presas de Yakut. O aroma dela atravessou o quarto, fechando com força no cérebro de Niko. Ele<br />

não esperava um contraste tão estranho ao de sua conduta fria, mas o aroma de seu sangue era<br />

uma mescla quente, embriagadora e intoxicante de sândalo e fresca chuva de primavera. Suave,<br />

feminino. Excitante.<br />

A fome se apertou no estômago de Nikolai, uma reação visceral que teve que lutar<br />

duramente para conter. Ele disse a si mesmo que era simplesmente sua natureza da Raça<br />

sobressaindo. Havia poucos entre os de sua estirpe que podiam resistir à chamada de sereia de<br />

uma veia aberta, mas quando seus olhos travaram no olhar fixo sem pestanejar de Renata através<br />

da distância, um novo calor explodiu dentro dele. Inclusive mais forte que a primitiva sede de<br />

alimentar-se.<br />

Ele a desejava.<br />

Inclusive enquanto estava deitada debaixo de outro macho, permitindo ao macho beber<br />

dela, Nikolai tinha fome dela com uma ferocidade que o sobressaltou. Unida pelo sangue a outro<br />

ou não, Niko queimava por ter Renata.<br />

Que, até com seu próprio flexível código de honra, sentiu deslizar algo próximo ao desprezo<br />

pelo Yakut.<br />

Niko teve que sacudir-se mentalmente para desprender-se dessa visão perturbadora,<br />

voltando bruscamente sua atenção aos problemas que tinha à mão.<br />

—Você tem um sério problema —, disse ele ao vampiro Gen Um, apenas capaz de conter<br />

seu desprezo. —Na realidade, suponho que você tem aproximadamente três dúzias deles,<br />

apodrecendo aí em seu bosque.<br />

Yakut não disse nada, só o resplendor de sua transformação, do olhar escuro a um âmbar de<br />

desafio. Um grunhido se ondulou por ele antes que voltasse a cabeça para sua comida<br />

interrompida. A língua de Yakut deslizou do meio de seus lábios para lamber as espetadas que<br />

tinha deixado no pescoço de Renata, selando as feridas e as fechando.<br />

Só então, quando a língua de Yakut percorreu sua pele, ela afastou o olhar de Niko. Ele<br />

acreditou ver alguma tranqüilidade, um pouco de resignação, passar através de seu rosto nos<br />

segundos antes que Yakut se levantasse e a liberasse. Uma vez livre, Renata se moveu ao canto do<br />

quarto, puxando sua camisa de volta a uma certa aparência de ordem.<br />

Ela ainda estava vestida com sua roupa de antes, ainda descalça, como tinha estado fora.<br />

Ela devia ter vindo diretamente aqui depois do que tinha se passado entre Niko e ela.<br />

Tinha procurado Yakut por proteção? Ou por simples comodidade?<br />

Jesus. Niko se sentiu igual a um asno quando lembrou beijá-la da forma em que o fez. Se ela<br />

estava unida por sangue a Sergei Yakut, essa união era sagrada, íntima… exclusiva. Não admirava<br />

que ela tivesse reagido como tinha feito. Os beijos de Nikolai teriam sido um insulto e degradação


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

para ambos. Mas ele não estava ali para pedir desculpas agora – não a Renata ou seu aparente<br />

companheiro.<br />

Nikolai dirigiu um olhar duro para o vampiro.<br />

—Quanto tempo você esteve caçando seres humanos, Yakut?<br />

O Gen Um grunhiu, sorrindo.<br />

—Encontrei os currais de detenção no celeiro. Encontrei os corpos. Homens, mulheres…<br />

crianças.<br />

Nikolai assobiou uma maldição, incapaz de conter sua repugnância e indignação.<br />

—Você esteve dirigindo um Clube de sangue nocivo aqui. Pelo aspecto deles, eu diria que<br />

você esteve nisto durante anos.<br />

—E o que tem isso?— Yakut perguntou despreocupadamente. Sem nem sequer fazer uma<br />

tentativa de mostrar uma respeitável negação.<br />

E no canto do quarto, Renata permaneceu em silêncio, com os olhos fixos em Niko mas não<br />

mostrando nenhuma surpresa absolutamente. Ah, Cristo! Então, ela sabia também<br />

—Maldito doente,— ele disse, olhando de novo Yakut agora. —Todos vocês estão doentes.<br />

Não será permitido continuar com isto. Pare aqui mesmo, agora. Há leis…<br />

O Gen Um riu, com a voz deformada pela transformação de seu lado mais selvagem.<br />

—Eu sou a lei aqui, moço. Ninguém, nem os Darkhavens e sua tão elogiada Agência de<br />

Imposição, nem sequer a Ordem — tem algo a dizer em meus assuntos. Convido qualquer um a vir<br />

aqui e tentar me dizer o contrário.<br />

A ameaça era clara. Apesar do fato que todo o honorável e justo gritava a Nikolai para que<br />

lançasse membros voando do presumido filho da puta, determinado a matá-lo, embora este não<br />

fosse um vampiro comum. Sergei Yakut era um Gen Um. Não só dotado de força e poderes<br />

imensamente maiores que os de Niko ou qualquer outro posterior geração da Raça, exceto pelos<br />

membros da rara Estirpe de indivíduos. Desses, só havia uns poucos Gen Uns, menos ainda agora,<br />

como resultado da erupção dos recentes assassinatos.<br />

Tão repugnante como a prática ilegal dos clubes de Sangue entre a sociedade da Raça,<br />

estava a tentativa de matar um vampiro de primeira geração a qual era uma ofensa ainda maior.<br />

Nikolai não podia levantar a mão contra o filho da puta, não importa o quanto ele o<br />

desejava.<br />

E Yakut sabia disso. Ele limpou a boca com a beira de sua túnica escura, esfregando<br />

ligeiramente a fragrância doce do sangue de Renata.<br />

—A caçada está em nossa natureza, moço.<br />

A voz de Yakut tinha uma serenidade mortal, completamente cheia de confiança, enquanto<br />

avançava para Nikolai. —Você é jovem, nascido da Estirpe mais fraca de alguns de nós. Talvez seu<br />

sangue esteja tão diluído com a da humanidade, que simplesmente não pode compreender a<br />

necessidade, em sua forma mais pura. Pode ser que se tivesse o gosto da caçada, fosse menos<br />

hipócrita e santarrão com aqueles de nós que preferimos viver como têm que ser.<br />

Niko lhe dirigiu uma sacudida lenta com sua cabeça.<br />

—Os clubes de sangue não são caçada. Eles são simplesmente uma matança. Você pode tirar


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

e dizer suas estupidezes não importando quanto você o deseje, mas no final, segue sendo uma<br />

merda. É um animal. O que você realmente precisa é uma focinheira e uma coleira. Alguém tem<br />

que te parar.<br />

—E pensa que você ou a Ordem farão essa tarefa?<br />

—Pensa que nós não o faremos?— o desafiou Niko, uma parte temerária dele esperando<br />

que o Gen Um lhe desse uma razão para tirar suas armas. Ele não se imaginava fugindo da<br />

confrontação com o antigo vampiro, mas seguro como o inferno que não iria sem uma maldita<br />

viciosa briga. Em troca, Yakut recuou para trás, com seus olhos de cor âmbar brilhante, suas<br />

elípticas pupilas diminutas estilhaçadas de negro. Ele ergueu o queixo barbudo, a cabeça se<br />

ergueu completamente para um lado. Seus lábios se separaram com um selvagem sorriso que<br />

expôs suas presas. Desta maneira, não era difícil para todos observar a parte alienígena dele— a<br />

parte que fazia a ele e a todo o resto da Raça o que eram: predadores que bebem sangue e não<br />

pertencem totalmente a este mundo mortal mas que nasceram neste mundo.<br />

—Te disse uma vez que não era bem vindo em meus domínios, guerreiro. Não tenho<br />

nenhuma utilidade para você, ou para sua proposta de aliança com a Ordem. Minha paciência está<br />

chegando ao seu limite, e também sua estadia aqui.<br />

—Sim,— Niko esteve de acordo. —Eu me fodo por ir embora deste lugar, e com muito<br />

prazer. Mas não pense que esta é a última vez que você vai ter notícias minhas.<br />

Ele não podia deixar de passar o olhar em Renata quando o disse. Embora desafiante<br />

quando se encontrou com Yakut, ele não podia sentir o mesmo tipo de fúria por ela. Ele esperava<br />

que dissesse que não sabia sobre os crimes que aconteciam neste pedaço de terra empapada de<br />

sangue. Ele desejava que dissesse algo para convencê-lo que não era em realidade parte do jogo<br />

que e das práticas doentes de Yakut.<br />

Ela simplesmente recuou seu olhar, com os braços cruzados sobre o peito. Uma mão se<br />

elevou ociosamente para tocar a ferida que estava curando-se em seu pescoço, mas ela<br />

permaneceu em silêncio.<br />

Vigiando-o quando Nikolai saiu pela porta aberta diante do aturdido guarda de Yakut.<br />

* * * *<br />

—Devolvam os itens pessoais ao Guerreiro e cuidem para que deixe a propriedade sem<br />

incidentes—, Yakut encarregou um par de homens armados que se encontravam fora de seu<br />

quarto.<br />

Quando os dois saíram para atender a ordem, Renata começou a segui-los. Alguma<br />

desenquadrada parte dela desejava poder ser capaz de pegar Nikolai em privado e…<br />

E o que?<br />

Explicar a verdade de como eram as coisas para ela aqui? Tentar justificar as ações que ela<br />

tinha sido forçada a fazer?<br />

Com que fim?<br />

Nikolai partiria. Ele nunca teria que voltar para este lugar, enquanto ela estaria aqui até seu


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

último fôlego. Que bem poderia fazer em explicar algo disto a ele, um desconhecido que<br />

provavelmente não a entenderia, e muito menos a protegeria?<br />

E, entretanto, os pés de Renata continuaram movendo-se.<br />

Ela nem sequer chegou até a porta. A mão de Yakut fechou fortemente sobre seu pulso,<br />

segurando-o a suas costas.<br />

—Você não, Renata. Você fica.<br />

Ela o percorreu com o olhar com uma expressão que esperava estar desprovida da<br />

ansiedade e náuseas que estava tentado tão duramente empurrar para baixo.<br />

—Pensei que tínhamos terminado aqui. Que talvez deveria ir junto com os outros, só para<br />

assegurar que o guerreiro não decida fazer nada estúpido em seu caminho fora da propriedade .<br />

—Você ficará. O sorriso de Yakut a gelou até os ossos. —Ande com cuidado, Renata. Eu não<br />

gostaria que você fizesse nada estúpido tampouco.<br />

Ela tragou o repentino nó frio de ansiedade de sua garganta.<br />

—Perdão?<br />

—Você pode encontrar-se — respondeu ele, apertando hermeticamente seu braço. —Suas<br />

emoções a traem, formosura. Posso sentir o aumento de sua freqüência cardíaca, o muro de<br />

adrenalina que atravessa correndo por suas veias agora mesmo. Senti a mudança em você no<br />

momento que o guerreiro entrou no quarto. Senti antes também. Com cuidado me diga onde<br />

esteve esta noite?<br />

—Treinando—, respondeu ela, rapidamente, mas com firmeza. Para não dar nenhuma razão<br />

para duvidar dela, já que era essencialmente a verdade. —Antes que você enviasse Lex<br />

procurando por mim, eu estava fora, executando meus exercícios de treinamento no antigo canil.<br />

Foi excesso de treinamento. Se você sentiu algo em mim, isso é tudo o que foi.<br />

Um silêncio longo se estendeu, e ainda com o aperto rígido em seu pulso.<br />

—Você sabe o muito que valoro a lealdade, não é, Renata?— Ela fez uma breve inclinação<br />

de cabeça.—Valoro-a tanto quanto você valora a vida daquela menina que dorme no outro<br />

quarto—, disse ele friamente. Penso que esta dúvida poderia fazer com que ela terminasse no<br />

cemitério.<br />

O sangue de Renata se congelou nas veias com a ameaça. Ela olhou fixamente para cima aos<br />

malignos olhos de um monstro, um que sorria abertamente a ela agora com um prazer doentio.<br />

—Como disse, querida Renata. Ande com muito cuidado.<br />

Capítulo 9<br />

A cidade de Montreal, chamada assim pelo grande monte que permitia ver o rio Saint<br />

Lawrence e o vale abaixo, brilhava como uma tigela de pedras preciosas sob a crescente forma da<br />

lua. Elegantes arranha-céus. Pedaços de igrejas góticas. Avenidas ajardinadas e, na distância, uma<br />

brilhante linha de água que aconchegava à cidade em seu protetor abraço. Era verdadeiramente


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

uma vista espetacular.<br />

Não havia dúvida de por que o líder do Darkhaven de Montreal havia escolhido estabelecer<br />

sua comunidade perto do topo de Monte Real.<br />

Estar de pé no balcão do segundo andar da mansão em estilo barroco fazia que a velha<br />

cabana de caçadores fora da cidade parecesse estar a mil quilômetros de distância. Mil anos longe<br />

desta educada e civilizada maneira de viver. A qual, é obvio, era.<br />

A espera para reunir-se com Edgar Fabien, o homem da raça que fiscalizava a população<br />

vampírica de Montreal, parecia durar uma eternidade. Fabien era bem conhecido na cidade e<br />

havia rumores que tinha bons contatos, tanto no Darkhavens como no grupo de patrulha<br />

conhecido como a Agência da Lei e Ordem. Era a escolha natural para uma situação delicada como<br />

esta. Ainda assim, era uma aposta se o líder do Darkhaven estaria disposto a cooperar. Esta visita<br />

tardia e sem anunciar tinha sido algo espontâneo, e muito arriscado.<br />

Só vindo aqui, estava declarando-se inimigo de Sergei Yakut.<br />

Mas havia visto o suficiente.<br />

Tinha suportado o suficiente.<br />

O príncipe estava doente e cansado de lamber as botas de seu pai. Era hora que o rei tirano<br />

caísse.<br />

Lex girou com o som de pegadas aproximando-se do interior da recepção. Fabien era um<br />

homem magro, alto e meticulosamente vestido, como se tivesse nascido em seu traje sob medida<br />

e brilhantes mocassins de pele. Seu cabelo loiro cinza estava penteado para trás com algum tipo<br />

de azeite perfumado, e quando sorriu a Lex como saudação, seus magros lábios e estreitos traços<br />

faciais chegaram a ser inclusive mais severos.<br />

—Alexei Yakut,— disse, saindo para o balcão e oferecendo a Lex sua mão. Não menos de<br />

três anéis cintilavam sobre seus longos dedos, ouro e diamantes que rivalizavam com o brilho da<br />

cidade lá fora. —Lamento que tenha esperado tanto. Temo que não estamos acostumados a<br />

receber convidados inesperados em minha residência pessoal.<br />

Lex deu um tenso assentimento e afastou sua mão da de Fabien. A casa privada do líder<br />

Darkhaven não estava exatamente nos guias de viagem de Montreal, mas umas poucas perguntas<br />

feitas às pessoas corretas tinham guiado Lex ali sem muitos problemas.<br />

—Vêem, por favor,— disse o homem da Raça, gesticulando para Lex e o guiando ao interior<br />

da casa. Fabien sentou sobre um luxuoso sofá, deixando espaço para Lex do outro lado.<br />

—Devo admitir, que fiquei surpreso quando minha secretária disse quem tinha vindo para<br />

me ver. Uma vergonha que não tivéssemos a oportunidade de nos conhecer até agora.<br />

Lex tomou assento junto ao homem Darkhaven, incapaz de evitar que seus olhos viajassem<br />

pelo interminável luxo de seus arredores.<br />

—Mas sabe quem sou?— perguntou com cuidado a Fabien. —Sabe também sobre o Gen<br />

Um, meu pai, Sergei Yakut?<br />

Fabien deu um doce assentimento.<br />

—Só pelo nome, desgraçadamente. Sou negligente ao não ter feito as apresentações formais<br />

logo que chegaram a minha cidade. Entretanto, os guarda-costas de seu pai deixaram claro


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

quando meu emissário pediu uma reunião que seu pai era uma espécie de eremita. Entendo que<br />

desfrute de uma vida tranqüila e rural fora da cidade, em contato com a natureza ou similar.<br />

Sobre os nódulos de seus dedos, o sorriso de Fabien não alcançou seus olhos.<br />

—Suponho que diz algo viver com esse tipo de… simplicidade.<br />

Lex grunhiu.<br />

—Meu pai escolheu tal vida porque acredita em si mesmo acima da lei.<br />

—Perdão?<br />

—Isso é porque estou aqui— disse Lex. —Tenho informação. Informação crítica que precisa<br />

ser interpretada rapidamente. Secretamente.<br />

Edgar Fabien se inclinou para trás contra as almofadas do sofá.<br />

—Ocorreu algo…fora da casa?<br />

—Esteve ocorrendo durante longo tempo—, Lex admitiu, sentindo um raro sentido de<br />

liberdade enquanto as palavras saíam de sua boca.<br />

Contou tudo a Fabien sobre as atividades ilegais de seu pai, do clube de sangue e o cemitério<br />

cheio dos restos de suas vítimas, até o assassinato freqüente e em consonância de seus<br />

subordinados humanos. Lex explicou, não totalmente sincero, como tinha estado sendo corroído<br />

por este segredo durante longo tempo e como era seu próprio sentido de moralidade— seu<br />

sentido de honra e respeito para a lei da Raça— que o obrigava a procurar a ajuda de Fabien para<br />

deter o reino privado de terror de Sergei Yakut.<br />

Era o entusiasmo— emoção no fundo de sua valentia— que fazia tremer a voz de Lex, mas<br />

se Fabien tomava como lamento, muito melhor.<br />

Fabien escutou, sua expressão cuidadosamente séria, sóbria.<br />

—Entenda, estou certo, que isto não é um assunto pequeno. O que você descreveu<br />

é…problemático. Tão perturbador. Mas haverá certos fatos que virão à tona neste tipo de<br />

investigação. Seu pai é um Gen Um. Haverá perguntas que ele terá que responder, protocolos que<br />

precisarão ser observados.<br />

—Investigação? Protocolo?— disse indignado Lex. Saltou em seus pés, alagado de medo e<br />

ira. —Isso tomará dias ou inclusive semanas. Um fodido mês!<br />

Fabien assentiu desculpando-se.<br />

—Poderia ser sim.<br />

—Não há tempo para isso agora! Não entende? Estou oferecendo meu pai de bandeja.<br />

Todas as provas que necessitará para uma detenção imediata estão ali em sua propriedade. Pelo<br />

amor de Deus, estou arriscando minha maldita vida só por estar aqui!<br />

—Sinto. - O líder Darkhaven sustentava suas mãos. —Se a situação não for segura para você,<br />

estaremos mais que dispostos a oferecer proteção. A Agência poderia te afastar quando a<br />

investigação começar, te levar a algum lugar seguro.<br />

A afiada risada de Lex o cortou.<br />

—Enviar-me ao exílio? Estarei morto muito antes. Além disso, não estou interessado em<br />

fugir e me ocultar como um cão espancado. Quero o que mereço. Quero o que me deve, depois de<br />

todos estes anos de espera por esmolas desse bastardo. Era impossível mascarar seus verdadeiros


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

sentimentos agora. A ira de Lex tinha enchido o copo por completo. —Quer saber o que realmente<br />

quero de Sergei Yakut? Sua morte.<br />

O Olhar de Fabien se estreitou astutamente.<br />

—Essa é uma conversa muito perigosa.<br />

—Não sou o único que pensa assim— respondeu Lex. —De fato, alguém teve suficiente<br />

coragem para tentar isso semana passada.<br />

Mais e mais estreitos ficaram esses ardilosos e pequenos olhos.<br />

—O que quer dizer?<br />

—Foi atacado. Um assaltante entrou na casa e tentou cortar sua cabeça com um cabo, mas<br />

no final falhou. Maldita sorte— Lex acrescentou baixinho. —A Ordem pensa que é trabalho de um<br />

profissional.<br />

—A Ordem—, repetiu Fabien sem ar. —Como estão envolvidos nisso que está descrevendo?<br />

—Enviaram um guerreiro ontem à noite para reunir-se com meu pai. Aparentemente estão<br />

tentando avisar os Gen Um sobre as recentes caçadas entre a população.<br />

A boca de Fabien trabalhou um segundo sem formar palavras, como se não estivesse seguro<br />

sobre o que perguntar primeiro. Esclareceu sua garganta. —Há um guerreiro aqui em Montreal? E<br />

o que é isso de caçadas recentes? Do que está falando?<br />

—Cinco Gen Um mortos, entre a America do Norte e Europa— disse Lex, recordando o que<br />

Nikolai havia dito. —Alguém parece querer eliminar a primeira geração, um a um.<br />

—Meu Deus. A cara de Fabien era o vivo retrato da surpresa, mas algo nele preocupou<br />

Lex.—Não sabia nada sobre os assassinatos?<br />

Fabien se levantou lentamente, agitou sua cabeça.<br />

—Estou aturdido, asseguro isso. Não tinha nem idéia. Que horrível.<br />

—Possivelmente. Possivelmente não—, particularizou Lex.<br />

Enquanto olhava ao líder Darkhaven, Lex se deu conta que uma súbita tranqüilidade se<br />

abatia sobre o vampiro— ainda assim tinha que perguntar-se se Fabien respirava. Havia um tênue<br />

mas elevado pânico em seus olhos ambiciosos. Edgar Fabien sustentava seu corpo com rígida<br />

precisão, mas seu olhar mutante o olhava como se quisesse sair disparado da sala.<br />

Que intrigante.<br />

—Sabe, teria esperado que estivesse melhor informado, Fabien. Sua reputação na cidade te<br />

precede como o jogador. Com todos seus amigos policiais, tenta me dizer que nenhum deles te<br />

disse isso? Possivelmente não confiam em você, né? Possivelmente têm uma boa razão.<br />

Agora Fabien se encontrou com o olhar de Lex. Cintilações âmbar iluminaram sua íris, um<br />

sinal revelador de um nervo comprimido.<br />

—Que tipo de jogo está tentando comigo?<br />

—O teu— disse Lex, sentindo uma oportunidade e saltando sobre ela.<br />

—Sobre as caçadas de Gen Um. A questão é, por que mente sobre isso?<br />

—Não discuto publicamente assuntos policiais— Fabien cuspiu sua resposta, inflando seu<br />

magro peito com indignação. —O que sei ou não sei é meu assunto.<br />

—Sabia sobre o ataque de meu pai antes que o mencionasse, não é? Foi você o único que


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

pediu sua morte? O que há sobre os outros que foram assassinados?<br />

—Céus, está louco.<br />

—Queria estar—, disse Lex. —Qualquer complô em que esteja, Fabien, eu também quero<br />

estar.<br />

O líder Darkhaven expulsou sua respiração bruscamente, depois deu as costas a Lex<br />

enquanto caminhava para uma das altas estantes edificadas na parede cor prata. Acariciou com<br />

sua mão a madeira polida, rindo preguiçosamente.<br />

—Como nossa conversa foi iluminadora e entretida, Alexei, possivelmente deveria terminar<br />

aqui. Acredito que é melhor que se vá e se acalme antes de dizer alguma tolice mais.<br />

Lex avançou, decidido a convencer Fabien que merecia a pena.<br />

—Se o quiser morto, estou disposto a te ajudar a conseguir.<br />

—Insensato— veio a resposta vaiada. —Posso estalar meus dedos e te ter sob suspeita de<br />

tentativa de assassinato. Posso, mas ainda assim vá agora mesmo e nenhum de nós dirá outra<br />

palavra desta conversa.<br />

A porta da recepção se abriu e quatro homens entraram. Ao assentimento de Fabien, o<br />

grupo rodeou Lex. Sem escolha, saiu.<br />

—Estarei em contato— disse a Edgar Fabien mostrando seus dentes. —Pode contar com<br />

isso.<br />

Fabien não disse nada, mas seu ardiloso olhar permaneceu fixo sobre Lex com severo<br />

entendimento enquanto caminhava para as portas de recepção e as fechava tenso.<br />

Uma vez que Lex saiu para a rua e sozinho, sua mente começou a baralhar suas opções.<br />

Fabien era corrupto. Que surpreendente e seguro seria alguma informação útil. Com um pouco de<br />

sorte, não passaria muito tempo antes que as conexões de Fabien fossem as suas também. Não se<br />

preocupou particularmente sobre como as conseguiria.<br />

Elevou a vista para a bonita mansão Darkhaven e todo seu imaculado luxo. Isto era o que<br />

queria. Este tipo de vida acima da imundície e degradação que havia conhecido sob o salto da bota<br />

de seu pai. Isto era o que verdadeiramente merecia.<br />

Mas primeiro precisaria sujar as mãos, mesmo que por uma última vez.<br />

Lex caminhou ao longo da serpenteante estrada com arvoredos aos lados e se dirigiu para a<br />

cidade com objetivos renovados.<br />

Capítulo 10<br />

Nikolai despertou na escuridão total, com sua cabeça descansando contra o caixão de um<br />

homem de Montreal aparentemente rico, que estava morto há sessenta e sete anos. O chão de<br />

mármore do mausoléu privado era um pouco duro para as horas de descanso, mas para Niko tinha<br />

servido muito bem. A noite estava perigosamente perto da alvorada quando ele deixou o<br />

território de Yakut, e ele com certeza já havia dormido em lugares piores durante a luz do dia, do


Tiamat World<br />

52<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

que o cemitério que tinha encontrado no extremo norte da cidade.<br />

Com um gemido, se sentou e abriu seu telefone celular para comprovar na tela a hora.<br />

Merda, era só 1 hora da tarde, ainda tinha aproximadamente umas sete ou oito horas para<br />

esperar aqui antes do anoitecer, quando seria seguro para ele sair. Sete ou oito horas mais, e ele<br />

já estava sentindo coceira pela inatividade que teria por um longo tempo.<br />

Sem dúvida nenhuma Boston estaria se perguntando sobre ele agora. Niko teclou a<br />

marcação rápida do escritório central da Ordem. No meio do segundo toque, Gideon respondeu.<br />

—Niko, pelo amor de Deus. Era hora que você desse um relatório. - O inglês vago do<br />

guerreiro com seu sotaque soou um pouco áspero. Nada surpreendente, considerando que Niko<br />

estava ligando no meio do dia. —Me fale. Está bem?<br />

—Sim, estou bem. Meu objetivo aqui em Montreal se fodeu de dez maneiras diferentes<br />

desde domingo, mas além disso, tudo está bem.<br />

—Não teve sorte para encontrar Sergei Yakut, então?<br />

Niko rio.<br />

—Oh, encontrei o bastardo facilmente. O Gen Um está vivinho e abanando o rabo e vive ao<br />

norte da cidade com uma espécie de regresso a Gengis Khan 4 .<br />

Deu ao Gideon um rápido resumo de tudo o que tinha acontecido desde sua chegada a<br />

Montreal — do chute na bunda de boas vindas que tinha recebido por parte de Renata e dos<br />

outros guardas, até as poucas e estranhas horas que tinha passado no refúgio de Yakut, que<br />

culminou com seu descobrimento dos humanos mortos e desprezados na parte de trás e sua<br />

subseqüente expulsão da propriedade.<br />

Ele descreveu a recente tentativa fracassada contra a vida do Gen Um e o incrível papel que<br />

Mira desempenhou para frustrar esse ataque. Niko deixou de fora a parte sobre o que ele tinha<br />

visto pessoalmente nos olhos de Mira. Não viu nenhuma razão para compartilhar os detalhes da<br />

visão, que, apesar da insistência de Renata em que Mira nunca se enganava, tinha<br />

aproximadamente zero chance… não, havia exatamente zero chance de acontecer agora.<br />

Deveria ter sido um alívio para ele saber. A última coisa que ele precisava era se meter com<br />

uma mulher, especialmente uma peça desse jogo como Renata. A companheira unida pelo laço de<br />

sangue a Yakut. A idéia ainda seguia corroendo-o, muito mais que deveria. E ele não se sentia<br />

particularmente bem sobre o fato que inclusive a mais leve lembrança daquele beijo com ela era<br />

suficiente para fazê-lo ficar duro como a tumba de granito que o rodeava.<br />

Ele a desejava, e por uma fração de segundo, quando deixou o refúgio pensou que ela podia<br />

segui-lo depois. Não tinha nenhum motivo para pensar isso, mas tinha sido um golpe no<br />

estômago, uma sensação que talvez Renata poderia correr atrás dele e pedir que a tirasse dali.<br />

4 Gengis Khan foi um conquistador e imperador mongol. Nasceu cercado de lendas xamânicas sobre a vinda de um<br />

lobo cinzento que devoraria toda a Terra. Ainda jovem, enfrentou a rejeição de sua família por seu próprio clã, mas<br />

voltaria para conquistar sua liderança, vencer seus rivais de clãs distintos e unificar os povos mongóis sob seu<br />

comando. Estrategista brilhante, com hábeis arqueiros montados à sua disposição, venceu a grande muralha da<br />

China, conquistou aquele país e estendeu o seu império em direção ao oeste e ao sul. Na história "vulgar", aquela que<br />

chega a nós pelo conhecimento de ouvir dizer, o chamado senso comum, o nome de Genghis Khan é associado a<br />

banhos de sangue, ferocidade e ambição sem limites. (Nota da revisora)


Tiamat World<br />

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E se o tivesse feito? Cristo, ele tinha que ser muito idiota só para considerá-lo.<br />

—Então,— disse a Gideon, retornando mentalmente para a realidade. —O ponto disso é que<br />

não podemos contar com nenhum tipo de cooperação de Sergei Yakut. Ele basicamente me disse<br />

isso antes de me empurrar para fora, e isso foi antes que eu o chamasse de fodido doente que<br />

precisava de focinheira e coleira.<br />

—Jesus, Niko,— suspirou Gideon, provavelmente, no outro extremo da linha, passando a<br />

mão pelo cabelo loiro pela frustração. —De verdade disse isso a ele, um Gen Um? Teve sorte que<br />

ele não te tivesse arrancado a língua antes de te tirar do caminho.<br />

Provavelmente era verdade, Nikolai reconheceu para si mesmo. E talvez tivesse perdido<br />

mais que só sua língua se Yakut soubesse o tipo de desejos que tinha pela Renata.<br />

—Sabe que sou alérgico a puxa-saquismo, mesmo se o saco em questão for de um Gen Um.<br />

Se isto era uma missão de relações públicas, vocês escolheram o cara errado.<br />

—Não me digas.<br />

Gideon riu entredentes ao soltar outra baixa maldição. —Você vai voltar para Boston, então?<br />

—Não vejo nenhuma razão para ficar. A menos que você ache que Lucan olharia para o<br />

outro lado se eu voltar e colocar fogo na casa de horrores de Yakut. Tirando-o do negócio, pelo<br />

menos por um tempo.<br />

Estava brincando... em sua maior parte. Mas o silêncio de resposta de Gideon disse que seu<br />

companheiro guerreiro sabia o que estava dando voltas na cabeça de Niko.<br />

—Sabe que não pode fazer nada disso, meu homem. Nada fora dos limites.<br />

—E não serve para merda nenhuma,— murmurou Nikolai.<br />

—Sim, é isso. Mas essas coisas pertencem à Agência de Imposição, não a nós.<br />

—Estou te dizendo que Yakut não é diferente dos renegados que tiramos das ruas, Gid.<br />

Diabos, pelo que vi, é pior. Ao menos os Renegados podem culpar sua selvageria à Sede de<br />

sangue. Yakut nem sequer pode agarrar-se ao vício de sangue como desculpa para caçar esses<br />

humanos aí fora. Ele é um predador, um assassino.<br />

—Ele está protegido,— disse Gideon, firmemente agora. —Mesmo que não fosse um Gen<br />

Um, continuaria sendo um civil, ainda um membro da Raça. Nós não podemos tocá-lo, Niko. Não<br />

sem um monte de merda golpeando gravemente ao partido. Portanto, o que esteja pensando, não<br />

faça.<br />

Nikolai exalou bruscamente.<br />

—Esqueça o que disse. A que horas deveria planejar minha viagem de volta a Boston esta<br />

noite?<br />

—Terei que fazer algumas chamadas para obter um plano de vôo apresentado em pouco<br />

tempo, mas o jato particular ainda está esperando por você no aeroporto. Posso mandar uma<br />

mensagem de texto com a hora assim que tiver confirmado.<br />

—Tudo bem. Vou descansar e esperar para sair.<br />

—E onde você está afinal?<br />

Nikolai olhou para o caixão atrás dele, o outro em frente, e à urna de bronze que estava<br />

acumulando pó em um pedestal contra a parede traseira do escuro mausoléu.


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Encontrei um lugarzinho tranqüilo para descansar no extremo norte da cidade. Dormindo<br />

com um morto, de fato. Ou com eles, em todo caso.<br />

—Falando de mortos,— disse Gideon, -temos um relatório de outro assassinato de Gen Um<br />

no estrangeiro.<br />

—Cristo. Escolheram abatê-los como moscas, não é verdade?<br />

—Ou estão tentando fazê-lo, parece. Segundo a explicação de Reichen no relatório de<br />

Berlim. Recebemos um e-mail dele onde informa que hoje mais tarde terá uma atualização.<br />

—É bom saber que temos olhos e ouvidos em que podemos confiar por ali—, disse Niko. —<br />

Merda, Gideon. Nunca teria imaginado que pudesse dar algum uso a um Darkhaven civil, mas<br />

Andreas Reichen está demonstrando ser um aliado muito bom. Talvez Lucan devesse recrutá-lo<br />

oficialmente na Ordem?<br />

Gideon riu.<br />

—Não creia que ele não considerou. Infelizmente somos somente um passa-tempo de meio<br />

período para a jornada de Reichen. Ele pode ter a alma de um guerreiro, mas seu coração<br />

pertence a seu Darkhaven de Berlim.<br />

E a uma certa fêmea humana, pelo que Nikolai entendia. Segundo Tegan e Rio, os dois<br />

guerreiros que tinham passado muito tempo com Andreas Reichen no Escritório Central de Berlim,<br />

o líder Alemão Darkhaven estava romanticamente envolvido com a proprietária de um bordel<br />

chamada Helene.<br />

Era incomum que um varão da Raça pudesse ter mais de um encontro ocasional, ou uma<br />

breve relação com uma mulher mortal, mas Niko não estava a ponto de questioná-lo porque<br />

certamente Helene também estava sendo uma útil fonte de informação para a Ordem no<br />

estrangeiro.<br />

—Então, me escute,— disse Gideon. —Espera tranqüilamente onde está, e eu te aviso uma<br />

vez que tenha a informação de sua partida para esta noite. Está bem?<br />

—Sim. Você sabe como me encontrar.<br />

O murmúrio de uma voz feminina aveludada, suave pelo sono, foi levada vagamente através<br />

do receptor.<br />

—Ah, infernos, Gid. Não me diga que está na cama com Savannah!<br />

—Eu estava—, respondeu ele, acentuando com força o tempo passado. —Agora que ela está<br />

acordada, diz que vai tomar uma ducha quente e uma xícara de café forte.<br />

Nikolai gemeu.<br />

—Merda. Diga que sinto pela interrupção.<br />

—Ouça, bebe,— Gideon chamou sua amada companheira, unidos pelo laço de sangue por<br />

volta de aproximadamente uns trinta e tantos anos. —Niko diz que sente por ser um bastardo tão<br />

grosseiro e por nos despertar a esta hora tão inoportuna.<br />

—Obrigado—, murmurou Niko.<br />

—De nada.<br />

—Ligarei de novo do avião que me leva para casa.<br />

—Tudo bem,— disse Gideon. Nesse momento, com Savannah sentada a um lado: —Ouve,


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Amor?: Niko quer que diga que esta para desligar. Ele diz que você deve retornar à cama e me<br />

permitir violá-la lentamente desde sua inteligente e formosa cabeça até seus deliciosos pequenos<br />

dedos dos pés.<br />

Nikolai riu entredentes.<br />

—Soa divertido. Ponham no alto-falante para eu poder escutar pelo menos.<br />

Gideon soprou.<br />

—Nem pense. Ela é toda minha.<br />

—Bastardo egoísta—, Niko arrastou as palavras sarcasticamente. —Te verei mais tarde.<br />

—Bem, até mais tarde. E Niko sobre a situação de Yakut? Sério. Nem pense em ser um<br />

vaqueiro, OK? Temos questões mais importantes com que lutar que tentar encurralar um Gen Um<br />

solto. Não é nossa área, sobretudo não agora.<br />

Quando Niko não concordou imediatamente, Gideon esclareceu garganta.<br />

—Seu silêncio não me dá exatamente uma cálida tranqüilidade, meu homem. Preciso saber<br />

que você está escutando isto.<br />

—Sim—, disse Nikolai. —Estou escutando. Te verei em Boston mais tarde esta noite.<br />

Niko fechou seu telefone celular e o colocou de volta em seu bolso.<br />

Por muito que o irritasse pensar em fazer vista grossa para Yakut e suas doentes atividades,<br />

ele sabia que Gideon tinha razão. E mais, ele sabia que o líder da Ordem, Lucan, assim como o<br />

resto dos guerreiros no complexo de Boston iam dizer a mesma coisa.<br />

Esqueça Sergei Yakut, pelo menos por enquanto. Isso era o mais sábio, a coisa mais<br />

inteligente que podia fazer.<br />

E enquanto isso, seria prudente esquecer completamente de Renata também. Ela fez sua<br />

cama, depois de tudo. O fato de que ela tinha, evidentemente, a feito com um sádico inseto como<br />

Sergei Yakut não era problema de Nikolai absolutamente. A formosa donzela de gelo Renata não<br />

era seu assunto, estava bem afastado dela.<br />

Bem separado do ninho de víboras que tinha descoberto nos domínios de Yakut.<br />

Apenas algumas horas mais para matar antes do anoitecer, e então poderia deixar tudo isto<br />

para trás.<br />

* * * *<br />

Ela nunca havia se acostumado a dormir com a luz do dia, não nos dois anos em que ela<br />

tinha vivido em serviço para um vampiro.<br />

Renata estava em sua cama, inquieta, incapaz de relaxar e fechar os olhos até mesmo por<br />

uns poucos minutos. Ela se revolveu e deu a volta colocando-se de costas e deixando escapar um<br />

suspiro, com seu olhar fixo nas vigas de madeira do teto.<br />

Pensando no guerreiro… Nikolai.<br />

Ele tinha partido há várias horas, quase meio-dia inteiro, mas ainda sentia o peso de seu<br />

desprezo pressionando sobre ela. Odiava que tivesse visto Yakut alimentando-se dela. Tinha sido<br />

difícil fingir que não estava envergonhada quando sustentou seu olhar do outro lado do quarto.


Tiamat World<br />

56<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Ela tinha tentado não parecer afetada, desafiante. Embora por dentro estava tremendo, seu pulso<br />

martelando quase fora de controle.<br />

Ela não queria que Nikolai a visse assim. Ainda pior que ele tivesse enumerado os brutais<br />

crimes de Yakut e claramente seus pensamentos foram que ela era parte deles também. Ela não<br />

conseguia extinguir o acusatório olhar que tinha lhe dirigido.<br />

Isso era ridículo.<br />

Nikolai era da Raça, como Yakut. Ele era um vampiro, igual a Yakut. Como Yakut, Nikolai<br />

tinha que alimentar-se de humanos para sobreviver. Inclusive com seu limitado conhecimento da<br />

Raça, Renata sabia que beber de seres humanos era a única forma que a Raça podia obter seu<br />

alimento. Os amigáveis vampiros não usavam os bancos de sangue onde poderiam recolher um<br />

litro de O-negativo pelo caminho. Nem os animais predadores eram um substituto para a coisa<br />

real.<br />

Sergei Yakut e todo o resto da Raça compartilhavam o mesmo impulso de sede: a<br />

necessidade dos glóbulos vermelhos dos Homo Sapiens, tomados diretamente de uma veia<br />

aberta.<br />

Eles eram selvagens e letais, mesmo parecendo humanos na maioria das vezes, mas em seu<br />

coração – ou em sua alma, se é que neles ainda existia um – faltava toda a humanidade. Por que<br />

ela deveria pensar que Nikolai era diferente?<br />

Mas ele tinha parecido diferente, mesmo que um pouco.<br />

Quando tinha discutido com ele no canil—, quando a tinha beijado. Por Deus — ele na<br />

realidade tinha parecido muito diferente dos outros de sua Estirpe que ela conhecia. Não como<br />

Yakut. Nem tampouco como Lex.<br />

O que provavelmente só demonstrava que ela era uma tola.<br />

E que era fraca também. Que outra coisa podia explicar o dilacerador desejo que ela sentia<br />

pela volta de Nikolai. Ele poderia tê-la tirado deste lugar quando partiu hoje?<br />

Ela freqüentemente não se permitia esperanças vãs, ou perder tempo imaginando coisas<br />

que nunca aconteceriam. Mas houve um momento… um breve e egoísta momento, quando<br />

imaginou a si mesmo arrancada dos braços inquebráveis de Sergei Yakut.<br />

Por um instante sem restrições, ela se perguntou o que poderia ter vontade de fazer quando<br />

estivesse livre dele, livre de tudo que a mantinha ali… e isso havia sido glorioso.<br />

Envergonhada por seus pensamentos, Renata balançou suas pernas para um lado da cama<br />

para sentar. Ela não podia ficar ali durante um minuto mais, não enquanto sua mente estivesse<br />

girando com pensamentos que não lhe fariam nenhum bem absolutamente.<br />

A verdade é que esta era sua vida. O mundo de Yakut era seu mundo, o recinto e seus<br />

muitos segredos grotescos eram sua realidade inflexível. Ela não sentia pena de si mesma, nunca<br />

teve. Não no orfanato do convento por todos aqueles anos quando era uma menina, nem no dia<br />

em que foi expulsa de sua casa com as Irmãs da Benevolente Misericórdia com quatorze anos e<br />

obrigada a partir para sempre.<br />

Nem mesmo na noite, há dois verões atrás, quando foi arrancada das ruas em Montreal, e<br />

presa com um grupo de outras pessoas assustadas nos currais de espera fechados com chave no


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

celeiro dentro da propriedade de Sergei Yakut.<br />

Ela não tinha derramado uma só lagrima de auto-piedade em todo este tempo. E com<br />

certeza não iria começar agora.<br />

Renata levantou e saiu de seu modesto quarto. A casa principal estava em silêncio a esta<br />

hora, as poucas janelas do lugar estavam fechadas completamente para afastar os letais raios de<br />

sol. Renata tirou a barra de ferro grossa da porta exterior e saiu andando na gloriosa tarde de<br />

verão, cálida e brilhante.<br />

Ela se dirigiu diretamente ao canil. Entre todo o drama da última noite, não só com Nikolai e<br />

também depois, ela tinha esquecido completamente que suas adagas estavam lá fora. Ser<br />

negligente e descuidada a incomodava. Nunca deixava os punhais fora de seu alcance. Eles<br />

formavam parte dela agora, como tinham sido no dia em que as tinha tomado.<br />

—Estúpida, estúpida—, sussurrava a si mesma enquanto entrava no antigo canil e olhou<br />

para o poste onde esperava encontrar a lâmina incrustada que tinha arrojado em Nikolai.<br />

Não estava ali.<br />

Um grito deslizou por seus lábios, de incredulidade e angústia.<br />

O guerreiro levou suas lâminas? Será que o fodido as tinha roubado?<br />

—Maldita seja. Não.<br />

Renata invadiu o corredor central do edifício… e então parou abruptamente quando chegou<br />

à parte posterior do lugar e seus olhos pousaram no fardo de feno perto do poste de madeira com<br />

marcas.<br />

Cuidadosamente dobrado em cima dele e colocado perfeitamente ao lado do par de sapatos<br />

que tinha deixado para trás ontem à noite estava também a capa de seda e veludo que continha<br />

suas adagas entesouradas. Ela as pegou, só para tranqüilizar a si mesma que a capa de tecido não<br />

estava vazia. Quando sentiu o peso familiar em sua palma — não pôde conter um sorriso. Nikolai.<br />

Ele tinha guardado as adagas para ela. As recolheu, envolveu e deixou aqui, como se soubesse o<br />

muito que significavam para ela.<br />

Por que faria isto? O que esperava que sua bondade comprasse? Pensava na verdade que<br />

sua confiança poderia ser ganha tão facilmente, ou justamente esperava outra oportunidade para<br />

impor-se do mesmo modo que havia feito com aquele beijo?<br />

Ela realmente não queria pensar nos beijos de Nikolai. Se pensava em sua boca sobre a dela,<br />

então teria que admitir para si mesma que tão inesperado e sem convite tinha sido o beijo à força<br />

apenas ele era culpado que isto tivesse ocorrido.<br />

Mas a verdade era que ela tinha desfrutado.<br />

Santa Maria, mas só de pensar nele agora, acendeu um calor lento, líquido em seu coração.<br />

Ela queria mais dele, apesar de que cada instinto de sobrevivência em seu corpo tinha<br />

gritado para que se afastasse dele, e escapasse rapidamente. Ela tinha fome dele nesse momento<br />

e agora. Queimando por ele, num lugar que ela tinha pensado estar completamente congelado e<br />

morto. E que o pequeno comentário a respeito de Mira — a implicação de tudo — que ele tinha<br />

visto nos olhos da menina de alguma forma poderia envolver Renata e ele intimamente juntos, era<br />

ainda mais inquietante. Graças a Deus ele se foi.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Graças a Deus provavelmente nunca voltaria depois do que tinha descoberto aqui.<br />

Tinha passado muito tempo desde que Renata se pôs de joelhos a rezar. Ela não se ajoelhava<br />

diante de ninguém mais, nem sequer Yakut em seu pior momento, mas ela inclinou sua cabeça<br />

agora e pediu aos céus que mantivesse Nikolai longe deste lugar.<br />

Longe dela.<br />

Já não estava com ânimo para treinar, sobretudo quando as lembranças do que tinha<br />

passado aqui ontem à noite ainda estavam recentes e nadando em sua cabeça. Renata pegou seus<br />

sapatos e caminhou de volta à casa. Ela entrou, movendo a barra da porta, e se dirigiu ao corredor<br />

que levava a seu quarto e o que esperava era ter ao menos algumas horas de sono.<br />

Ela se deu conta que havia algo errado, inclusive antes que notasse que a porta de Mira não<br />

estava fechada.<br />

Nenhuma luz estava acesa no quarto da menina, mas ela estava acordada. Renata escutou<br />

sua suave voz na escuridão, queixando-se que tinha sono e não queria levantar. Mais pesadelos?<br />

Renata se perguntou, sentindo uma pontada de compaixão pela menina. Mas então, outra voz<br />

vaiou entredentes acima dos protestos aturdidos de Mira, esta fria e áspera, impaciente.<br />

—Deixa de choramingar e abre seus olhos, pequena cadela.<br />

Renata pressionou sua mão contra a porta e a empurrou amplamente.<br />

—Que diabos pensa que está fazendo, Lex?<br />

Ele estava inclinado sobre a cama de Mira, apertando dolorosamente com suas mãos os<br />

ombros da meninas. Sua cabeça girou quando Renata entrou no quarto, mas ele não soltou Mira.<br />

—Preciso do oráculo de meu pai. E não vou responder suas perguntas, então, seja amável e<br />

saia daqui, porra.<br />

—Rennie, ele está machucando meus braços.<br />

A voz de Mira era baixa, sacudida pela dor.<br />

—Abre os olhos—, Lex grunhiu. —Então talvez deixe de te machucar.<br />

—Tire suas mãos dela, Lex.<br />

Renata parou ao pé da cama, com as lâminas embainhadas com seu peso tentador ao seu<br />

alcance.<br />

—Faça-o. Agora.<br />

Lex zombou.<br />

—Não até que eu tenha terminado com ela.<br />

Quando deu a Mira uma sacudida forte, Renata soltou uma rajada de fúria mental. Era só um<br />

fio de energia, só uma fração do que podia dar, mas Lex uivou, seu corpo se sacudiu como se<br />

tivesse sido golpeado por milhares de volts de eletricidade. Cambaleou para trás, deixando Mira<br />

cair e afastando-se da cama, plantado seu traseiro no chão.<br />

—Cadela!— Seus olhos soltavam fogo âmbar, suas pupilas fragmentadas fortemente em seu<br />

centro. —Eu devia te matar por isso. Devia matar à pequena pirralha e você— ambas!<br />

Renata o golpeou de novo, outra pequena amostra de agonia. Ele se deixou cair, agarrando a<br />

cabeça e gemendo com a segunda rajada debilitante. Ela esperou, olhando como se esforçava<br />

para levantar em uma postura desajeitada do chão. Não representava nenhuma ameaça para ela


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

como estava agora, mas em algumas horas estaria recuperado e ela ia estar vulnerável. Aí então<br />

ela teria uma pequena pena a pagar.<br />

Mas no momento, Mira já não era do interesse de Lex, e isso era tudo que importava. Lex a<br />

fulminou com o olhar quando se arrastou até seus pés.<br />

—Fora do meu… caminho… maldita… puta!<br />

As palavras estavam sufocadas, balbuciadas entre seus ofegos enquanto ele torpemente se<br />

dirigia para a porta aberta. Quando saiu de sua vista, com seus passos ecoando no corredor<br />

externo, Renata foi para o lado da cama de Mira e a fez calar brandamente.<br />

—Está tudo bem, garota?<br />

Mira assentiu.<br />

—Eu não gosto dele, Rennie. Ele me assusta.<br />

—Eu sei, querida.<br />

Renata pressionou um beijo na testa da menina.<br />

—Eu não vou deixar que te faça mal. Está a salvo comigo. Essa é uma promessa,<br />

entendido?— Outro gesto de assentimento, mais fraco desta vez enquanto Mira voltava a cabeça<br />

ao travesseiro e exalava um suspiro sonolento. —Rennie?— perguntou em voz baixa.<br />

—Sim, ratinho?<br />

—Nunca me abandonará, né?<br />

Renata ficou olhando fixamente à pequena cara inocente na escuridão, sentindo seu coração<br />

apertar fortemente no peito. —Não vou te abandonar, Mira. Jamais… justamente como<br />

prometemos.<br />

Capítulo 11<br />

A lua se elevava alta, projetando manchas de luz sobre o lago Wannsee em uma zona<br />

exclusiva dos subúrbios de Berlin. Andreas Reichen recostou-se na cadeira almofadada no<br />

gramado traseiro de sua propriedade privada no Darkhaven, tentando absorver um pouco de paz<br />

e tranqüilidade da noite. Apesar da brisa agradável e a calma da água escura, seus pensamentos<br />

eram mais taciturnos e turbulentos.<br />

As notícias do último Gen Um assassinado, desta vez na França, deu-lhe um duro golpe.<br />

Parecia que o mundo estava voltando-se cada vez mais louco em torno dele. Não só o mundo da<br />

Raça – seu mundo — mas a humanidade também. Tanta morte e destruição. Tanta angústia por<br />

todos os lados.<br />

Tinha a terrível sensação, no fundo de seu estômago, que isto era só o começo. Dias mais<br />

sombrios estavam por vir. Possivelmente tivessem vindo há muito tempo e ele foi muito ignorante<br />

– estava muito entretido em seus prazeres pessoais— para dar-se conta.<br />

Um desses prazeres se aproximava por trás dele agora, seus elegantes e inconfundíveis<br />

passos enquanto ela caminhava pelos jardins bem cuidados da propriedade e se sentava sobre a


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

grama.<br />

Os pequenos braços de Helene rodearam seus ombros.<br />

—Olá, querido.<br />

Reichen se aproximou para acariciar sua cálida pele enquanto ela se inclinava sobre ele e o<br />

beijava. Sua boca era suave, persistente, os longos cabelos escuros perfumados com o mais leve<br />

vestígio de óleo de rosas.<br />

—Seu sobrinho me disse quando cheguei que esteve aqui fora durante as últimas horas—<br />

murmurou ela, erguendo sua cabeça para olhar o lago. —Posso ver por quê. É uma vista<br />

encantadora.<br />

—É algo mais que encantadora—, disse Reichen, enquanto inclinava seu queixo para cima e<br />

a olhava.<br />

Ela sorriu sem acanhamento, já acostumada a sua adulação.<br />

—Alguma coisa está te incomodando, Andreas. Você não é daqueles que se senta para se<br />

queixar do quanto é injusta a vida.<br />

Como ela o conhece tão bem? Tinham sido amantes durante o ano passado, uma<br />

brincadeira amorosa casual que de alguma forma se transformou em algo mais profundo senão<br />

completamente exclusivo. Reichen sabia que Helene tinha outros homens em sua vida— homens<br />

humanos — assim como ele ocasionalmente tomava prazer com outras mulheres. Não era uma<br />

relação infestada de ciúmes ou posse. Mas isso não significava que não sentissem carinho.<br />

Compartilhavam uma preocupação mútua pelo outro, e um vínculo de confiança que se estendia<br />

além das barreiras que geralmente faziam as relações humano e vampiro—raça impossíveis.<br />

Helene tinha se convertido em uma amiga e, ultimamente, em uma companheira<br />

indispensável no importante trabalho remoto de Reichen com os guerreiros de Boston.<br />

Helene puxou a cadeira e se sentou sobre o amplo braço.<br />

—Transmitiu as notícias à Ordem sobre o recente assassinato em Paris?<br />

Reichen assentiu.<br />

—Fiz, sim. E eles me disseram que houve também uma tentativa de assassinato em<br />

Montreal algumas noites atrás. Pelo menos esse falhou, um milagre do destino. Mas haverá<br />

outros. Temo que haverá muitas outras mortes antes que a fumaça finalmente se aclare. A Ordem<br />

está convencida que deterão a loucura, mas há vezes que me pergunto se a maldade no trabalho<br />

aqui não é maior que qualquer quantidade de bondade.<br />

—Esta deixando que isto te consuma— disse Helene enquanto preguiçosamente afastava<br />

seu cabelo da testa. —Já sabe, se procura algo a fazer com seu tempo, poderia ter vindo a mim em<br />

vez da Ordem. Poderia ter te posto para trabalhar no clube como meu assistente pessoal. Não é<br />

muito tarde para mudar de idéia. E asseguro, só os incentivos valeriam a pena.<br />

Reichen riu entredentes.<br />

—Tentador, de fato.<br />

Helene se inclinou e mordiscou sua orelha, sua respiração fazendo cócegas quentes sobre<br />

sua pele.<br />

—Seria só um posto temporário, é obvio. Vinte ou trinta anos –uma piscada de tempo para


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

você. Eu estarei enrugada e grisalha, e você estará entusiasmado por um novo brinquedo mais<br />

atraente que possa manter o ritmo de suas selvagens exigências.<br />

Reichen estava surpreso ao ouvir a pontada de nostalgia na voz de Helene. Ela nunca tinha<br />

falado sobre o futuro com ele, nem ele com ela. Era mais ou menos compreensível que não<br />

poderia haver um futuro, tendo em conta que ela era mortal com uma esperança de vida finita e<br />

ele – a menos que prolongasse sua exposição aos raios UVA ou sofresse um dano maciço<br />

corporalmente — continuaria vivendo durante algo perto da eternidade.<br />

—O que está fazendo esbanjando seu tempo comigo quando poderia ter a qualquer outro<br />

homem?— perguntou, movendo seus dedos ao longo da suave linha de seu ombro. —Poderia<br />

estar casada com alguém que te adore, criando uma ninhada de bonitos e inteligentes meninos.<br />

Helen arqueou uma impecável e cuidada sobrancelha.<br />

—Suponho que nunca fui das que tomaria a escolha convencional.<br />

Nem ele, de fato. Reichen admitia que seria muito fácil ignorar tudo que ela e a Ordem<br />

tinham descoberto há uns meses. Podia esquecer a maldade que tinham açoitado até a cova<br />

montanhosa nas colinas Boêmias. Podia fingir que nada disso existiu, descumprir sua oferta de<br />

ajudar aos guerreiros em seu papel como líder de um Darkhaven e voltar para seus libertinos e<br />

descuidados hábitos.<br />

Mas a única verdade era que tinha cansado dessa vida faz tempo. Alguém anos atrás o tinha<br />

acusado de ser um perpétuo menino egoísta e irresponsável. Ela tinha tido razão, inclusive então.<br />

Especialmente então, quando tinha sido o suficientemente tolo para deixar escapar essa mulher e<br />

o amor que tinha lhe dado. Depois de muitas décadas de auto—piedade, sentia-se bem em fazer<br />

uma diferença. Ou tentar fazê-la, como fosse.<br />

—Não esperava que viesse esta noite só para me distrair com beijos e atraentes ofertas de<br />

emprego— disse, sentindo que a seriedade se abatia sobre Helene.<br />

—Não, não o fiz, infelizmente. Pensei que deveria saber que uma das minhas garotas do<br />

clube pode estar desaparecida. Recorda que mencionei Gina, uma de minhas garotas mais<br />

recentes, que apareceu com marcas de mordida em seu pescoço na semana passada?<br />

Reichen assentiu.<br />

—A que tinha estado falando sobre um novo namorado rico com quem estava saindo.<br />

—Essa. Bem, não é a primeira vez que ela faltou ao trabalho, mas sua companheira de<br />

apartamento disse esta tarde que Gina não passou em casa ou chamou por mais de três dias.<br />

Poderia não ser nada, mas pensei que gostaria de saber.<br />

—Sim— disse. —Tem alguma informação sobre o homem com quem se encontrava? Uma<br />

descrição, um nome, algo?<br />

—Não. A companheira de apartamento nunca o conheceu, naturalmente, ela não pode me<br />

dizer nada.<br />

Reichen considerou as numerosas coisas que podiam ocorrer a uma jovem que se<br />

encontrava sem dar-se conta com um de sua estirpe. Embora a maioria da Raça eram membros<br />

que respeitavam a lei da nação vampírica, havia outros que revelavam seu lado selvagem.<br />

—Necessito que discretamente pergunte no clube esta noite, veja se alguma das outras


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

garotas ouviu Gina mencionar este namorado. Estou procurando nomes, lugares que pudesse ter<br />

ido com ele, inclusive o menor detalhe poderia ser importante.<br />

Helene assentiu, mas havia uma nota de interesse em seus olhos.<br />

—Prefiro este lado sério teu, Andreas. É incrivelmente sexy.<br />

Sua mão deslizou por baixo da abertura de sua camisa de seda, suas longas e pintadas unhas<br />

jogando sobre as cristas de seu musculoso abdômen. Embora seus pensamentos eram nefastos,<br />

seu corpo respondeu ao seu toque perito. Seus dermaglifos começaram a encher-se de cor, e sua<br />

visão se afiou com uma rajada de cor âmbar que estava rapidamente enchendo sua íris. Mais<br />

abaixo ainda, seu pênis ficou ereto, crescendo onde agora descansava sua palma.<br />

—Não deveria ficar —murmurou ela, sua voz rouca e zombadora. —Não quero chegar tarde<br />

ao trabalho.<br />

Quando ela começou a levantar-se, Reichen a reteve.<br />

—Não se preocupe com isso. Conheço a mulher que dirige o lugar. Pedirei desculpas por<br />

você. Sei de fonte segura que gosta muito de mim.<br />

—Você gosta dela?<br />

Reichen grunhiu, deixando visível as pontas de suas presas com seu amplo sorriso.<br />

—A pobre está louca por mim.<br />

—Louca por uma coisa arrogante como você?— zombou Helene. —Querido, não se adule.<br />

Ela poderia te querer só por seu decadente corpo.<br />

—É o suficiente— respondeu ele, —mas não ouvirá queixas minhas de maneira nenhuma.<br />

Helene sorriu, sem resistir no final enquanto a empurrava sobre seu colo durante um<br />

profundo e faminto beijo.<br />

* * * * Tiamat – World * * * *<br />

Ao anoitecer, Lex estava completamente recuperado da angústia com que o havia tratado<br />

Renata. Sua ira— seu ódio por ela— permanecia.<br />

A amaldiçoou uma e outra vez em sua mente enquanto se inclinava sobre uma putrefata<br />

parede de uma casa infestada de ratos no pior subúrbio de Montreal, olhando como um jovem<br />

humano apertava seu braço com um cinto de couro velho. A ponta solta presa entre os dentes<br />

quebrados, cariados, o drogado cravou a agulha de uma imunda seringa em um lugar cheio de<br />

crostas e hematomas que percorriam seu esquálido braço. Gemeu enquanto a heroína entrava em<br />

sua corrente sangüínea.<br />

—Ah, merda, cara,— soltou um tremente suspiro enquanto liberava seu torniquete e caía<br />

para trás contra um podre colchão no chão. Ele correu as mãos tatuadas sobre seu rosto pálido e<br />

cheio de espinhas e seu cabelo castanho gorduroso. —Ah, Cristo... essa é uma excelente merda,<br />

baby.<br />

—Sim,— Lex disse, sua voz sem fôlego na fria e úmida escuridão.<br />

Não tinha economizado em drogas; o dinheiro era de pouco interesse para ele. Sem dúvida<br />

na vida que o favelado e drogado tinha escolhido vendendo seu corpo na rua, nunca tinha obtido


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

tanto dinheiro. Lex estava disposto a apostar que os serviços pessoais do jovem nunca haviam<br />

alcançado uma soma tão rica. Tinha tudo mas saltou ao interior do carro quando Lex parou e lhe<br />

mostrou cem dólares e uma bolsa de heroína em frente de sua cara.<br />

Lex moveu sua cabeça e olhou como o humano saboreava sua dose. Eles estavam sozinhos<br />

no miserável quarto do abandonado edifício de apartamentos. O lugar tinha sido invadido por<br />

vagabundos e viciados quando chegaram, mas só levou uns minutos a Lex –e uma irresistível<br />

ordem mental, cortesia de sua linhagem de segunda geração da Raça— conduzir os humanos para<br />

fora e poder exercer sua atividade em privado.<br />

Ainda deitado no chão, o drogado tirou sua camisa sem mangas, então começou a<br />

desabotoar seus folgados e imundos jeans azuis. Ele grosseiramente se acariciou enquanto<br />

trabalhava na braguilha aberta, os olhos turvos rolando em seu crânio, buscando distraidamente<br />

através da escuridão.<br />

—Então, quer que te chupe o pau ou o que, homem?<br />

—Não,— Lex disse, enojado só com a idéia.<br />

Ele se afastou de sua posição cruzando o quarto e caminhou lentamente para o drogado. Por<br />

onde começar com ele? Perguntou-se preguiçosamente. Tinha que esgotar esta coisa com cuidado<br />

ou voltaria para a rua, procurando alguém mais. Esbanjando tempo precioso.<br />

—Prefere minha bunda, então, baby?— comentou o homem puto. —Se quer foder-me, tem<br />

que pagar o dobro. Essa é minha regra.<br />

A risada de Lex foi baixa, genuinamente divertida.<br />

—Não estou interessado em foder com você. Já é suficientemente mau que tenha que te<br />

olhar, que tenha que cheirar seu repugnante aroma. O sexo não é a razão pela qual está aqui.<br />

—Bem, que do que diabos então?— Uma nota de pânico afiou o ar viciado, um súbito golpe<br />

de adrenalina humana que os sentidos de Lex facilmente detectaram. —Estou seguro que não me<br />

trouxe aqui para uma pequena conversa educada.<br />

—Não,— Lex esteve de acordo com agrado.<br />

—Está bem. Está bem, que merda pareço para você, idiota?<br />

Lex sorriu.<br />

—A isca.<br />

Com movimentos tão rápidos que nem sequer o olho humano mais acordado podia seguir,<br />

estendeu a mão e derrubou de repente o drogado no chão. Lex tinha uma faca em sua mão. A<br />

cravou no macilento abdômen do humano e rasgou um corte através de sua pele.<br />

O sangue surgiu da ferida, quente — úmido e perfumado.<br />

—OH, Jesus!— gritou o humano. —OH, Meu Deus! Apunhalou-me!<br />

Lex recuou e deixou que o homem caísse sobre o chão. Era tudo que podia fazer para<br />

impedir de investir em uma sede cega.<br />

A transformação física de Lex foi rápida, trazida pela súbita presença de sangue fresco<br />

fluindo. Sua visão se aguçou com a estreiteza de suas pupilas, um brilho âmbar lavando o quarto<br />

enquanto seus olhos mudavam para os de um predador. Suas presas se alargaram atrás de seus<br />

lábios, a saliva tragando em sua boca enquanto a urgência de alimentar-se crescia.


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

O drogado estava soluçando agora, emitindo sons pateticamente enquanto apertava a<br />

enorme ferida em seu estômago.<br />

—Está louco, seu imbecil do caralho? Poderia me ter matado!<br />

—Ainda não— respondeu Lex de maneira densa ao redor de suas presas.<br />

—Tenho que sair daqui— murmurou o homem. —Tenho que conseguir ajuda…<br />

—Fique— ordenou Lex, sorrindo enquanto a mente do febril homem murchava sob sua<br />

ordem.<br />

Teve que obrigar-se a manter distância. Deixar que a situação jogasse enquanto pudesse.<br />

Uma ferida no estômago sangrava rápido, mas a morte viria lentamente. Lex o necessitava vivo<br />

durante um tempo longo o suficiente para que sua essência viajasse pela rua e entrasse nos becos<br />

dos arredores.<br />

O humano que tinha comprado esta noite era meramente um ajudante para ser jogado<br />

dentro da água. Lex procurava atrair um peixe maior.<br />

Sabia tão bem como qualquer outro membro da Raça que nada percebia um vampiro mais<br />

rápido, ou mais certamente, que o prospecto de uma presa humana sangrando. Isto feito no<br />

ponto débil da cidade, onde inclusive a escória da sociedade humana se apurava dentro de um<br />

estado de terror secreto, Lex estava contando com a presença de Renegados.<br />

Não ficou decepcionado.<br />

Os dois primeiros vieram farejando ao redor da casa de abandonada em minutos. Os<br />

Renegados eram viciados sem esperança, tanto como o drogado que agora se aconchegava em<br />

posição fetal, chorando em silencio no chão, enquanto sua vida se apagava lentamente.<br />

Embora poucos da Raça se perdiam na luxúria de sangue –a permanente e insaciável sede de<br />

sangue— os que raramente o faziam, nunca voltavam disso. Viviam nas sombras, selvagens<br />

monstros sem raízes cujo único objetivo era viver alimentando sua fome.<br />

Lex se deslizou para trás no canto do quarto enquanto os dois predadores se arrastavam<br />

dentro. Eles imediatamente caíram sobre o humano, rasgando com presas que nunca se<br />

desvaneciam, os olhos ardendo com a cor e calor do fogo.<br />

Outro Renegado encontrou o quarto. Este era maior que os outros, mais brutal enquanto se<br />

jogava para a matança e começava a alimentar-se. Uma briga explodiu entre os selvagens<br />

vampiros. Os três se pegaram como cães raivosos. Batendo os punhos, os dedos rasgando, as<br />

presas estripando a carne e os ossos, cada macho poderoso lutava viciosamente para ganhar sua<br />

presa.<br />

Lex olhava paralisado. Aturdido pela violência, e bêbado da essência de tanto sangue<br />

derramado, humano e da Raça.<br />

Olhou e esperou.<br />

Os Renegados lutaram um contra o outro até a morte, como animais selvagens que eram. Só<br />

um deles demonstraria ser o mais forte no final.<br />

E esse era o que Lex necessitava.<br />

* * * * *


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Após um dia inteiro de espera até o anoitecer, agora tinha outras duas horas para matar<br />

antes de poder tomar seu vôo de volta a Boston.<br />

Nikolai considerou seriamente não ir ao aeroporto e viajar a pé, mas inclusive com sua<br />

resistência da Raça e sua hipervelocidade, mal passaria o estado de Vermont antes que o<br />

amanhecer o obrigasse a ocultar-se de novo. E francamente, a idéia de dormir em um celeiro com<br />

um grupo de animais agitados não o fazia exatamente morrer por colocar um Nike e pegar a<br />

estrada. Então esperaria.<br />

Maldita seja.<br />

Ele e a paciência nunca tinham sido amigos muito íntimos. Tinha estado cheio de<br />

aborrecimento desde o momento que o sol se pôs e foi capaz de sair do refúgio.<br />

Supôs que era o mesmo aborrecimento que o guiava dentro da úmida favela de Montreal,<br />

onde esperava encontrar algo divertido para fazer enquanto passava o mau humor. Não se<br />

preocupava como usava o tempo, mas havia deliberadamente procurado a única zona da cidade<br />

onde a probabilidade de encontrar uma razão para usar seus punhos ou suas armas eram<br />

melhores.<br />

Neste particular bloco de becos infestados de ratos e bairros de baixa renda, suas escolhas<br />

imediatas eram limitadas aos chefes do crack ou os traficantes - de drogas ou de pele — e<br />

prostitutas de ambos os gêneros sem discriminação. Mais de um idiota afastou o olhar enquanto<br />

andava pela rua sem direção aparente. Alguém foi inclusive suficientemente estúpido para<br />

mostrar a ponta de uma faca enquanto passava, mas Niko só se deteve e deu ao bastardo<br />

desdentado um sorriso de orelha a orelha mostrando os fios de suas presas a modo de convite e a<br />

ameaça desapareceu rapidamente.<br />

Embora não resistia a nenhum tipo de confrontação, a luta entre humanos estava abaixo<br />

dele. Preferia mais um desafio. O que realmente o animava a encontrar justo agora era um<br />

Renegado. No verão passado, Boston tinha estado afundado até o joelho com vampiros viciados<br />

em sangue. A luta tinha sido dura e pesada— com pelo menos uma perda trágica no lado da<br />

Ordem— mas Nikolai e o resto dos guerreiros tinham completado sua missão para manter a<br />

cidade limpa.<br />

Outras zonas metropolitanas ainda perdiam civis ocasionais pela luxúria de sangue, e Niko<br />

teria apostado seu ovo esquerdo que Montreal não era diferente. Mas além dos cafetões,<br />

traficantes e prostitutas, esta extensão de tijolo e asfalto estava tão morta como a cripta onde<br />

tinha sido forçado a passar o dia.<br />

—Ei, baby. - A mulher sorriu para ele a partir de uma porta coberta de sombras enquanto ele<br />

passava ao lado.—Busca algo específico ou só olha vitrines?<br />

Nikolai grunhiu, mas se deteve.<br />

—Sou um cara diferente.<br />

—Bem, possivelmente tenho o que necessita. Sorriu e se moveu de sua pose sobre o degrau<br />

de concreto. —De fato, tenho exatamente o que necessita, querido.<br />

Ela não era uma beleza, com seu quebradiço, provocador e descarado cabelo, olhos


Tiamat World<br />

66<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

apagados e pele pálida, mas Nikolai não esperava gastar muito tempo olhando sua cara. Ela<br />

cheirava bem, se desodorante e spray de cabelo podiam ser considerados fragrâncias de aroma<br />

limpo. Para os sentidos afiados de Niko, a mulher cheirava a cosméticos e perfumes, com um<br />

fundo de uso recente de drogas que se filtrava por seus poros.<br />

—O que quer dizer?— perguntou ela, aproximando-se furtivamente agora. —Quer ir a<br />

algum lugar por um momento? Se tiver vinte dólares, terá meia hora.<br />

Nikolai olhou o pulso no pescoço da mulher. Tinham passado vários dias desde que comeu<br />

pela última vez. E tinha duas horas pela frente sem fazer nada…<br />

—Sim— disse assentindo. —Vamos.<br />

Ela pegou sua mão e o guiou virando a esquina no edifício e rua abaixo para um beco vazio.<br />

Nikolai não perdeu tempo. Mal se separaram de potenciais olheiros, tomou sua cabeça em<br />

suas mãos e despiu seu pescoço para mordê-la. Seu grito assustado foi esmagado imediatamente<br />

ao afundar suas presas em sua carótida e começar a beber.<br />

O sangue da mulher era medíocre – o habitual cobre pesado das células vermelhas<br />

humanas, mas enlaçadas com uma acidez doce e amarga das pedras de heroína e cocaína que ela<br />

tinha usado antes passeando durante seu trabalho à noite. Nikolai tragou vários goles, sentindo o<br />

fluxo de energia do sangue através de seu corpo em uma baixa vibração. Não era raro para um<br />

vampiro da Raça excitar-se pelo ato de comer. A resposta era puramente física, um despertar de<br />

células e músculos.<br />

Que seu pênis estivesse completamente ereto agora e apertando para aliviar-se não o<br />

surpreendeu. Era o fato que sua cabeça estava nadando com pensamentos de uma mulher com<br />

cabeça de corvo — uma mulher que não tinha intenção de ver de novo— que fazia que Niko<br />

ficasse em estado de alarme.<br />

—Mmm, não pare,— sua companheira humana se queixou, puxando sua boca de volta à<br />

ferida em seu pescoço. Ela também estava sentindo os efeitos da alimentação, cativada como<br />

todos os humanos ficavam quando estavam sob a mordida da Raça. —Não pare, baby.<br />

A visão de Nikolai estava alagada de fogo âmbar enquanto abraçava de novo sua garganta.<br />

Sabia que não era Renata, mas enquanto suas mãos passavam roçando as nuas pernas da mulher<br />

e por baixo da curta saia que ela usava, se imaginou acariciando as belas e longas coxas de Renata.<br />

Imaginou que era o sangue de Renata que o alimentava. O corpo de Renata que respondia tão<br />

apaixonado ao seu contato.<br />

Eram os febris ofegos de Renata que o guiavam enquanto destroçava a tanga barata com<br />

uma mão e trabalhava para liberar-se com a outra.<br />

Precisava estar dentro dela.<br />

Necessitava…<br />

Santo Céu.<br />

Uma ligeira brisa formou redemoinhos através do beco, levando com ela a fetidez de<br />

vampiros Renegados. E havia muito sangue derramado também. Sangue humano. Uma condenada<br />

quantidade, mesclada com o vil fedor de Renegados sangrando.<br />

—Jesus Cristo.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Que porra estava acontecendo?<br />

Puxou a saia da mulher para baixo e lambeu a ferida do pescoço da mulher, selando sua<br />

mordida.<br />

—Disse que não parasse…<br />

Niko não lhe deu tempo de terminar seu pensamento. Pondo sua palma sobre sua testa,<br />

apagou de sua mente tudo.<br />

—Sai daqui— disse.<br />

Estava já correndo pelo beco quando ela saiu de seu atordoamento e começou a mover-se.<br />

Seguiu seu nariz até um dilapidado edifício não longe de onde estava. A fetidez emanava do<br />

interior, alguns apartamentos acima da rua.<br />

Nikolai subiu a escada de incêndios até o segundo andar. Seus olhos estavam virtualmente<br />

marejados pelo entristecedor aroma de morte que saia por baixo desse andar. Com a mão sobre a<br />

pistola embainhada em seu quadril, Niko se aproximou. Não havia sons do outro lado da<br />

maltratada porta cheia de grafites. Só morte, humana e vampírica. Niko girou o trinco e se<br />

preparou para o que encontraria.<br />

Tinha sido um massacre.<br />

Um aparente drogado permanecia em posição fetal entre refugos de seringas e outros lixos<br />

que cobriam o chão cheio de sangue e um repugnante colchão. O corpo estava tão arruinado que<br />

era apenas reconhecível como humano, só deixava um sexo distinguível. Os outros dois corpos<br />

foram atacados ferozmente também, mas definitivamente eram da Raça, ambos Renegados a<br />

julgar pelo tamanho e aroma deles.<br />

Nikolai pôde imaginar o que ocorreu aqui: uma resistência letal sobre a presa. Esta luta era<br />

recente, possivelmente só uns minutos atrás. E os dois chupa-sangue mortos não teriam sido<br />

capazes de se destruir antes que um ou outro caíssem.<br />

Houve pelo menos um Renegado mais envolvido nesta briga.<br />

Se Niko tivesse sorte, o ganhador poderia estar ainda na zona, lambendo suas feridas.<br />

Esperava que sim, porque adoraria dar ao bastardo doente uma prova de sua pistola 9 mm. Nada<br />

dizia “Tenha um bom dia” como a veia sangüínea corrompida de um Renegado encontrando uma<br />

fusão alérgica de uma dose de titânio venenosa.<br />

Nikolai foi para a janela fechada e puxou os painéis atarraxados cruamente. Se estava<br />

procurando ação, a tinha encontrado aos montes. Abaixo, na rua, havia um Renegado enorme.<br />

Estava ensangüentado e maltratado, parecendo o inferno.<br />

Mas maldito seja…não estava sozinho.<br />

Alexei Yakut estava com ele.<br />

Incrivelmente, Lex e o Renegado caminhavam para um sedan que os esperava e entraram.<br />

—Que demônios acontece?— Niko murmurou baixo enquanto o carro arrancava e deslizava<br />

pela rua.<br />

Esteve a ponto de saltar pela janela aberta e seguir a pé quando um grito estridente soou<br />

atrás dele. Uma mulher tinha vagado até a zona de matança e agora gritava de terror, um dedo<br />

acusador apontava em sua direção. Ela gritou de novo suficientemente alto para despertar a cada


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

drogado e traficante da vizinhança.<br />

Nikolai olhou à testemunha e a sangrenta evidência de uma resistência que parecia tudo<br />

exceto humana.<br />

—Maldita seja,— grunhiu, olhando por cima de seu homem a tempo de ver o carro de Lex<br />

desaparecer virando a esquina.<br />

—Está bem— disse à banshee 5 gritona enquanto deixava a janela e se aproximava dela. —<br />

Você não viu nada.<br />

Apagou sua memória e a tirou do quarto. Então pegou uma faca de titânio e a cravou nos<br />

restos de um dos Renegados mortos.<br />

Enquanto o corpo começava a chiar e dissolver, Niko se preparou para limpar o resto da<br />

desordem que Lex e seu insólito sócio tinham deixado para trás.<br />

Capítulo 12<br />

Renata estava no balcão da cozinha, com uma faca na mão.<br />

—Que tipo de geléia quer esta noite, uva ou morango?<br />

—Uva— respondeu Mira. —Não espera. Quero morango desta vez.<br />

Ela estava sentada na beira da bancada de madeira ao lado de Renata, suas pernas<br />

pendurando com os braços cruzados. Vestida com uma camiseta púrpura, calças azul desgastadas,<br />

e um velho tênis, Mira poderia parecer como qualquer outra menina esperando o jantar. Mas as<br />

meninas normais não eram obrigadas a comer o mesmo, virtualmente dia a dia. As pequenas<br />

meninas normais tinham famílias que as amavam e cuidavam. Viviam em casas bonitas, com ruas<br />

bonitas com árvores, com cozinhas brilhantes e despensas cheias, e as mães sabiam cozinhar<br />

comidas infinitas e maravilhosas.<br />

Pelo menos, isso é o que Renata imaginava quando pensava na representação ideal de uma<br />

família normal. Ela não sabia por nenhum tipo de experiência pessoal. Como menina de rua antes<br />

que Yakut a encontrasse e levasse a sua guarida, Mira não sabia tampouco o que era normal. Mas<br />

era desse tipo saudável, o tipo de vida normal que Renata desejava para a menina, embora<br />

parecia um desejo insignificante, de pé na suja cozinha de Sergei Yakut, junto a um desmantelado<br />

campo de tiro, que provavelmente não funcionaria, embora tivesse uma linha de gás correndo<br />

nele.<br />

Como Renata e Mira eram as únicas na cabana que se alimentavam de comida, Yakut tinha<br />

deixado em suas mãos que ela e a menina se alimentassem regularmente. Renata não prestava<br />

realmente atenção em sua alimentação e odiava não ser capaz de tentar Mira com algo agradável<br />

de vez em quando.<br />

5 espíritos femininos que, segundo uma lenda, ao aparecer diante de um irlandês, anunciava com seus gemidos a<br />

morte próxima de um parente. São consideradas fadas e mensageiras do outro mundo


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Um dia sairemos e teremos um jantar de verdade, um com cinco pratos diferentes. Além<br />

disso sobremesa,— acrescentou, passando a geléia de morango em uma fatia de pão branco. —<br />

Talvez tenhamos duas sobremesas cada uma.<br />

Mira sorriu sob o curto véu negro que caía sobre a pequena ponta de seu nariz.<br />

—Acredita que a sobremesa será de chocolate?<br />

—Definitivamente de chocolate. Aqui tem,— disse, entregando o prato.—PB&J 6 , com muito<br />

J, e sem cascas.<br />

Renata se apoiou no balcão, enquanto Mira cortava uma pequena parte do sanduíche e<br />

comia, como se fosse tão delicioso como qualquer menu de cinco pratos que pudesse imaginar.<br />

—Não esqueça de tomar seu suco de maçã.<br />

—Está bem.<br />

Renata cravou o canudo na caixa de suco e o pôs ao lado de Mira. Então tirou as coisas,<br />

limpando o balcão. Cada músculo tenso quando ouviu a voz de Lex na cozinha.<br />

Ele havia saído ao anoitecer. Renata realmente não sentiu sua falta, mas não se perguntou o<br />

que tinha estado fazendo desde que saiu. A resposta para aquela pergunta veio na forma de uma<br />

gargalhada bêbada— várias mulheres bêbadas, pelo som do riso e os chiados passando a área<br />

principal da cabana.<br />

Lex trazia freqüentemente mulheres humanas para casa para servir seu exército de sangue e<br />

entretenimento geral. Às vezes as mantinha por vários dias. Ocasionalmente compartilhava suas<br />

presas com os outros guardas, todos as usavam e apagavam o ataque de suas mentes antes de as<br />

devolver as suas vidas. Estar sob o mesmo teto que Lex quando estava de humor festeiro a<br />

adoecia, mas não mais do que a enfurecia já que Mira teve era exposta — inclusive na periferia – a<br />

seus jogos também.<br />

—O que está acontecendo ali fora, Rennie?— perguntou.<br />

—Termina seu sanduiche,— Renata disse a Mira quando parou de comer para escutar o<br />

alvoroço na outra sala. —Fique aqui. Volto em seguida.<br />

Renata saiu da cozinha e atravessou o corredor para o alvoroço.<br />

—Bebam, senhoritas!— gritou Lex, deixando cair uma caixa de garrafas de licor no sofá de<br />

couro.<br />

Ele não consumiria álcool, nem usava os favores da festa que conseguia. Tirou algumas<br />

sacolas plásticas brancas, enroladas, cada uma tão cheia, com o que provavelmente era cocaína, e<br />

as jogou sobre a mesa. O sistema de som ligou, um baixo crepitando fortemente por baixo da letra<br />

da canção de hip—hop.<br />

Lex agarrou a morena curvilínea com risada frívola e a colocou sob seu braço.<br />

—Você disse que teríamos diversão! Vêem aqui e me mostre uma gratidão adequada.<br />

Certamente estava em um raro estado de ânimo, de bom humor. E não era um milagre.<br />

Retornou com um bom saque: cinco mulheres vestidas com saltos altos, pequenos tops, e micro<br />

saias. A princípio, Renata achou que eram prostitutas, mas vendo mais de perto, estavam muito<br />

6 PB&J sandwich (sanduíche de pão de forma com manteiga de amendoim e geléia, típico americano)


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

limpas, muito frescas sob toda a maquiagem pesada para serem parte da vida das ruas.<br />

Provavelmente eram só ingênuas garotas do clube, sem dar-se conta que o persuasivo e atraente<br />

homem que as recolheu era na realidade alguém saído de um pesadelo.<br />

—Venham e conheçam meus amigos,— Lex disse ao grupo de mulheres enquanto se movia<br />

para os outros machos da Raça para mostrar a captura da noite. Houve um momento de<br />

apreensão evidente enquanto os quatro guardas fortemente armados olhavam lascivamente seus<br />

aperitivos humanos. Lex empurrou às três mulheres para os ansiosos vampiros.<br />

—Não sejam tímidas, garotas. Esta é uma festa, afinal. Vão e digam olá.<br />

Renata se deu conta que estava retendo as duas garotas mais bonitas. Típico de Lex,<br />

obviamente tinha reservado o melhor para ele. Renata estava a ponto de girar e voltar com Mira à<br />

cozinha – e tentar ignorar a orgia sangrenta que estava a ponto de começar— mas antes que<br />

pudesse dar dois passos, Sergei Yakut apareceu trovejando de seus aposentos privados.<br />

—Alexei. A fúria vibrava do vampiro mais velho em ondas de calor. Olhou Lex, com olhos<br />

brilhantes cor âmbar. —Esteve fora durante horas. Onde esteve?<br />

—Estive na cidade, pai. Tentou um sorriso generoso, como dizendo que seu tempo fora de<br />

suas obrigações não fosse inteiramente para servir suas próprias necessidades. —Olhe o que<br />

trouxe.<br />

Lex afastou uma das mulheres de seu abraço para que Yakut a inspecionasse. Yakut nem<br />

sequer deu um olhar ao prêmio que Lex oferecia. Só olhou às duas mulheres que Lex guardava<br />

para ele mesmo.<br />

O Gen Um grunhiu.<br />

—Cava a merda de seus saltos e dirá que é ouro?<br />

—Nunca,— respondeu Lex. —Pai, eu nunca o consideraria.<br />

—Bem. Estas duas serão minhas,— disse, indicando às mulheres de Lex.<br />

Furioso como deveria estar, humilhado com a espetada em seu orgulho. Lex não disse<br />

nenhuma palavra. Deixou cair seu olhar e esperou em silêncio que Yakut recolhesse suas duas<br />

companheiras e se dirigisse com elas a seus aposentos privados.<br />

—Não queremos ser incomodados,— Yakut ordenou sombriamente. —Por nenhuma razão.<br />

Lex deu um assentimento de reverência contida.<br />

—Sim pai. É obvio. Tudo que deseje.<br />

* * *<br />

Nikolai ouviu música e vozes inclusive antes que estivesse a quinhentos metros da cabana.<br />

Aproximou-se, movendo-se através do bosque como um fantasma, o carro de Lex estava<br />

estacionado na parte de trás, o capô ainda quente pela viagem à cidade.<br />

Niko não estava seguro do que ia encontrar. Não esperava uma maldita festa, mas isso era o<br />

que parecia que havia dentro da casa principal. O lugar estava iluminado como uma árvore de<br />

natal, as luzes saíam das janelas da sala onde alguém estava entretido com um número de fêmeas.<br />

Rap pesado vibrava por todo o caminho de terra por baixo das botas de Nikolai enquanto ele se


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

aproximava por um lado do edifício e lançava uma olhada dentro.<br />

Lex estava aí, muito bem. Ele e o resto dos guarda—costas de Yakut, reunidos todos em uma<br />

sala rústica. Três mulheres jovens dançavam nos tapetes de pele somente com as roupas íntimas,<br />

todos claramente embriagados, apoiado na quantidade de bebidas alcoólicas e drogas sobre a<br />

mesa mais próxima. Os quatro guardas da Raça uivavam e as animavam, os vampiros<br />

provavelmente estavam a segundos de jogar-se sobre as fêmeas ingênuas.<br />

Lex, enquanto isso, estava sentado curvado em um sofá de pele, os olhos escuros fixos nas<br />

mulheres apesar que seus pensamentos pareciam estar a quilômetros de distância. Não havia<br />

nenhum sinal do malicioso Lex que esteve paquerando na cidade. Sem sinais de Sergei Yakut<br />

tampouco, e o fato que a segurança inteira estava entretida com este pequeno espetáculo fez que<br />

os instintos de Niko mudassem a alerta vermelho.<br />

—Que demônios está fazendo?— Niko pronunciou baixo.<br />

Mas sabia a resposta inclusive antes que começasse a mover-se pela parte posterior da<br />

cabana, onde Yakut tinha seus aposentos privados. Quando um sutil, mas persistente aroma<br />

confirmou as suspeitas de Niko de seu pior temor.<br />

Maldito seja.<br />

O renegado estava aqui.<br />

Nikolai cheirou sangue fresco derramado também, proveniente de humano, o aroma era<br />

quase entristecedor quanto mais se aproximava do quarto de Yakut. Sangue e sexo, para ser<br />

exato, como se o Gen Um tivesse tendo um banquete.<br />

Um grito repentino irrompeu na noite.<br />

De mulher. Um som de terror total, procedente de dentro do quarto de Yakut.<br />

Depois, disparos amortecidos.<br />

Pop, pop, pop!<br />

Nikolai voou através da porta traseira do refúgio, sem surpreender-se em encontrá-la<br />

destrancada e parcialmente aberta. Irrompeu no quarto de Yakut, sua pistola semi-automática na<br />

mão pronta para lançar a carga completa de balas de titânio reforçado.<br />

A cena que o saudou era um açougue total.<br />

Na cama estava Sergei Yakut, tendido nu sobre uma mulher presa sob seu corpo sem vida,<br />

com a garganta rasgada onde o vampiro esteve se alimentado dela apenas uns segundos antes. Ela<br />

não se movia, e não havia cor na pele da mulher ou no cabelo, porque a maior parte dela estava<br />

coberta pelo sangue de Yakut e o seu próprio. Faltava a metade da cara do Gen Um. A cabeça de<br />

Sergei Yakut era pouco mais que pedaços de osso, tecido e sangue do trio de balas que tinham<br />

sido disparadas a queima—roupa na parte posterior de seu crânio. Estava morto e o renegado que<br />

o matou estava também preso no anseio de sangue para dar-se conta da presença de Nikolai. O<br />

filho da puta tinha deixado a pistola que tinha utilizado para matar Yakut e agora estava ocupado<br />

com a outra mulher nua que tinha sido apanhada no canto do quarto. Seus olhos estavam<br />

voltados para trás e não se movia. Merda, não estava respirando bem, embora o renegado seguia<br />

bebendo dela, seu pescoço destroçado pelas presas enormes.<br />

Niko se moveu por trás do filho da puta e pôs o canhão da Beretta contra sua cabeça


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

desgrenhada. Apertou o gatilho — dois mortos— com explosões de titânio no cérebro do canalha.<br />

O renegado caiu no chão, retorcendo-se e com espasmos por causa do golpe. O titânio fez efeito<br />

rápido e o vampiro moribundo lançou um grito tão forte e do outro mundo que sacudiu as velhas<br />

vigas de madeira da cabana como um trovão.<br />

* * *<br />

Renata saiu voando da cozinha com sua pistola pronta. Seus sentidos de batalha estavam<br />

esticados como corda de piano, o crepitar de disparos distantes e o uivo desumano que o<br />

seguiram, procedentes do outro lado do refúgio. A música seguia soando na grande sala. As<br />

visitantes de Lex já não estavam vestidas e seguiam estridentes com o contínuo fluxo de drogas e<br />

álcool. As mulheres estavam sobre os guardas e estes também, e pelo olhar faminto dos machos<br />

da Raça não notariam se uma bomba explodisse no quarto ao lado.<br />

—Idiotas,— Renata os acusou baixo. —Nenhum de vocês escutou isso?<br />

Lex levantou a vista, a preocupação obscureceu sua expressão, mas ela realmente não<br />

estava esperando uma reação por parte dele. Ela correu para o corredor do quarto de Yakut. O<br />

corredor estava escuro, o ar parado. Tudo muito silencioso. Muito ainda.<br />

A morte pendurava como um véu, quase asfixiante enquanto ela se aproximava da porta<br />

aberta do alojamento do vampiro.<br />

Sergei Yakut já não estava vivo; Renata sentiu a verdade em seus ossos. A pólvora, sangue, e<br />

um entristecedor aroma adocicado de podridão a advertiu que ela caminhava para algo terrível.<br />

Embora nada poderia tê-la preparado realmente para o que viu quando empurrou a porta, a<br />

arma levantada e a sustentou com ambas as mãos. Pronta para matar quem estivesse em seu<br />

caminho. A vista de tanta morte, sangue e Gore 7 a tomou de surpresa. Estava por toda parte: na<br />

cama, chão, paredes.<br />

E também o assassino aparente de Sergei Yakut.<br />

Nikolai estava no centro do açougue, seu rosto e camisa escura salpicada de cor escarlate.<br />

Em sua mão tinha uma grande pistola semi-automática, a ponta do cano ainda fumegante por sua<br />

recente utilização.<br />

—Você?— A palavra deslizou de seus lábios, a comoção e incredulidade como uma bola de<br />

gelo em seu intestino. Olhou o corpo de Yakut –seus restos eliminados— tendidos sobre a cama<br />

na parte superior da mulher sem vida.<br />

—Meu Deus,— ela sussurrou, surpreendida ao vê-lo aqui no pavilhão de novo, mas até mais<br />

surpreendida pelo resto que estava vendo. —Você… você o matou.<br />

—Não. O guerreiro moveu a cabeça sombriamente. —Eu não, Renata. Havia um renegado<br />

aqui com Yakut. Indicou a grande massa de fumegantes cinzas no chão, a fonte do aroma ofensivo.<br />

—Eu matei o renegado, mas era muito tarde para salvar Yakut. Sinto muito.<br />

—Baixe sua arma,— disse, sem interessar as desculpas. Ela não as necessitava. Renata sentiu<br />

7 N.T. Gore* Se refere a um gosto sanguinário. Ou prática sangrenta.


Tiamat World<br />

73<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

pena pelo final violento de Yakut, um sentimento de incredulidade a surpreendeu por estar<br />

realmente morto. Mas não havia dor. Nada que absolvesse Nikolai de sua aparente culpa.<br />

Apontou firmemente a seu objetivo e entrou um pouco mais no quarto. —Baixa sua arma. Agora.<br />

Manteve o controle firme de sua pistola 9 mm.<br />

—Não posso fazer isso Renata. Não o farei, não enquanto Lex siga respirando.<br />

Ela franziu o cenho confundida.<br />

—O que tem Lex?<br />

—Este assassinato foi obra dele, não meu. Trouxe o renegado aqui. Trouxe as mulheres para<br />

distrair Yakut e os guardas, para que o renegado pudesse se aproximar o suficiente para matá-lo.<br />

Renata escutou, mas manteve seu objetivo na mira. Lex era uma víbora, certo, mas um<br />

assassino? Realmente tomaria medidas para matar seu próprio pai?<br />

Só então, Lex e os outros guardas se aproximaram pelo corredor.<br />

—O que aconteceu? Ocorre algo mau aí dentro.<br />

Lex se calou quando chegou à porta aberta da câmara de seu pai. Em sua visão periférica<br />

Renata o viu olhar o corpo de Yakut na cama e depois Nikolai. Cambaleou-se para trás – um passo,<br />

não muito mais que uma pausa. Então explodiu, muita raiva.<br />

—Filho da puta! Maldito assassino filho da puta.<br />

Lex se lançou, mas foi uma tentativa pela metade, que abandonou completamente quando a<br />

pistola de Nikolai girou em sua direção. O guerreiro não fraquejou, nem seu olhar nem um só<br />

músculo. Estava completamente calmo enquanto olhava Lex pelo canhão de sua arma, inclusive<br />

quando a arma de Renata e a dos guardas apontavam para ele.<br />

—Te vi na cidade esta noite, Lex. Eu estava lá. The Crakhouse. 8 A isca que utilizou para atrair<br />

os vampiros renegados. O filho da puta que trouxe esta noite… vi tudo.<br />

Lex zombou.<br />

—Vá a merda você e suas mentiras! Não viu tal coisa.<br />

—O que prometeu ao renegado em troca da cabeça de seu pai? Dinheiro não importa aos<br />

viciados de sangue, a vida de quem ofereceu como prêmio— a de Renata? Talvez essa pequena<br />

menina problema em seu lugar?<br />

O peito de Renata se apertou com o pensamento. Atreveu-se a dar uma rápida olhada em<br />

Lex e o encontrou friamente zombador diante do guerreiro, dando uma lenta sacudida de cabeça.<br />

—Dirá algo neste momento para salvar seu pescoço. Não funcionará. Não quando você<br />

mesmo ameaçou a vida de meu pai não faz nem vinte horas. Lex girou para ver Renata.<br />

—Você também o escutou dizê-lo, não foi?<br />

Ela assentiu a contra gosto, recordando como Nikolai deu a Sergei Yakut uma advertência<br />

muito pública que alguém precisava detê-lo.<br />

Agora Nikolai tinha retornado e Yakut estava morto.<br />

Mãe do Céu, ela pensou, olhando uma vez mais o corpo sem vida do vampiro que a manteve<br />

virtualmente prisioneira pelos últimos dois anos. Estava morto.<br />

8 Casa das drogas


Tiamat World<br />

74<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Meu pai não estava em nenhum tipo de perigo até que a Ordem entrou no jogo. Lex<br />

estava dizendo. —Uma tentativa fracassada, e agora isto, um banho de sangue. Você esperou para<br />

fazer seu movimento. Você e o renegado que trouxe com você esta noite, esperando uma<br />

oportunidade para atacar. Só posso deduzir que veio matar meu pai desde o começo.<br />

—Não,— disse Nikolai, um brilho de luz âmbar em seus olhos azuis invernais. —Quem estava<br />

esperando para matá-lo era você, Lex.<br />

Em uma fração de segundo, só enquanto ela via os tendões em sua arma flexionar-se<br />

enquanto seu dedo começava a pressionar o gatilho da arma, Renata disparou em Nikolai uma<br />

explosão mental forte. Restava um pouco de carinho por Alexei, e não podia deixá-lo esta noite.<br />

Nikolai rugiu, a coluna vertebral arqueada, a cara retorcendo de dor.<br />

Mais efetiva que as balas, a explosão o derrubou de joelhos em um instante. Os quatro<br />

guardas irromperam no quarto e tomaram sua pistola e o resto de suas armas. Os canhões de<br />

quatro revolveres foram colocados na cabeça do guerreiro, a espera de ordens de matar. Um dos<br />

guardas inclinou o gatilho, ávido pelo derramamento de sangue, embora o quarto estivesse<br />

repleto.<br />

—Baixem,— disse. Olhou Lex, cuja cara estava repleta de ira, seus olhos azuis e brilhantes,<br />

suas presas afiadas visíveis entre os lábios entreabertos. —Diga que se retirem, Lex. Matá-lo não<br />

nos fará nada mais que assassinos a sangue frio também.<br />

Incrivelmente, Nikolai começou a rir. Levantou a cabeça, com um esforço evidente,<br />

enquanto a explosão ainda o segurava.<br />

—Ele tem que me matar, Renata, porque não pode arriscar-se com uma testemunha. Não é<br />

certo, Lex? Ninguém pode caminhar por aí sabendo seu sujo segredo.<br />

Lex tirou agora sua própria pistola e se dirigiu diretamente a Nikolai e pôs o canhão da<br />

pistola contra a testa do guerreiro. Grunhiu, seu braço tremendo pela ferocidade de sua raiva.<br />

Renata estava imóvel, horrorizada realmente que apertasse o gatilho. Ela estava perdida, uma<br />

parte dela queria acreditar no que Nikolai disse – que ele era inocente— e temerosa de acreditar.<br />

O que havia dito de Lex simplesmente não podia ser verdade.<br />

—Lex,— ela disse, o único som no quarto. —Lex… não faça isto.<br />

Ela estava a menos de uma pausa de golpeá-lo como fez a Nikolai quando a arma<br />

lentamente baixou.<br />

Lex rosnou, finalmente deixando-o tranqüilo.<br />

—Eu gostaria de uma morte mais lenta para este bastardo do que a que sou capaz de lhe<br />

dar. Levem-no a sala principal e prendam-no. Disse aos guardas. —Depois alguém se encarregue<br />

de cuidar do corpo de meu pai. As fêmeas que estão no outro quarto as tirem da propriedade.<br />

Quero todo este caos sangrento limpo imediatamente.<br />

Lex se voltou com um olhar sombrio para Renata quando os guardas começaram a arrastar<br />

Nikolai fora do quarto.<br />

—Se tentar algo, dê tudo o que tem ao filho da puta.


Tiamat World<br />

Capítulo 13<br />

75<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Pardonnez-moi, Monsieur Fabien. Há uma chamada telefônica para você, senhor. De um<br />

Monsieur chamado Alexei Yakut.<br />

Edgar Fabien fez um gesto depreciativo ao macho da Raça que o servia como secretário<br />

pessoal e continuou admirando o corte nítido de suas calças leves feitos sob medida no espelho do<br />

armário. Ele estava experimentando um traje novo, e, neste momento, nada que Alexei Yakut<br />

tivesse a dizer era o suficientemente importante para justificar uma interrupção.<br />

—Diga que estou em uma reunião e não posso ser incomodado.<br />

—Desculpe-me você, senhor, mas já o informei que você se acha indisponível. Ele diz que é<br />

um assunto urgente. Que requer sua imediata atenção pessoal.<br />

Com uma reflexão Fabien olhou para trás furiosamente por baixo de suas pálidas<br />

sobrancelhas arrumadas. Ele não tentou ocultar os sinais externos de sua irritação crescente, que<br />

se mostraram pelo brilho cor âmbar de seus olhos e na repentina agitação das cores de seus<br />

dermaglifos que formavam redemoinhos e um arco sobre seu peito nu e ombros.<br />

—Basta—, ele lançou um golpe ao alfaiate enviado dos armazéns da Givenchy do centro da<br />

cidade. O humano recuou imediatamente, recolhendo seus alfinetes e a fita métrica e<br />

obedientemente afastou-se às ordens de seu mestre. Ele pertencia a Fabien – um dos muitos<br />

subordinados que o vampiro da Raça de segunda geração empregava pela cidade. —Fora daqui,<br />

vocês dois.<br />

Fabien desceu do soalho do armário, e se aproximou de seu telefone que estava na mesa.<br />

Ele esperou até que ambos os serventes tinham abandonado o quarto e a porta estava fechada<br />

atrás deles.<br />

Com um grunhido, tomou o fone e apertou o botão que piscava para conectar-se à chamada<br />

de Alexei Yakut.<br />

—Sim—, sussurrou ele com frieza. —Qual é o assunto urgente que simplesmente não pode<br />

esperar?<br />

—Meu pai está morto.<br />

Fabien balançou sobre seus calcanhares, realmente pego com a guarda baixa pela notícia.<br />

Ele exalou um suspiro com a intenção de soar aborrecido.<br />

—Que tão conveniente para você, Alexei. Terei que oferecer minhas felicitações, junto com<br />

minhas condolências?<br />

O herdeiro aparente de Sergei Yakut ignorou a espetada.<br />

—Havia um intruso na mansão esta noite. De algum jeito ele conseguiu penetrar<br />

sigilosamente no lugar. Ele matou meu pai em sua cama, a sangue frio. Ouvi a perturbação e<br />

tentei intervir, mas… bom. Por desgraça, era muito tarde para salvá-lo. Estou desconsolado,<br />

certamente.<br />

Fabien grunhiu.<br />

—É obvio.


Tiamat World<br />

76<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Mas supus que você deveria ser notificado do crime. E também suspeitei que você e a<br />

Agência de Imposição viriam aqui imediatamente para deter o atacante de meu pai.<br />

Cada célula no corpo de Fabien se deteve.<br />

—O que está dizendo — que tem alguém em custódia? Quem?<br />

Um riso baixo se escutou no outro lado da linha.<br />

—Vejo que finalmente tenho sua atenção, Fabien. O que diria se dissesse que tenho um<br />

membro da Ordem submetido e esperando por você aqui no albergue? Estou seguro que há<br />

algumas pessoas que terão em mente que um guerreiro a menos para lutar, seria excelente.<br />

—Você não está realmente tentando me convencer que este guerreiro é responsável pela<br />

morte de Sergei Yakut, verdade?<br />

—Eu só estou dizendo que meu pai está morto e estou no comando de seus domínios<br />

agora. Digo que tenho um membro da Ordem em minhas mãos, e estou disposto a entregá-lo a<br />

você. Um presente, se quiser.<br />

Edgar Fabien guardou silêncio durante um longo momento, considerando o imenso prêmio<br />

que Alexei Yakut lhe oferecia. A Ordem e seus membros ativos tinham poucos aliados dentro da<br />

Agência de Imposição. Menos ainda dentro do círculo privado ao qual Fabien pertencia.<br />

—E o que espera em troca deste… presente?<br />

—Já disse quando nos conhecemos. Quero entrar. Quero uma parte em qualquer ação que<br />

você esta tentando fazer. Uma parte grande, entende?— Riu entredentes, tão cheio de si mesmo.<br />

—Você me necessita ao seu lado, Fabien. Penso que isso é óbvio para você agora.<br />

A última coisa que Edgar Fabien ou qualquer de seus sócios necessitavam ao seu lado era um<br />

ambicioso de merda como Alexei Yakut. Ele era um cabo solto, um que teria que ser tratado com<br />

cuidado. Se Fabien tivesse que escolher, optaria por uma exterminação rápida, mas teria que ser<br />

alguém mais em última instância que faria aquela escolha.<br />

Quanto ao membro cativo da Ordem? Agora, isso era intrigante. Era uma bênção digna a<br />

considerar, e as muitas atraentes possibilidades que isto representava fazia o coração de quase<br />

quatrocentos anos de idade de Fabien pulsar um pouco mais rápido.<br />

—Terei que fazer uns quantos… acertos—, disse ele. —Isto pode levar uma hora ou menos<br />

para alinhar os recursos e fazer a viagem até o recinto para recuperar o prisioneiro.<br />

—Uma hora—, Alexei Yakut aceitou ansiosamente. —Não me faça esperar mais que isso.<br />

Fabien engoliu sua resposta ácida e terminou a chamada com um conciso —Te vejo então.<br />

Ele sentou na borda de sua mesa e olhou para a linha do horizonte noturno que brilhava<br />

intermitentemente na distância além de seu imóvel Darkhaven. Então se dirigiu para sua caixa<br />

forte e virou a fechadura da combinação, pegando a manivela para abrir a assegurada caixa de<br />

armazenamento. Dentro havia um telefone celular reservado só para chamadas de emergência.<br />

Ele teclou um número programado e esperou que o sinal cifrado conectasse. Quando a voz<br />

asfixiante do outro respondeu, Fabien disse:<br />

—Temos um incômodo.<br />

* * *


Tiamat World<br />

77<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

As correntes pesadas rodeavam seu torso nu, atando-o a uma cadeira de madeira esculpida.<br />

Nikolai sentia restrições similares em suas mãos, que estavam presas atrás dele, e em seus pés,<br />

que estavam atados pelos tornozelos e sustentados com força contra as pernas da cadeira.<br />

Ele tinha recebido um inferno de surra, e não só pela rajada mental debilitante que tinha<br />

ganhado por cortesia de Renata. Graças a esse golpe demolidor, tinha estado dentro e fora da<br />

consciência durante algum tempo, lutando só para levantar suas pálpebras, inclusive agora. É<br />

obvio, parte do problema ali era que seu rosto estava golpeado e arruinado, com os olhos<br />

inchados, seus lábios arrebentados e amargos com o sabor de seu próprio sangue. Ele estava<br />

muito fraco para uma verdadeira luta quando Lex e seus guardas tinham trabalhado com ele como<br />

um saco de boxe enquanto tiravam até sua roupa íntima e o levavam arrastado para o grande<br />

quarto da residência para esperar por seu destino.<br />

Nikolai não sabia há quanto tempo estava sentado ali. Tempo suficiente para que suas mãos<br />

se sentissem intumescidas pela falta de circulação. Tempo suficiente para ter notado quando<br />

Renata passou pelo quarto há um tempo, protetoramente conduzindo Mira longe da repugnante<br />

cena. Tinha observado uma mecha de seu cabelo empapado em suor, vendo a dor e a tensão em<br />

seu rosto quando tinha lançado um olhar sinistro em sua direção.<br />

Sua reverberação provavelmente a golpeava muito duro agora, ele adivinhava. Niko disse a<br />

si mesmo que a pontada que sentiu era só outro músculo gritando pelo abuso; ele provavelmente<br />

não podia ser tão estúpido para sentir nenhum tipo de simpatia pelo sofrimento da fêmea. Ele<br />

provavelmente não podia ser tão estúpido para preocupar-se com o que ela pensasse dele— isso<br />

se ela em realidade acreditou que ele fez o que Lex o acusou—, mas maldita seja, realmente<br />

importava. Sua frustração por não poder falar com Renata só ampliava sua dor física e sua fúria.<br />

Do outro lado da sala, os quatro guardas examinavam suas armas e as rodas de titânio feitas<br />

a mão com as pontas ocas que eram uma das criações pessoais de Nikolai. Eles tinham todos seus<br />

dispositivos sobre uma mesa de cavalete, fora de seu alcance. O telefone móvel de Niko—, seu<br />

vínculo e enlace com a Ordem— estava em pedaços no chão. Lex tinha tido o grande prazer de<br />

esmagá-lo sob sua bota antes que partisse deixando Nikolai sob supervisão de seus guardas.<br />

Um dos machos fornidos da Raça disse algo que fez os outros três rirem antes que girasse a<br />

seu redor com a semi-automática de Niko e apontasse em sua direção. Nikolai não estremeceu. De<br />

fato, ele mal respirava, olhando pela fenda torcida de seu olho esquerdo, todos seus músculos<br />

desabados como se ainda estivesse inconsciente e ignorante de seu entorno.<br />

—Que tal se o acordamos?— brincou o guarda com a arma na mão. Ele a rebolou para Niko,<br />

tentadoramente dentro do alcance de sua mão, quando os braços de Niko não estivessem<br />

fortemente amarrados atrás dele. A boca da 9 mm baixou lentamente, além de seu peito, logo<br />

adiante de seu abdômen também. —Eu digo que castremos este pedaço de merda assassino.<br />

Tiramos suas bolas e deixamos que a Agência de Imposição o leve em pedaços.<br />

—Kiril, deixa de ser um asno—, um dos outros advertiu. —Lex disse que não podíamos tocálo.<br />

—Lex é um merda. O polido aço negro chiou com o frio entalhe quando Kiril martelou uma


Tiamat World<br />

78<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

ronda. —Em dois segundos, este guerreiro vai ser somente um merda também.<br />

Nikolai se manteve muito quieto quando a arma pressionou comodamente em sua virilha.<br />

Parte de sua paciência nasceu do verdadeiro temor, já que ele era bastante aficionado a suas<br />

partes viris e não tinha nenhum desejo das perder. Mas era inclusive mais primitivo que ele<br />

entendesse que as oportunidades de reverter a situação a seu favor eram poucas e breves. Ele<br />

tinha superado a maioria dos efeitos internos do talento de Renata, mas não podia estar seguro de<br />

sua força física a menos que tentasse.<br />

E se tentava agora e falhava… bom, ele não queria contemplar as possibilidades de afastarse<br />

sem sua virilidade intacta se tentava escapar de suas ataduras e conseguisse só um disparo<br />

impulsivo de Kiril.<br />

Uma dura palma golpeou um lado de seu crânio.<br />

—Está aí, guerreiro? Tenho algo para você. Hora de despertar.<br />

Com os olhos fechados para ocultar sua mudança de cor azul ao âmbar, Nikolai deixou que<br />

sua cabeça caísse mole com o golpe. Mas dentro dele, a fúria começava a acender-se em seu<br />

ventre. Ele tinha que mantê-la a raia. Não podia deixar que Kiril ou os outros vissem a mudança de<br />

seus dermaglifos e arriscar-se a mostrar que estava completamente acordado e consciente e<br />

totalmente de saco cheio.<br />

—Desperta —,grunhiu Kiril.<br />

Ele começou a levantar o queixo de Niko, mas então um ruído fora do recinto chamou sua<br />

atenção. Cascalho salpicando e rangendo debaixo de pneus de veículos que se aproximavam. Uma<br />

frota deles, pelo som.<br />

—A Agência está aqui—, um dos outros guardas anunciou.<br />

Kiril se separou de Nikolai, mas tomou seu tempo para desarmar a pistola. Fora, os veículos<br />

reduziam a velocidade, até parar. Portas se abriram. Botas golpeando o caminho de cascalho<br />

quando os Agentes da polícia Darkhavens se aproximaram. Nikolai contou mais de meia dúzia de<br />

pares de pés movendo-se para a casa.<br />

Merda.<br />

Se saía deste desastre bastante rápido, ia despertar nas mãos da Agência de Imposição. E um<br />

membro da Ordem, desse mesmo grupo da Agência, tinha desejado há muito tempo extingui-los,<br />

a detenção por eles faria que Lex e o tratamento de seus guardas parecesse uma viagem a um<br />

SPA. Se caía nas mãos da Agência agora, especialmente quando o acusavam de assassinar um Gen<br />

Um— Niko sabia sem sombra de dúvida que também ia acabar morto.<br />

Lex saudou os recém chegados como se ele fosse a corte dos dignitários visitantes.<br />

—Por este caminho,— indicou de algum lugar fora do recinto. —Tenho o filho da puta<br />

contido e esperando na residência.<br />

—Ele tem ao bastardo contido—, murmurou Kiril acidamente. —Duvido que Lex pudesse<br />

conter seu próprio traseiro embora usasse ambas as mãos.<br />

Os outros guardas riram entredentes cautelosamente.<br />

—Venha—, disse Kiril. —Vamos pôr o guerreiro de pé para que a Agência possa levá-lo<br />

daqui.


Tiamat World<br />

79<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

A esperança surgiu no peito de Niko. Se o liberassem das algemas, poderia ter uma pequena<br />

possibilidade de escapar. Muito pequena, tendo em conta os golpes próximos das botas e a<br />

capacidade armamentista que se dirigia em sua direção do exterior da casa, mas pequena era um<br />

inferno muitíssimo melhor que nenhuma.<br />

Ele manteve seu corpo sem vida na cadeira, inclusive enquanto Kiril se abaixava diante dele<br />

e tirava as correntes que estavam ao redor de seus tornozelos. A impaciência o corroia. Cada<br />

impulso de Nikolai dizia que levantasse seu joelho e golpeasse o guarda por baixo da mandíbula.<br />

Ele teve que reprimir-se com os dentes mordendo a língua para manter a si mesmo imóvel,<br />

com a respiração mais superficial que pudesse, esperando a melhor oportunidade enquanto o<br />

guarda dava a volta atrás dele e recolhia os cadeados que fechavam as correntes em seu torso e<br />

pulsos. Um giro da chave. Um estalo rangente do carboneto de aço quando a fechadura abriu.<br />

Nikolai flexionou seus dedos, tomou uma respiração profunda, sem restrições.<br />

Ele abriu os olhos. Sorriu abertamente aos companheiros de Kiril um instante antes que ele<br />

levasse seus braços ao seu redor e agarrasse a cabeça grande de Kiril com ambas as mãos.<br />

Dentro do movimento fluido, deu um giro violento e saltou para cima fora da cadeira. As<br />

correntes caíram e Nikolai estava de pé com o forte estalo do rompimento do pescoço de Kiril.<br />

—Santo Cristo!— gritou um dos guardas restantes.<br />

Alguém lançou um disparo frenético. Os outros dois procuraram por suas armas.<br />

Niko puxou bruscamente a pistola de Kiril fora de sua cartucheira e devolveu o fogo,<br />

derrubando um guarda com uma bala na cabeça.<br />

A comoção trouxe gritos de alarme do corredor. As botas começaram a golpear. Um<br />

pequeno exército de Agentes de Imposição arremeteria para tomar o controle da situação.<br />

Maldito seja.<br />

Não tinha muito tempo para fugir antes que ele estivesse contemplando os canos de não<br />

menos de meia dúzia de canhões, em poucos segundos.<br />

Nikolai arrastou o corpo morto de Kiril diante dele e o manteve ali como um escudo. O<br />

cadáver tomou um par de golpes rápidos, quando Niko começou a mover-se para trás, para a<br />

janela do outro lado do extenso quarto.<br />

Na porta aberta agora, havia um grupo de Agentes vestidos de negro da equipe SWAT, todos<br />

munidos com algumas armas de fogo semi-automática que o observavam bastante sérios.<br />

—Fica quieto, safado!<br />

Niko lançou um olhar por cima de seu ombro para a janela que estava uns metros atrás dele.<br />

Essa era sua melhor, sua única opção. Render-se agora e sair pacificamente com seus executores<br />

da Agência era uma alternativa que ele se negava a considerar.<br />

Com um rugido, Niko agarrou o peso morto de Kiril e balançou o corpo para a janela de<br />

cristal. Ele o manteve perto quando a janela quebrou ao redor dele, usando como escudo o<br />

cadáver do vampiro para conseguir sair do alcance e assim conseguir atravessar o improvisado<br />

buraco.<br />

Ele escutou uma ordem exclamada atrás dele – uma ordem de um dos Agentes para que<br />

abrissem fogo.


Tiamat World<br />

80<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Ele sentia o ar fresco da noite sobre o rosto, em seu cabelo úmido pelo suor. Mas, antes que<br />

ele pudesse registrar o menor sabor da liberdade.<br />

Pow! Pow! Pow!<br />

Suas costas nuas arderam como se estivessem em chamas. Seus ossos e músculos se<br />

sentiram flexíveis, dissolvendo-se dentro dele quando uma onda de bílis e ácido chamuscou a<br />

parte posterior de sua garganta. A visão de Nikolai nadou para uma escuridão repentina, que o<br />

devorou. Ele sentiu a terra surgir rapidamente debaixo dele, quando ele e o cadáver de Kiril caíram<br />

na terra que estava abaixo da janela.<br />

Então já não sentiu nada mais.<br />

Capítulo 14<br />

Lex permaneceu com Edgar Fabien sob os beirais da casa principal, olhando como os<br />

Agentes da Lei deslizavam o corpo do guerreiro para a parte traseira de uma caminhonete negra<br />

sem matricula.<br />

—Quanto tempo farão efeito os sedativos?— Perguntou Lex, decepcionado ao saber que a<br />

arma com que Fabien tinha ordenado abrir fogo sobre Nikolai continha dardos tranqüilizantes em<br />

lugar de balas.—Não espero que o prisioneiro desperte até que esteja na prisão de contenção de<br />

Terrabonne.<br />

Lex olhou o líder do Darkhaven.<br />

—Uma prisão de contenção? Pensei que esses lugares eram usados para processar e<br />

reabilitar viciados de sangue— alguns agentes da lei têm depósitos para vampiros Renegados.<br />

O sorriso de Fabien era tenso.<br />

—Não há necessidade de te envolver com os detalhes, Alexei. Fez o certo me avisando sobre<br />

o guerreiro. Obviamente, um indivíduo tão perigoso como ele precisa ser detido com<br />

considerações especiais. Eu pessoalmente verei que seja tratado da devida maneira. Estou seguro<br />

que tem suficiente em sua mente durante estes momentos de inimaginável e trágica perda.<br />

Lex grunhiu.<br />

—Ainda está o assunto de nosso…acordo.<br />

—Sim—, respondeu Fabien, deixando que a palavra saísse lentamente entre seus magros<br />

lábios. —Surpreendeu—me, Alexei, devo admitir. Há algumas apresentações que eu gostaria de<br />

fazer em seu nome. Apresentações muito importantes. Naturalmente isto requererá a mais<br />

completa discrição.<br />

—Sim, é obvio. - Lex mal podia conter seu entusiasmo, sua cobiça por saber mais— por<br />

saber tudo o que tinha que saber— justo aqui e agora. —A quem preciso conhecer? Posso estar<br />

em sua casa na primeira hora amanhã de noite…<br />

A risada condescendente de Fabien foi irritante.<br />

—Não, não. Estou falando sobre algo tão publico como isto. Isto requererá uma reunião


Tiamat World<br />

81<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

especial. Uma reunião secreta, com uns poucos de meus sócios. Nossos sócios— corrigiu com um<br />

olhar conspiratório.<br />

Uma audiência privada com Edgar Fabien e seus coetâneos. Lex estava virtualmente<br />

salivando só com a idéia.<br />

—Onde? E quando?<br />

—Dentro de três noites. Enviarei meu carro para te recolher e o levarei para o lugar como<br />

meu convidado pessoal.<br />

—Estou desejando-o com antecipação— disse Lex.<br />

Ele ofereceu sua mão ao macho Darkhaven – seu poderoso e novo aliado— mas o olhar de<br />

Fabien se desviou do ombro de Lex à janela quebrada da grande sala do edifício. Esses ardilosos<br />

olhos se estreitaram, e a cabeça de Fabien se moveu aos lados.<br />

—Tem uma menina aí?— perguntou, com algo sombrio brilhando em seu olhar avaro.<br />

Lex girou, bem a tempo de ver Mira tentando colocar-se fora de sua vista, seu curto véu<br />

negro agitando-se com o rápido movimento.<br />

—A pirralha serve meu pai ou isso gostava de pensar— disse desdenhosamente. —Ignora-a.<br />

Não é ninguém.<br />

As pálidas sobrancelhas de Fabien se elevaram ligeiramente.<br />

—É ela uma companheira de Raça?<br />

—Sim—, disse Lex. —Uma órfã que meu pai recolheu há alguns meses.<br />

Fabien fez um ruído no fundo de sua garganta, em algum lugar entre um grunhido e um<br />

pigarro.<br />

—Qual é o talento da garota?<br />

Agora era Fabien quem parecia incapaz de ocultar seu ávido interesse. Estava ainda olhando<br />

a janela aberta, estirando seu pescoço e procurando como se Mira fosse aparecer ali de novo.<br />

Lex considerou esse entusiasta olhar por um momento, então disse:<br />

—Você gostaria de ver o que ela pode fazer?<br />

O olhar brilhante de Fabien foi suficiente resposta. Lex liderou o caminho de volta à casa<br />

principal e encontrou Mira arrastando-se pelo corredor até seu dormitório. Subiu e a agarrou pelo<br />

braço, empurrando-a para que ficasse com o rosto diante do líder Darkhaven. Ela choramingou um<br />

pouco por seu áspero tratamento, mas Lex ignorou as queixas da pirralha. Tirou seu véu e a<br />

empurrou em frente a Edgar Fabien.<br />

—Abre seus olhos,— ordenou ele. Quando ela não obedeceu imediatamente, Lex a<br />

persuadiu com um golpe de seus nódulos contra sua pequena nuca loira. —Abre, Mira.<br />

Soube que ela o fez porque no seguinte momento, a expressão de Edgar Fabien passou de<br />

uma curiosidade moderada a uma de maravilha e surpresa. Ficou paralisado, com a mandíbula<br />

frouxa.<br />

Então sorriu. Um amplo e atemorizante sorriso.<br />

—Meu Deus—, respirou ele, incapaz de afastar seu olhar dos olhos enfeitiçados de Mira.—O<br />

que vê?— perguntou Lex.<br />

Fabien levou um tempo antes de responder.


Tiamat World<br />

82<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—É isto… pode ser possível que esteja vendo meu futuro? Meu destino?<br />

Lex afastou Mira longe dele agora, sem perder o reflexivo agarre de Fabien na garota, como<br />

se não estivesse preparado para soltá-la ainda.<br />

—Os olhos de Mira de fato refletem feitos futuros— disse, colocando o curto véu de novo<br />

sobre sua cabeça.<br />

—Ela é uma menina notável.<br />

—Faz um minuto disse que ela não era ninguém— recordou Fabien. Os olhos estreitos e<br />

calculadores viajaram sobre a garota. —O que estaria disposto a aceitar por ela?<br />

Lex viu a cabeça de Mira girar em sua direção, mas sua atenção estava fixa solidamente na<br />

transação rapidamente oferecida.<br />

—Dois milhões— disse, soltando a cifra de forma casual, como se fosse uma cifra<br />

corriqueira. —Dois milhões de dólares e ela é tua.<br />

—Feito,— disse Fabien. —Chama minha secretária com um número de conta bancária e a<br />

soma será depositada em uma hora.<br />

Mira se esticou e agarrou o braço de Lex.<br />

—Mas não quero ir a nenhum lugar com ele. Não quero deixar Rennie.<br />

—Se acalme, se acalme, agora, coração,— arrulhou Fabien. Passou sua palma pela parte<br />

alta de sua cabeça. —Vá dormir, menina. Sem ruído. Durma agora.<br />

Mira caiu para trás, presa no transe do vampiro. Fabien a pegou entre seus braços e a<br />

embalou como um bebê. —Um prazer fazer negócios com você, Alexei.<br />

Lex assentiu.<br />

—O mesmo digo,— respondeu, seguindo o líder Darkhaven fora da casa e esperando<br />

enquanto ele e a garota desapareciam em um sedam escuro que estava parado no caminho.<br />

Enquanto a frota de carros virava, Lex considerou o giro surpreendente dos fatos da tarde.<br />

Seu pai estava morto. Lex era livre de culpa e preparado para tomar o controle de tudo que tinha<br />

merecido durante tanto tempo. Logo estaria acompanhado pelo círculo de elite de poder de Edgar<br />

Fabien, e era repentinamente dois milhões de dólares mais rico.<br />

Não estava mal para uma noite de trabalho.<br />

* * * *<br />

Renata girou sua cabeça de lado no travesseiro e abriu um olho, uma pequena prova para<br />

ver se a repercussão tinha passado finalmente. Seu crânio se sentia como se tivesse sido esvaziado<br />

e recheado de algodão úmido, mas era uma melhora sobre a agonia martelante que tinha sido sua<br />

companheira durante as últimas horas.<br />

Uma pequena espetada de luz diurna brilhou através de um pequeno buraco na portinha de<br />

pinheiro. Era de manhã. Fora de seu quarto, a casa estava tranqüila. Tão tranqüila que durante um<br />

segundo se perguntou se acabava de despertar de um horrível sonho.<br />

Mas em seu coração, sabia que tudo era real. Sergei Yakut estava morto, assassinado em um<br />

assalto sangrento em sua própria cama. Todas as grotescas imagens empapadas de sangue


Tiamat World<br />

83<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

atuando através de sua mente tinham ocorrido. E o mais inquietante de tudo, era Nikolai quem<br />

permanecia acusado e detido pelo assassinato.<br />

O arrependimento corroia a consciência de Renata. Com o benefício de uma cabeça clara e<br />

estando algumas horas longe do sangue e do caos do momento, ela tinha que perguntar-se se<br />

poderia ter sido muito precipitada ao duvidar dele. Possivelmente todos tinham sido muito<br />

precipitados em condená-lo. Lex em particular. A suspeita que Lex poderia ter tido algo a ver na<br />

morte de seu pai— como Nikolai tinha insistido— pôs um nó de mal-estar em seu estômago.<br />

E então estava a pobre Mira, muito jovem para ser exposta a tanta violência e perigo. Uma<br />

parte mercenária dela se perguntava se ambas estariam melhores agora. A morte de Yakut tinha<br />

liberado Renata de seu controle sobre ela. Mira era livre também. Possivelmente esta era a<br />

oportunidade que ambas necessitavam— uma oportunidade de ir a algum lugar fora do recinto e<br />

seus muitos horrores. Oh, Deus. Atrevia-se a desejá-lo?<br />

Renata se sentou, pendurando suas pernas sobre o lado da cama. A esperança a mantinha<br />

flutuando, aumentando em seu peito.<br />

Elas podiam ir. Sem Yakut para que as seguisse, sem ele vivo e capaz de usar sua conexão de<br />

sangue, ela era finalmente livre. Ela podia pegar Mira e deixar este lugar de uma vez por todas.<br />

—Maria Mãe de Deus— suspirou ela, juntando suas mãos em uma oração desesperada. —<br />

Por favor, nos dê esta oportunidade. Me deixe ter esta oportunidade— pelo destino dessa menina<br />

inocente.<br />

Renata se inclinou perto da parede que dividia com o dormitório de Mira. Ela golpeou seus<br />

nódulos ligeiramente sobre os painéis de madeira, esperando ouvir o golpe de resposta da garota.<br />

Só silêncio.<br />

Ela golpeou de novo.<br />

—Mira, está acordada, menina?<br />

Não houve resposta. Só um longo silêncio como um repique mortal.<br />

Renata ainda usava as roupas da noite anterior, uma camiseta negra de manga larga<br />

amassada pelo sono e uns jeans escuros. Ela calçou um par de botas de cano longo e se lançou<br />

para o corredor. A porta de Mira estava só a alguns passos… e permanecia entreaberta.<br />

—Mira?— ela chamou, entrando e lançando um rápido olhar ao redor.<br />

A cama estava desfeita e enrugada onde a menina tinha estado em um ponto durante a<br />

noite, mas não havia sinal dela. Renata girou e correu ao banheiro que compartilhavam no outro<br />

lado do corredor.<br />

—Mira? Está aí dentro, ratinha?— Ela abriu a porta e encontrou o pequeno aposento vazio.<br />

Aonde poderia ter ido? Renata girou ao redor e se dirigiu de novo ao corredor de painéis para a<br />

zona vital do edifício, um terrível pânico começando a apoderar-se de sua garganta. —Mira!—<br />

Lex e um par de guardas estavam sentados ao redor da mesa na grande sala enquanto<br />

Renata corria pelo corredor. Lhe dirigiu o mais breve olhar então continuou falando com os outros<br />

homens.<br />

—Onde esta ela?— exigiu Renata. —O que fez com Mira? Juro Por Deus, Lex, que se a<br />

machucou…


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Ele lançou um olhar mordaz.<br />

—Onde esta seu respeito, fêmea? Acabo de voltar de liberar o corpo de meu pai ao sol. Este<br />

é um dia de luto. Não ouvirei suas palavras até que esteja malditamente bem e preparado.<br />

—Ao inferno com você e seu falso luto— explodiu Renata, se virando contra ele. Era quase<br />

impossível evitar que o golpeasse com uma rajada do poder de sua mente, mas os dois guardas<br />

que se levantaram de cada lado de Lex, dirigindo suas armas contra ela, ajudaram a controlar sua<br />

ira.<br />

—Me diga o que fez, Lex. Onde está ela?<br />

—Vendi-a. A resposta foi tão casual, que poderia ter estado falando de velhos sapatos.<br />

—Você… fez o que?— Os pulmões de Renata se retorceram, perdendo tanto ar que mal<br />

pôde tomar outra respiração. —Não pode estar falando sério! Vendeu-a a quem — a esses<br />

homens que vieram buscar Nikolai?<br />

Lex sorriu, deu-lhe um vago encolhimento de ombros de admissão.<br />

—Bastardo! Porco asqueroso!— A total e feia realidade de tudo que Lex fazia a golpeou. Não<br />

só o que havia feito a Mira, mas a seu próprio pai, e, enquanto ela via com atroz claridade agora, o<br />

que havia feito também a Nikolai.<br />

—Meu Deus. Tudo o que disse sobre você, era verdade, não? Foi o único responsável pela<br />

morte de Sergei, não Nikolai. Foi você quem trouxe o Renegado. Planejou tudo.<br />

—Tome cuidado com suas acusações, fêmea— a voz de Lex era um grunhido quebradiço. —<br />

Sou o único no comando agora. Não cometa enganos, sua vida me pertence. Foda-me e posso<br />

eliminar sua existência tão rápido como enviei esse guerreiro a sua morte.<br />

OH, Deus...não. O choque percorreu todo seu peito em uma dor aguda.<br />

—Está morto?<br />

—Estará logo,— disse Lex. —Ou desejando que estivesse, uma vez que os bons médicos no<br />

Terrabonne tenha sua diversão com ele.<br />

—De que está falando? Que doutores? Pensei que o tinha detido.<br />

Lex riu entre dentes.<br />

—O guerreiro está a caminho de um cárcere de contenção dirigido pela Agência de<br />

Imposição. Estou seguro ao dizer que ninguém ouvirá falar dele de novo.<br />

O desprezo fervia dentro de Renata por tudo que estava ouvindo, e por seu próprio papel ao<br />

ver Nikolai erroneamente acusado. Agora ambos ele e Mira se foram, e Lex permanecia ali<br />

sorrindo com petulante vaidade pelo engano que tinha orquestrado.<br />

—Dá-me asco. É um fodido monstro, Lex. É um asqueroso covarde.<br />

Ela deu um passo para ele e Lex indicou os guardas com um movimento de queixo.<br />

Bloquearam-na, dois enormes vampiros olhando-a. Obrigando-a a fazer um movimento de recuo.<br />

Renata os olhou, observando em seus duros olhares os anos de animosidade que este grupo<br />

de vampiros da raça sentiam por ela – animosidade que via mais intensamente no Lex. Odiavamna.<br />

Odiavam sua força, e estava claro que qualquer um deles daria boas vindas à oportunidade de<br />

pôr uma bala em sua cabeça.<br />

—Tirem-na fora de minha vista,— ordenou Lex. —Levem a puta a seu quarto e a tranquem


Tiamat World<br />

85<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

durante o resto do dia. Ela pode nos proporcionar entretenimento durante a noite.<br />

Renata não deixou que os guardas pusessem um dedo sobre ela. Enquanto se moviam para<br />

agarrá-la, ela os empurrou com um agudo golpe mental. Eles gritaram e saltaram longe,<br />

retrocedendo de dor.<br />

Mas antes que caíssem, Lex surgiu sobre ela, completamente transformado e cuspindo fúria.<br />

Duros dedos se curvaram sobre seus ombros. Seu pesado corpo a jogou para trás, caindo. Estava<br />

furioso, empurrando-a como se não fosse nada exceto plumas. Sua força e velocidade a<br />

propulsaram através do chão e para a janela na parede oposta.<br />

Madeira sólida e imóvel golpeou contra sua espinha dorsal e coxas. A cabeça de Renata se<br />

estrelou contra as grossas portinhas com o impacto. Sua respiração a deixou com um ofego<br />

quebrado. Quando abriu seus olhos, a cara de Lex surgiu justo contra a sua, suas magras pupilas<br />

girando atrocidades do centro de sua ferozes íris âmbar. Levantou uma mão e agarrou sua<br />

mandíbula em um ruidoso alcance. Forçou sua cabeça para um lado. Suas presas eram enormes,<br />

afiadas como adagas e nuas perigosamente perto de sua garganta.<br />

—Isso foi uma coisa muito estúpida para fazer— grunhiu, deixando esses dentes pontudos<br />

roçar sua pele enquanto falava. Deveria te sangrar por isso. De fato, penso que o farei…<br />

Renata reuniu cada pingo de poder que tinha e o converteu para soltá-lo sobre ele, voando à<br />

mente de Lex em uma longa e implacável onda de angústia.<br />

—Aaagh!— Seu uivo se escutou como o grito de um banshee 9 .<br />

E mesmo assim Renata seguiu atacando-no. Vertendo dor em sua cabeça até que a soltou e<br />

desmoronou no chão estendido por completo. —Agarrem-na!— disse aos guardas, que estavam<br />

se recuperando agora dos golpes menores que Renata havia descarregado.<br />

Um deles ergueu sua pistola contra ela. Ela o bombardeou, então deu ao segundo guarda<br />

outra dose também.<br />

Maldita seja, tinha que sair dali. Não podia arriscar-se a usar mais seu poder quando pagaria<br />

por cada golpe. E ela não teria tempo diante da atroz onda que rugia sobre ela.<br />

Renata girou ao redor, vidros quebrados estalando sob suas botas do caos da noite anterior.<br />

Ela sentiu uma pequena brisa através das portinhas fechadas. Deu-se conta que amanhecia: não<br />

havia janela atrás dela, só liberdade. Ela puxou o suporte dos painéis de madeira e deu um forte<br />

empurrão. As dobradiças gemeram mas não cederam o bastante.<br />

—Matem, fodidos imbecis!— ofegou Lex atrás dela. —Disparem na puta!<br />

Não, Renata pensou, desesperada enquanto puxava o reboco da madeira.<br />

Ela não podia deixar que a detivessem. Tinha que sair dali. Que encontrar Mira e levá-la a<br />

algum lugar seguro. Afinal tinha prometido. Ela havia feito uma promessa a essa menina e Deus a<br />

ajudasse, não falharia. Com um grito, Renata pôs todos seus músculos e peso para desmontar as<br />

portinhas.<br />

Finalmente cederam. A adrenalina acelerava através dela, arrancou completamente as<br />

9 As Banshee provêm da família das fadas, e é a forma mais obscura delas. Quando alguém avistava uma Banshee<br />

sabia logo que seu fim estava próximo: os dias restantes de sua vida podiam ser contados pelos gritos da Banshee:<br />

cada grito era um dia de vida e, se apenas um grito fosse ouvido, naquela mesma noite estaria morto.


Tiamat World<br />

86<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

portinhas e as colocou de lado.<br />

A luz do sol vertia sobre ela. Cegadora, brilhante, enchendo a grande sala do edifício. Lex e<br />

os outros vampiros chiaram, vaiando enquanto tentavam ocultar seus sensíveis olhos e movendose<br />

fora do caminho da luz.<br />

Renata pulou para fora e golpeou o chão correndo. O carro de Lex estava no caminho de<br />

cascalho, estacionado com as chaves no contato. Ela saltou dentro, ligou o motor e conduziu até a<br />

clara— mas temporária— segurança da luz diurna.<br />

Capítulo 15<br />

A ronda mais recente de tortura tinha terminado há algumas horas, mas o corpo de Nikolai<br />

enrijeceu em reflexo quando escutou o suave estalo da fechadura eletrônica na porta de sua cela.<br />

Não tinha que adivinhar onde estava— as paredes brancas clínicas e o conjunto de aparelhos<br />

médicos ao lado de sua cama com rodas era pista suficiente para dizer que o tinham levado a uma<br />

das instalações de contenção da Agência de Controle.<br />

As algemas de aço de grau industrial fechadas firmemente em seus pulsos, peito e<br />

tornozelos lhe disseram que suas atuais comodidades pessoais eram cortesia de ser tratado como<br />

renegado e instalado na casa de reabilitação.<br />

Que, caso houvesse qualquer pergunta antes, significava que era como se estivesse morto.<br />

Que era igual ao equivalente da Raça de um Roach Motel 10 , uma vez que atravessa estas portas<br />

nunca retorna.<br />

Não é que seus captores tivessem a intenção de deixá-lo desfrutar de sua estadia por<br />

qualquer período de tempo. Nikolai tinha a clara impressão que sua paciência com ele estava<br />

perto do fim. Tinham-no golpeado quase até a inconsciência depois que passou o efeito dos<br />

tranqüilizantes, trabalhando sobre ele para obter sua confissão de ter matado Sergei Yakut.<br />

Quando com isso não o levaram onde queriam, começaram com as Taser 11 e outros eletrônicos<br />

criativos, o tempo todo mantendo-o suficientemente drogado, para que ele pudesse sentir as<br />

sacudidas e golpes mas estivesse muito sedado para lutar.<br />

O pior de seus torturadores era o macho da Raça que agora entrava na cela. Niko tinha<br />

escutado um dos Agentes de Execução chamá-lo de Fabien, falando com bastante respeito<br />

indicando que o vampiro estava classificado bastante alto na cadeia de comando. Alto e magro,<br />

com pequenas e estreitas características, seus olhos agudos sob seu cabelo penteado para trás,<br />

Fabien tinha uma veia sádica desagradável mal escondida sob a aparência de seu elegante traje e<br />

o comportamento de civil agradável. O fato que tinha chegado sozinho desta vez não podia ser um<br />

10 *Roach Motel.- Um motel de sub custo ou estabelecimento de alojamento comparável, em geral é uma propriedade<br />

muito antiga em mal estado, não afiliado a uma grande cadeia, e situado em uma zona em decadência da cidade.<br />

11 Taser.- marca de pistolas elétricas, Taser é um acrônimo de "Thomas A. Swift—s Electric Rifle.


Tiamat World<br />

87<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

bom sinal.<br />

—Como foi seu descanso?— perguntou a Niko com um sorriso amável. —Talvez esteja<br />

preparado para conversar comigo agora. Só nós dois, o que diz?<br />

—Que se foda— Nikolai grunhiu através de suas presas estendidas. —Eu não matei Yakut.<br />

Disse o que aconteceu. Você prendeu o homem errado, descarado.<br />

Fabien sorriu enquanto caminhava para o lado da cama e olhava para baixo.<br />

—Não houve nenhum engano, guerreiro. E pessoalmente não me importa se foi ou não<br />

você o que fez voar os miolos desse Gen Um por toda a parede. Tenho outras coisas mais<br />

importantes para te perguntar. Perguntas que responderá, se sua vida significa algo para você.<br />

Este varão evidentemente sabia que era um membro da Ordem, dando uma nova<br />

perspectiva perigosa ao encarceramento de Nikolai. Igual ao brilho do mal nesses olhos ardilosos<br />

como de ave de rapina.<br />

—O que sabe exatamente a Ordem sobre os assassinatos dos Gen Um?<br />

Nikolai lhe dirigiu um olhar, em silêncio apertando sua mandíbula.<br />

—De verdade acredita que podem fazer algo para detê-los? Acredita que a Ordem é tão<br />

poderosa que pode impedir que a roda gire quando já está em marcha em segredo durante<br />

anos?— Os lábios do macho da Raça se abriram na caricatura de um sorriso. —Vamos exterminar<br />

um por um, como estamos fazendo com os últimos membros da primeira geração. Tudo está em<br />

seu lugar, e esteve durante muito tempo. A revolução, como vê, já começou.<br />

A raiva se enrolou no estômago de Nikolai quando se deu conta do que tinha ouvido.<br />

—Filho da puta. Está com Dragos.<br />

—Ah... agora começa a entender— disse Fabien agradavelmente.<br />

—É um puto traidor da sua própria raça, isso é o que entendo.<br />

A fachada da conduta civil caiu como uma máscara.<br />

—Quero que me fale das missões atuais da Ordem. Quem são seus aliados? O que sabe<br />

sobre os assassinatos? Quais são os planos da Ordem no que se refere a Dragos?<br />

Nikolai zombou.<br />

—Me chupe e diga a seu chefe que pode me chupar também.<br />

Os olhos cruéis de Fabien se reduziram.<br />

—Você pôs minha paciência a prova tempo suficiente.<br />

Levantou-se e caminhou para a porta. Uma onda cortante de sua mão trouxe o oficial de<br />

guarda ao interior.<br />

—Sim, senhor?<br />

—Está na hora.<br />

—Sim, senhor.<br />

O guarda assentiu e desapareceu, para voltar um momento depois. Ele e um assistente da<br />

instalação trouxeram sobre rodas uma mulher atada a uma cama estreita. Ela tinha sido sedada<br />

também, e só levava uma fina bata de hospital sem mangas. Deitado junto a ela estava um<br />

torniquete, um pacote de agulhas grossas, e um tubo IV em espiral.<br />

Que demônios era isso?


Tiamat World<br />

88<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Mas ele sabia. Sabia que logo que o assistente levantasse o braço brando do ser humano e<br />

fixasse o torniquete ao redor da zona da artéria braquial. A agulha e o tubo do sifão seriam os<br />

seguintes.<br />

Nikolai tratou de ignorar o processo clínico que tinha lugar junto a ele, mas inclusive o mais<br />

sutil aroma de sangue acendia seus sentidos como luzes em dias festivos. A saliva aumentou em<br />

sua boca. Suas presas se estenderam mais em antecipação da alimentação. Não queria ter fome,<br />

não como esta, não quando estava seguro que a intenção de Fabien era utilizá-la contra ele.<br />

Tratou de ignorar sua sede, mas já aumentava, respondendo à necessidade visceral de alimento.<br />

Fabien e os outros dois vampiros na cela não eram imunes tampouco. O empregado<br />

trabalhou oportunamente, o guarda manteve distância perto da porta, enquanto Fabien via a<br />

anfitriã de sangue que era aprontada para a alimentação. Uma vez que tudo estava em seu lugar,<br />

Fabien despediu o assistente e enviou de volta o guarda ao seu posto fora.<br />

—Tem fome, verdade? — Perguntou a Niko quando os outros se foram. Sustentou o tubo de<br />

alimentação em uma mão, os dedos de sua outra mão pousados sobre a válvula que começaria o<br />

fluxo de sangue do braço da mulher. —Você sabe, esta é a única maneira de alimentar um<br />

vampiro renegado em contenção. A ingestão de sangue deve ser estreitamente monitorada,<br />

controlada por pessoal capacitado. Muito pouco e morre de fome; muito e seu vício se faz mais<br />

forte. A Sede de Sangue é uma coisa terrível, não parece?<br />

Niko grunhiu, querendo saltar da cama e estrangular Fabien. Lutou para fazer exatamente<br />

isso, mas foi um esforço inútil. A combinação de sedativos e as algemas de aço o seguravam.<br />

—Vou te matar— murmurou, sem fôlego pelo esforço. —Prometo, que vou te foder.<br />

—Não— disse Fabien. —É você quem vai morrer. A menos que comece a falar agora, vou<br />

pôr este tubo em sua garganta e abrir a válvula. Não vou fechar até que me indique que está<br />

preparado para cooperar.<br />

Jesus Cristo. Ele o estava ameaçando com uma overdose. Os vampiros da Raça não podem<br />

dirigir muito sangue de uma vez. Isto significaria Sede de Sangue quase certo. O que o voltaria um<br />

Renegado, um bilhete de ida à miséria, a loucura e a morte.<br />

—Você gostaria de falar agora, ou começamos?<br />

Ele não era idiota para pensar que Fabien ou seus cupinchas o liberariam, inclusive se cuspia<br />

detalhes a respeito das táticas da Ordem e as missões em curso. Inferno, poderia ter uma garantia<br />

sólida de ficar livre, mas que o condenassem se traía seus irmãos só para salvar seu próprio<br />

pescoço. Assim era então. Freqüentemente tinha se perguntado como seria.<br />

Tinha imaginado que se iria em um resplendor de glória, uma chuva de balas e<br />

metralhadoras, tinha esperado ter uma dúzia de mamadas. Ele nunca imaginou que seria algo tão<br />

lamentável como isto. A única honra era o fato que morreria mantendo os segredos da Ordem.<br />

—Está preparado para me dizer o que quero saber?— Fabien perguntou.<br />

—Vá a merda— Niko soltou, mais zangado que nunca. —Tanto você como Dragos podem ir<br />

diretamente ao inferno.<br />

O olhar de Fabien faiscou de raiva. Obrigou Nikolai a abrir a boca e colocou o tubo de<br />

alimentação na profundidade de sua garganta. Seu esôfago se contraiu, mas inclusive seu reflexo


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

nauseabundo era fraco devido aos sedativos que corriam através de seu corpo.<br />

Houve um suave clique quando a válvula no braço da humana se abriu. O sangue se<br />

derramou na parte posterior da boca de Nikolai. Engasgou-se com ele, tentou fechar a garganta e<br />

rejeitá-lo, mas havia muito — um fluxo interminável que bombeava rapidamente da artéria da<br />

anfitriã de sangue.<br />

Niko não tinha mais remédio que engolir.<br />

Engoliu o primeiro. Logo outro.<br />

E ainda mais.<br />

* * *<br />

Andreas Reichen estava em seu escritório do Darkhaven examinando as contas e os e-mails<br />

recebidos na manhã quando notou a mensagem que esperava de Helene em sua caixa de entrada.<br />

O tema era um simples punhado de palavras que fizeram seu pulso tamborilar com interesse:<br />

encontrei um nome para você.<br />

Fez clique ao abrir o correio eletrônico e leu a breve nota.<br />

Depois de determinados trabalhos de investigação, Helene tinha conseguido o nome do<br />

vampiro que sua desaparecida garota do clube tinha estado vendo recentemente.<br />

Wilhelm Roth.<br />

Reichen o leu duas vezes, cada molécula em sua corrente sangüínea cada vez mais fria<br />

enquanto o nome afundava em seu cérebro. O e-mail de Helene indicava que ainda estava<br />

cavando em busca de mais informação e que o informaria logo que tivesse mais.<br />

Jesus.<br />

Ela não podia saber a verdadeira natureza da víbora que tinha descoberto, mas Reichen<br />

sabia muito.<br />

Wilhelm Roth, o líder do Darkhaven do Hamburgo e um dos indivíduos de maior poder na<br />

sociedade da Raça. Wilhelm Roth, um gângster de primeiro grau, e alguém a quem Reichen<br />

conhecia muito bem, ou o havia feito em um tempo.<br />

Wilhelm Roth, que estava emparelhado com uma ex-amante de Reichen — a mulher que<br />

tinha levado um pedaço do coração de Reichen quando o deixou para ficar com o rico macho de<br />

segunda geração da Raça que podia lhe dar todas as coisas que Reichen não podia.<br />

Se a empregada desaparecida de Helene tinha estado associada com Roth, era certo que a<br />

moça estava morta. E Helene… bom Cristo. Estava já muito perto do canalha só por ter aprendido<br />

seu nome. Se continuava a busca de mais informação sobre ele...?<br />

Reichen pegou o telefone e marcou seu celular. Não houve resposta. Ele tentou seu<br />

apartamento na cidade, amaldiçoando quando a chamada foi para a caixa postal. Era muito cedo<br />

para que ela estivesse no clube, mas chamou de todos os modos, amaldiçoando a luz do dia que o<br />

mantinha preso em seu Darkhaven e incapaz de dirigir para falar com ela em pessoa. Quando<br />

todas as opções fracassaram, Reichen devolveu uma resposta por correio eletrônico.<br />

Não faça nada mais referente a Roth. Ele é muito perigoso. Me contate logo que receba esta


Tiamat World<br />

mensagem. Helene, por favor... tome cuidado.<br />

* * *<br />

90<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Um caminhão de equipamento médico parou na porta de entrada de um modesto edifício<br />

de dois andares de tijolo a uns quarenta e cinco minutos do centro de Montreal. O condutor<br />

apareceu na janela e digitou uma breve seqüencia em um teclado eletrônico situado no quiosque<br />

de segurança exterior. Depois de um momento ou dois, a porta se abriu e o caminhão entrou.<br />

Devia ser dia de entrega, já que era o segundo veículo de provisão que Renata tinha<br />

observado entrando ou saindo da posição especial que tinha desde que chegou recentemente. Ela<br />

havia passado a maior parte do dia na cidade, escondida no carro de Lex enquanto se recuperava<br />

da sua pior reverberação da manhã. Agora era final da tarde. Ela não tinha muito tempo —<br />

somente algumas horas antes que caísse a tarde e crescesse a espessura da noite com seus<br />

predadores. Não muito antes de transformar-se na presa.<br />

Ela tinha que fazer a maior parte desta vez, por isso se encontrava vigiando o caminho<br />

isolado, a porta com câmara monitorada de um edifício peculiar na cidade de Terrabonne. Não<br />

tinha janelas, nem sinalização na frente. Embora não estivesse certa, seu instinto dizia que a laje<br />

quadrada de concreto e tijolo no final do caminho de acesso privado era o lugar que Lex tinha<br />

mencionado como as instalações de contenção, onde Nikolai estava detido.<br />

Ela rogou que fosse, porque neste momento, o guerreiro era o único próximo a um aliado<br />

que tinha, e se queria encontrar Mira, se tinha alguma possibilidade de recuperar a menina do<br />

vampiro que a tinha neste momento, ela sabia que não podia fazê-lo sozinha. Mas isso significava<br />

encontrar Nikolai em primeiro lugar, e rezar por encontrá-lo vivo.<br />

E se estava morto? Ou se estava vivo, mas se negava a ajudá-la? Ou se decidia matá-la por<br />

seu papel em sua detenção ilícita?<br />

Bom, Renata não queria considerar onde a deixaria qualquer dessas probabilidades. Pior<br />

ainda, onde deixaria uma menina inocente que dependia de Renata para mantê-la a salvo.<br />

Assim, ela esperou e viu, imaginando uma maneira de atravessar a porta de segurança.<br />

Outro caminhão de abastecimento entrou na entrada. Chegou a uma parada e Renata aproveitou<br />

a oportunidade.<br />

Saltou do carro de Lex e caiu no chão, correndo ao longo da parte traseira do veículo.<br />

Enquanto o condutor teclava seu código de acesso, saltou no pára-choque traseiro. As portas do<br />

reboque estavam fechadas, mas ela passou seus dedos ao redor das asas e se manteve enquanto a<br />

porta se abria e ruidosamente o caminhão cambaleava através dela. O condutor deu a volta na<br />

parte traseira do edifício, depois de um lance de asfalto que levava a um par de embarques e<br />

compartimento de recepção. Renata subiu no teto da caravana e segurou-se com força enquanto<br />

o caminhão tornava a dar a volta e começava a retroceder. Ao aproximar-se ao edifício, um sensor<br />

de movimento fez clique e a porta de recepção levantou. Não havia ninguém esperando na luz do<br />

dia que enchia a abertura do hangar, mas se o lugar estava em poder da Raça, qualquer pessoa<br />

nesta área estaria assando depois de alguns minutos no trabalho.


Tiamat World<br />

91<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Uma vez que o caminhão esteve no interior por completo, a grande porta começou a descer.<br />

Houve um segundo de escuridão entre o fechamento do compartimento e a revoada eletrônica<br />

das luzes fluorescentes vindas de cima.<br />

Renata baixou e saltou do pára-choque traseiro enquanto o condutor descia do caminhão. E<br />

agora, saindo de uma porta de aço no outro lado do espaço, estava um homem musculoso em um<br />

uniforme escuro de uso militar. O mesmo tipo de uniforme como os usados pelos Agentes de<br />

Execução que Lex tinha chamado para deter Nikolai ontem à noite. Completado com uma pistola<br />

semi-automática embainhada em seu quadril.<br />

—Ei, como vai?— O condutor disse em voz alta ao guarda.<br />

Renata deslizou pelo lado do caminhão antes que o vampiro ou o humano pudessem<br />

detectá-la. Esperou, escutando o tinido da fechadura que era liberada. Quando o guarda se<br />

aproximou, enviou um pouco de seu olá próprio, uma sacudida mental que o fez balançar-se sobre<br />

seus calcanhares. Outra pequena explosão o tinha afligido. Apertou as têmporas com suas mãos e<br />

ofegou uma maldição viva.<br />

O condutor humano voltou a ocupar-se dele.<br />

—Ei. Está bem aí, amigo?<br />

A breve falta de atenção era a oportunidade que Renata necessitava. Ela se precipitou em<br />

silêncio através do amplo compartimento e deslizou dentro da porta de acesso que o guarda tinha<br />

deixado sem garantia. Agachou-se diante de uma mesa vazia com uma estação de trabalho com<br />

monitores que podiam visualizar a porta de entrada. Além disso, um estreito corredor oferecia<br />

duas possibilidades: uma curva que parecia conduzir para a frente da construção ou, mais abaixo<br />

no corredor, uma escada ao segundo andar.<br />

Renata optou pela escada. Ela correu para ela, além da ramificação de um lado. Outro<br />

guarda estava nesse lance do corredor.<br />

Maldita seja.<br />

Ele a viu correr. Suas botas retumbaram perto.<br />

—Alto!— Gritou, vindo do canto do corredor. —Esta é uma zona restrita.<br />

Renata se voltou e empurrou uma dura explosão mental. Enquanto ele se retorcia no chão,<br />

ela se lançou à escada e correu a trajetória com destino ao andar superior.<br />

Por que não era a primeira vez, ela se repreendeu por ter deixado a casa de campo sem<br />

armas. Ela não podia deixar consumir sua energia antes que sequer soubesse se Nikolai estava<br />

aqui. Tinha que operar só com menos da metade de sua resistência para recuperar-se plenamente<br />

da descarga em Lex desta manhã, provavelmente seria necessário descansar o resto do dia.<br />

Infelizmente, não era uma opção.<br />

Ela olhou através do vidro reforçado da porta da escada, através da concepção clínica do<br />

local. Um punhado de machos da Raça em batas brancas passeavam em seu caminho a uma das<br />

muitas salas que se ramificavam do corredor principal. Muitos para que ela os detivesse, inclusive<br />

se estivesse em plenas condições.<br />

E também tinha o pequeno assunto do Agente de Execução armado no outro extremo do<br />

corredor. Renata se apoiou contra a parede interior da escada, encostou sua cabeça e em silêncio


Tiamat World<br />

92<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

e exalou uma maldição. Ela tinha chegado longe, mas que demônios a fazia pensar que podia<br />

penetrar em uma instalação segura como esta e sobreviver?<br />

O desespero era a resposta a essa pergunta. A determinação que se negava a aceitar que<br />

isto poderia ser até onde poderia chegar. Ela não tinha mais opção que seguir. No fogo, se fosse<br />

necessário.<br />

Fogo, pensou, seu olhar se voltou para o corredor fora da escada. Montado na parede em<br />

frente a ela havia um alarme de emergência vermelha.<br />

Talvez houvesse uma oportunidade, afinal...<br />

Renata deslizou da escada e puxou a alavanca para baixo. Uma campainha pulsante dividiu o<br />

ar, enviou o lugar a um caos instantâneo. Deslizou no quarto do paciente mais próximo e viu como<br />

os assistentes e os médicos navegavam ao redor da confusão. Quando parecia que todos estavam<br />

ocupados com a situação de emergência falsa, Renata saiu ao corredor vazio para começar a busca<br />

do quarto de Nikolai. Não era difícil decidir onde poderia estar. Só havia um quarto com um<br />

Agente de Execução armado atribuído a ela. Esse guardião estava ainda ali, ocupando seu posto<br />

apesar do alarme que tinha enviado o resto dos assistentes a dispersar-se pelo andar.<br />

Renata olhou a arma montada no quadril do guarda e esperou que não estivesse cometendo<br />

um enorme engano.<br />

—Ouça— disse, aproximando-se dele em um passo fácil. Ela sorriu brilhantemente apesar<br />

que nesse mesmo instante ele estava com o cenho franzido e alcançando sua arma. —Não ouviu o<br />

alarme? Tempo para que descanse.<br />

O golpeou com uma explosão súbita, de tamanho considerável. Quando o grande macho<br />

desmoronou no chão, ela correu o olhar dentro do quarto atrás dele.<br />

Um vampiro loiro estava preso numa cama, nu, convulsionando e lutando contra as algemas<br />

de metal que o seguravam. As marcas de pele da Raça formavam redemoinhos — formando arcos<br />

sobre seu peito e em seus avultados bíceps e nas coxas lívidas com cor vibrante, parecia quase<br />

viva a maneira que as saturações se transformavam de tons carmesim e púrpura escuro a negro<br />

mais escuro. Seu rosto era apenas humano, completamente transformado pela presença de suas<br />

presas e das brasas de seus olhos.<br />

Poderia ser Nikolai? A princípio, Renata não estava certa. Mas logo levantou sua cabeça e<br />

seus olhos ambarinos selvagens se fixaram nela. Ela viu um brilho de reconhecimento neles, e uma<br />

miséria que era evidente, inclusive a distância. Seu coração retorceu, e ardeu com pesar.<br />

Bom Senhor, o que tinham feito?<br />

Renata carregou a maior parte do guarda inconsciente e o arrastou com ela no quarto.<br />

Nikolai se sacudia sobre a cama, grunhindo incompreensivelmente, palavras que soavam perto da<br />

loucura.<br />

—Nikolai— disse, indo a seu lado. —Pode me ouvir? Sou eu, Renata. Vou te tirar daqui.<br />

Se a entendeu, não podia estar certa. Ele grunhiu e lutou com suas algemas, flexionando os<br />

dedos e empunhando-os, cada músculo tenso.<br />

Renata se inclinou para baixo para tirar um jogo de chaves do cinturão do guarda. Ela tomou<br />

sua pistola também, e xingou quando se deu conta que era simplesmente uma pistola de


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

tranqüilizante carregada com menos da metade de uma dúzia de rondas.<br />

—Acredito que os mendigos não podem ser seletivos— murmurou, pondo a arma na cintura<br />

de seu jeans.<br />

Voltou para Nikolai e começou a tirar suas algemas. Quando liberou sua mão, surpreendeuse<br />

ao senti-la apertando ao redor da sua.<br />

—Vá— rugiu ferozmente.<br />

—Sim, isso é no que estamos trabalhando aqui— Renata replicou. —Me solte para que<br />

possa abrir o resto destas malditas coisas.<br />

Ele tomou fôlego, um assobio baixo que fez os cabelos em sua nuca ferroar em atenção.<br />

—Você... vá... não eu.<br />

—O que?— Franzindo o cenho, tirou sua mão livre e se inclinou sobre ele para afrouxar a<br />

outra algema. —Não tente falar. Não temos muito tempo.<br />

Ele agarrou tão forte seu pulso que pensou que o romperia.<br />

—Deixa. A mim. Aqui.<br />

—Não posso fazer isso. Necessito sua ajuda.<br />

Esses olhos ambarinos selvagens pareciam olhar através dela, quentes e mortais. Mas seu<br />

aperto que castigava diminuiu. Deixou-se cair sobre a cama quando outra convulsão o afligiu.<br />

—Quase feito— Renata assegurou, trabalhando rapidamente para abrir a última de suas<br />

ataduras. —Vamos. Vou te ajudar.<br />

Ela teve que colocá-lo de pé, e ainda assim não parecia o suficiente estável para permanecer<br />

assim, e muito menos para a difícil corrida que sua fuga requeria. Renata lhe deu seu ombro.<br />

—Se apóie, Nikolai— ordenou. —Vou fazer a maior parte do trabalho. Agora vamos a merda<br />

daqui.<br />

Ele grunhiu algo indecifrável quando ela mesma se colocou sob sua corpulência e começou a<br />

caminhar. Renata se precipitou à escada. Os degraus eram difíceis para Nikolai, mas se arrumaram<br />

para descer por todos eles com apenas uns poucos tropeções.<br />

—Fique aqui— disse ao chegar à parte inferior. Sentou-o no último degrau e saiu correndo<br />

para limpar seu caminho para o embarque e compartimento de recepção. A mesa no extremo da<br />

sala estava vazia. Além da porta de acesso, entretanto, o condutor seguia falando com o guarda<br />

em turno, ambos ansiosos devido ao barulho do alarme de incêndio soando ao seu redor.<br />

Renata saiu com a pistola tranqüilizante na mão. O vampiro a viu vir. Antes que ela pudesse<br />

reagir, ele tinha tirado sua pistola e disparou um tiro. Renata o golpeou com uma explosão mental,<br />

mas não antes que ela sentisse um golpe de calor que rasgou em seu ombro esquerdo. Ela olhou o<br />

sangue, sentiu o jorro quente que escapava por seu braço.<br />

Maldita seja! Tinham lhe disparado.<br />

Bem, agora estava realmente de saco cheio. Renata bombardeou o vampiro de novo e ele<br />

cambaleou em um joelho, deixando cair sua arma. O condutor humano gritou e se lançou atrás do<br />

caminhão para cobrir-se enquanto Renata se adiantava e disparava ao vampiro duas rondas de<br />

tranquilizantes. Ele caiu com apenas um gemido. Renata caminhou ao redor para encontrar o<br />

condutor encolhido na roda.


Tiamat World<br />

94<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—OH, Jesus!— Ele gritou quando ela parou diante dele. Pôs suas mãos no alto, sua cara<br />

rodeada de medo. —OH, Jesus! Por favor não me mate!<br />

—Não o farei— respondeu Renata, e logo disparou na coxa com o tranquilizante.<br />

Com ambos os homens em terra, voltou correndo para chegar a Nikolai. Ignorando a dor<br />

estridente em seu ombro, ela se apressou no compartimento de recepção e o empurrou para a<br />

parte traseira do caminhão de abastecimento, onde estaria a salvo da luz do dia.<br />

—Encontre algo para se proteger— disse. —As coisas vão ficar agitadas agora.<br />

Não deu a oportunidade para dizer nada. Trabalhando rapidamente, fechou a porta e puxou<br />

o ferrolho, selando-o dentro. Logo, saltou à cabine desocupada e pôs o veículo em movimento.<br />

Enquanto ela levava o caminhão através da porta do compartimento de recepção e<br />

acelerava para a fuga, teve que perguntar-se se só tinha salvado a vida de Nikolai ou condenado a<br />

de ambos.<br />

Capítulo 16<br />

Sua cabeça estava pulsando como um tambor. O constante ritmo palpitando enchia seus<br />

ouvidos, tão ensurdecedor que o arrastava do que parecia um sonho sem fim, incerto. Seu corpo<br />

doía. Estava deitado no chão em algum lugar? Sentia o metal frio debaixo de seu corpo nu, as<br />

pesadas caixas cravadas em sua coluna e nos ombros. Uma fina capa de plástico o cobria como um<br />

manto provisório.<br />

Tentou erguer sua cabeça, mas mal tinha forças. Sua pele estava dolorida, pulsando da<br />

cabeça aos pés. Cada centímetro dele se sentia desvanecendo, estendido firmemente, quente de<br />

febre. Sua boca estava seca, sua garganta ressecada e crua.<br />

Tinha sede.<br />

Aquela necessidade era tudo em que poderia enfocar-se, o único pensamento coerente<br />

nadando através de seu golpeado crânio.<br />

Sangue.<br />

Cristo, morria de fome por isso.<br />

Ele podia saborear a fome – sombria, consumindo sua loucura – em cada fôlego sob seus<br />

dentes. Suas presas encheram sua boca. As gengivas pulsavam onde os enormes caninos<br />

descendiam, como se suas presas tivessem estado ali durante horas. Em algum lugar distante, a<br />

parte sóbria de sua lógica notou o engano nesse cálculo, as presas de um vampiro de Raça<br />

normalmente saíam só em momentos de maior resposta física, seja reagindo pela presa, ou a<br />

paixão ou a pura raiva animal.<br />

O tambor que seguia golpeando distante em sua cabeça só fazia que o batimento de suas<br />

presas se fizesse mais profundo. Foi a palpitação que o despertou. A palpitação que não o deixava<br />

dormir agora. Algo estava errado com ele, pensou, inclusive enquanto abria seus ardentes olhos e<br />

capturava detalhes muito vivos, um âmbar banhava suas bordas.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Um pequeno e limitado espaço. Escuro. Uma caixa cheia de mais caixas.<br />

E uma mulher.<br />

Todo o resto desvaneceu uma vez que seu olhar encontrou o dela. Vestida numa camisa<br />

negra de manga comprida e jeans escuros, ela estava em posição fetal (as pernas encolhidas sobre<br />

o peito e a cabeça entre as mãos) na frente dele, os braços e pernas dobradas na curva de seu<br />

torso. A maior parte de seu queixo estava coberto pelo longo cabelo escuro.<br />

A conhecia… ou sentia que deveria.<br />

Uma parte menos consciente dele sabia que ela era cálida, saudável e indefesa. O ar estava<br />

tingido com o rastro de sândalo e chuva. O aroma de seu sangue, algum instinto débil despertou<br />

para lhe dizer. Sabia instantaneamente quem era ela – com uma certeza que parecia gravada em<br />

sua própria medula. Sua boca seca estava repentinamente úmida pela antecipação de alimentarse.<br />

A necessidade junto com a oportunidade lhe deu a força que não tinha há um momento.<br />

Silenciosamente levantou do chão e agachado moveu-se até ela.<br />

Sentado sobre seus calcanhares, inclinou sua cabeça, olhando dormir à fêmea. Arrastou-se<br />

mais perto, um lento avançar predador que o levou em cima dela. O brilho âmbar de sua íris a<br />

banhava em uma luz dourada enquanto deixava vagar seu olhar faminto sobre seu corpo.<br />

E esse tamborilar incessante era mais forte aqui, uma vibração tão clara que podia senti-la<br />

na planta de seus pés descalços. Golpeando em sua cabeça, comandando toda sua atenção.<br />

Levando-o mais perto, e logo mais perto ainda.<br />

Era seu pulso, olhando-a aí embaixo, podia ver o suave tic-tac de seu palpitar tremendo ao<br />

lado de seu pescoço. Estável, forte.<br />

O mesmo ponto que ele queria prender entre suas presas.<br />

Um estrondo – de um grunhido emanando de sua própria garganta – se expandiu através da<br />

quietude do lugar.<br />

A mulher se moveu debaixo dele.<br />

Suas pálpebras se abriram de repente, sobressaltada, logo mais amplas.<br />

—Nikolai.<br />

A princípio mal registrou o nome. A névoa em sua mente era tão espessa, sua sede tão<br />

completa, ele não sentia mais nada, exceto o desejo de alimentar-se. Era mais que um impulso –<br />

era uma obrigação insaciável. Certamente uma condenação.<br />

Sede de sangue.<br />

A palavra viajou por sua mente inundada em fome como um fantasma. Ele ouviu, soube<br />

instintivamente que devia temê-lo. Mas antes que pudesse compreender completamente o que a<br />

palavra significava, estava vendo dobrado, e retornando às sombras.<br />

—Nikolai,— disse a mulher de novo. —Quanto tempo faz que está acordado?<br />

Sua voz era familiar de algum modo, um peculiar alívio para ele, mas não podia enfocá-la<br />

realmente. Nada parecia ter sentido para ele. Tudo que tinha sentido era aquela tentativa batida<br />

de sua artéria e a completa fome que o obrigou a estender o braço e tomar o que necessitava.<br />

—Está a salvo aqui,— disse ela. —Estamos na parte detrás do caminhão de fornecimento<br />

que tirei da instalação de contenção. Tive que parar e descansar por um tempo, mas estou bem


Tiamat World<br />

96<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

para continuar agora. Vai escurecer logo. Devemos seguir avançando antes que sejamos<br />

descobertos.<br />

Enquanto falava, imagens passaram por sua memória. A instalação de contenção. A dor. A<br />

tortura. As perguntas. Um macho de Raça chamado Fabien. Um macho que ele queria matar. E<br />

esta valente mulher… estava ali também. Incrivelmente, ela o havia ajudado a escapar.<br />

Renata.<br />

Sim. Sabia seu nome afinal. Mas não sabia por que havia vindo por ele, ou porque ela<br />

tentaria salvá-lo. Tampouco importava.<br />

Ela havia chegado muito tarde.<br />

—Eles me forçaram,— rugiu, sua voz soava distante de seu corpo. Áspera como o cascalho.<br />

—Muito sangue. Me forçaram a beber…<br />

Ela o olhou fixamente.<br />

—O que você quer dizer com lhe obrigaram?<br />

—Tentaram…me empurrar a uma overdose. Ao vício.<br />

—Vício de sangue?<br />

Fez um vago assentimento e tossiu, a dor atormentando seu peito.<br />

—Muito sangue…. me levando a uma sede de sangue. Fizeram-me perguntas… queriam que<br />

traísse a Ordem. Neguei-me, assim… eles me castigaram.<br />

—Lex disse que eles matariam você,— murmurou ela. —Nikolai, sinto muito.<br />

Ela levantou sua mão como se fosse tocá-lo.<br />

—Não,— grunhiu, agarrando-a pelo pulso. Ela ofegou, tentando soltar-se. Ele não a deixou<br />

ir. Sua cálida pele queimava a ponta de seus dedos e as palmas de suas mãos, onde fosse que ele a<br />

tocava. Podia sentir o movimento de seus ossos e músculos, o passar de seu sangue enquanto<br />

corria pelas veias de seus braços.<br />

Seria tão fácil levar esse pulso sensível até sua boca.<br />

Muito tentado a prendê-la debaixo dele e beber diretamente da sua veia.<br />

Soube o momento preciso em que ela foi da surpresa à apreensão. Seu pulso se acelerou.<br />

Sua pele esticou em seu aperto.<br />

—Me solte, Nikolai.<br />

Ele esperou, a besta se perguntando se começava em seu pulso ou em seu pescoço. Sua<br />

boca salivando, suas presas ansiando perfurar sua delicada carne. E teve fome dela de outra forma<br />

também. Não havia oculto sua forte necessidade. Sabia que era a sede de sangue o que o dirigia,<br />

mas isso não o fazia menos perigoso.<br />

—Me solte,— disse ela de novo, e quando finalmente a soltou, ela recuou, pondo distância<br />

entre eles. Não havia muita distância onde ela pudesse ir. As caixas empilhadas a limitavam por<br />

trás, além da parede do interior do caminhão. A maneira que ela se moveu, detendo-se e sendo<br />

cuidadosa, fez que o predador notasse que estava débil.<br />

Estava ela com algum tipo de dor? Se era assim, seus olhos não o refletiram. Sua cor pálida<br />

parecia profunda enquanto ela o olhava fixamente. Desafiante.<br />

Olhou para baixo e seus selvagens olhos pousaram no brilhante canhão da pistola.


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Faça. Murmurou ele.<br />

Ela sacudiu sua cabeça.<br />

—Não quero te machucar. Preciso de sua ajuda, Nikolai.<br />

Muito tarde para isso, pensou ele. Ela o havia tirado do purgatório e das mãos de seu captor,<br />

mas já havia provado o sabor do inferno. A única saída do vício era passar fome, negar-se a tomar<br />

um sustento completo. Não sabia se era suficientemente forte para lutar contra sua sede.<br />

Ele não queria que Renata estivesse perto dele.<br />

—Faça… por favor. Não sei quanto mais posso resistir…<br />

—Niko.<br />

A besta nele explodiu. Com um rugido, liberou suas presas e se lançou sobre ela.<br />

O disparo soou um instante depois, um estrondo atordoante que finalmente, e por fim,<br />

silenciou sua miséria.<br />

****<br />

Renata sentou em seus calcanhares, a arma tranquilizante ainda empunhada em suas mãos.<br />

Seu coração palpitando a toda velocidade, parte de seu estomago ainda em sua garganta depois<br />

que Nikolai havia saltado sobre ela com suas enormes presas descobertas. Agora jazia no chão,<br />

imóvel exceto por sua baixa e dificultosa respiração. Além das marcas superficiais na pele, com<br />

seus olhos fechados e suas presas ocultas atrás de sua boca fechada, não havia maneira de dizer<br />

que ele era a mesma criatura violenta que poderia ter rasgado sua jugular.<br />

Merda.<br />

Que diabo ela estava fazendo aqui? Que demônios estava pensando, aliando-se com um<br />

vampiro, imaginando que realmente poderia ser capaz de confiar em um de sua classe? Ela sabia<br />

de primeira mão como eram traiçoeiros – como poderiam voltar-se letais num instante. Poderia<br />

ter morrido agora.<br />

Houve um momento em que ela realmente pensou que o faria.<br />

Mas Nikolai havia tentado avisá-la. Não queria machucá-la; ela havia visto aquela tortura em<br />

seus olhos, ouviu isto em sua voz rasgada um momento antes que ele tivesse saltado sobre ela.<br />

Era diferente dos outros como ele. Tinha honra, algo que ela havia assumido faltar na Raça inteira.<br />

Dado que seus exemplos estavam limitados a Sergei Yakut, Lex, e aqueles que os serviram.<br />

Nikolai não sabia que sua arma não tinha balas, e mesmo assim a havia obrigado a disparar.<br />

Pedindo isso. Ela havia passado por algumas coisas bastante difíceis em sua vida, mas Renata não<br />

conhecia aquele tipo de tortura e sofrimento. Estava bastante segura de que esperava nunca<br />

conhecer.<br />

A ferida em seu ombro queimava como o inferno. Estava sangrando de novo, pior ainda,<br />

depois desta confrontação física dura. Ao menos a bala havia atravessado limpamente. O horrível<br />

buraco que deixou atrás ia requerer assistência médica, embora não via um hospital em seu futuro<br />

próximo. Também pensou que não era sábio ficar perto de Nikolai agora, especialmente enquanto<br />

estivesse sangrando e a única coisa que o mantinha afastado de sua artéria era aquela dose de


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

sedativos.<br />

A arma tranquilizante estava vazia.<br />

A noite estava caindo, ela estava com uma ferida de bala sangrando e a vantagem adicional<br />

de seu reverberar persistente. E ficando no caminhão roubado era como esconder-se com um<br />

grande alvo sobre suas costas.<br />

Precisava se desfazer do veículo. Logo precisava encontrar algum lugar seguro onde pudesse<br />

se remendar bem o suficiente para poder seguir adiante. Nikolai era um problema a mais. Não<br />

estava disposta a deixá-lo, mas era inútil para ela em sua condição atual. Se pudesse superar as<br />

terríveis conseqüências de sua tortura, então possivelmente. E se não…?<br />

Se não, ela acabava de perder um tempo mais precioso do que se importou considerar.<br />

Movendo-se cautelosamente, Renata saiu pela parte traseira do caminhão e verificou as<br />

portas atrás. O sol havia se posto, e o entardecer se aproximava rapidamente. Na distância, as<br />

luzes de Montreal brilharam.<br />

Mira estava em algum lugar daquela cidade.<br />

Desamparada, só… assustada.<br />

Renata subiu no caminhão e ligou o motor. Conduziu de volta a cidade, sem saber para onde<br />

ir até que finalmente se encontrou em terreno familiar. Nunca pensou que estaria de volta.<br />

Certamente nunca assim.<br />

O bairro da velha cidade não havia mudado muito nos anos que passaram. As residências<br />

grudadas umas nas outras, modestas casas pós–segunda guerra mundial alinhadas na escura rua.<br />

Alguns dos jovens saindo das lojas 24hs deram uma olhada ao caminhão de fornecimentos<br />

médicos enquanto Renata passava conduzindo.<br />

Não reconheceu nenhum deles, nem nenhum dos despercebidos olhos adultos que vagaram<br />

de suas casas de concreto. Mas Renata não estava procurando rostos familiares aqui fora. Só havia<br />

uma pessoa que ela rogava estivesse ainda ao redor. Uma pessoa que poderia ser de confiança<br />

para ajudá-la, com poucas perguntas.<br />

Enquanto ela passava por uma pequena casa amarela com sua grade de rosas florescendo na<br />

frente, uma estranha tensão se enrolou em seu peito. Jack estava aqui, as amada rosas da Anna,<br />

bem cuidadas e florescendo, era evidência bastante disso. E também estava o pequeno sinal da<br />

ferradura que Jack havia feito para pendurar ao lado da porta principal, proclamando o alegre<br />

lugar da casa da Anna.<br />

Renata reduziu a marcha do caminhão para parar na calçada e desligou o motor, olhando a<br />

conservada casa que ela havia estado tantas vezes mas em realidade nunca havia entrado. As<br />

luzes estavam acesas no interior, um acolhedor brilho dourado.<br />

Deveria estar perto da hora de jantar porque através do grande marco da janela da frente<br />

podia ver dois adolescentes – clientes de Jack, embora ele preferia chamá-los seus “pequenos” -<br />

que estavam pondo a mesa para o jantar.<br />

—Maldita seja,— murmurou ela sob sua respiração, fechando seus olhos e pousando sua<br />

testa no volante.<br />

Isto não era bom. Não deveria estar aqui. Não agora, depois de todo este tempo. Não com


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

os problemas que estava enfrentando. E definitivamente não com o problema que estava levando<br />

atualmente na parte traseira do caminhão.<br />

Não, tinha que lutar com isto por sua própria conta. Ligar o motor, girar o volante do<br />

caminhão, e buscar suas possibilidades na rua. Demônios, ela não era uma estranha nisso. Mas<br />

Nikolai estava em mal estado, e ela não estava exatamente no auge de sua forma tampouco. Não<br />

sabia quanto tempo mais poderia conduzir.<br />

—Noite,— o amistoso e inconfundível acento do Texas chegou diretamente ao lado dela, da<br />

janela do lado do condutor aberta. Ela não o viu aproximar-se, mas agora não havia forma de<br />

evitá-lo. —Posso ajudar… com… algo?<br />

A voz de Jack se apagou enquanto Renata levantava sua cabeça e girava para enfrentá-lo.<br />

Estava um pouco mais grisalho que recordava, seu quase rapado corte estilo militar o faziam<br />

parecer mais magro, suas bochechas e queixo um pouco mais redondos que a última vez que o<br />

havia visto. Mas ainda parecia um urso jovial, com mais de 1,80 m de altura e constituído como<br />

um tanque apesar do fato que estava chegando facilmente aos setenta.<br />

Renata esperava que seu sorriso parecesse melhor que uma careta de dor.<br />

—Olá, Jack.<br />

A olhou fixamente – boquiaberto, em realidade.<br />

—Bom, malditamente surpreso,— disse, lentamente sacudindo sua cabeça. —Passou muito<br />

tempo, Renata. Esperava que tivesse encontrado uma boa vida em alguma parte…. Quando deixou<br />

de vir faz alguns anos, preocupava-me que talvez— deteve-se de completar o pensamento, dando<br />

em troca um grande e velho sorriso. —Bom, demônios, não importa pelo que me preocupava<br />

porque está aqui.<br />

—Não posso ficar,— espetou, seus dedos agarrando a chave na ignição, disposta a dar a<br />

volta. —Não deveria ter vindo.<br />

Jack franziu o cenho.<br />

—Dois anos depois da última vez que te vi, aparece como caída do céu só para me dizer que<br />

não pode ficar?<br />

—Sinto muito,— murmurou ela. —Tenho que ir.<br />

Pôs as mãos na janela aberta do caminhão, como se quisesse fisicamente retê-la ali. Ela<br />

olhou o bronzeado degradado nas mãos que tinham ajudado a sair tantos jovens de problemas<br />

nas ruas de Montreal – as mesmas mãos que tinham servido seu país de origem na guerra faz<br />

quatro décadas passadas, e que agora cuidavam e protegiam aquele gradeado de rosas vermelhas<br />

como se fossem mais valiosas que ouro.<br />

—Que está acontecendo, Renata? Sabe que pode falar comigo, que pode confiar em mim.<br />

Está bem?<br />

—Sim,— Disse. —Sim, estou bem, sério. Só passava.<br />

O olhar em seus olhos disse que não acreditava nem por um segundo.<br />

—Alguém mais está em problemas?<br />

Ela sacudiu a cabeça.<br />

—Por que pensa isso?


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Porque essa é a única maneira que viria aqui antes. Nunca por você, sem importar que<br />

pessoalmente tivesse precisado de uma mão.<br />

—Isto é diferente. Não é algo que deveria estar envolvido. Ela ligou o motor. —Por favor,<br />

Jack…. Só esqueça que inclusive me viu esta noite, de acordo? Sinto muito. Tenho que ir.<br />

Apenas pegou a alavanca de mudanças para pôr o caminhão em marcha quando a forte mão<br />

de Jack descansou sobre seu ombro. Não foi um apertão forte, mas inclusive a pequena pressão<br />

sobre sua ferida a fez virtualmente saltar de sua pele. Conteve o fôlego enquanto a dor a<br />

atravessava.<br />

—Está ferida,— disse ele, aquelas sobrancelhas grisalhas e grossas se uniram em uma.<br />

—Não é nada.<br />

—Nada, meu traseiro. Abriu a porta e subiu adiante para ter uma melhor vista dela. Quando<br />

viu o sangue, murmurou uma forte maldição. —Que aconteceu? Te apunhalaram? Alguns<br />

bandidos tentaram roubar seu caminhão ou sua carga? Jesus, isto parece uma ferida de bala, e<br />

esteve sangrando por algum tempo.<br />

—Estou bem,— insistiu ela. —Não é meu caminhão, e nada disto é o que acredita.<br />

—Então poderia me dizer tudo isto enquanto te levo ao hospital. Entrou mais na cabine,<br />

gesticulando para que lhe desse lugar. —Se mova, eu dirijo.<br />

—Jack,— pôs seu braço sobre seu grosso antebraço. —Não posso ir ao hospital, ou à polícia.<br />

Não estou sozinha aqui. Há alguém na parte detrás do caminhão e também está em más<br />

condições. Não posso deixá-lo.<br />

A olhou fixamente, incerto.<br />

—Fez algo contra a lei, Renata?<br />

Soltou uma risada débil, cheia de coisas que não podia dizer. Coisas que ele não poderia<br />

saber e segura como o inferno que não acreditaria se contasse.<br />

—Desejaria que fosse só a lei com que tivesse que lutar. Estou em perigo, Jack. Não posso te<br />

dizer mais que isso. Não quero que se envolva.<br />

—Necessita ajuda. Essa é toda a informação que preciso. Seu rosto estava sério agora. E<br />

além das rugas, de sua cara magra, e do cabelo grisalho, viu um brilho do Mariner inquebrável que<br />

havia sido todos aqueles anos. —Vêm para dentro e conseguirei que você e seu amigo descansem<br />

em algum lugar por um momento. Conseguirei algo para seu ombro também. Vamos, adiante, há<br />

muito espaço na casa. Me deixe te ajudar – por uma vez, Renata, deixe que alguém te ajude.<br />

Ela queria isso tão malditamente, em lugar de enterrar no profundo de seu interior essa dor.<br />

Mas levar Nikolai a um lugar público era um risco muito grande, para ele e para qualquer um que<br />

pudesse vê-lo.<br />

—Tem algum outro lugar em vez da casa? Um lugar tranqüilo, com menos pessoas dentro e<br />

fora. Não precisa ser muito grande.<br />

—Há um pequeno apartamento na garagem detrás. Estive usando-o para guardar coisas<br />

desde que Anna se foi, mas é bem vinda.<br />

Jack saiu do caminhão e ofereceu sua mão para ajudá-la a descer.<br />

—Vamos levar você e seu amigo dentro para assim poder olhar a ferida.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Renata desceu do assento ao pavimento. E quanto a mover Nikolai? Estava segura de que<br />

ainda estava dormindo sob os efeitos do tranquilizante, que ajudava a ocultar o que realmente<br />

era, mas não havia maneira que pudesse esperar que Jack não o achasse no mínimo incomum por<br />

estar nu, ensangüentado, golpeado e inconsciente.<br />

—Meu, hum, amigo está realmente muito doente. Está em má forma, e não acredito que<br />

seja capaz de caminhar por sua própria conta.<br />

—Carreguei mais de um homem na selva em minhas costas,— disse Jack. —Meus ombros<br />

podem ser um pouco fracos agora, mas são bastante largos. Tomarei conta dele.<br />

Enquanto caminhavam juntos à parte detrás, Renata adicionou:<br />

—Há uma coisa mais, Jack. O caminhão precisa desaparecer. Não importa onde, mas quanto<br />

antes melhor.<br />

Deu uma breve inclinação de cabeça.<br />

—Considera-o feito.<br />

Capítulo 17<br />

Quando Nikolai despertou, perguntou-se por que não tinha morrido. Sentia-se como o<br />

inferno, lento para abrir os olhos na escuridão, seus músculos lentos enquanto fazia um inventário<br />

de seu estado atual. Ele recordou o sangue e a agonia, a detenção e a tortura nas mãos de um<br />

bastardo chamado Fabien. Ele lembrou de correr ou, melhor, outra pessoa correndo enquanto ele<br />

tropeçou e lutava para ficar em pé.<br />

Recordou a escuridão ao seu redor, o frio metal debaixo dele, a bateria golpeando sem<br />

descanso em sua cabeça. E recordava claramente uma pistola que apontava em sua direção. Uma<br />

pistola que atirou por sua própria ordem.<br />

Renata.<br />

Ela era a que sustentava a arma de fogo. Apontando para ele para evitar que um monstro a<br />

atacasse. Mas por que não o matou, como ele quis? Falando isso, por que tinha vindo ela para<br />

buscá-lo na instalação de contenção? Não se deu conta que poderia tê-la matado sem interrupção<br />

estando a sós com ele?<br />

Ele queria parecer furioso, ela tinha sido muito imprudente, mas uma parte mais razoável<br />

dele, agradecia justamente só por estar condenado a respirar. Inclusive se a respiração era tudo<br />

que era capaz de fazer neste momento.<br />

Gemeu e deu a volta, esperando sentir o duro chão da caminhonete sob seu corpo. Em seu<br />

lugar sentiu um colchão brando, um travesseiro macio embalando sua cabeça. Uma manta leve de<br />

algodão cobria sua nudez.<br />

Que diabos? Onde estava agora?<br />

Saltou até ficar sentado e foi recompensado com uma violenta sacudida de suas vísceras.<br />

—Ah, Caralho—, murmurou, doente e enjoado.


Tiamat World<br />

102<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Está bem?— Renata estava ali com ele. Ele não a viu a princípio, mas agora ela se<br />

levantava da cadeira esfarrapada onde estava sentada a um momento atrás. —Como se sente?<br />

—Como a merda—, disse, com sua língua grossa, e sua boca seca como o deserto. Se<br />

estremeceu ao ver que ela fez clique com um abajur a sua cabeceira.<br />

—Parece melhor. Muito melhor, em realidade. Seus olhos voltaram para a normalidade e<br />

suas presas retrocederam.<br />

—Onde estamos?<br />

—Em um lugar seguro.<br />

Olhou ao redor a mistura eclética da sala: móveis revoltos, estantes de armazenamento<br />

contra uma das paredes, uma pequena coleção de tecidos em diversas etapas de finalização<br />

apoiados entre dois arquivos, um pequeno armário de banheiro com toalhas de adornos florais e<br />

uma banheira de pés pitorescos. As persianas das janelas estavam direcionadas para a cama e<br />

mostravam a profundidade da noite no outro lado do vidro nesse momento, mas pela manhã<br />

alagariam a sala com a luz dos raios UV.<br />

—Esta é uma residência humana. Ele não quis soar com acusação, sobretudo quando era sua<br />

própria maldita culpa estar nesta situação. —Onde diabos estamos, Renata? O que está<br />

acontecendo aqui?<br />

—Você não estava bem. Não era seguro para nós seguir viajando no caminhão de<br />

fornecimento quando a Agência de Controle e, possivelmente, Lex, estariam buscando-o logo que<br />

baixasse o sol.<br />

—Onde estamos?— exigiu.<br />

—Em um refúgio para meninos de rua e se chama Praça da Anna. Conheço o homem que o<br />

administra. Ou eu o conhecia, quer dizer... antes. —Alguns rasgos de emoção invadiram seu rosto.<br />

—Jack é um bom homem, digno de confiança. Estamos a salvo aqui.<br />

—É humano.<br />

—Sim.<br />

Justamente um fodido humano.<br />

— E sabe o que sou? Viu-me ele... como eu estava?<br />

—Não. Te mantive coberto o melhor que pude com a lona plástica do caminhão. Jack me<br />

ajudou a te trazer aqui, mas você ainda dormia pelo tranquilizante que te dei com o tiro. Disse que<br />

você estava desmaiado porque estava doente.<br />

—Obrigado.<br />

Bom, ao menos isto respondia a pergunta de por que ele não estava morto.<br />

—Ele não viu suas presas ou seus olhos, e quando me perguntou a respeito de seus glifos,<br />

disse que eram tatuagens. Ela fez um gesto assinalando uma camisa e calças pretas dobradas<br />

sobre a mesinha de noite. —Ele trouxe um pouco de roupa. Depois que volte de sumir com o<br />

caminhão para nós, vai procurar um par de sapatos que caibam em você. Há um kit de limpeza no<br />

banheiro de boas vindas para recém chegados à casa. Que só tem uma escova de dentes de sobra,<br />

assim espero que não se importe em compartilhar.<br />

—Jesus,— Niko assobiou. Isto só estava piorando.—Tenho que sair daqui.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Ele empurrou a manta e pegou a roupa da mesinha. Não estava muito seguro sobre seus pés<br />

quando tentava entrar nas calças de nylon. Ele caiu para trás, seu traseiro nu plantado na cama. A<br />

cabeça dava voltas.<br />

—Maldita seja. Tenho que informar à Ordem. Acredita que seu bom amigo Jack tem um<br />

computador ou um telefone celular que poderia pedir emprestado?<br />

—São duas da manhã—, assinalou Renata.—Todos na casa estão dormindo. Além disso, nem<br />

sequer estou segura que está o suficientemente bem para descer as escadas da garagem. Precisa<br />

descansar um pouco mais.<br />

—Ao caralho. O que preciso é voltar para Boston quanto antes. Ainda sentado na cama,<br />

deslizou na calça e conseguiu subi-la por cima de seus quadris, puxando o cordão na cintura extragrande.<br />

—Perdi muito tempo já. Necessito que alguém venha e leve meu traseiro até lá.<br />

A mão de Renata caiu sobre ele, surpreendeu-o o contato.<br />

—Nikolai. Algo aconteceu a Mira.<br />

Sua voz soava tão sóbria como nunca a tinha ouvido. Ela estava tão preocupada como um<br />

osso na profundidade, e pela primeira vez, deu-se conta da pequena fissura em sua forma de ser<br />

inquebrável, disfarçada por uma fachada de gelo que a todos apresentava.<br />

—Mira está em perigo—, disse ela. —A levaram com eles quando vieram prender você no<br />

recinto. Lex a entregou a um vampiro chamado Fabien. Ele... ele a vendeu a ele.<br />

—Fabien. Niko fechou os olhos, exalando uma maldição. —Então provavelmente já está<br />

morta.<br />

Ele não esperava um grito afogado de Renata. O som cru de seu grito o fez sentir como um<br />

imbecil insensível ao falar em voz alta seus pensamentos sombrios. Para a força e independência<br />

resistente de Renata ela tinha um ponto sensível reservado, notável por essa menina inocente.<br />

—Ela não pode estar morta. Sua voz adquiriu um tom duro, mas seus olhos estavam<br />

selvagens, desesperados. —Prometi a ela, entende? Disse que seria sua protetora. Nunca deixaria<br />

que ninguém lhe fizesse mal. Me referia a isso. Mataria para mantê-la segura, Nikolai. Morreria<br />

por ela.<br />

Escutou, e, Deus o ajude, que conhecia melhor essa dor mais do que ela nunca podia<br />

adivinhar. Quando era menino, havia feito um pacto similar com seu irmão menor — Cristo, fazia<br />

muito tempo—e isto quase o tinha destruído por ter falhado.<br />

—É por isso que me seguiu nas instalações de contenção—, disse, compreendendo agora. —<br />

Você correu o risco de quebrar o pescoço ao me tirar dali, porque acredita que posso ajudar a<br />

encontrá-la?<br />

Ela não disse nada, mas terminou sustentando seu olhar fixo em um silêncio que parecia<br />

prolongar-se para sempre.<br />

—Tenho que recuperá-la, Nikolai. E não acredito que... estou, simplesmente não estou<br />

segura que posso fazê-lo por minha conta.<br />

Uma parte dele queria dizer que o destino de uma menina perdida não era seu problema.<br />

Não depois que o bastardo do Fabien o tivesse posto nas instalações de contenção. E não quando<br />

a Ordem tinha suas mãos cheias com outras missões mais críticas. Vida e morte em escala maciça,


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

com a verdadeira morte, salve a espécie mundial da merda.<br />

Mas quando abriu a boca para responder descobriu que não tinha coração para dizer em voz<br />

alta a Renata agora.<br />

—Como está seu ombro?— perguntou, indicando a ferida que tinha sangrado horas no<br />

caminhão e ao volante levando seu já débil controle quase até o limite. Na superfície, parecia<br />

melhor, enfaixada em gaze branca e limpa e com um aroma ligeiro de anticético.<br />

—Jack me enfaixou—, disse ela. —Ele era médico da Infantaria Mariner, quando serviu no<br />

Vietnã.<br />

Niko viu a ternura de sua expressão quando falou do humano, e se perguntou por que<br />

deveria sentir a pontada de ciúmes, em particular quando o serviço militar daquele macho<br />

humano o punha tão velho quanto os anos do Protocolo de Resolução de Direções AppleTalk.. —<br />

Assim, ele é um Mariner, né? Como pôde terminar em um refúgio para jovens aqui em Montreal?<br />

Renata sorriu com um pouco de tristeza.<br />

—Jack se apaixonou por uma moça local chamada Anna. Casaram-se, logo compraram esta<br />

casa juntos e viveram aqui por mais de quarenta anos... até que Anna morreu. Ela foi assassinada<br />

em um roubo. O menino sem lar que a apunhalou por sua carteira o fez enquanto estava drogado<br />

com heroína. Estava procurando dinheiro para sua dose seguinte, mas só encontrou cinco dólares<br />

na carteira.<br />

—Jesus,— Niko exalou. —Espero que o pedaço de merda não tenha se dado bem.<br />

Renata sacudiu a cabeça.<br />

—Foi detido e acusado, mas se enforcou no cárcere a espera de julgamento. Jack se inteirou<br />

das notícias, então decidiu fazer algo para ajudar a prevenir outro ato como a morte de Anna, ou<br />

que outro menino se perdesse nas ruas. Abriu sua casa— o Refugio da Anna— a qualquer pessoa<br />

que necessitasse moradia, e deu aos meninos comida quente e um lugar a que pertencer.<br />

—Soa Jack como um homem generoso,— Niko disse. —Um inferno de perdão além do que<br />

devia.<br />

Tinha a forte necessidade de tocá-la, deixar que seus dedos se detivessem em sua pele.<br />

Queria saber mais a respeito dela, mais de sua vida antes que ela se misturasse com Sergei Yakut.<br />

Tinha a sensação que as coisas não foram fáceis para ela. Se Jack tinha contribuído para suavizar<br />

seu caminho, Nikolai não tinha nada mais que respeito pelo homem. E agora, se ela podia confiar<br />

no humano, também o faria. Ele esperava como o inferno que Jack fosse tudo que Renata<br />

acreditava que era. Isto seria um inferno se ele dispusesse as coisas de outra maneira.<br />

—Me deixe dar uma olhada em seu ombro,— disse ele, feliz de mudar de assunto.<br />

Quando ele se aproximou dela, Renata vacilou.<br />

—Está seguro que você pode dirigir isto? Porque está recém-saído do efeito tranquilizante, e<br />

não parece esportivo explodir a mente de um vampiro em sua condição débil.<br />

—Está brincando? -Riu, surpreso por seu senso de humor, especialmente quando as coisas<br />

se viam mais que um pouco tristes para ambos. —Vêm aqui e me deixe ver a obra de Jack.<br />

Ela se inclinou adiante para lhe dar melhor acesso ao seu ombro. Niko moveu de um lado a<br />

manta de algodão suave em que estava envolta, deixando a borda do tecido deslizar para baixo de


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

seu braço. Com o mesmo cuidado levantou a vendagem e inspecionou a limpeza da sutura sob a<br />

mesma, ele ainda sentia Renata estremecer com desconforto.<br />

Ela se comportava perfeitamente tranqüila enquanto cuidadosamente controlava ambos os<br />

lados de seu ombro. A hemorragia se reduziu ao mínimo, mas inclusive esse pequeno riacho<br />

escarlate o golpeava com força. Estava fora dos bosques pelo que agora ansiava sangue, mas<br />

ainda era da Raça, e o doce aroma de madeira de sândalo e chuva do sangue de Renata o<br />

intoxicava—sobretudo ao estar tão perto.<br />

—No geral, parece decente—, murmurou, obrigando-se a recuar. Ele trocou as ataduras e<br />

sentou na borda da cama. —A saída da bala ainda está muito pálida.<br />

—Jack diz que tenho sorte que a bala atravessou e não afetou meus ossos.<br />

Niko grunhiu. Teve a sorte de ter sangue unido a um Gen Um macho. Sergei Yakut podia ser<br />

um vicioso, um filho da puta bom para nada, mas a presença de seu sangue de pura raça em seu<br />

sistema deve ter acelerado a cura como nada. De fato, surpreendeu-se ao vê-la tão cansada. Então<br />

outra vez, se deu conta de como tinha sido uma noite tão longa até agora sob qualquer aspecto.<br />

Apoiado nos círculos escuros sob seus olhos manchados, não tinha dormido nada. Ela não<br />

tinha comido bem. Uma bandeja de comida estava intacta na bandeja de metal na mesa próxima.<br />

Ele se perguntou se era a dor pela morte de Yakut acrescentada a sua fadiga. Era evidente<br />

que se tratava de Mira, mas por todos os direitos, e tão duro como aceitar a idéia, ela também era<br />

uma mulher que recentemente tinha perdido seu companheiro. E ali estava ela, cuidando de uma<br />

ferida de bala em seu ombro, só por ter ido em sua ajuda.<br />

—Por que não descansa um momento—, sugeriu Nikolai. —Fique com a cama. Tenta dormir<br />

um pouco. É minha vez de vigiar.<br />

Ela não discutiu, para sua grande surpresa. Levantou a manta para que ela subisse e lutou<br />

enquanto acomodava a manta sob seu ombro ferido.<br />

—A janela—, murmurou, assinalando. —Eu ia cobrir para você.<br />

—Eu me encarrego disso.<br />

Ela dormiu em menos de um minuto. Niko observou durante um momento, e depois,<br />

quando esteve seguro que ela não ia sentir, teve a necessidade de tocá-la. Só uma breve carícia<br />

em sua bochecha, seus dedos deslizando na seda negra de seu cabelo.<br />

Era um engano desejá-la, e ele sabia.<br />

Em sua condição, que era mais ou menos a pior das circunstâncias possíveis, era<br />

provavelmente estúpido como o inferno para ele ansiar Renata da maneira e da forma que fazia<br />

quase a partir do primeiro instante em que pôs seus olhos nela.<br />

Mas no momento em que ela abriu suas pálpebras e o encontrou ali ao lado dela, nada o<br />

teria impedido de puxá-la para seus braços.<br />

* * *<br />

Alguns raios de halogênio perfuraram a manta de névoa que se derramava abaixo no<br />

caminho de Vermont Green Mountains. No assento traseiro, o passageiro do veículo com chofer


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

olhava com impaciência a paisagem escura, seus olhos da Raça lançavam reflexos âmbar no vidro<br />

opaco. Estava zangado, e depois de falar com Edgar Fabien, seu contato em Montreal, tinha<br />

motivos para sentir-se molesto. O único raio de promessa tinha sido o fato que em meio de todas<br />

as circunstâncias recentes e os desastres pouco isolados, de algum jeito Sergei Yakut estava morto<br />

e, no processo, Fabien tinha obtido um membro da Ordem.<br />

Infelizmente, essa pequena vitória tinha sido de curta duração. Só umas poucas horas para<br />

Fabien timidamente informar que o guerreiro da raça escapou das instalações de contenção e na<br />

atualidade jazia com uma mulher que aparentemente lhe ajudou. Se Fabien esta noite não<br />

resolvesse o assunto importante que lhe tinha sido atribuído, o líder do Darkhaven de Montreal<br />

poderia estar recebendo uma inesperada visita esta noite também. Trataria com Fabien mais<br />

tarde.<br />

Aborrecido por este desvio obrigatório através dos caminhos das vacas, o que mais o tinha<br />

enfurecido era o mau funcionamento de seu melhor e mais eficaz instrumento.<br />

Simplesmente o fracasso não podia ser tolerado. Um engano era muito e, como um<br />

organismo de controle que de repente se converte em proprietário, só havia uma solução viável<br />

para o problema que o esperava neste determinado lance do caminho rural de travessia: a<br />

exterminação.<br />

O veículo reduziu a marcha lentamente ao fazer contato com o asfalto, em uma terra cheia<br />

de buracos na área rural. Um colonial labirinto de pedra próximo, com meia dúzia de altos<br />

carvalhos e bordas alinhadas na unidade que conduzia a uma casa de campo branca, com um largo<br />

pórtico, circulante. O carro se deteve diante de um celeiro vermelho grande na parte traseira da<br />

casa. O condutor— um servo, saiu, e caminhou ao redor da porta do passageiro, e a abriu para seu<br />

Senhor Vampiro.<br />

—Senhor,— disse o escravo de mente humana com uma respeitosa reverência de sua<br />

cabeça.<br />

O macho da Raça no interior do carro saiu, cheirando maliciosamente a corrupção de gado<br />

no ar supostamente fresco da noite. Seus sentidos não se viram menos ofendidos quando girou<br />

sua cabeça para a casa e viu a luz variável de um abajur de mesa acesa em um dos quartos, a<br />

choramingação néscia de um programa de competição na televisão iam à deriva pelas janelas<br />

abertas.<br />

—Espera aqui,— disse dando instruções ao seu condutor.—Isto não levará muito tempo.<br />

As pedras rangiam em seus sapatos de couro macio, aproximando-se do cascalho dos<br />

degraus do alpendre coberto que conduzia à porta traseira da casa. Estava fechada com chave,<br />

mas nada importou. Ele fez que o ferrolho abrisse e se dirigiu para dentro da cozinha azul e branca<br />

com adornos de algodão. À medida que entrou, a porta chiou fechando atrás dele, e um homem<br />

de meia idade humano com uma escopeta entrou pelo corredor.<br />

—Mestre—, disse com voz entrecortada, pondo o rifle na bancada. —Me perdoe. Eu não era<br />

consciente de que era você, ah… que vinha…— O subordinado gaguejou, ansioso, e<br />

evidentemente o suficientemente conhecedor que esta não era uma visita social. —E no que<br />

posso servir?


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Onde está o caçador?<br />

—No porão, senhor.<br />

—Me leve a ele.<br />

—É obvio. O ajudante se voltou e abriu a porta detrás, abrindo-a de par em par. Quando seu<br />

amo tinha saído, lançou-se para levá-lo pelo caminho à entrada parecida com um ataúde no<br />

porão, ao longo da casa. —Eu não sei o que pôde ter saído mal com ele, mestre. Nunca falhou na<br />

realização de nenhuma missão antes.<br />

O certo é que só fato do fracasso atual de tão perfeita amostra era até mais indesculpável.<br />

—Não estou interessado no passado.<br />

—Não, não. É obvio que não, Senhor. Minhas desculpas.<br />

Houve uma luta torpe com a chave e a fechadura, esta última se instalou a fim de manter<br />

longe os mortais dos ocupantes da adega em seu interior, mas mais como uma medida. As<br />

Fechaduras eram desnecessárias quando havia outros, métodos mais eficazes para assegurar que<br />

não estivessem tentados de desviar do rumo.<br />

—Por aqui,— disse o subordinado, abrindo as portas de aço para revelar uma fossa sem luz<br />

que se abria na terra debaixo da velha casa.<br />

Um lance de escadas de madeira descia na escuridão úmida e mofada. O velho ajudante<br />

avançou, puxando uma corda atada a uma lâmpada de luz para ajudar a ver o caminho. O vampiro<br />

atrás dele via bastante bem sem ela, igual ao que albergava aqui o espaço vazio, sem janelas. O<br />

porão não continha móveis. Não havia distrações. Não se observavam bens pessoais. Por<br />

deliberado que fosse o desenho, não continha comodidade de nenhum tipo. Estava cheio de<br />

precisamente nada, o aviso a seu inquilino que ele também não era nada mais do que foi<br />

convocado para fazer aqui. Sua mesma existência devia ser simplesmente servir, seguir ordens.<br />

Atuar sem piedade ou erro.<br />

Para não revelar fontes, nem esperar nenhuma mudança.<br />

Enquanto caminhavam para o centro do porão, o macho da Raça enorme sentado<br />

tranqüilamente no chão de terra nua levantou a vista. Estava nu, com seus cotovelos apoiados<br />

sobre os joelhos, a cabeça raspada. Não tinha nome, nem identidade alguma, exceto a que foi<br />

dada quando ele nasceu: Hunter. Estava provido de um colar eletrônico negro ao redor de seu<br />

pescoço que esteve com ele durante toda a sua vida.<br />

Na verdade, era sua vida, se acaso alguma vez resistia a instruções, ou manipulava o<br />

dispositivo de vigilância de algum modo, um sensor digital disparava e a Arma UV contida no<br />

pescoço detonava.<br />

O grande macho ficou de pé com seu controlador quando o ajudante fez um gesto para que<br />

levantasse. Ele era impressionante, um Gen um de 1,98m, todo músculos e com uma força<br />

formidável. Seu corpo estava coberto por uma rede de dermaglifos do pescoço aos tornozelos, as<br />

marcas da pele herdadas através do sangue, passando de pai para filho na Raça.<br />

Que ele e este vampiro tivessem em comum padrões similares era de esperar-se; afinal eles<br />

tinham nascidos da mesma antiga linha paternal. Ambos tinham o sangue do mesmo guerreiro<br />

alienígena que nadava em suas veias, um dos pais originais da raça de vampiros sobre a terra. Eles


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

eram parentes, embora só um deles soubesse. Que tinha esperado pacientemente pelo tempo<br />

que vivia atrás de inumeráveis máscaras e enganos, enquanto com cuidado a organização tecia as<br />

peças sobre um tabuleiro enorme e complexo. O momento de manipular a sorte era adequado<br />

para que finalmente, com justiça tomasse seu lugar de poder sobre a raça e a humanidade por<br />

igual.<br />

Esse tempo se esgotava.<br />

Estava próximo, podia sentir em seus ossos.<br />

E não cometeria erros na subida a seu trono.<br />

Olhos dourados como um falcão sustentaram seu olhar fixo na luz variável do porão. Ele não<br />

apreciava o orgulho que viu ali — o rastro de desafio em quem tinha sido feito para servir.<br />

—Me explique por que você falhou em seu objetivo, — exigiu ele.—Você foi enviado a<br />

Montreal com uma missão clara. Por que você foi incapaz de executá-la?<br />

—Havia uma testemunha. — Essa foi a resposta fria.<br />

—Isso nunca te deteve antes. Por que agora?<br />

Aqueles olhos de ouro não mostraram nenhuma emoção absolutamente, mas ali estavam o<br />

desafio no levantamento sutil da mandíbula quadrada do Caçador.<br />

—Era uma menina, e uma fêmea jovem.<br />

—Uma menina, diz. - Deu de ombros, indiferente. —Inclusive mais fácil de eliminar, não<br />

acha?<br />

O caçador não disse nada, só olhou como se esperasse o julgamento. Como se esperasse ser<br />

condenado e não importasse nada.<br />

—Você não foi treinado para questionar suas ordens ou afastar-se dos obstáculos. Você foi<br />

criado para uma coisa— como o foram os outros como você.<br />

Seu rígido queixo se elevou outra polegada, lhe interrogando. Com desconfiança.<br />

—Que outros?<br />

Ele riu entredentes sob seu fôlego.<br />

—Você na realidade não pensou que era o único, verdade? Nem muito menos. Sim, há<br />

outros. Um exército de outros soldados, assassinos... objetos dispensáveis que criei por várias<br />

décadas, todos nascidos e feitos para me servir. Outros, como você, que vivem só porque desejo.<br />

—Ele jogou uma olhada de forma significativa ao anel que rodeava o pescoço do vampiro. — Você,<br />

como outros, vive só enquanto que o deseje.<br />

—Mestre—, interrompeu vacilante o ajudante. —Estou seguro que este foi um pequeno<br />

erro. Quando o enviar na próxima vez, não haverá problemas, eu asseguro.<br />

—Ouvi o suficiente—, explodiu inclinando o olhar para o humano que por associação<br />

também tinha falhado. —Não haverá próxima vez. E você já não é de nenhuma utilidade.<br />

Em um momento de rapidez, girou sobre o servo, e afundou suas presas de um lado da<br />

garganta do homem. Não bebeu, só perfurou a artéria carótida liberando-a, observando com total<br />

indiferença, como desabava sobre o chão de terra do porão, sangrando profusamente. A presença<br />

de tanto sangue derramando era quase insuportável. Era difícil esperar que ficassem resíduos,<br />

mas estava mais interessado em provar seu ponto.


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Olhou o vampiro Gen um —sorria a seu lado quando seus glifos tomaram pulso com as cores<br />

profundas de fome do macho, com os olhos de ouro, agora totalmente de cor âmbar. Suas presas<br />

encheram sua boca, e era óbvio que todo o instinto dentro dele estava gritando para que se<br />

lançasse sobre a fonte do sangue do humano que tinha morrido.<br />

Mas não se moveu. Ficou ali, desafiante ainda, negando-se a ceder inclusive a seu instinto<br />

natural, o lado selvagem de si mesmo.<br />

Matá-lo seria bastante fácil, simplesmente marcando o código em seu telefone celular e o<br />

rígido orgulho intitulado seria feito em pedaços. Mas seria muito mais agradável dobrá-lo<br />

primeiro. Tão melhor se de última hora pudesse servir como exemplo a Fabien e qualquer outra<br />

pessoa que pudesse ser suficientemente estúpida para enganá-lo.<br />

—Fora—, ele ordenou ao assassino em serviço. —Não terminei com você ainda.<br />

Capítulo 18<br />

Renata se situou na pia de pedestal no banheiro, cuspiu o último da pasta de dente pelo<br />

deságüe, logo enxaguou com vários punhados de água fria. Ela tinha despertado muito mais tarde<br />

do que pretendia. Nikolai disse que parecia necessitar de descanso, assim a tinha deixado dormir<br />

até quase às dez da manhã. Ela poderia ter dormido outros dez dias mais e provavelmente ainda<br />

estaria cansada.<br />

Ela se sentia acabada. Dolorida por toda parte, com suas extremidades débeis. Instável em<br />

seus pés. Seu corpo com seu termostato interno parecia não poder decidir entre o frio glacial e o<br />

calor entristecedor, deixando-a em uma atormentada alternância de calafrios e ondas de suor na<br />

testa e na parte de trás de seu pescoço.<br />

Com sua mão direita apoiada na pia, ela levou sua outra mão sob a corrente da torneira,<br />

com a intenção de segurar como um anel seus dedos frios e molhados ao redor do forno que ardia<br />

sobre sua nuca. Um pequeno movimento de seu braço esquerdo e ela protestou de dor.<br />

Seu ombro estava ardendo.<br />

Ela fez uma careta quando com cuidado desabotoou a parte superior da ampla camisa tipo<br />

Oxford que pegou emprestada de Jack. Lentamente encolheu o ombro para tirar a manga<br />

esquerda para assim poder tirar a faixa e examinar sua ferida. A cinta aguilhôo quando a arrancou<br />

de sua sensível e adoecida pele. Sangue coagulado e o ungüento anti-séptico cobriam a gaze, mas<br />

a ferida que se encontrava abaixo ainda estava aberta e vazando.<br />

Ela não necessitava um doutor para dizer que isto não eram boas notícias. Sangue e grosso<br />

fluido amarelo se drenava do inflamado círculo vermelho que rodeava o ponto aberto por onde a<br />

bala tinha entrado. Não era bom absolutamente. Tampouco necessitava um termômetro para<br />

confirmar que estaria provavelmente com uma febre muito alta devido à aparição da infecção.<br />

—Merda—, sussurrou ela em seu rosto marcado, pálido no espelho. —Eu não tenho tempo<br />

para isto, maldita seja.


Tiamat World<br />

110<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Um golpe abrupto na porta do banheiro a fez saltar.<br />

—Ouça. Nikolai chamou de novo, dois golpes rápidos. —Tudo bem aí dentro?<br />

—Sim. Sim, está tudo bem. Sua voz raspou como lixa em sua garganta, pouco melhor que<br />

um tom áspero de som. —Só estou escovando os dentes.<br />

—Segura que está bem?<br />

—Estou bem. Renata levantou a enrugada e suja vendagem e a jogou no recipiente de lixo<br />

que estava ao lado da pia. —Sairei em poucos minutos.<br />

A demora na resposta não deu a impressão que ele fosse a nenhuma parte. Ela fez rodar a<br />

torneira da água para um maior volume e esperou, imóvel, com seus olhos na porta fechada.<br />

—Renata… sua ferida—, disse Nikolai através do painel de madeira. Havia uma gravidade em<br />

seu tom. —Não está curada ainda? Ela deveria ter deixado de sangrar já…<br />

Embora não tivesse querido que ele soubesse o que estava passando, não havia nenhum<br />

motivo para negar agora. Todos os de sua Estirpe tinham sentidos absurdamente agudos,<br />

especialmente quando estes apareciam ao descobrir sangue derramado. Renata esclareceu a<br />

garganta.<br />

—Não é nada, não é grande coisa. Só necessito uma nova gaze e uma vendagem limpa.<br />

—Vou entrar—, ele disse, e deu um giro no trinco da porta. Esta se manteve fechada pelo<br />

botão que se encontrava apertado. —Renata. Me deixe entrar.<br />

—Já disse, estou bem. Estarei fora em só uns…<br />

Ela não teve chance de terminar a frase. Usando o que só poderia ser o poder mental da<br />

Raça, Nikolai acionou a fechadura e abriu a porta amplamente. Renata poderia ter amaldiçoado<br />

por ter entrado como se fosse o dono do lugar, mas estava muito ocupada tentando dar um puxão<br />

na manga solta da camisa para cobrir-se. Não importava tanto se ele visse o estado de inflamação<br />

da ferida pela arma de fogo, eram as outras marcas que ela desejava fazer desaparecer.<br />

As permanentes que tinham sido queimadas na pele de suas costas.<br />

Ela conseguiu erguer o suave tecido de algodão ao redor dela, mas todos os movimentos e o<br />

puxão a fez gritar e seu estômago revolver quando a dor causou uma onda de fortes náuseas.<br />

Ofegando agora, alagada em um suor frio, ela mesma se deixou cair na fechada tampa do<br />

vaso e tentou atuar como não estivesse a ponto de derramar seu estômago por toda parte sobre<br />

os diminutos azulejos negros e brancos que se encontravam sob seus pés.<br />

—Por crissake 12 . Nikolai, com seu torso nu e a calça caindo de seus quadris estreitos deu<br />

uma olhada e se deixou cair de cócoras diante dela. —Você está muito longe de estar bem. Ela se<br />

sobressaltou quando ele tentou alcançar o frouxo colarinho aberto da camisa.<br />

—Não o faça.<br />

—Somente vou ver sua ferida. Algo não está bem. Deveria estar curada a esta hora. Ele<br />

12 Um xingamento mesclado que é uma expressão apoiada em uma linguagem vulgar que foi modificada para<br />

reduzir as características censuráveis da expressão original, por exemplo, cerzir em lugar de maldição, lixo em lugar de<br />

merda, Heck em lugar do inferno ou puto, mover de um puxão em lugar de merda. Quase todas as blasfêmias têm<br />

variantes diversas.


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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

afastou o tecido de seu ombro e franziu o cenho. —Merda. Isto não está bem absolutamente.<br />

Como está o ponto de saída?<br />

Ele se levantou e se inclinou sobre ela, com seus dedos cuidadosos enquanto deslizava mais<br />

da camisa de seu caminho. Apesar que estava ardendo, ela podia sentir o calor de seu corpo,<br />

enquanto estava tão perto dela neste pequeno espaço. —Ah, merda ... deste lado está pior que na<br />

frente. Vou tirar esta camisa para que possa ver exatamente com o que estamos tratando.<br />

Renata congelou, seu sistema completo se endureceu.<br />

—Não, eu não posso.<br />

—Claro que pode. Eu te ajudarei. Quando ela não se moveu, sentada ali segurando a parte<br />

dianteira da grande camisa em um punho apertado, Nikolai sorriu abertamente. —Se pensa que<br />

tem que ser reservada comigo, não o faça. Infernos, já me viu nu portanto é justo, certo?<br />

Ela não riu. Não poderia. Era difícil manter seu fixo olhar, difícil acreditar na preocupação<br />

que estava começando a obscurecer seus invernais olhos azuis, enquanto ele esperava por sua<br />

resposta. Ela não queria ver repulsão ali, nem, muito menos, compaixão.<br />

—Seu livre-arbítrio justamente… te deixou agora? Por favor? Me permita me encarregar de<br />

cuidar disto eu mesma.<br />

—A ferida está infectada. Está com febre devido a ela.<br />

—Sei.<br />

A cara de Nikolai se voltou sóbria com uma emoção que ela não podia distinguir.<br />

—Quando foi a última vez que se alimentou?<br />

Ela deu de ombros.<br />

—Jack me trouxe um pouco de comida ontem à noite, mas eu não tinha fome.<br />

—Não comida, Renata. Estou falando de sangue. Quando foi a última vez que você se<br />

alimentou de Yakut?<br />

—Seu refere a beber seu sangue?— Ela não pôde ocultar sua repulsão. —Nunca. Por que<br />

esta perguntando isso? Por que pensa isso?<br />

—Ele bebeu de ti. Vi-o alimentando-se de sua veia em seu quarto no recinto. Supus que era<br />

um acordo mútuo.<br />

Renata odiava pensar nisso, e muito menos recordar que Nikolai tinha sido testemunha de<br />

sua degradação.<br />

—Sergei me utilizava por sangue cada vez que sentia necessidade. Ou cada vez que desejava<br />

fazer uma demonstração.<br />

—Mas ele nunca te deu seu sangue em troca?<br />

Renata negou com a cabeça.<br />

—Não admira que não esteja curando rapidamente—, murmurou Nikolai. Deu uma ligeira<br />

sacudida na cabeça. —Quando o vi beber de você… pensei que estava emparelhada com ele.<br />

Supus que vocês estavam unidos com o laço de sangue entre si. Pensei que talvez sentia carinho<br />

por ele.<br />

—Pensou que eu o amava,— disse Renata, dando-se conta para onde se dirigia. —Não era<br />

isso. Nem sequer se aproximava.


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Ela soltou um fôlego agudo que ressoou em sua garganta. Nikolai não a estava pressionando<br />

para procurar respostas, e talvez precisamente devido a isso, ela queria que entendesse que o que<br />

ela sentia pelo vampiro que tinha servido era algo menos afeiçoado.<br />

—Faz dois anos, Sergei Yakut me recolheu nos subúrbios de uma rua do centro da cidade e<br />

me levaram a seu refúgio junto com vários outros meninos que tinha pego essa noite. Nós não<br />

sabíamos quem era, ou para onde íamos, ou por que. Não sabíamos nada, porque ele nos tinha<br />

posto a todos em uma espécie de transe que não cessou até que nos encontramos trancados<br />

dentro de uma grande jaula escura.<br />

—O interior do celeiro de sua propriedade—, disse Nikolai, com seu rosto sombrio. —Jesus<br />

Cristo. Ele te trouxe para seu jogo vivo de seu clube de sangue?<br />

—Eu não acredito que qualquer de nos soubéssemos que os monstros realmente existiam<br />

até que Yakut, Lex, e alguns outros vieram abrir a jaula. Eles nos mostraram o bosque, disseramnos<br />

que corrêssemos. - Ela engoliu a circulante amargura que se levantou em sua garganta. —A<br />

matança começou tão logo o primeiro de nós correu para o bosque.<br />

Em sua mente, Renata voltou a reviver o horror com detalhes. Ela ainda podia ouvir os gritos<br />

das vítimas quando fugiam, e os uivos terríveis dos predadores que os caçavam com selvagem<br />

frenesi. Ela ainda podia cheirar a essência forte de verão, pinheiro e musgo, mas os aromas da<br />

natureza foram sufocados em breve pelo sangue e morte. Ela ainda podia ver a imensa escuridão<br />

que rodeava o terreno desconhecido, com ramos escondidos que golpeavam as bochechas e<br />

rasgavam sua roupa enquanto ela tentava sua fuga.<br />

—Nenhum de vocês tinha uma chance—, murmurou Nikolai. —Eles disseram a vocês que<br />

corressem somente para jogar com vocês. Para dar a ilusão que os clubes de sangue têm algo a<br />

ver com esporte.<br />

—Eu sei disso agora. - Renata ainda podia saborear a inutilidade de toda aquela correria. O<br />

terror tinha adquirido o aspecto nessa funesta noite na forma de olhos âmbar brilhantes e presas<br />

expostas e ensangüentadas como nada que ela houvesse alguma vez visto em seus piores<br />

pesadelos. —Um deles me alcançou. Saiu de um nada e começou a me rodear, preparando-se<br />

para o ataque. Eu nunca tive mais medo. Estava assustada e zangada e algo dentro de mim<br />

somente… se rompeu. Senti um poder correr através de mim, um pouco mais forte que a<br />

adrenalina que alagava meu corpo.<br />

Nikolai assentiu com a cabeça.<br />

—Não sabia a respeito da habilidade que possuía.<br />

—Eu não sabia a respeito de um monte de coisas até essa noite. Tudo virou de cabeça para<br />

baixo. Eu só queria sobreviver — a única coisa que eu sabia fazer. Assim quando eu senti que a<br />

energia fluía através de mim, algum instinto visceral me indicou que o girasse e o deixasse livre<br />

sobre meu atacante. Empurrei para fora com minha mente e o vampiro cambaleou para trás como<br />

se o tivesse golpeado fisicamente. Lancei mais nele, e ainda mais, até que ele caiu no chão<br />

gritando e seus olhos estivessem sangrando e todo seu corpo convulsionando-se de dor.<br />

Renata se deteve, perguntando se o guerreiro da Raça a contemplava em silêncio julgando-a<br />

por sua total falta de remorso pelo que tinha feito. Ela não estava disposta a pedir desculpas ou


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

dar desculpas.<br />

—Eu queria que ele sofresse, Nikolai. Queria matá-lo, e o fiz.<br />

—Que outra opção tinha você?—, disse ele, estendendo a mão e com muita ternura deslizou<br />

as pontas de seus dedos ao longo da linha de sua bochecha. —E Yakut? Onde estava ele durante<br />

tudo isto?<br />

—Não muito longe. Eu tinha começado a correr novamente quando se cruzou em meu<br />

caminho e se dirigiu a mim. Eu tratei de derrubá-lo também, mas ele resistiu. Enviei tudo o que<br />

tinha para ele, até o ponto de esgotamento, mas não foi o suficiente. Ele era muito forte.<br />

—Porque ele era um Gen Um.<br />

Renata fez uma inclinação de assentimento com a cabeça.<br />

—Ele me explicou isso mais tarde, depois daquele combate inicial as repercussões me<br />

deixaram inconsciente por três dias completos e despertei para me encontrar obrigada a trabalhar<br />

como guarda-costas pessoal de um vampiro.<br />

—Alguma vez tentou partir?<br />

—No princípio, tentei. Mais de uma vez. Nunca levou muito tempo para me localizar. Ela<br />

golpeou ligeiramente seu dedo indicador contra a veia situada ao lado de seu pescoço. —Difícil<br />

chegar muito longe quando seu próprio sangue é melhor que um GPS para seu perseguidor. Ele<br />

utilizava meu sangue para assegurar-se de minha lealdade. Era um grilhão que não podia romper.<br />

Nunca pude ficar livre dele.<br />

—Agora é livre, Renata.<br />

—Sim, suponho que estou—, disse ela, a resposta soando tão oca como a sentia. —Mas e a<br />

respeito de Mira?<br />

Nikolai a contemplou durante um longo momento sem dizer nada. Ela não queria ver a<br />

dúvida em seus olhos, não mais do que queria alguma vã garantia que ali havia algo que qualquer<br />

dos dois poderia fazer por Mira agora que ela estava em mãos do inimigo. Muito pior agora que<br />

estava debilitada pela ferida.<br />

Nikolai girou para a banheira antiga com pés em forma de garras brancas e abriu as<br />

torneiras. Quando a água caiu na banheira, ele se voltou para onde ela estava sentada.<br />

—Um refrescante banho deveria baixar sua temperatura. Vamos, eu te ajudo a se lavar.<br />

—Não, eu posso tomar meu próprio…<br />

Disse a ela que não ao levantar em resposta uma de suas sobrancelhas.<br />

—A camisa, Renata. Me deixe te ajudar com ela assim posso ter uma melhor visão do que<br />

está acontecendo com essa ferida.<br />

Obviamente, ele não estava disposto a deixá-la. Renata ficou muito quieta mesmo quando<br />

Nikolai desabotoou os últimos poucos botões da gigantesca camisa e gentilmente com cuidado a<br />

removeu. O algodão caiu em uma aglomeração suave sobre seu colo e ao redor de seus quadris.<br />

Apesar que ela levava um sutiã, a modéstia arraigada nela desde seus primeiros anos no orfanato<br />

da igreja a fez levantar suas mãos para resguardar os seios de seus olhos.<br />

Mas ele não estava olhando de uma maneira sexual nesse momento. Toda sua atenção<br />

estava centrada sobre seu ombro agora mesmo. Era terno e cuidadoso, seus dedos exploravam


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

ligeiramente ao redor da zona. Ele seguiu a curva de seu ombro por cima e ao redor de onde a<br />

bala tinha abandonado sua carne.<br />

—Dói quando toco aqui?<br />

Mesmo que seu toque era apenas um contato que a passava roçando, a dor irradiava através<br />

dela. Ela fez uma careta, sugando para dentro seu fôlego.<br />

—Sinto muito. Há muito enrijecimento e inchaço ao redor da ferida de saída—, disse ele,<br />

com sua profunda voz que vibrou por seus ossos enquanto seu toque se movia ligeiramente sobre<br />

ela. —Isto não se vê muito bem, mas acredito que se o lavarmos com água por fora e…<br />

À medida que sua voz se apagava, ela sabia o que ele estava vendo agora. Não o aberto<br />

disparo de canhão da ferida, mas as outras duas marcas feitas de forma diferente na suave pele de<br />

suas costas. Ela sentia as marcas arder tão acesas como na noite em que tinham sido postas ali.<br />

—Inferno Santo. O fôlego de Nikolai saiu em um suspiro lento. —O que aconteceu? São<br />

marcas de queimaduras? Jesus… são marcas?<br />

Renata fechou seus olhos. Parte dela queria só encolher-se ali e desvanecer-se nos azulejos,<br />

mas ela se obrigou a permanecer quieta, sua coluna vertebral rigidamente erguida.<br />

—Elas não são nada.<br />

—Mentira. Ele ficou de pé diante dela e levantou seu queixo com a borda de sua mão. Ela<br />

deixou que seu olhar subisse até encontrar-se com o dele e fundir-se em seus agudos e pálidos<br />

olhos cheios de intensidade. Não havia nenhum rastro de compaixão nesses olhos, só uma fria<br />

indignação que a desconcertou. —Me conte. Quem fez isto, foi Yakut?<br />

Ela deu de ombros.<br />

—Só era uma de suas formas mais criativas de me recordar que não era uma boa idéia o<br />

incomodar.<br />

—Esse filho da puta—, disse Nikolai furioso. —Ele merecia sua iminente morte. Só por isso<br />

— por tudo que fez a você—, o bastardo maldito bem que mereceu. Renata piscou, surpreendida<br />

por ouvir tal fúria, tão feroz sentido protetor procedente dele. Particularmente quando Nikolai era<br />

um dos da Raça e ela era, como explicado bastante freqüentemente nos dois últimos anos,<br />

simplesmente uma humana. Vivendo somente porque era útil.<br />

—Você não se parece com ele absolutamente—, ela murmurou. —Pensei que seria, mas não<br />

se parece com ele, ou Lex ou os outros. Você é… eu não sei… diferente.<br />

—Diferente?— Embora a intensidade não tinha abandonado seus olhos, a boca de Nikolai se<br />

arqueou no canto. —É uma revelação ou simplesmente a febre falando?<br />

Ela sorriu apesar de seu estado de miséria geral.<br />

—Ambos, acredito eu.<br />

—Bem posso dirigir a ambos. Vamos te refrescar antes que comece a me lançar palavras<br />

com A.<br />

—Palavras com A?— perguntou ela, observando-o enquanto pegava com a mão a garrafa de<br />

sabonete líquido da pia e jorrava um pouco dentro da grande banheira.<br />

—Agradável—, disse ele, e lançou um olhar irônico sobre seu denso ombro.<br />

—Não se conformaria com agradável?


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Essa nunca foi uma de minhas especialidades.<br />

Seu sorriso se torceu e mais de uma pequena e encantadora covinha se formou onde<br />

aquelas bochechas se curvavam sobre ambos os lados. Olhando-o assim, não era difícil imaginar<br />

que era um macho de muitas especialidades, nem todas da variedade balas—e— adagas. Ela sabia<br />

de primeira mão que tinha uma boca muito agradável, muito boa. Por muito que quisesse negar,<br />

uma parte dela ainda ardia pelo beijo que se deram atrás da mansão, e o calor que ela sentia nada<br />

tinha a ver com sua febre.<br />

—Se dispa—, disse Nikolai, e por um podre segundo ela se perguntou se tinha sido capaz de<br />

ler seus pensamentos. Ele passou sua mão de trás para a frente sobre a água espumosa da<br />

banheira, e logo a sacudiu. —Está quase perfeita. Vamos, entre.<br />

Renata o observou pôr a garrafa de sabonete na parte traseira da pia, logo começou a<br />

procurar na gaveta abaixo da pia, do qual tirou uma esponja e uma grande toalha. Enquanto ele<br />

estava de costas para ela e distraído procurando os artigos de higiene como sabonete e xampu,<br />

Renata rapidamente tirou o sutiã e as calcinhas e entrou na banheira.<br />

A água fria era um deleite. Ela afundou com um suspiro, seu fatigado corpo<br />

instantaneamente se tranqüilizou. Enquanto ela cuidadosamente se acomodava dentro e se<br />

inundava até os peitos na espumosa banheira, Nikolai molhava a esponja sob a água fria da pia.<br />

Ele a dobrou e a pressionou brandamente contra sua testa.<br />

—Isto está bom?<br />

Ela assentiu com a cabeça, fechando os olhos enquanto ele sustentava a compressa em sua<br />

testa. O impulso de apoiar-se atrás na banheira era tentador, mas quando ela tentou a pressão em<br />

seu ombro a fez recuar, protestando de dor.<br />

—Por aqui—, disse Nicolai, pondo a palma de sua mão livre no centro de suas costas. —Só<br />

relaxe. Eu te sustentarei.<br />

Renata lentamente deixou que seu peso descansasse sobre sua mão forte. Ela não podia<br />

recordar a última vez que alguém tinha cuidado dela. Nenhuma como esta. Deus, houve alguma<br />

vez em todo este tempo? Seus olhos foram à deriva fechando em sinal de gratidão silenciosa. Com<br />

as mãos fortes de Nikolai em seu corpo cansado, uma desconhecida, completamente estranha<br />

sensação de segurança se estendeu sobre ela, tão reconfortante como uma manta.<br />

—Melhor?—ele perguntou.<br />

—Mm—hmm. É agradável—, disse ela, então abriu simplesmente uma fresta em um de seus<br />

olhos e ergueu o olhar para ele. —A palavra com A. Sinto.<br />

Ele grunhiu quando tirou a compressa fria de sua testa. Ele a olhava com uma seriedade que<br />

fez seu coração dar pequenos golpes em seu peito.<br />

—Quer me contar a respeito destas marcas em suas costas?<br />

—Não. A respiração de Renata se deteve com a idéia de expor mais dela do que já tinha<br />

feito. Ela não estava pronta para isso. Não com ele, nada semelhante disso. Era uma humilhação<br />

que ela mal podia suportar recordar, e muito menos pôr em palavras.<br />

Ele não disse nada para romper o silêncio que se estendeu sobre eles. Molhou a esponja<br />

dentro da água e atraiu um pouco da espuma para seu ombro bom. A frescura fluiu sobre ela,


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

arrepios circulavam através das curvas de seus seios e por seu braço. Nikolai lavou seu pescoço e<br />

seu ombro, continuando, cuidadosamente fez caminho para a ferida que se encontrava em seu<br />

lado esquerdo.<br />

—Está tudo bem?—— perguntou ele, com um pequeno tremor na voz.<br />

Renata assentiu com a cabeça, incapaz de falar quando seu toque era tão terno e bem vindo.<br />

Ela o deixou lavá-la, enquanto seu olhar foi à deriva sobre o formoso padrão de cores que havia<br />

em seu peito nu e braços. Seus dermaglifos não eram tão numerosos ou tão densamente<br />

complicados como tinham sido os de Yakut. As marcas da Raça do Nikolai eram uns engenhosos<br />

entrelaçar de redemoinhos e floreados e formas reluzentes que dançavam através de sua lisa pele<br />

cor de ouro.<br />

Curioso, e antes que ela se desse conta do que estava fazendo, Renata percorreu<br />

externamente um dos desenhos de arcos que se realçavam debaixo de seu volumoso bíceps. Ela<br />

escutou o leve inalar de sua respiração, a interrupção repentina de seus pulmões quando seus<br />

dedos brincaram ligeiramente por cima de sua pele, assim como o profundo estrondo de seu<br />

grunhido.<br />

Quando ele a olhou, suas pequenas sobrancelhas estavam elevadas sobre seus olhos. Suas<br />

pupilas reduzidas bruscamente, e a cor azul de sua íris começava a titilar com faíscas de cor<br />

âmbar. Renata retirou sua mão, com uma desculpa na ponta da língua. Ela não teve a<br />

oportunidade de dizer uma palavra.<br />

Movendo-se mais rápido do que poderia rastreá-lo, e com a graça suave de um predador,<br />

Nikolai fechou os poucos escassos centímetros que os separavam. No instante seguinte, sua boca<br />

se esfregava brandamente contra a sua. Seus lábios eram tão suaves, tão quentes e persuasivos.<br />

Tudo o que precisou foi um tentador deslizar de sua língua ao longo dos cantos de sua boca e<br />

Renata ansiosamente, com avidez, deixou-o entrar.<br />

Ela sentiu que um novo calor brotava à vida dentro dela, um pouco mais forte que a dor de<br />

sua ferida, que se converteu em uma insignificância sob o prazer do beijo de Nikolai. Ele elevou<br />

sua mão fora da água atrás dela e a embalou em um abraço cuidadoso, enquanto sua boca nunca<br />

abandonou a sua.<br />

Renata se fundiu com ele, muito cansada para considerar todas as razões pelas quais seria<br />

um engano permitir que isto fosse mais longe. Ela queria que isto seguisse – desejava tanto que<br />

estava tremendo. Ela não podia sentir nada, salvo as mãos fortes de Nikolai que a acariciavam, só<br />

escutava o martelar de seus próprios corações, os batimentos pesados emparelhando-se em um<br />

mesmo ritmo. Ela somente tinha provado o sabor de sua sedutora boca reclamando-a… e só sabia<br />

que desejava mais.<br />

Um golpe soou no exterior do apartamento da garagem.<br />

Nikolai grunhiu contra sua boca e se afastou.<br />

—Há alguém na porta.<br />

—Deve ser Jack—, disse Renata, sem fôlego, seu pulso ainda palpitante. —Verei o que ele<br />

quer.<br />

Ela tentou mudar de posição na banheira para sair e sentiu que seu ombro ardia de dor.


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Ao inferno que vai—, disse Nikolai, já ficando em pé. —Vai permanecer aqui. Eu me<br />

encarregarei de Jack.<br />

Nikolai era um macho grande para os padrões, mas se via enorme agora, seus claros olhos<br />

azuis chispavam com toques de brilhante âmbar e as marcas de seus dermaglifos em seus<br />

musculosos braços e torso estavam reanimados com cor. Pelo visto era grande também em outros<br />

lugares, um fato que apenas podia ocultar pelas pertinentes folgadas calças de nylon.<br />

Quando o golpe soou outra vez, ele amaldiçoou, com as pontas de suas presas brilhando.<br />

—Alguém, além de Jack sabe que estamos aqui?<br />

Renata negou com a cabeça.<br />

—Pedi que não dissesse nada a ninguém. Podemos confiar nele.<br />

—Suponho que é um bom momento para averiguar isso, né?<br />

—Nikolai—, ela disse enquanto ele pegava a camisa que ela tinha usado e encolhia os<br />

ombros dentro das mangas largas.<br />

—A propósito... Jack… ele é um bom homem. Um homem decente. Eu não quero que<br />

aconteça nada a ele.<br />

Ele sorriu com satisfação.<br />

—Não se preocupe. Vou tentar ser agradável.<br />

Capítulo 19<br />

—Agradável—, exalou Niko através de uma tensa careta. Se sentia tudo menos agradável<br />

enquanto fechava a porta do banheiro e caminhava para o quarto principal do apartamento.<br />

Estando a sós com Renata enquanto ela se sentava nua na banheira, tocando-a, beijando-a,<br />

pelo amor de Deus— tinha colocado todo seu sistema em sobrecarga. Mas estava tão torcido que<br />

sua feroz ereção era a menor de suas preocupações enquanto se aproximava da porta onde Jack<br />

estava golpeando de novo. Uma coisa era pretender que não havia um pau de barraca ereto em<br />

suas calças, outra era esperar que alguém não notasse que seus olhos estavam ardendo tão<br />

brilhantes como carvões queimando e que seus estendidos caninos poderiam envergonhar um<br />

rotweiller.<br />

Ao menos a folgada camiseta cobria seus glifos. Niko não tinha que ver seu corpo para saber<br />

que as marcas de sua pele estavam vivas e pulsando com as profundas cores da excitação.<br />

Terrivelmente duro seria tentar as fazer passar por tatuagens agora.<br />

Nikolai olhou à porta e se forçou a relaxar, se acalmar. Tinha que eliminar o fogo de sua íris,<br />

e a significativa luxúria que o roce de Renata tinha despertado nele. Se centrou em ralentizar seu<br />

pulso, uma luta atroz quando seu pênis ordenava a rega de seu sangue.<br />

—Olá?— disse arrastando a saudação para fora. Jack golpeou de novo, a sombra escura de<br />

sua cabeça movendo-se ao outro lado da cortina na janela da porta. Parecia consciente em manter<br />

sua voz a um nível discreto. —Renata, é você, céu? Está acordada?


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Merda. Não havia escolha exceto deixá-lo entrar. Nikolai grunhiu em voz baixa enquanto<br />

estirava o braço para puxar o ferrolho. Tinha assegurado a Renata que seria agradável com o<br />

homem, mas as coisas podiam mudar logo que abrisse a maldita porta. E se o humano emitia uma<br />

ligeira suspeita, ia encontrar-se na curta lista para uma lavagem de cérebro.<br />

Niko tirou a fechadura e girou o trinco da porta. Recuou do fio de luz que se vertia no<br />

interior pela abertura e se posicionou atrás da porta enquanto abria.<br />

—Renata? Posso entrar um minuto?— Umas botas de cowboy marrons avançaram sobre a<br />

soleira. —Pensei em te visitar esta manhã antes de estar ocupado na casa com os meninos.<br />

Quando o humano entrou vestindo Levi’s desgastados e uma camiseta de algodão branco,<br />

Nikolai abriu sua mão sobre a porta e a relaxou para selar o sol da manhã. Avaliou o homem mais<br />

velho com uma olhada, olhando a escarpada cara, os ardilosos olhos, e o estilo militar de sua<br />

roupa. Era um homem grande, um pouco suave na metade do corpo, um pouco arqueado ao<br />

redor dos joelhos, mas seus braços tatuados estavam bronzeados e ainda firmes com suficiente<br />

músculo para indicar que mesmo velho não temia o trabalho duro.<br />

—Deve ser Jack— disse Nikolai, cuidadoso ao falar de maneira que mantivesse suas presas<br />

ocultas atrás de seus lábios.<br />

—Correto. Um pequeno assentimento enquanto Niko era objeto de uma avaliação similar.<br />

—E você é o amigo da Renata… Ela, ah, não me disse seu nome ontem à noite.<br />

Aparentemente o brilho âmbar se foi das íris azuis de Niko, posto que duvidava que Jack<br />

fosse apertar sua mão nesse momento se o homem olhasse um par de olhos de outro mundo que<br />

arrojavam centelhas como um forno.<br />

—Sou Nick,— disse, aproximando-se o suficiente à verdade por agora. Apertou a mão<br />

brevemente do antigo soldado. —Obrigado por nos ajudar. Jack assentiu.<br />

—Tem melhor aspecto esta manhã, Nick. Me alegro de te ver levantado e em movimento. —<br />

Como está Renata?<br />

—Bem. Está no banheiro lavando-se.<br />

Não viu nenhuma razão para expor a infecção. Não tinha sentido preocupar o bem<br />

intencionado Jack a ponto de começar a falar sobre médicos ou viagem ao hospital. Embora<br />

apoiando-se no que Nikolai tinha visto da ferida de Renata, se seu processo de cura não<br />

conseguisse um sério impulso – e logo — não haveria alternativa exceto uma visita ao centro de<br />

urgências mais próximo.<br />

—Não quero perguntar como ela terminou com uma bala em seu ombro,— disse Jack,<br />

olhando de perto Nikolai. —Da forma em que estavam ambos ontem à noite, e o fato que tivesse<br />

que me desfazer de um caminhão roubado de provisões médicas, atreveria-me a dizer que seja<br />

qual for o problema está relacionado com drogas. Mas sei que Renata é mais inteligente que isso.<br />

Não acredito nem por um momento que ela se mesclasse em algo como drogas. Ela não quis me<br />

dizer nada, e prometi não pressioná-la. Sou um homem de palavra.<br />

Niko sustentou o olhar do ancião.<br />

—Estou seguro que ela aprecia isso. Ambos o fazemos.<br />

—Sim— disse Jack arrastando as palavras, seus duros olhos estreitando-se. —Mas tenho


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119<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

curiosidade sobre algo. Ela sumiu durante os últimos anos…teve algo a ver com isso?<br />

Não foi pronunciado como uma acusação aberta, mas era óbvio que o ancião tinha estado<br />

preocupado por Renata e também tinha sentido que sua longa ausência não tinha sido<br />

necessariamente boa para ela. Homem, se só soubesse o que tinha passado. A ferida de bala que<br />

tinha agora era só a cobertura do que tinha sido um bolo muito desagradável.<br />

Nikolai agitou sua cabeça.<br />

—Só conheço Renata há uns poucos dias, mas posso te dizer que tem razão quanto a que é<br />

muito inteligente para cair em problemas com drogas. Esse não é agora o tema, Jack. Mas ela está<br />

em perigo. A única razão pela que estou aqui é que ela arriscou seu pescoço para me tirar de um<br />

monte de problemas ontem.<br />

—Isso soa a Renata,— disse Jack, sua expressão perdida entre o orgulho e a preocupação.—<br />

Infelizmente, porque ela entrou para me ajudar, agora há um alvo em nossas costas.<br />

Jack grunhiu enquanto escutava, as enxutas sobrancelhas juntando-se.<br />

—Ela disse como nos conhecemos?<br />

—Alguma coisa— disse Niko. —Sei que confia em você e te respeita. Assumo que esteve<br />

aqui para ajudá-la uma ou duas vezes antes de agora.<br />

—Tentei, melhor dizendo. Renata nunca quis ajuda de mim ou de ninguém mais. Não para si<br />

mesma. Mas havia muitos outros meninos que ela trouxe para minha casa por ajuda. Ela não<br />

podia seguir vendo um menino sofrendo. Demônios, ela não era muito mais que uma menina na<br />

primeira vez que veio. Sempre guardava para si mesmo a maior parte, uma verdadeira solitária.<br />

Ela não tem família, já sabe.<br />

Nikolai agitou sua cabeça.<br />

—Não, não sabia disso.<br />

—As irmãs da Misericórdia Benevolente a criaram nos primeiros doze anos de sua vida. Sua<br />

mãe a abandonou no orfanato da igreja quando Renata era só um bebê. Ela nunca soube de seus<br />

pais. Quando Renata fez 15 anos, estava já sozinha, tendo deixado às monjas para viver nas ruas.<br />

Jack caminhou para um arquivo metálico que permanecia com algumas das outras coisas<br />

armazenadas no apartamento. Pegou um jogo de chaves do bolso de seu jeans e pôs uma delas na<br />

fechadura.<br />

—Sim senhor, Renata era uma áspera cliente, inclusive desde o começo. Magra, cautelosa,<br />

ela parecia alguém que apenas podia manter-se de pé numa forte brisa, mas essa garota tinha<br />

uma medula de aço. Não leva merda de ninguém.<br />

—Não mudou muito,— disse Nikolai, olhando o ancião abrir a gaveta do fundo. —Nunca<br />

conheci uma mulher como Renata.<br />

Jack olhou por cima dele e sorriu.<br />

—Ela é especial, correto. Teimosa também. Uns poucos meses antes da última vez que a vi,<br />

ela mostrava a cara cheia de hematomas. Aparentemente algum bêbado com quem cruzou na<br />

saída de um bar teve a idéia que queria um pouco de companhia durante a noite. Viu Renata e<br />

tentou levá-la para um passeio em seu carro. Ela lutou com ele, mas ganhou uns poucos socos<br />

antes que fosse capaz de afastar-se.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Nikolai amaldiçoou em voz baixa.<br />

—Filho da puta deveria ter sido estripado por colocar uma mão sobre uma mulher indefesa.<br />

—Isso foi o que pensei— disse Jack, mortalmente sério, o soldado protetor uma vez mais.<br />

Se relaxou agachado e retirou uma caixa de madeira polida do arquivo.<br />

—Ensinei uns passos básicos de autodefesa. Ofereci enviá-la a algumas aulas em minha<br />

bicicleta, mas é óbvio ela rechaçou. Umas poucas semanas se passaram e ela voltou de novo,<br />

ajudando outro menino sem lar. Disse que tinha algo para ela – um presente especial que eu havia<br />

feito para ela. Juro por Deus, se tivesse visto sua cara, pensaria que ela preferia disparar pelo<br />

caminho que ter que aceitar alguma amabilidade de alguém.<br />

Nikolai não tinha que se esforçar para imaginar esse olhar. O tinha visto uma vez ou duas<br />

desde que tinha conhecido Renata.<br />

—Qual foi seu presente para ela?<br />

O velho deu de ombros.<br />

—Não muito, realmente. Tinha um velho jogo de facas que recolhi no Nam. Levei-as ao<br />

artesão que trabalhava com metais e pedi para customizar as lâminas. Cada uma das quatro com<br />

parte da força que vi em Renata. Disse que eram as qualidades que a faziam única e resolveriam<br />

qualquer situação.<br />

—Fé, coragem, honra e sacrifício,— disse Nikolai, recordando as palavras que tinha visto nas<br />

facas que Renata parecia entesourar tanto.—Ela contou sobre as facas?<br />

Niko deu de ombros.<br />

—Eu a vi as usando. Significam muito para ela, Jack.<br />

—Não sabia,— respondeu. —Fiquei surpreso que ela as aceitasse de primeira, mas não<br />

pensei que seguisse as guardando depois de todo este tempo. Piscou rapidamente, depois se<br />

entreteve com a caixa que tinha tirado do arquivo. Abriu a tampa e Niko captou o brilho do escuro<br />

metal descansando dentro do estojo. Jack esclareceu sua garganta.<br />

—Escuta, como disse antes, não vou pressionar para que me dê detalhes de que estão<br />

envolvidos. Está suficientemente claro que está em um grande apuro. Pode ficar aqui tanto tempo<br />

como necessita, e quando estiver preparado para ir, sabe que não tem que ir daqui com as mãos<br />

vazias.<br />

Pôs a caixa aberta no chão na sua frente e deu um pequeno empurrão em direção a Nikolai.<br />

Dentro havia duas imaculadas pistolas semi automáticas e uma caixa de balas.<br />

—São tuas se quiser, não farei perguntas.<br />

Niko agarrou umas das duas 45 e a inspecionou com olho crítico. Era um bonito e bem<br />

cuidado Colt M1911. Provavelmente armas de uso militar de sua época de soldado no Vietnam.<br />

—Obrigado, Jack.<br />

O velho guerreiro humano deu um ligeiro assentimento.<br />

—Tome conta dela. Mantenha-a a salvo.<br />

Nikolai sustentou esse firme olhar.<br />

—Farei.<br />

—Está bem,— Jack murmurou. —Está bem, então.


Tiamat World<br />

121<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Enquanto começava a levantar-se, alguém gritou seu nome do caminho de entrada. Um<br />

segundo mais tarde, ouviam-se pisadas nas escadas de madeira ao apartamento da garagem.<br />

Niko lançou ao Jack um afiado olhar.<br />

—Alguém sabe que estamos aqui?<br />

—Não. De todo modo, é só Curtis, um de meus meninos recentes. Está arrumando meu<br />

velho computador. Os malditos vírus atacaram de novo. Jack se dirigiu para a porta. —Acredita<br />

que estou procurando um disco rígido aqui dentro. Desfarei-me dele. Enquanto isso, se pensar em<br />

algo mais que possam precisar, só pede.<br />

—Tem um telefone?— perguntou Niko, colocando a pistola junto a sua companheira. Jack<br />

colocou a mão em seu bolso dianteiro e tirou um telefone móvel. Jogou para Nikolai.<br />

—Deve ter algumas horas de bateria. É seu.<br />

—Obrigado. —Virei mais tarde. Jack pegou o trinco da porta e Nikolai voltou para as<br />

sombras fora do reflexo da luz diurna enquanto fazia um esforço para ficar fora de vista do<br />

indesejado visitante que tinha chegado no alto das escadas. —Bem, estava enganado, Curtis. Olhei<br />

todos os lugares e não há nenhum disco em nenhuma das caixas daqui de cima.<br />

Niko viu a cabeça do outro humano tentando olhar pelo fio da porta enquanto Jack a<br />

fechava firmemente atrás dele. Houve uma multidão de passos enquanto Jack escoltava o outro<br />

humano longe.<br />

Uma vez que esteve seguro que se foram, Nikolai marcou um número de acesso remoto que<br />

era mantido pelos quartéis centrais da Ordem em Boston. Teclou no móvel do Jack um número e<br />

um código que o identificaria para Gideon, então esperaria que devolvesse a chamada.<br />

* * *<br />

O meio-dia em uma comunidade que albergava um grupo de vampiros era geralmente uma<br />

zona morta de inatividade, mas nenhum dos sete guerreiros reunidos na sala de armas dos<br />

quartéis centrais da Ordem pareceu notar o tempo, nem sequer os suficientemente bentos para<br />

ter suas encantadoras companheiras de Raça esquentando suas camas. Posto que se reagrupavam<br />

na comunidade antes do amanhecer, os guerreiros se mantiveram ocupados revisando as<br />

situações de missões atuais e marcando objetivos para a noite que se aproximava. Investigando os<br />

assuntos da Ordem durante horas e ao final não havia nada novo, mas desta vez não tinha havido<br />

nada das habituais conversas de bom humor ou brincadeiras sobre quem estava pegando as<br />

melhores missões.<br />

Agora, a uns quantos metros de distância, na zona usada para prática de tiro, um quinteto<br />

de pistolas estavam sendo disparadas uma atrás da outra, os olhos do outro lado trituravam<br />

minúsculos confetes. A sala de tiro da comunidade era usada mais por entretenimento que por<br />

necessidade, posto que todos os guerreiros matavam seus objetivos. Inclusive assim, nunca<br />

nenhum deles parava de provar aos outros e chutar traseiros só para manter as coisas vívidas.<br />

Não havia nada disso hoje. Só o firme corredor de todo esse ensurdecedor ruído. O ruído era<br />

estranhamente cômodo, só porque ajudava a mascarar o silêncio, e o fato que a comunidade


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

completa estava vibrando com um atual mal-estar. Durante as passadas trinta e seis horas, o<br />

comportamento tinha sido mais sóbrio, envolto no coletivo, se não talvez inexpressivo, terror.<br />

Um dos seus tinha desaparecido.<br />

Nikolai sempre tinha tendido a ser algo inconformista, mas não significava que o homem<br />

fosse de pouca confiança. Se dizia que ia fazer algo — ou estar em algum lugar — podia contar<br />

com ele para seguir adiante. Em qualquer momento, sem exceções.<br />

E agora, quando deveria ter voltado para Montreal fazia um dia e meio como tinha<br />

planejado, Niko estava apagado e fora de contato.<br />

Nada bom, pensou Lucan, sentindo que não estava sozinho nessa sensação enquanto olhava<br />

os outros guerreiros que também esperavam notícias de Nikolai e os aterrava o que pudesse ter<br />

acontecido.<br />

Como Gen um da Raça e fundador da Ordem na Idade Média, Lucan era o líder deste quadro<br />

de cavalheiros vampiros da era moderna. Sua palavra era lei nesta comunidade. Em tempos de<br />

crise – para melhor ou pior— era sua resposta que estabelecia a voz para os outros guerreiros.<br />

Estava bem condicionado a não mostrar preocupação ou dúvida, uma destreza que vinha<br />

naturalmente dessa parte que era virtualmente imortal, um poderoso predador que tinha<br />

caminhado por esta Terra durante novecentos anos.<br />

Mas a parte que era humana, a parte que tinha chegado a apreciar a vida mais por ter<br />

conhecido sua companheira de raça, Gabrielle há um verão—não podia pretender que a perda<br />

potencial de um soldado mais nesta guerra privada dentro da nação vampírica seria algo a não ser<br />

catastrófico. Sem falar do fato que os guerreiros da Ordem, os que tinham estado com ele desde o<br />

começo e os membros mais recentes que se uniram à luta no ultimo ano, tinham chegado a ser<br />

uma família para ele. Tanto tinha mudado nesse tempo. Agora havia várias mulheres vivendo na<br />

comunidade também, e para um dos guerreiros e sua companheira— Dante e Tess— um bebê à<br />

caminho.<br />

As apostas eram mais altas que qualquer outra da Ordem agora, um demônio derrotado só<br />

para ver outro, inclusive mais poderoso, elevar-se em seu lugar. Em só um ano, a principal missão<br />

dos guerreiros tinha sido caçar um Rogue num esforço para manter a paz, perseguir um perigoso<br />

inimigo que tinha estado ocultando-se a plena vista por muitas longas décadas. Um inimigo que<br />

tinha estado pacientemente construindo sua estratégia enquanto ocultava um segredo mortal e<br />

esperava a oportunidade de levá-lo a cabo. Se tivesse êxito, não estariam só as populações da raça<br />

em perigo, mas toda a humanidade também.<br />

Não custou muito a Lucan recordar a selvageria dos Velhos Tempos, quando a noite estava<br />

dominada por um monte de criaturas sedentas de outro mundo, criaturas que tratavam em ampla<br />

escala de terror e morte. Alimentavam-se como bestas e causavam destruição como os<br />

malfeitores mais letais. Lucan havia feito de sua vida a missão de erradicar as bestas, inclusive<br />

significasse caçar ao antigo que era seu próprio pai.<br />

A Ordem tinha declarado a guerra, havia brandido espadas e batalhado para exterminar a<br />

todos…ou isso acreditavam. A idéia que alguém tivesse sobrevivido pôs um profundo frio nos<br />

imortais ossos de Lucan.


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Olhou os guerreiros que serviam junto a ele e não pôde evitar sentir algo de sua idade. Não<br />

pôde evitar sentir que tinham tido uma prova no ano passado— possivelmente sua primeira e<br />

verdadeira prova da formação da Ordem— e o pior estava por vir.<br />

Perdido em escuros pensamentos enquanto perambulava pela parte traseira da sala de<br />

armas, Lucan não se deu conta que as portas da zona de treinamento estavam abrindo-se até que<br />

Gideon as atravessou a toda pressa. O Chucks 13 do vampiro loiro deslizou sobre o mármore branco<br />

até parar em frente a Lucan.<br />

—As costas de Nick estão cobertas — anunciou, visivelmente aliviado. —Seu cartão de<br />

identidade veio de um telefone móvel com um intercâmbio de Montreal.<br />

—Já era a tempo— disse Lucan, a má resposta não enganava ninguém de sua preocupação.<br />

—Tem-no na linha?<br />

Gideon assentiu.<br />

—Está oculto no laboratório tecnológico. Pensei que queria falar com ele pessoalmente.<br />

—Fez o correto.<br />

O disparo na linha veio com uma abrupta detenção enquanto um dos outros guerreiros, o<br />

outro único membro Gen Um da Ordem, Tegan, corria de volta e entregava as notícias do contato<br />

de Niko aos cinco homens que disparavam em seus objetivos. Os guerreiros na linha — Dante e<br />

Rio, membros há muito tempo; Chase, que tinha deixado a agência da lei para unir-se à Ordem<br />

naquele verão; e os dois recrutas mais recentes, Kade e Brock, ambos trazidos pelo Niko —<br />

puseram abaixo suas armas e avançaram atrás de Tegan, todos num nó de músculos e severo<br />

objetivo.<br />

Rio, um dos guerreiros que era mais desagradável com Nikolai, foi o primeiro a falar. Sua<br />

cara cicatrizada estava cheia de preocupação.<br />

—O que aconteceu?<br />

—Só me deu a versão do Reader’s Digest 14 — disse Gideon. —Mas é algo fodido, começando<br />

com o assassinato de Sergei Yakut há duas noites.<br />

—Maldito seja— murmurou Brock, arrastando seus escuros dedos por seu estilizado cabelo<br />

negro.<br />

—Esta onda de assassinatos de Gen Um nos está saindo das mãos.<br />

—Bom,-acrescentou Gideon, —Isso não é exatamente o pior. Niko foi detido pelo<br />

assassinato e levado às Instalações da agência de Imposição.<br />

—Ah, merda— respondeu Kade, seus pálidos olhos chapeados estreitando-se. —Não supõe<br />

que ele…<br />

—De maneira nenhuma— disse Dante sem duvidar um segundo. —Duvido que derramasse<br />

uma só lágrima por uma escória como Yakut, mas Nikolai não tomaria parte em sua morte.<br />

13 Marca de sapato estilo all star.<br />

14 O conceito básico da revista foi desde sempre o de contar histórias que emocionam, abordando importantes<br />

assuntos do dia-a-dia e inspirando uma vida melhor. Informações atuais e grandes idéias fazem hoje a excelência da<br />

Revista Seleções, embora o seu publico alvo sejam os militares de diversos países aliados, possui também outros<br />

produtos editoriais e de entretenimento publicados e vendidos pela empresa aos seus assinantes de todo o mundo:<br />

livros, coleções de música e de vídeo.


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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Gideon agitou sua cabeça.<br />

—Não. E não foi trabalho de um assassino, tampouco. Niko diz que o próprio filho de Yakut<br />

trouxe um Renegado para matar seu pai. Infelizmente para Nikolai, o filho de Yakut tem algum<br />

tipo de aliança com a agência da lei. Eles arrastaram Niko e o jogaram dentro de uma sala de<br />

contenção.<br />

—Que porra?— Desta vez era Sterling Chase quem falava. Sendo um antigo agente ele<br />

mesmo, era tão ciente quanto qualquer dos guerreiros na sala de quão desagradável uma visita a<br />

essa Agência com Renegados metidos em tanques podia ser.<br />

—Posto que estava o suficientemente consciente para telefonar, assumo que não está mais<br />

sendo retido ali.<br />

—Escapou de algum jeito,— disse Gideon, —mas não tenho todos os detalhes ainda. Posso<br />

dizer que há uma mulher implicada, uma companheira de raça que era membro da casa de Yakut.<br />

Ela está com Niko agora.<br />

Lucan não comentou essa problemática informação de última hora, embora sua sombria<br />

expressão provavelmente dizia tudo.<br />

—Onde estão?<br />

—Em alguma parte da cidade— respondeu Gideon. —Niko não está seguro da localização<br />

exata, mas diz que estão seguros por agora. Estão preparados para a verdadeira patada?<br />

Lucan arqueou uma sobrancelha.<br />

—Pelo amor de Deu. Há mais?<br />

—Temo que sim. O tipo que lançou o traseiro de Niko na sala de contenção e pessoalmente<br />

fiscalizou sua tortura? Aparentemente durante um de seus momentos mais faladores, o filho da<br />

puta admitiu uma conexão com Dragos.<br />

Capítulo 20<br />

Nikolai estava no meio de uma conversa no celular quando Renata saiu do banheiro de seu<br />

longo e muito necessitado banho. Ela evidentemente dormiu na banheira em algum ponto porque<br />

a última coisa que recordava era escutar a voz de Jack na garagem do apartamento depois que<br />

Nikolai tinha saído para conhecê-lo, e não havia nenhum sinal dele agora. Deteve-se dentro do<br />

quarto, com o cabelo úmido nas pontas e grudando em seu pescoço, seu corpo envolto em uma<br />

toalha que Nikolai tinha dado.<br />

Estava aturdida e dolorida, ainda muito quente, mas o banho com água fria tinha sido o que<br />

necessitava. O beijo de Nikolai tampouco tinha estado nada mal.<br />

Falando baixo, em um tom confidencial, olhou-a de onde estava sentado a cavalo em uma<br />

cadeira dobradiça, perto de uma mesa de jogo no centro da sala, seus olhos azul claro fazendo<br />

uma rápida, mas completa exploração da cabeça aos pés de seu corpo. Havia um calor<br />

inconfundível nesse breve olhar, mas ele era todo negócios ao telefone com o que só podia


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

assumir que era a Ordem em Boston. Renata escutava como oferecia uma recontagem eficiente<br />

da circunstância do assassinato de Yakut, e a clara aliança de Lex com Fabien, o desaparecimento<br />

de Mira, e a contida facilidade de escapamento que tinham levado Nikolai e Renata ao refúgio de<br />

Jack temporiaramente.<br />

Pelo som deste, o macho do outro lado da linha— Lucan, ela escutou Nikolai chamá-lo<br />

assim— estava preocupado por sua segurança e alegre que ambos estivessem inteiros, também<br />

não tão contente que estivessem completamente a mercê de um humano. Nem dizer que Lucan<br />

estivesse entusiasmado pelo fato que Nikolai estava falando em ajudar Renata a localizar Mira. Ela<br />

podia escutar a voz profunda ao final da outra linha grunhindo sobre —problemas de<br />

companheiras de raça— e objetivos da missão atual— como se fossem mutuamente exclusivos.<br />

A maldição como resposta quando Nikolai acrescentou que Renata estava se curando de<br />

uma ferida de bala era audível através de todo o quarto.<br />

—Ela é forte,— disse, olhando para ela agora, — mas levou um forte golpe em seu ombro e<br />

não se vê muito bem. Seria boa idéia que alguém nos recolhesse, e tomasse Renata sob o amparo<br />

da Ordem até que tudo se acalme aqui.<br />

Renata olhava com desaprovação e deu uma sacudida de sua cabeça. Grande engano.<br />

Inclusive esse pequeno gesto fez que sua visão nadasse, e foi só o que pode fazer antes de cair<br />

sobre a cama quando suas pernas faltaram debaixo dela. Deixou-se cair sobre o colchão, lutando<br />

contra um círculo vicioso de ondas de calor e frio.<br />

Tentou ocultar sua miséria de Nikolai, mas o olhar que lhe deu disse que não pretendia que<br />

continuasse em mal estado.<br />

—Gideon ainda não tem nada de Fabien?— perguntou, levantando-se para passear pelo<br />

quarto. Escutou por um minuto, depois exalou um suspiro. —Merda. Não posso dizer que me<br />

surpreende. Emprestava a político. Assim tive a sensação que o bode estava bem conectado. Que<br />

mais temos?<br />

Renata conteve a respiração no silêncio que se estendeu. Podia ver que as notícias do outro<br />

da linha não eram boas.<br />

Nikolai deixou escapar um profundo suspiro e passou a mão pelo cabelo.<br />

—Quanto tempo acredita que Gideon demorará para indagar nos arquivos protegidos e<br />

obter seu endereço? Merda, Lucan, não estou seguro que deveríamos esperar tanto tempo, tendo<br />

em conta... Sim, ouço. Talvez, enquanto Gideon hackeia isso farei uma visita a Alexei Yakut.<br />

Poderia apostar meu ovo esquerdo que Lex sabe onde encontrar Fabien. Diabos, não me cabe<br />

dúvida que Lex esteve aí uma vez ou duas. Estaria encantado de tirar a informação, depois<br />

enfrentarei Fabien pessoalmente.<br />

Nikolai escutou por um momento antes de grunhir uma maldição em voz baixa.<br />

—Sim, claro, eu sei… por muito que queira fazer pagar a esse filho da puta, tem razão. Não<br />

podemos nos arriscar a assustar Fabien antes de ter uma sólida vantagem sobre seus vínculos com<br />

Dragos.<br />

Renata olhou a tempo para perceber o olhar sombrio de Nikolai. Ela esperou que<br />

acrescentasse que nada era mais importante que garantir a segurança de Mira e rastrear o


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

vampiro que a retinha. Ela esperou, mas essas palavras nunca deixaram seus lábios.<br />

—Sim!,— murmurou. —Me chame quando souber de algo. Vou sair esta noite e fazer um<br />

pouco de reconstrução deste lado também. Verei se consigo algo útil. Estarei em contato.<br />

Terminou a chamada e deixou o celular na mesa de cartas. Renata o olhou enquanto se<br />

aproximava da cama e se agachava na frente dela.<br />

—Como se sente?<br />

Estendeu sua mão como se fosse checar seu ombro, talvez simplesmente acariciá-la, mas<br />

Renata se separou dele. Não podia sentar-se ali e atuar como se estivesse só um pouco<br />

confundida e molesta neste momento. Traída, inclusive, ridícula ao ter pensado que pudesse<br />

contar com ele em primeiro lugar.<br />

—Ajudou a água fria a baixar à febre?— perguntou, com o cenho franzido. —Ainda está<br />

pálida e tremente. Aqui, me deixe dar uma olhada.<br />

—Não necessito sua preocupação,— deixou sair. —E não necessito sua ajuda tampouco. Se<br />

esqueça que a pedi. Só… esquece tudo. Eu não gostaria que meus problemas interferissem com<br />

nenhum dos objetivos de sua atual missão.<br />

Seu cenho franzido se aprofundou.<br />

—Do que está falando?<br />

—Tenho minhas prioridades, e você claramente tem as suas. Soou como se seu<br />

companheiro Lucan tivesse a última palavra.<br />

—Lucan é um de meus irmãos de armas. Além disso é o líder da Ordem, assim sim, ganhou<br />

o direito de ter a última palavra quando se trata de assuntos da Ordem. Nikolai ficou de pé,<br />

cruzando os braços sobre seu peito. —Algo grande está por vir, Renata. O assassinato de Yakut foi<br />

somente uma pequena parte disso, e não foi o primeiro. Houve vários assassinatos de Gen Um<br />

que tiveram lugar nos Estados Unidos e no estrangeiro. Alguém esteve matando os mais velhos<br />

em silêncio, os membros mais poderosos da Raça.<br />

—Para que?— Olhou-o, curiosa contra sua vontade.<br />

—Não estamos seguros. Entretanto, acreditam que tudo se relaciona a um só indivíduo, a<br />

um muito perigoso segunda-geração macho da raça chamado Dragos. A Ordem o tirou de seu<br />

esconderijo faz umas semanas, mas conseguiu fugir de nós. Agora está escondido outra vez. O<br />

filho da puta esteve mentindo sob nossos narizes. Algo que descubramos e que nos aproxime dele<br />

é importante. Tem que ser detido.<br />

—Sergei Yakut matou dúzias de seres humanos só por esporte,— Renata assinalou. —Por<br />

que você ou o resto da Ordem não o pararam?<br />

—Até recentemente, nós não sabíamos onde encontrá-lo, muito menos sabíamos de suas<br />

atividades extracurriculares. Inclusive se tivéssemos sabido, era um Gen Um, e por muito que o<br />

odiemos, a Ordem não teria sido capaz de detê-lo por um monte de merda burocrática em nosso<br />

caminho.<br />

Os pensamentos de Renata se obscureceram, voltando para o tempo que tinha vivido sob o<br />

controle de Yakut.<br />

—Havia vezes em que Yakut bebia de mim... quando me usava por meu sangue, via algo


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

monstruoso nele. Quero dizer, o que era— o que são todos os de sua espécie. Mas de vez em<br />

quando, via em seus olhos e juro que não havia humanidade nele. Tudo o que podia ver em seu<br />

olhar era algo verdadeiramente malvado.<br />

—Era Gen Um,— Nikolai disse como se isso explicasse. —Só metade de seus gens são<br />

humanos. A outra metade são algo… mais.<br />

—Vampiro,— murmurou ela.<br />

—De outro mundo,— disse Nikolai corrigindo.<br />

Olhou-a enquanto o dizia e Renata teve o brusco impulso de rir. Mas ela não podia, não<br />

quando sua expressão era tão grave.<br />

—Lex gosta de gabar-se que ele é filho de um rei conquistador de outro mundo. Sempre<br />

supus que era merda. Está-me dizendo que o que disse é realmente certo?<br />

Nikolai zombou.<br />

—Um conquistador, sim, mas um rei, não. Os oito anciões que chegaram faz milhares de<br />

anos e pais de filhos com mulheres humanas eram selvagens sedentos de sangue, violadores…<br />

criaturas mortais que dizimavam cidades inteiras. A maioria deles foram eliminados pela Ordem<br />

na Idade Média. Lucan conduziu a missão contra eles depois que sua mãe foi assassinada pela<br />

criatura que o engendrou.<br />

Renata só escutava agora, muito surpreendida para fazer todas as perguntas que formavam<br />

redemoinhos em sua cabeça.<br />

—Como resultado,— Nikolai acrescentou, —um dos anciões sobreviveu à guerra da Ordem<br />

contra eles. Foi escondido por um de seus filhos— um vampiro Gen Um chamado Dragos. Temos<br />

boas razões para acreditar que o Ancião segue vivo hoje e que o último filho sobrevivente de<br />

Dragos, seu xará e o bastardo que tentamos deter, só esta esperando uma oportunidade para<br />

liberá-lo no mundo.<br />

—Faz dois anos estava segura que os vampiros não existiam realmente. Sergei Yakut me fez<br />

mudar de opinião. Me demonstrou que não só existem vampiros, mas sim são mais temíveis e<br />

perigosos que qualquer coisa que eu tivesse visto em livros ou filmes. Agora está me dizendo que<br />

há ainda algo pior que ele ali fora?<br />

—Não estou tentando te assustar, Renata. Só acredito que deveria saber dos fatos. Todos<br />

eles, estou confiando em você com isso.<br />

—Por que?<br />

—Porque quero que entenda,— disse as palavras muito gentil.<br />

Como se estivesse se desculpando com ela de alguma forma.<br />

Renata levantou o queixo, uma frieza parecia ter-se estabelecido em seu peito. —Quer que<br />

entenda… o que? Que a vida de uma menina desaparecida não significa nada em comparação a<br />

isto?<br />

Amaldiçoou entredentes.<br />

—Não, Renata.<br />

—Está bem. Agora entendo, Nikolai. Não podia manter a amargura de sua voz, nem sequer<br />

quando estava lutando por absorver todas as coisas surpreendentes que acabava de ouvir. —Ei,


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

não é grande coisa. Depois de tudo, nunca esteve de acordo comigo em nada e estou acostumada<br />

a ser defraudada. A vida fede, verdade? É bom saber onde estamos ambos antes de deixar as<br />

coisas irem mais longe.<br />

—O que está acontecendo aqui, Renata?— Olhou para ela, com um olhar muito penetrante,<br />

como se pudesse ver através dela. —É realmente sobre Mira? Ou está incomodada pelo que<br />

aconteceu entre nós?<br />

Nós. A palavra cravada em seu cérebro como um objeto estranho. Sentia-se tão<br />

desconhecido, tão perigoso. Muito íntimo. Nunca tinha havido um —nós— para Renata. Sempre<br />

tinha dependido somente dela, sem pedir nada a ninguém. Era mais seguro dessa forma. Mais<br />

seguro agora também.<br />

Tinha quebrado sua própria regra quando foi atrás de Nikolai para pedir ajuda e procurar<br />

Mira. Olhe ao que a tinha levado: uma ferida de bala infectada, tempo crucial perdido, e nem um<br />

passo perto de encontrar Mira. De fato, agora com sua cumplicidade na fuga de Nikolai da<br />

custódia de Fabien, ela ficou com muito poucas esperanças de aproximar-se dos vampiros que a<br />

tinham. Se Mira estava em perigo antes, Renata talvez houvesse feito as coisas piores para a<br />

menina.<br />

—Tenho que sair daqui,— disse inexpressiva. —Já perdi muito tempo. Não poderia suportar<br />

se algo acontecesse com essa menina por minha culpa.<br />

Preocupação e frustração a fizeram levantar-se da cama. Ficou de pé— muito rápido.<br />

Antes que pudesse se afastar dois passos de Nikolai, seus joelhos dobraram. Sua visão se<br />

obscureceu por um segundo e de repente estava caindo para a frente. Sentiu uns braços fortes a<br />

sustentando, a voz tranqüila de Nikolai junto ao seu ouvido enquanto a agarrava e a levantava<br />

sobre a cama.<br />

—Deixa de lutar, Renata,— disse ele, enquanto saía de sua debilidade e piscava. Posicionado<br />

sobre ela, percorreu com a ponta de seus dedos o lado de seu rosto. Tão terno, relaxado. —Não<br />

precisa correr. Não precisa brigar… não comigo. Está a salvo comigo, Renata.<br />

Queria fechar seus olhos e guardar suas gentis palavras. Estava tão assustada para acreditar,<br />

para confiar. E se sentia tão culpada por aceitar sua comodidade sabendo que uma menina<br />

poderia estar sofrendo, provavelmente chorando por ela na escuridão e perguntando-se por que<br />

Renata tinha quebrado sua promessa.<br />

—Mira é tudo que me importa,— sussurrou. —Preciso saber que está a salvo, e que sempre<br />

estará.<br />

Nikolai deu um assentimento solene.<br />

—Sei o muito que ela significa para você. E sei o quanto é difícil para você pedir ajuda a<br />

alguém. Jesus Cristo, Renata... conscientemente arriscou sua vida para me tirar da instalação de<br />

encarceramento. Nunca serei capaz de pagar o que fez.<br />

Voltou a cabeça sobre o travesseiro, incapaz de suportar seu penetrante olhar.<br />

—Não se preocupe, não está obrigado a nada comigo. Não me deve nada, Nikolai.<br />

Dedos quentes deslizaram ao longo de sua mandíbula. Tomou seu queixo na palma de sua<br />

mão e gentilmente guiou seu rosto de novo para ele.


Tiamat World<br />

129<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Devo minha vida. De onde venho, isso não é uma coisa pequena.<br />

A respiração de Renata se deteve enquanto o olhava nos olhos. Odiava-se pela esperança<br />

que acendia seu coração, a esperança que ela não estava realmente só neste momento. Esperança<br />

que este guerreiro lhe asseguraria que tudo sairia bem, e que não importava que monstro tivesse<br />

Mira, encontrariam-na, e que ela estaria bem.<br />

—Não deixarei que aconteça nada a Mira,— disse, forçando-a a sustentar seu olhar. —Tem<br />

minha palavra nisso. Não vou deixar que nada aconteça com você tampouco, pelo que vou buscar<br />

ajuda médica assim que escureça.<br />

—O que?— Ela tentou levantar e fez uma careta pela pontada de dor. —Ficarei bem. Não<br />

necessito um médico.<br />

—Não está bem, Renata. Fica pior a cada hora. Sua expressão era grave enquanto via a<br />

ferida aguda em seu ombro e voltava a seus olhos. —Não pode continuar assim.<br />

—Sobreviverei,— insistiu. —Não me darei por vencida agora, quando a vida de Mira está em<br />

jogo.<br />

—Sua vida também está em jogo. Entende?— Sacudiu sua cabeça e murmurou algo escuro e<br />

desagradável baixo. —Poderia morrer se essa ferida não for tratada. Não deixarei que isso<br />

aconteça, isso significa que tem um encontro com a sala de emergência mais próxima esta noite.<br />

—O que tem o sangue?— Ela viu como cada músculo no corpo de Nikolai se esticava no<br />

momento em que as palavras deixaram seus lábios.<br />

—Que tem isso?— perguntou, sua voz neutra, ilegível.<br />

—Perguntou-me se alguma vez tinha tomado o sangue de Sergei. Estaria sanada agora se o<br />

tivesse feito.<br />

Levantou os ombros num gesto vago, mas a tensão em seu grande corpo permanecia.<br />

Quando levantou seu olhar para ela, havia brilhos de fogo âmbar no azul invernal de sua íris. Suas<br />

pupilas se estreitaram quando ele a olhou.<br />

—Estaria curada agora se tivesse me dado seu sangue, Nikolai?<br />

—Está pedindo isso?<br />

—Se estivesse, me daria?<br />

Ele exalou entrecortadamente, e quando seus lábios se separaram para tomar outro fôlego,<br />

Renata viu as pontas afiadas de suas presas.<br />

—Não é uma pergunta simples como talvez pense,— replicou, um tom áspero em sua voz.<br />

—Estaria ligada a mim. Da mesma maneira que Yakut estava ligado a você através de seu sangue,<br />

estará ligada a mim. Me sentirá em seu sangue. Será consciente de mim sempre, e não pode ser<br />

desfeito, Renata – mesmo se beber da veia de outro macho da Raça. Nossos laços estarão acima<br />

de qualquer outro. Não pode ser destruído, não até que um dos dois esteja morto.<br />

Isto não era uma coisa pequena; ela entendia isso. Diabos, ela dificilmente acreditava que<br />

pudesse estar considerando tudo isso. Mas muito dentro, louca como pudesse estar, confiava em<br />

Nikolai. E realmente não importava o custo para ela.<br />

—Se fizermos isto, serei capaz de sair caminhado esta noite e procurar Mira?<br />

Sua mandíbula se apertou o suficiente para que um músculo de sua bochecha ficasse tirante.


Tiamat World<br />

130<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

A olhou, seus rasgos mais selvagens no momento. Pouco a pouco, o azul de seus olhos foi envolto<br />

pelo resplendor do fogo.<br />

Quando parecia que não ia responder, Renata estendeu sua mão e a pôs firmemente sobre<br />

seu braço.<br />

—Seu sangue me curaria, Nikolai?<br />

—Sim,— disse ele , a palavra saiu presa em sua garganta.<br />

—Então quero fazê-lo.<br />

Enquanto sustentava seu olhar em um silêncio intenso, pensou em todas as vezes que Sergei<br />

Yakut se alimentou de suas veias, tão degradada e usada se sentia… se revolvia pela idéia que<br />

tinha alimentado alguém tão cruel, um ser monstruoso. Nunca tinha considerado tomar alguma<br />

parte para dentro dela, nem sequer quando se tratou de sua própria sobrevivência. Isso teria<br />

matado uma parte de sua alma ao pôr por sua vontade sua boca no corpo de Yakut. Para beber<br />

dele? Nem sequer estava segura que seu amor por Mira pudesse superar algo tão vil como isso.<br />

Mas Nikolai não era um monstro. Era honorável e justo. Era terno e protetor, um homem<br />

que se sentia mais e mais um companheiro para ela nesta viagem incerta. Era seu melhor aliado<br />

agora mesmo. Sua maior esperança para recuperar Mira.<br />

E mais profundamente ainda, em um lugar como toda mulher com necessidades e desejos<br />

que ela não se atrevia a examinar muito de perto, desejava saborear Nikolai. Desejava-o mais do<br />

que tinha direito.<br />

—Está segura, Renata?<br />

—Se me der seu sangue, então sim,— disse. —Quero tomá-lo.<br />

Um longo silêncio se seguiu, então Nikolai voltou-se para ela na cama. Ela viu como<br />

desabotoava a grande camisa, esperando por ela com incerteza— sua apreensão piorando. Isso<br />

não passou. Enquanto Nikolai tirava a camisa e se sentava diante dela— com o torso nu, seus<br />

dermoglifos pulsando, cada arco e curva saturados com variedade de sombras em cores vermelha<br />

escura, não se sentia preocupada. Quando se arrastou para ela e levou seu braço direito a sua<br />

boca, mostrando as enormes presas, então os afundou em seu pulso, não sentia nem sequer um<br />

pouco de temor.<br />

E quando, nesse momento, pôs seus pontos sangrentos junto aos seus lábios e disse que<br />

bebesse, não tinha nenhuma inclinação por rechaçá-lo.<br />

A primeira prova do sangue de Nikolai em sua língua foi um choque.<br />

Ela esperava ser arrastada pelo amargo sabor cobre, mas em seu lugar provou especiarias e<br />

um poder que se pulverizou através dela como eletricidade líquida. Podia sentir seu sangue<br />

descendo por sua garganta, por cada fibra de seu corpo. Luz se filtrava em seus membros por<br />

dentro, e a dor de seu ombro ferido se reduziu enquanto obtinha mais de Nikolai sanando suas<br />

forças por dentro.<br />

—Isso,— ele murmurou, seus dedos acariciando seu cabelo úmido tirando-o de sua<br />

bochecha. —Ah, Cristo, isso, Renata… bebe até que sinta que é suficiente.<br />

Sugou forte e comprido de sua veia, com um instinto que nunca soube que tinha. Sentia-se<br />

bem ao beber de Nikolai assim. Sentia-se mais que bem… se sentia incrível. Quanto mais tirava


Tiamat World<br />

131<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

dele, mais viva se sentia. Cada terminação nervosa piscou como se um interruptor tivesse sido<br />

posto em seu centro.<br />

E enquanto continuava acariciando-a, alimentando-a e sanando-a, Renata começou a sentir<br />

uma nova sensação de calor crescendo rapidamente em seu interior. Gemeu, arrastada por uma<br />

onda de lava fundida que atravessava sobre ela. Retorcia-se, e sabia sem nenhum engano que isto<br />

era… desejo. Um desejo que tinha tentado negar desde que conheceu Nikolai, e que agora<br />

aumentava querendo consumi-la.<br />

Não podia resistir para sugar mais forte.<br />

Necessitava mais dele.<br />

Necessitava tudo dele, e necessitava agora.<br />

Capítulo 21<br />

Nikolai se apoiou sobre a beira da cama, pondo sua mão livre sobre a coberta e mantendo-a<br />

ali como uma linha atada enquanto Renata continuava alimentando-se.<br />

Ela bebeu dele como todo o resto: com intrépida força e feroz convenção. Sem nenhuma<br />

ansiedade próxima em seus olhos verdes-claros, nem incerteza em seu firme aperto em seu braço.<br />

E cada puxão de sua boca em sua veia aberta, cada sugada de sua língua através de sua pele,<br />

forçando-o a algo mais que alguma vez tenha sentido antes.<br />

De todas as coisas que pôs em sua mente, Renata era uma força a ter em conta. Ela era<br />

diferente de qualquer mulher que Niko tivesse conhecido — em muitos sentidos uma guerreira<br />

como qualquer macho de Raça que tinham servido junto a ele na Ordem. Ela tinha o coração de<br />

um guerreiro e a honra de um guerreiro, e uma determinação inquebrável que exigia seu total<br />

respeito. Renata havia salvo sua vida, e por isso lhe devia. Mas inferno santo… o que estava<br />

passando entre eles aqui não tinha nada a ver com o dever ou obrigação.<br />

Estava começando a preocupar-se por ela – mais do que queria admitir, inclusive a si<br />

mesmo.<br />

A queria também. Cristo, era totalmente certo, sua necessidade se fez até pior pela erótica<br />

sucção de sua boca enquanto permanecia em sua veia, seu esbelto corpo ondulando-se em reação<br />

ardente ao seu sangue de outro mundo, alimentando suas células inexperientes.<br />

Renata gemeu, um ronrono profundo de excitação enquanto se movia mais perto dele no<br />

colchão, cada movimento de roce de seu corpo afrouxava a toalha que a cobria. Ela não parecia<br />

notá-lo, ou preocupar-se absolutamente por que o olhar âmbar de Nikolai estava viajando<br />

detalhadamente pela quase nudez dela. Sua ferida no ombro se via muito melhor já. O inchaço e o<br />

enrijecimento se desvaneciam, e a cor muito mais pálida que o resto de sua pele parecia mais<br />

saudável por minuto. Renata estava cada vez mais forte, mais vibrante e exigente, uma febre<br />

sendo substituída por outra.<br />

Provavelmente deveria haver dito que além de sua nutrição e propriedades curativas, o


Tiamat World<br />

132<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

sangue de Raça era também um potente afrodisíaco. Supôs que poderia dirigir algo que pudesse<br />

passar, mas maldição… nada poderia havê-lo preparado para a resposta ardente de Renata.<br />

Avançando lentamente contra ele agora, ainda sugando, se aproximou com uma mão e<br />

liberou seu punho apertado na enredada coberta. Dirigiu seus dedos por baixo das dobras da<br />

toalha de banho para seus seios. Não podia resistir a passar a ponta de seus dedos sobre um dos<br />

firmes mamilos, e logo o outro. Sua respiração se acelerou enquanto acariciava sua calorosa e<br />

tenra pele, a forte vibração do batimento de seu coração contra sua mão enquanto<br />

impacientemente ela o dirigia a baixar… sobre o suave plano de seu abdômen à sedosa junta de<br />

suas coxas.<br />

Ela estava encharcada e quente, a fenda de seu sexo como cetim, e molhado enquanto<br />

deslizava um dedo dentro de seu centro. Ela apertou suas pernas ao seu redor, mantendo-o ali<br />

como se ele tivesse algum pensamento de sair. Tomou outra sucção de seu pulso, o puxão tão<br />

profundo que ele sentiu todo o caminho até seu saco. Apertando seus olhos até fechá-los, deixou<br />

cair sua cabeça para trás e soltou um lento e mudo gemido, os tendões em seu pescoço se<br />

esticaram como cabos. Seu membro estava como uma rocha e pedindo atenção entre suas pernas.<br />

Outro minuto desta tortura e ia gozar ali mesmo em suas calças esportivas emprestadas.<br />

—Ah, Caralho!— grunhiu ele, afastando sua mão da doce tentação de seu excitado corpo.<br />

Lentamente subiu seu queixo para olhá-la. Quando suas pálpebras se levantaram, o calor de sua<br />

íris transformadas banhava Renata em um ardente resplendor brilhante. Estava gloriosamente<br />

nua, sentada diante dele como uma escura deusa, seus lábios sujeitos a seu pulso, seus olhos<br />

claros obscurecendo-se enquanto ela o olhava fixamente, sem vergonha.—Não mais,— murmurou<br />

ele, sua voz rouca, as palavras espessas pela presença de suas presas. Faltava-lhe a respiração,<br />

cada terminação nervosa eletrizada. —Temos que parar… Jesus Cristo.. Será melhor que paremos<br />

agora.<br />

Ela gemeu em sinal de protesto, mas muito brandamente, Nikolai retirou seu pulso do<br />

aperto e do sustento de Renata e levou suas duas espetadas a seus lábios. Uma passada de sua<br />

língua pelas feridas e as selou.<br />

Com os olhos extasiados e famintos, ela o viu lamber o lugar onde sua boca tinha estado, sua<br />

própria língua saiu precipitadamente para lamber seus lábios.<br />

—Que está acontecendo?— perguntou ela, passando as mãos sobre seus peitos, sua coluna<br />

vertebral estirando-se e arqueando-se com graça felina. —Que me…. Fez? Deus meu… estou<br />

queimando.<br />

—É o vinculo de sangue,— disse ele, apenas capaz de formar uma oração completa pela<br />

maneira que seus sentidos estavam palpitando pela consciência – e necessidade – desta mulher.<br />

—Deveria ter te advertido… sinto.<br />

Começou a afastar-se mas ela agarrou sua mão e a sustentou. Dando uma sacudida quase<br />

imperceptível a sua cabeça. Seu peito subiu e baixou com cada bombeamento de seus pulmões, e<br />

as pesadas pálpebras que ela fixou não pareciam ofendidas. Sabendo que não deveria tomar<br />

vantagem da situação, Nikolai se aproximou e acariciou o rosado rubor que enchia sua bochecha.<br />

Renata gemeu enquanto seu toque se prolongava, girando sua cabeça na palma de sua mão.


Tiamat World<br />

133<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—É….É sempre assim quando deixa uma mulher beber de você?—<br />

Sacudiu a cabeça.<br />

—Não sei. É a primeira.<br />

Ela o olhou fixamente, com o pequeno cenho franzido na testa. Podia ver o registro de<br />

surpresa atrás da luxúria induzida pelo sangue que encheu seu olhar. Um silencioso lamento<br />

deslizou de seus lábios e logo ela estava movendo-se para ele sem nenhuma vacilação, suas mãos<br />

chegaram para emoldurar seu rosto.<br />

Beijou-o, longo, forte e profundamente.<br />

—Me toque, Nikolai,— murmurou contra sua boca.<br />

Era tanto uma exigência como uma urgente pressão de seus lábios contra os seus, sua língua<br />

passou pressionando seus dentes. Niko passou suas mãos por sua pele nua, encontrando seu beijo<br />

empurrão com empurrão, seu corpo tão faminto como o dela estava, e não poderia culpar sua<br />

feroz necessidade em resposta natural da união de sangue. Sua fome por Renata era algo mais,<br />

embora extremamente consumidora.<br />

Gananciosamente chegou de novo ao refúgio de seu sexo. Desta vez não podia limitar-se a<br />

tocá-la, não quando seu aroma estava embriagando-o tanto como a febril seda de seu centro<br />

estava voltando-o louco. Acariciou-lhe suas molhadas dobras, penetrando-as com seus dedos e<br />

separando sua abertura para ele como uma flor. Ela se arqueou ao encontrá-lo enquanto a<br />

penetrava com um dedo primeiro, logo outro. Enchendo-a, deleitando-se na firme pressão de seu<br />

corpo, os sutis movimentos ondeantes de seus músculos internos enquanto ele a acariciava e a<br />

levava ao clímax.<br />

Estava tão absorto em seu prazer que mal notou que suas mãos estava movendo-se até que<br />

sentiu que ela puxava o cordão de suas calças. Vaiou quando ela a deslizou abaixo da cintura e<br />

encontrou seu rígido membro. Acariciou a cabeça dele, percorrendo seus dedos com a gota úmida<br />

de fluido, e logo torturando-o com um movimento lento e constante de sua mão ao longo de seu<br />

eixo.<br />

—Deseja-me também,— disse ela, não era exatamente uma pergunta quando a resposta<br />

estava transbordando em sua mão.<br />

—OH, sim,— Niko respondeu de todo modo. —Ao demônio que sim… te desejo, Renata.<br />

Ela sorriu faminta e o empurrou de costas sobre a cama. Tirou lentamente suas calças<br />

deslizando-as de seus quadris, mas só a fizeram até chegar seus joelhos. Com sua grossa ereção<br />

sobressaindo como um orgulhoso soldado, Nikolai olhou cativado como Renata subiu e o montou.<br />

Sabia muito bem que não esperava qualquer momento de acanhamento ou vacilação. Era<br />

intrépida e incansável, e ele nunca havia sido mais feliz em sua vida. Seus olhos pousaram<br />

fixamente sobre os seus, Renata desceu por seu membro em um longo e lento deslize.<br />

Bom Cristo, ela era incrível sobre ele. Tão quente e apertada, tão malditamente molhada.<br />

Disse a si mesmo que era só a reação do vinculo de sangue que a fazia tão pouco resistente<br />

sexualmente, que teria reagido da mesma maneira com qualquer macho de Raça que a<br />

alimentasse. Que era só uma reação física, como o fogo ardendo se mantém muito perto a uma<br />

chama. Sua consciência dele neste momento estava provavelmente em seu subconsciente — ela


Tiamat World<br />

134<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

tinha uma coceira e ele era o arranhão que ela necessitava, simples e sinceramente. Bem por ele,<br />

não precisava converter-se em algo mais complicado, e não era o bastante idiota para querer que<br />

o fosse. O sexo entre eles neste momento não era algo pessoal, e Niko disse a si mesmo que<br />

estava bem assim.<br />

Disse-se um monte de coisas de merda enquanto punha sua cabeça para trás com um<br />

gemido e deixava que Renata tomasse tudo que necessitava dele.<br />

****<br />

Renata jamais havia se sentido mais viva. O sangue de Nikolai era fogo em seus sentidos,<br />

cada matiz do momento a sacudia com a vivida consciência. A ferida em seu ombro não doía<br />

agora, sua necessidade pelo Nikolai era tudo que sabia.<br />

Ele sustentava seus quadris enquanto ela se fundia em seu sexo, sua mente perdida de tudo,<br />

mas o calor dele enchendo-a, a beleza masculina de seu grande corpo movendo-se em igual ritmo<br />

debaixo dela. Através da inundada névoa de seu desejo, admirou os músculos entrelaçados de<br />

seus braços e peito, uma sinfonia de força, flexionando-se e contraindo-se, o poder até mais<br />

surpreendente das artísticas cores e os modelos de seus dermoglifos mutantes.<br />

Inclusive suas presas, que por certo deveria tê-la aterrorizado, tomava uma letal beleza<br />

agora. As afiadas pontas brilhavam com cada fôlego entrecortado que se arrastava através de seus<br />

dentes. O sangue que havia tirado dele deve tê-la posto um pouco louca, porque alguma remota<br />

parte dela queria que suas letais presas pousassem e penetrassem seu pescoço. Perfurando sua<br />

carne enquanto ela o montava.<br />

Ainda podia saborear seu sangue em sua língua, doce, selvagem e sombrio, um zumbido<br />

elétrico se estendeu através dela e a acendeu desde seu centro. Ansiava mais desse poder, mais<br />

dele…<br />

Tudo dele.<br />

Afundou seus dedos em seus grossos bíceps e foi mais profundo, mais forte, seguindo essa<br />

perigosa necessidade que seu sangue havia desatado nela. Ele tomou cada impulso desesperado<br />

de seus quadris, sustentando-a firme enquanto o estalo do orgasmo se fechou de repente nela.<br />

Gritou enquanto o prazer se apoderava dela, um grito de liberação que não poderia ter contido<br />

inclusive se sua vida dependesse disso. A intensidade era muita para suportar. Tremia,<br />

impressionada pela força de sua paixão – uma paixão que havia estado atemorizada em sentir por<br />

muito tempo.<br />

Não sentia medo de Nikolai.<br />

Ela o desejava.<br />

Confiava nele.<br />

—Está bem?— perguntou a ela, um pouco mais que um grunhido enquanto seguia<br />

balançando-se com ela. —Sente alguma dor agora?<br />

Ela negou com sua cabeça, incapaz de falar quando cada terminação nervosa em seu corpo<br />

estava tensa de necessidade e vibrando pela sensação.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Bom,— murmurou ele, e escorregou sua mão ao redor da parte posterior de seu pescoço<br />

para a puxar para um beijo. Sua boca estava quente sobre a sua, suas presas roçando seus lábios e<br />

língua. Se sentia tão bem…. Tinha um gosto tão bom.<br />

O fogo que havia diminuído um pouco com sua liberação se acendeu de novo a uma furiosa<br />

vida. Gemeu enquanto a necessidade se iniciou de novo, movendo seus quadris ao mesmo tempo<br />

que a fome pulsava em seu centro. Nikolai não a deixou esperar muito tempo, balançou-se junto<br />

dela, incrementando seu ritmo até que gozou de novo, flutuando à deriva depois de uma onda de<br />

prazer. Logo ele se fez cargo por completo, enchendo-a e retirando-se, cada movimento<br />

aparentemente tocando mais profundo algum lugar dentro dela, e mais profundo. Chegou ao<br />

clímax com um grito rouco, sua coluna arqueando-se debaixo dela, sua pélvis enchendo-a com a<br />

força de sua liberação. O clímax de Renata se uniu um momento depois, uma prolongada<br />

desintegração que a deixou tremendo e suando em seus braços.<br />

E ainda queria mais.<br />

Ela queria mais, inclusive depois do seguinte orgasmo e do seguinte. Inclusive depois que ela<br />

e Nikolai, os dois estavam suando e esgotados, ela ansiava ainda mais.<br />

****<br />

Edgar Fabien sentia seis pares de ardilosos olhos sobre ele enquanto seu secretário<br />

sussurrava uma urgente mensagem em seu ouvido. Uma interrupção a esta hora – em meio de tal<br />

importante companhia como aqueles especiais dignitários convidados de Raça que tinham<br />

chegado a Montreal dos Estados Unidos e do estrangeiro – virtualmente gritando más noticias. E<br />

eram, embora Fabien não permitia tal indicação no exterior.<br />

Os machos congregados em privado tinham estado avaliando um ao outro quando tinham<br />

chegado um por um esta noite, todos convocados à residência do Refúgio Escuro de Fabien à<br />

espera do transporte para uma reunião exclusiva em outro lugar. Para conservar seu anonimato, o<br />

grupo havia sido instruído para ficar com capuzes negros todo o tempo. Tinha sido proibido fazer<br />

perguntas pessoais uns aos outros, ou discutir seus problemas pessoais com o macho de Raça que<br />

havia organizado esta reunião e estabelecido os termos de sua assistência encoberta. Dragos havia<br />

deixado claro que sempre estaria procurando alguma debilidade, ou a mínima razão para julgar<br />

Fabien ou seus outros latifundiários parados nesta indigna habitação do glorioso futuro que ele<br />

estava planejando revelar nesta reunião formal.<br />

Enquanto o secretário sussurrava o resto de sua mensagem, Fabien se alegrava por que<br />

aquele capuz escuro ocultava sua reação dos outros. Manteve sua postura relaxada, cada músculo<br />

solto e a vontade, enquanto informava que um de seus capangas da cidade estava esperando lá<br />

fora com inesperadas, mas criticas notícias que não podiam ser atrasadas. Notícias a respeito de<br />

um macho de Raça e uma mulher ferida em sua companhia, que, pela descrição poderia ser nada<br />

mais que o casal que havia escapado das instalações de contenção.<br />

—Desculpem-me?— disse Fabien, seu sorriso firme sob sua fachada. —Mas tenho um<br />

pequeno problema a atender lá fora. Retornarei em um momento.


Tiamat World<br />

136<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Umas poucas cabeças se inclinaram enquanto Fabien girava para sair da sala. Uma vez que a<br />

porta da sala de recepção esteve fechada e ele e seu secretário tinham caminhado vários metros<br />

pelo comprido corredor, Fabien tirou seu capuz.<br />

—Onde está?<br />

—Esperando no vestíbulo principal, senhor.<br />

Fabien se dirigiu naquela direção, retorcendo o capuz negro em suas mãos. Quando chegou<br />

à porta, seu secretário se apressou adiante para mantê-la aberta para ele. O capanga estava<br />

apoiado contra a parede, absorto em mordiscar suas unhas rapidamente, seu desalinhado cabelo<br />

muito comprido caindo sobre seus olhos. Quando elevou a vista e viu seu Amo entrar, o<br />

repugnante e preguiçoso humano foi substituído por um sabujo impaciente por agradar.<br />

—Trouxe algumas notícias para você, Amo.<br />

Fabien grunhiu.<br />

—Isso ouvi. Fala, Curtis. Me diga o que viu.<br />

O Minion 15 explicou que mais cedo no dia havia ido fazer algumas perguntas a seu<br />

empregador humano – um operador de abrigos de ruas que contratou Curtis para trabalhar em<br />

seus computadores – e inesperadamente descobriu que o vampiro guerreiro estava escondido no<br />

apartamento em cima de uma garagem. Curtis não havia sido capaz de aproximar-se para olhar,<br />

mas havia chegado o bastante perto para dizer que o enorme macho era de Raça. Não foi até<br />

recentemente que havia confirmado suas suspeitas. Aparentemente o guerreio e a mulher que<br />

estava com ele, tinham chegado a estar bastante amistosos. O casal estava muito ocupado na<br />

cama para notar quando Curtis saiu furtivamente pela parte detrás da garagem e os espiou juntos<br />

através da janela.<br />

O capanga havia conseguido uma olhada, e foi capaz de proporcionar uma muito detalhada<br />

descrição física dos dois, o guerreiro Nikolai e a Companheira de Raça Renata.<br />

—Está seguro que nenhum deles é consciente que estava ali?— Perguntou Fabien.<br />

O Minion riu entredentes.<br />

—Não, Amo. Confie em mim, não estavam prestando atenção em nada que não fossem eles.<br />

Fabien assentiu e olhou seu relógio. Estaria entardecendo dentro de uma hora. Já havia<br />

atribuído uma equipe de Agentes de Execução encabeçados a dirigir outra tarefa de limpeza esta<br />

noite. Talvez devesse enviar uma segunda unidade para a cidade com Curtis. Bastante mau era<br />

que o guerreiro tivesse conseguido escapar dele nas instalações de contenção. A notícia não havia<br />

caído bem quando Fabien informou Dragos do problema, mas a mancada seria amortecida se<br />

pudesse assegurar que o guerreiro fosse capturado – rápido e permanentemente.<br />

Sim, pensou Fabien, enquanto colocava a mão no bolso de sua jaqueta para pegar o celular e<br />

marcou à Agência de Execução os informando. Esta noite limparia o quadro-negro de alguns<br />

recentes erros, e quando se apresentasse a Dragos na reunião, faria-o levando boas notícias e um<br />

pequeno e encantador presente que seu novo comandante por certo desfrutaria.<br />

15 Escravo humano de vampiros


Tiamat World<br />

Capítulo 22<br />

137<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

--Você acredita que ele a machucará?— a voz de Renata era tranqüila, rompendo o silêncio<br />

prolongado no úmido apartamento. Ela estava sentada de frente a Nikolai na mesa de jogo, usava<br />

uma extra-camiseta cinza e suas próprias calças jeans, que lavou e secou mais cedo, por cortesia<br />

de Jack. Sua ferida no ombro estava muito melhor, e cada vez que Niko perguntava, ela insistia<br />

que não sentia muita dor. Deu-se conta que seu sangue a manteria umas poucas horas no mínimo.<br />

Tinham estado fora da cama durante um tempo, ambos se banharam e vestiram, evitando<br />

cuidadosamente tudo que tinha ocorrido entre eles hoje.<br />

Em troca Nikolai se manteve ocupado na limpeza de sua metralhadora de 45s, enquanto ele<br />

e Renata faziam planos para seu breve retorno ao alojamento de Yakut, embora Niko duvidasse<br />

que Lex contasse algo sobre sua aliança com Edgar Fabien, mas tinha o pressentimento que<br />

algumas técnicas estratégicas afrouxariam a língua do bastardo.<br />

Assim esperava, já que sem uma sólida vantagem sobre a localização do líder do DarkHaven,<br />

as probabilidades de achar Mira ilesa das retorcidas propensões de Fabien diminuíam a cada<br />

segundo.<br />

--Pensa que vai lhe fazer algo?<br />

Niko virou e viu o pânico nos olhos de Renata.<br />

--Fabien não é um bom homem... francamente não sei quais são suas intenções com ela.<br />

Ela dirigiu seu olhar para baixo, suas magras sobrancelhas estavam unidas franzindo o<br />

cenho.<br />

—Não me disse tudo que seus amigos de Boston descobriram sobre ele.<br />

Merda. Ele deveria saber que Renata perguntaria sobre isto. Ele deliberadamente tinha<br />

passado por alto sobre o pior que Gideon havia dito sobre ele, os detalhes sórdidos que não os<br />

ajudariam a localizar Mira e só fariam que Renata se preocupasse mais. Mas ele a respeitava<br />

muito para mentir.<br />

—Não, eu não disse tudo—, admitiu. —Realmente quer saber tudo sobre ele?<br />

—Acredito que preciso saber—. Ela o olhou fixo de novo, seus pálidos olhos verdes sóbrios,<br />

tão firmes quanto um guerreiro pronto para a batalha.<br />

—O que averiguou a Ordem sobre ele?<br />

—É a segunda geração da raça, facilmente tem várias centenas de anos,— disse, Niko,<br />

começando com o menor dos delitos de Fabien.<br />

—É o líder do Darkhaven de Montreal pelo último século e meio, e também agora deseja<br />

chegar aos laços das zonas altas da Agência de Execução, o que significa que está politicamente<br />

conectado também—. Renata zombou em voz baixa. —Isso é um currículum vitae, Nikolai. Sabe o<br />

que estou perguntando. Fale diretamente.<br />

— Muito bem.—Ele assentiu com a cabeça, sem ocultar a admiração. De sua preocupação.<br />

—Apesar que tem um monte de amigos em lugares altos, Edgar Fabien não é o que poderíamos


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

chamar um cidadão modelo, ao que parece tem um monte de perversões, que o fazem um<br />

doente, causando problemas ao longo dos anos.<br />

— Perversões, - disse Renata, quase cuspindo a palavra.<br />

—Seus gostos tendem a correr pelo lado sádico, e ele... bom, ele é conhecido por desfrutar<br />

da companhia de crianças de vez em quando. Especialmente garotas, em particular jovens.<br />

—Jesus Cristo, — Renata exclamou com o fôlego apertado. Ela fechou seus olhos e desviou<br />

seu rosto, tudo nela quieto. Quando finalmente olhou para Niko, havia um brilho assassino em<br />

seus olhos verdes jade o observando sem piscar. —Vou matá-lo. Juro isso, Nikolai. Matarei-o se fez<br />

algo a ela.<br />

—Vamos por ele—, lhe assegurou. —Vamos encontrá-lo, e recuperar Mira.<br />

—Não posso decepcioná-la, Nikolai.<br />

— Não!, — ele disse, cobrindo com sua mão a dela, --Não vamos falhar! Entendido? Estou<br />

com você nisto. Não vamos lhe dar as costas.— A olhou em silêncio durante um longo momento.<br />

Então, muito lentamente, girou sua mão sobre seus dedos vinculados nele.<br />

—Ela vai estar segura... verdade? — havia um traço de incerteza, era uma das primeiras<br />

vezes que o tinha ouvido em sua voz. Ele queria apagar essas dúvidas para ela, e a preocupação,<br />

mas tudo que podia oferecer era sua promessa.<br />

—Vamos trazê-la de volta, Renata. Tem minha palavra nisso.<br />

—Muito bem—, disse. Logo, mais resolutamente: —Bom, Nikolai. Obrigado.<br />

—Você realmente deve saber algo, sabe o que?— Ela começou a sacudir a cabeça em<br />

negação, mas Niko lhe deu à mão um aperto agradável, mantendo seu centro. —Você é forte,<br />

Renata. Mais forte que acredita. Mira tem sorte de te ter ao seu lado. Demônios, e eu também.<br />

Sua risada como resposta estava débil e ligeiramente triste.<br />

—Espero que tenha razão.<br />

—Eu nunca erro,— disse ele, sorrindo abertamente para ela e mal resistindo ao impulso de<br />

inclinar-se através da pequena mesa e beijá-la. Mas isto só conduziria a uma coisa - algo que sua<br />

libido já imaginava em detalhes explícitos.<br />

—Assim, quanto tempo ainda vai acariciar suas armas antes de eu poder dar uma olhada?<br />

Niko se recostou na cadeira dobrável de metal e riu.<br />

—Escolha a sua. Está segura que sabe como usar—Não teve a oportunidade de terminar o<br />

pensamento. Quando Renata estendeu a mão à pistola mais próxima e a um carregador cheio de<br />

balas. Tinha a arma carregada, fechada, e pronta para ação em menos de três segundos. Niko<br />

nunca tinha visto algo mais sexy em toda sua vida.<br />

—Impressionante—. Pôs a pistola sobre a mesa e arqueou uma de suas finas sobrancelhas.<br />

—Quer ajudar com a sua também?— pôs-se a rir, mas engoliu o som antes que saísse de sua<br />

boca. Não estavam sozinhos. Renata seguiu seu olhar para cima, onde Nikolai poderia jurar que<br />

escutou um ruído surdo. Voltou-se, então um pequeno rangido no teto da garagem.<br />

—Temos companhia—, sussurrou para ela. Renata lhe deu uma inclinação de cabeça,<br />

levantando-se de sua cadeira. Deslizou a 45s para ele através da mesa e se moveu em silêncio<br />

rápida e eficazmente para carregar outra. Apenas Nikolai pegou a arma quando a porta do


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

apartamento da garagem explodiu para dentro, partindo suas dobradiças. Um vampiro enorme<br />

num SWAT negro da Agência de Controle precipitou-se no interior, a mira do laser de seu fuzil<br />

automático silencioso apontado para Renata. —Filho da puta!— Niko gritou. —Renata, dispare!—<br />

Por um segundo horrível, ela não se moveu. Nikolai pensou que se congelou em estado de<br />

choque, mas logo o agente deixou escapar um grito de dor deixando cair sua arma para aferrar-se<br />

às têmporas. Caiu de joelhos, mas tinha mais dois homens armados bem atrás dele. Saltaram por<br />

cima do obstáculo gritando e abrindo fogo no pequeno espaço.<br />

Renata se jogou atrás de um dos arquivos metálicos, disparando contra o agente na cabeça.<br />

Niko dirigiu seu tiro ao segundo recém-chegado mas seu tiro foi selvagem contra a pequena janela<br />

acima da cama e outro Agente de Execução entrou na luta, armado até os dentes.<br />

—Nikolai, atrás de você!— Renata chamou.<br />

Ela golpeou o último chegado com uma rajada debilitante do poder de sua mente, e o<br />

bastardo caiu no chão, retorcendo e convulsionando antes que Niko acertasse uns golpes na<br />

cabeça dele. Renata mutilou um dos outros com um tiro no joelho, logo o tirou completamente<br />

com uma bala entre os olhos. Nikolai matou o outro, e compreendeu tarde que tinha perdido<br />

completamente de vista o primeiro macho que tinha atravessado a porta.<br />

O filho da cadela choramingava quando Renata o tinha deixado cair. O horror de Niko, foi<br />

enorme quando viu que o vampiro tinha Renata em suas mãos, levantando-a da terra e lançandoa<br />

na parede mais próxima. A força do macho de Raça era imensa, como todos os de sua raça.<br />

Renata se estrelou contra a superfície sólida, logo caiu com força no chão. Deixando-a imóvel,<br />

obviamente muito aturdida para tomar represálias. O rugido de Nikolai de fúria agitou a mesa<br />

débil e as cadeiras. Sua visão foi nuclear com a inundação repentina de âmbar em seus olhos, e<br />

suas presas perfuraram com força suas gengivas, as estirando longas e agudas em sua cólera.<br />

Ele saltou sobre o outro vampiro por trás, agarrando sua cabeça em suas mãos e torcendo-a<br />

ferozmente. O terrível rangido de osso e tendões desfibrados não foram suficientes para ele.<br />

Quando o Agente sem vida caiu, Niko deu chutes em seu corpo afastando-o de Renata e estalou<br />

seu crânio com chumbo.<br />

—Renata—, disse, agachando-se diante dela e tirando suas armas. —Pode me ouvir? Está<br />

bem?<br />

Ela gemeu, mas acenou com a cabeça tremula. Seus olhos abertos, logo se ampliaram<br />

quando olhou fixamente por cima dele a entrada arruinada. Niko balançou sua cabeça ao redor e<br />

fixou o olhar num macho humano que tinha visto uma vez antes - o humano que tinha tentado<br />

conseguir um olhar em Nikolai quando Jack tinha passado no apartamento essa manhã. Jack o<br />

tinha chamado Curtis, disse que o menino fazia algum trabalho para ele na casa. Quando Niko<br />

examinou aquela cara impassível que não mostrava nenhuma reação aos olhos acesos de Niko e<br />

suas presas à mostra, ele sabia o que via agora...<br />

—Minion,— grunhiu. Ele liberou Renata com cuidado colocando-a em pé.—Fique aqui. Eu<br />

me encarregarei dele.<br />

O Minion sabia que tinha cometido um grave engano mostrando sua cara depois do tumulto<br />

que provavelmente tinha instigado. Ele girou e começou a baixar a escada de dois em dois


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degraus. Nikolai grunhiu, vermelho de ira saiu disparado da casa na caça.. Ele saltou sobre o<br />

corrimão da escada do segundo andar, caindo justo quando os pés do Minion conseguiam tocar o<br />

pavimento. Nikolai aterrissou diretamente em cima dele, derrubando-o no asfalto do caminho de<br />

entrada.<br />

— Quem o fez? —ele exigiu, golpeando a cara do humano contra o pavimento áspero.—<br />

Quem é seu Mestre, maldito seja! É Fabien?—O servo não respondeu, mas Niko sabia a verdade<br />

de qualquer modo. Passou sobre ele e golpeou sua coluna com força. —Onde está? Me diga onde<br />

encontrar Fabien. Fala, filho da puta, ou te fulmino aqui e agora—. De longe, Nikolai ouviu o golpe<br />

de uma porta. Passos através da grama.<br />

Então a voz de Renata ressoou de cima destroçando a porta no chão da garagem.<br />

—Jack, não! Volta para dentro!— Nikolai olhou por cima do ombro, bem a tempo de ver o<br />

velho com uma expressão espantosa. Os olhos de Jack, mostravam sua incredulidade, sua<br />

mandíbula cinza aberta.<br />

—Jesus Cristo—, murmurou, com os pés desacelerando até deter-se. —O que ... o inferno ...<br />

—E logo, abaixo dele, Niko sentiu retorcer-se o subalterno. Registrou o brilho breve de uma<br />

lâmina só meio segundo antes que o escravo de mente humano esfaqueasse sua própria garganta.<br />

* * *<br />

Renata desceu as escadas de madeira em estado de pânico e afligida.<br />

—Jack, por favor! Dê a volta para casa agora!— Mas ele simplesmente estava ali, congelado<br />

no lugar como se não pudesse ouvi-la, não pudesse vê-la. Não podia processar tudo que estava se<br />

passando ao redor dele nestes últimos minutos de caos total e absoluto. Jack estava mudo, uma<br />

estátua imóvel na calçada. E Nikolai... Meu Deus, Nikolai parecia o pior pesadelo de qualquer<br />

pessoa. Empapado de sangue, imenso, seu rosto uma máscara aterradora de presas letais e<br />

ferozes, olhos brilhantes. Quando levantou o corpo do ajudante morto deu meia volta à cara de<br />

Jack, que não podia parecer mais predadora e desumana, sua respiração através de seus cerrados<br />

dentes, seu enorme peito e ombros tremiam da luta.<br />

—Doce Maria, Mãe de Deus,— murmurou Jack, fazendo o sinal da cruz enquanto Nikolai<br />

dava alguns passos para longe do cadáver do Minion. Tardiamente jogou uma olhada e viu que<br />

Renata corria para ele através do caminho de entrada.<br />

—Renata, sai daqui!<br />

Renata correu para ficar entre os dois homens – Nikolai a suas costas, e Jack olhando-a<br />

boquiaberto como se acabasse de entrar no meio de um campo de mina ativado.<br />

—OH, Jesus… Renata, querida… que está fazendo?<br />

—Está bem, Jack,— disse ela, tranqüilamente sustentando suas mãos na sua frente. —Tudo<br />

está bem, prometo isso. Nikolai não te fará mal. Não fará mal a nenhum de nós.<br />

A cara do ancião se enrugou pela confusão. Mas logo olhou além dela a Nikolai e uma tênue<br />

faísca de reconhecimento piscou por seus rasgos. Sua palidez era de um branco fantasmal contra a<br />

noite ao seu redor, e suas pernas pareciam que iam ceder debaixo dele. —É você..mas como?


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Simplesmente que demônios é?<br />

—Não é seguro para você saber isso,— interveio Renata. —Seria muito perigoso, também<br />

para nós.<br />

—Muito tarde.— A voz de Nikolai era um baixo grunhido atrás dela. —Já viu muito aqui.<br />

Temos que controlar esta situação, e não temos muito tempo antes que mais humanos se voltem<br />

curiosos e façam coisas piores.<br />

Renata assentiu.<br />

—Sei.<br />

A mão de Nikolai pousou brandamente sobre seu ombro bom.<br />

—Isso inclui Jack também. Não posso deixá-lo afastar-se com sua memória neste estado.<br />

Tudo tem que ser lavado – começando com nossa chegada na noite anterior. Não pode recordar<br />

que você e eu estivemos aqui alguma vez.<br />

Ela estremeceu, mas não podia discutir.<br />

—Tenho um minuto para dizer adeus?<br />

—Um minuto,— disse Nikolai. —Mas isso é tudo que podemos arriscar.<br />

—Que demônios está acontecendo aqui?— murmurou Jack, desaparecendo algo de sua<br />

neurose e o guerreiro aposentado chegando em linha. —Renata… em que tipo de maldito<br />

problema se colocou, moça?<br />

Lhe ofereceu um débil sorriso enquanto se movia para frente e o puxou para um abraço.<br />

—Jack, quero te agradecer por nos ajudar na noite anterior, até mais, por simplesmente ser<br />

como é,— separou-se dele para olhar seus velhos e amáveis olhos. —Não poderia compreender<br />

isto, mas foi minha âncora muitas vezes. Sempre que perdia a fé na humanidade, sua bondade o<br />

compensou. Foi um verdadeiro amigo, e te quero por isso. Sempre o farei.<br />

—Renata, necessito que me diga o que está passando. Este homem com quem está… esta<br />

criatura. Por Deus, estou perdendo minha mente, ou o é um tipo de...<br />

—É meu amigo,— disse ela tão sinceramente que inclusive se desconcertou por sua<br />

convicção. —Nikolai é meu amigo. Isso é tudo o que precisa saber.<br />

—Temos que ir agora, Renata.<br />

A voz de Nikolai estava calma, toda seriedade. Ela assentiu, e quando olhou para ele, viu que<br />

agora estava de novo em seu estado normal. Jack crepitou de confusão, mas Nikolai só alcançou a<br />

mão do humano.<br />

—Obrigado por tudo que fez, Jack. É um bom homem.— Nikolai não esperou por uma<br />

resposta. Com sua mão livre, levantou a palma de sua mão sobre a testa de Jack e a pressionou<br />

por um longo momento. —Volta para a casa e vá para a cama. Quando despertar amanhã,<br />

esquecerá que estivemos aqui por completo. Descobrirá que houve um roubo – no apartamento<br />

de cima – e que Curtis se relacionava com algumas más pessoas, o ataque saiu das suas mãos, e foi<br />

assassinado.<br />

Jack não disse nada, mas assentiu em acordo.<br />

—Não nos verá quando abrir seus olhos, — disse Nikolai. —Não verá nada de sangue no<br />

vidro. Vai virar, entrar de novo na casa, e subir à cama onde ficará pelo resto da noite.


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Uma vez mais Jack assentiu com sua cabeça em complacência. Nikolai retirou sua mão da<br />

testa do ancião. Os olhos de Jack piscaram abrindo-se, tranqüilos e sem incomodar-se. Olhou<br />

Renata, mas foi um olhar vazio que atravessou direto através dela. Ela ficou ali parada, olhando<br />

com tristeza como seu velho e querido amigo girava no silêncio e começava o lento caminhar de<br />

retorno à casa.<br />

—Está bem?— perguntou Nikolai, pondo seu braço ao redor de sua cintura, enquanto<br />

esperavam na entrada que Jack desaparecesse.<br />

—Sim, estou bem,— disse em voz baixa, permitindo-se conforto em seu forte abraço. —<br />

Vamos limpar este desastre e sair daqui.<br />

Capítulo 23<br />

—Já era hora que ele chegasse aqui—, Alexei Yakut se queixou a si mesmo quando viu um<br />

par de faróis saindo das árvores fora da casa principal. Irritado por ter sido obrigado a esperar pela<br />

última meia hora, Lex se afastou da janela do quarto de seu pai, ex-quarto que agora pertencia a<br />

ele, como todo o resto que o defunto tinha deixado.<br />

O veículo preto rodando pelo caminho era enorme, obviamente um SUV. Lex virou seus<br />

olhos com desgosto. Tinha esperado que um macho do status de Edgar Fabien fosse viajar em algo<br />

mais elegante que uma emprestada Humvee 16 tomada diretamente da frota da Agência de<br />

Execução. As próprias normas de Lex exigiam muito mais que um utilitário como meio de<br />

transporte, especialmente para um evento tão importante como o que ele assistiria com Fabien.<br />

Pelo amor de Deus, não poderiam chegar à reunião em uma caminhonete que declarava a todos<br />

que os que estavam nesse veículo careciam de elegância.<br />

Se estivesse no comando das coisas - estava no comando, Lex mentalmente emendou - não<br />

chegaria em nenhuma parte sem uma apropriada caravana de veículos formando sua fila de elite.<br />

Ele saiu a passos longos de seu quarto numa raiva impaciente, ajustando a linha de seu<br />

casaco ao nível de seus polidos mocassins de pele de crocodilo que brandamente repicavam<br />

através das largas tábuas do chão. Sabia que tinha bom aspecto - esse era o ponto - mas estava<br />

muito mais acostumado a seu antigo uniforme de serviço com botas e couro. Ele era um sujeito<br />

flexível, não pensava que requeresse muito esforço para acostumar-se a sua nova identidade.<br />

Nos subúrbios da grande sala, os dois guardas restantes da casa estavam sentados numa<br />

16 A alta mobilidade destes veículos com tração nas quatro rodas conhecidos como Humvee ou Hummer os coloca<br />

entre os mais utilizados pelas Forças Armadas dos EUA. Eles podem ser adaptados para vários propósitos. A<br />

plataforma básica pode ser construída para o transporte de carga, tropas e armas ou servir como ambulância ou<br />

veículo anti-aéreo. Suas principais vantagens estão no centro de gravidade baixo combinado com uma elevada altura<br />

em relação ao solo, que lhes dá ótimo desempenho em terrenos difíceis. A carroçaria é totalmente feita de alumínio e<br />

oferece leveza e durabilidade com baixos custos de manutenção. Se necessário, o Hummer pode ser lançado de<br />

paraquedas na zona de guerra. Imagem: http://comps.fotosearch.com/comp/UNW/UNW366/humvee-cruzeiroscima_~u18357875.jpg


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

mesa jogando cartas. Um deles deu uma olhada quando Lex entrou, a sutil elevação de sua mão<br />

não o bastante rápida para ocultar seu sorriso divertido.<br />

—Essa gravata parece estar cortando seu ar, Lex —, brincou o outro guarda, rindo de sua<br />

própria brincadeira. —É melhor afrouxar essa merda antes que desmaie.— Lex o fulminou com o<br />

olhar enquanto passava o dedo pela beira do colarinho muito ajustado de sua camisa de<br />

quinhentos dólares.<br />

—Faça voar seu traseiro, cretino. E abra a maldita porta. Meu transporte está aqui.<br />

Quando o guarda se moveu pesadamente para cumprir a ordem, Lex se perguntou quanto<br />

tempo deveria manter esses dois cabeças ocas ao seu redor. Certo, eles tinham servido ao seu<br />

lado no trabalho para seu pai todos os dias durante a maior parte de uma década, mas um macho<br />

como Lex merecia respeito. Talvez ensinasse a ambos uma lição quando retornasse novamente<br />

em algumas noites da reunião deste fim de semana.<br />

Lex forçou um sorriso de boas vindas para Fabien quando o guarda abriu a porta… exceto<br />

que não estava ali Edgar Fabien para saudá-lo. Era um agente de Execução uniformizado, com três<br />

mais atrás dele.<br />

—Onde está Fabien?— exigiu Lex.<br />

O enorme Agente que se encontrava na frente dirigiu a Lex uma pequena inclinação de<br />

cabeça.<br />

—Vamos encontrar-nos com o Sr. Fabien num lugar diferente, Sr. Yakut. Necessita ajuda<br />

com alguma coisa antes que o escoltemos até o veículo?<br />

Lex grunhiu, seu ego tranqüilizando-se um pouco pelo tom respeitoso do Agente.<br />

—Tenho algumas malas no quarto—, disse ele com um gesto desdenhoso na direção de seu<br />

quarto. —Um de seus homens podem trazê-las para mim.<br />

Outra inclinação em reverência do que estava na frente.<br />

—Me ocuparei de suas coisas pessoalmente. Depois de você, senhor.<br />

—Por aqui,— disse Lex, permitindo a destacada escolta entrar na casa enquanto guiava o<br />

líder para seu quarto pelo corredor. Uma vez dentro, se deteve perto da cama para mostrar as<br />

coisas que desejava levar. —Pegue a mala de roupa e a mochila de couro que se encontra ali no<br />

chão.<br />

Quando o agente não se moveu para recolher as coisas, simplesmente ficou ali junto dele,<br />

Lex se voltou com um olhar indignado.<br />

—Bom, que diabos está esperando, idiota?<br />

O olhar de resposta que recebeu foi cortante como uma adaga e igualmente frio. E então Lex<br />

compreendeu a frieza, porque no instante seguinte ouviu o estalar de vários disparos abafados no<br />

outro quarto e seu sangue correu gelado em suas veias.<br />

O agente de Execução que estava de pé ao seu lado deu um sorriso agradável.<br />

—O Sr. Fabien me pediu que entregasse pessoalmente uma mensagem dele, Sr. Yakut.<br />

* * *


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Renata parecia cansada quando Nikolai se aproximou dela no terreno onde tinham jogado os<br />

cadáveres dos agentes de Execução. Em poucas horas, o amanhecer apagaria todos os rastros dos<br />

vampiros, não que alguém além da fauna local notaria isso tão longe da estrada mais próxima e<br />

tão fora da cidade.<br />

—Jogue seus uniformes e acessórios na parte traseira do veículo—, Renata disse quando se<br />

aproximou. —As armas adicionais estão atrás dos assentos dianteiros. As chaves estão na<br />

ignição.— Niko assentiu com a cabeça. Depois de limpar todas as provas do ataque da Raça na<br />

garagem do apartamento, ele e Renata se apropriaram do SUV da Agência, que seus atacantes<br />

tinham sido bastante atentos para deixar estacionado ao longo da rua lateral perto do Refúgio de<br />

Jack.<br />

—Ficou cansada?—, perguntou, ao ver a fadiga em seus olhos. —Podemos esperar aqui e<br />

descansar um momento se necessitar.<br />

Ela sacudiu a cabeça.<br />

—Quero seguir me movendo. Estamos só a uns quilômetros do chalé.<br />

—Sim,— Niko disse. —E não estou esperando que Lex desenrole um tapete vermelho para<br />

nós quando chegarmos ali. As coisas poderiam ficar feias muito rápido. Passaram algumas horas<br />

desde que você bombardeou as malditas mentes desses agentes. Quanto tempo antes que sua<br />

reverberação comece?<br />

—Provavelmente não muito tempo—, admitiu ela, olhando para baixo à erva iluminada pela<br />

lua que havia em seus pés.<br />

Niko levantou seu queixo e não pôde evitar acariciar a delicada linha de sua bochecha.<br />

—Uma razão a mais para ficar aqui por um tempo.<br />

Ela se separou dele, obstinada e com determinação.<br />

—Razão a mais para continuar antes que cheguem os golpes da reverberação. Descanso<br />

depois que recuperemos Mira.— Ela deu a volta e começou a caminhar para o veículo. —Quem<br />

conduz, você ou eu?<br />

—Ouça—, disse ele, agarrando sua mão antes que pudesse chegar muito longe. Aproximouse<br />

dela e envolveu seus braços ao redor de suas pequenas costas, contendo-a em seu abraço.<br />

Deus, era tão formosa. Qualquer idiota podia apreciar a frágil, feminina perfeição de seu<br />

rosto: os olhos claros, em forma de amêndoa que brilhavam intensamente como pedras da lua sob<br />

a franja colorida de seus cílios, seu nariz travesso e sua exuberante e sexy boca, a pele leitosa que<br />

parecia um perfeito veludo em contraste com o brilho de ébano de seu cabelo. A beleza física de<br />

Renata era atordoante, impressionante, mas era sua coragem - sua honra inquebrantável -, que<br />

realmente liquidou Niko.<br />

De algum modo, no pouco tempo que se viram obrigados a ficar juntos, Renata tinha se<br />

convertido em uma verdadeira companheira para ele. Ele a valorava, confiava nela, tanto quanto<br />

em qualquer um de seus irmãos na Ordem.<br />

—Ouça—, repetiu ele, agora mais tranqüilo, olhando fixamente seu valente e belo rosto,<br />

assombrando-se de novo por esta extraordinária mulher que estava demonstrando ser uma vital<br />

aliada para ele. —Formamos uma equipe bastante boa lá atrás, não foi?.


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—Estava assustada como o inferno, Nikolai—, confessou ela em voz baixa. —Eles caíram<br />

sobre nós tão rápido. Deveria ter reagido mais rápido. Deveria ter…<br />

—Você foi incrível—. Ele alisou uma mecha de seu cabelo que caía sobre seu rosto e a<br />

colocou atrás da orelha. —Você é incrível, Renata, e estou condenadamente alegre de saber que<br />

te tenho às minhas costas.<br />

Ela deu a ele um pequeno, quase tímido sorriso.<br />

—O mesmo digo eu.<br />

Talvez não fosse o momento ideal para que ele desejasse beijá-la, estando de pé num lugar<br />

esquecido por Deus nos subúrbios da auto-estrada, com um rastro de sangue e morte atrás deles<br />

e mais dos mesmo certamente vindo no futuro antes que isto tivesse terminado. Mas tudo o que<br />

Nikolai desejava fazer agora mesmo - o que ele necessitava, aqui e agora, neste preciso momento<br />

- era sentir os lábios de Renata pressionando-se contra os seus.<br />

Deixando-se levar pela tentação, inclinou-se e tomou sua boca em um sensível, lento beijo.<br />

Seus braços o rodearam, timidamente a princípio, mas suas mãos estavam quentes e o<br />

demonstraram quando acariciou suas costas e o apertou contra ela, inclusive depois que o beijo<br />

terminou e colocou sua bochecha contra seu peito.<br />

Quando ela falou, sua voz era apenas um sussurro.<br />

—Vamos encontrá-la, Nikolai?<br />

Ele pressionou seus lábios sobre a parte superior de sua cabeça.<br />

—Sim, vamos.<br />

—Acredita que está bem?— Sua vacilação foi breve, mas suficientemente longa para que<br />

Renata saísse de seus braços. Ela franziu o cenho, seus olhos obscurecendo-se com a dor. —OH,<br />

Meu Deus… você não acredita que ela esteja! Posso sentir sua dúvida, Nikolai. Acredita que algo<br />

aconteceu a Mira.<br />

—É o vínculo de sangue o que sente—, disse ele, nem sequer perto de uma negação do que<br />

Renata tinha lido com tanta precisão nele.<br />

Ela estava recuando agora, seus pés arrastando-se na escura erva enquanto se movia para o<br />

SUV. Seu rosto tinha um olhar afligido.<br />

—Temos que ir agora. Temos que encontrar Lex e obrigá-lo a nos dizer onde está ela!<br />

—Renata, ainda penso que deveria esperar aqui um momento e descansar. Se a nova<br />

reverberação te golpear…<br />

—A merda a reverberação!— gritou ela, sacudindo a cabeça em pânico crescente. —Vou ao<br />

chalé de Yakut. Você pode viajar comigo ou ficar, mas eu estou indo agora, inferno.<br />

Ele poderia tê-la detido.<br />

Se quisesse podia estar em cima dela mais rápido do que ela podia rastrear, fisicamente a<br />

impedindo de avançar outro passo para o veículo. Ele poderia pô-la em transe com uma passada<br />

simples de sua mão pelo rosto e assim obrigá-la a esperar pela dor que provavelmente chegaria<br />

não muito tempo depois que chegassem ao chalé.<br />

Ele poderia ter retido seu traseiro de alguma diferente maneira, mas em vez disso deu a<br />

volta pelo lado do condutor do Humvee negro antes que ela chegasse e bloqueou a entrada com


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

seu corpo.<br />

—Vou dirigir—, disse ele, sem dar a oportunidade de discutir. —Você está acabada.<br />

Renata o olhou por um segundo, então deu a volta e subiu no assento de passageiro.<br />

Eles encontraram seu caminho de volta à estrada e conduziram a pequena distância para a<br />

propriedade arborizada de Yakut em silêncio. Niko apagou as luzes enquanto se aproximavam<br />

num ritmo lento. Ele estava a ponto de sugerir que deveriam sair e se mover para a casa a pé<br />

quando se deu conta que algo estava errado.<br />

—É sempre assim tranquilo?<br />

—Nunca—, disse Renata, disparando um olhar sério. Ela alcançou atrás dos assentos para<br />

pegar algumas das armas da Agência. Passou a correia de um fuzil automático por sua cabeça e<br />

logo entregou outro a Nikolai. — Lex só tinha ficado com dois guardas, mas não parece que<br />

alguém esteja por aqui absolutamente.<br />

E embora desta distância, Niko detectou o aroma de sangue derramado. Sangue de Raça,<br />

procedentes de mais de uma fonte.<br />

—Espera aqui enquanto vou dar uma olhada às coisas.<br />

Ela deu a ele uma zombaria insubordinada que ele poderia ter previsto vir.<br />

Ambos saíram do veículo e foram juntos para a escura casa principal. A porta da frente<br />

estava totalmente aberta. Rastros de pneus frescos estavam presentes no caminho de cascalho,<br />

longos, profundos rastros como um tipo de SUV de grande tamanho deixaria atrás.<br />

Niko tinha a sensação que a Agência de Execução tinha estado aqui também. A casa estava<br />

completamente em silêncio, fedendo com as recentes mortes de vampiros. Ele não tinha<br />

necessidade de acender as luzes para ver o açougue. Sua aguda visão localizou os dois machos<br />

mortos no interior, ambos com tiros a queima-roupa na cabeça.<br />

Ele guiou Renata ao redor dos cadáveres, seguindo seu nariz pela parte posterior do lugar,<br />

aos aposentos privados de Yakut. Ele sabia o que ia encontrar ali dentro. Ainda assim, entrou no<br />

quarto e soltou uma maldição furiosa.<br />

Lex estava morto.<br />

E com ele, sua melhor esperança de localizar Edgar Fabien esta noite.<br />

Capítulo 24<br />

A respiração de Renata paralisou com o som da maldição murmurada por Nikolai. Ela<br />

estendeu a mão até o interruptor da luz perto da porta aberta do dormitório de Yakut.<br />

Lentamente a acendeu.<br />

Ela não pôde falar enquanto olhava o corpo sem vida de Lex, seus olhos vazios e nublados<br />

pela morte, três grandes buracos de bala em sua cabeça. Ela queria gritar. Santo céu, ela queria<br />

cair de joelhos, passar suas mãos por seu cabelo, e arranhar as vigas - não com dor ou<br />

estupefação, mas com completa e conscienciosa ira.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Mas seus pulmões estavam fechados em seu peito.<br />

Seus membros estavam flácidos, braços e pernas muito pesados para mover.<br />

A esperança que tinha estado guardando – mesmo tão pequena - que poderiam vir aqui e<br />

conseguir uma sólida pista sobre a localização de Mira escorreu fora dela, tão certa como o sangue<br />

de Lex que escorria entre os ladrilhos do chão do quarto de seu pai.<br />

—Renata, encontraremos outra maneira,— disse Nikolai de algum lugar perto dela. Ele se<br />

inclinou sobre o corpo e tirou um telefone móvel do bolso do casaco de Lex, abriu-o e apertou<br />

algumas teclas. Contatarei com Gideon e direi que os persigam. Temos que fazer algo com Fabien<br />

muito em breve. O apanharemos, Renata.<br />

Ela não pôde responder; não tinha palavras. Girando lentamente, caminhou fora do quarto,<br />

apenas consciente que seus pés se moviam. Ela perambulou através do escuro edifício, deixando<br />

de lado os corpos jogados na grande sala e no vestíbulo… insegura de onde dirigir-se, ainda<br />

anestesiada quando pegou o chapéu no centro do minúsculo quarto onde Mira tinha dormido.<br />

A pequena cama estava exatamente como ela a tinha deixado, como se esperasse que sua<br />

ocupante voltasse. Sobre a baixa mesinha de noite, havia uma flor silvestre que Mira tinha<br />

recolhido no começo da semana, em uma das poucas vezes que Sergei Yakut tinha permitido que<br />

a menina se aventurasse fora. A flor de Mira estava murcha agora, as frágeis pétalas brancas<br />

caíam sem vida, o caule verde tão murcho como um fio.<br />

—OH, meu doce ratinho,— Renata sussurrou no escuro e vazio quarto. —Sinto ... Lamento<br />

não ter estado aqui a tempo...<br />

—Renata.— Nikolai permanecia de pé fora do quarto. —Renata, não faça isto a você mesma.<br />

Não tem culpa. E isto não acabou, ainda não.<br />

Sua profunda voz era tranqüilizadora, cômoda só de ouvir, e saber que estava ali com ela. Ela<br />

necessitava essa tranqüilidade, mas porque não a merecia, Renata se recusou a correr para seus<br />

braços como tão desesperadamente queria fazer. Ela permaneceu onde estava, rígida e sem<br />

mover-se. Desejando poder dar marcha ré a todas as suas falhas.<br />

Ela não podia permanecer no edifício outro minuto. Havia muitas lembranças sombrias aqui.<br />

Muita morte ao redor dela.<br />

Renata deixou que a flor morta caísse de seus dedos sobre a cama. Ela deu a volta para a<br />

porta.<br />

—Tenho que sair deste lugar— murmurou, culpabilidade e angústia retorcendo-se em seu<br />

peito. —Não posso...Estou asfixiando aqui…não posso…respirar.<br />

Ela não esperou que respondesse - não podia esperar ali, nem um minuto mais.<br />

Empurrando-o, correu do quarto de Mira. Ela não deixou de correr até que seus pés a tinham<br />

levado para a parte traseira do edifício principal e dentro do bosque próximo. E ainda assim seus<br />

pulmões se retorciam como se tivessem sido esmagados por um torno.<br />

Atrás de seu crânio, ela pôde sentir uma dor de cabeça florescendo. Sua pele não doía ainda,<br />

mas estava cansada até os ossos e sabia que não levaria muito tempo antes que o cansaço a<br />

nocauteasse. Ao menos seu ombro estava decente. A ferida do disparo ainda estava ali, ainda um<br />

profundo batimento em seus músculos, mas o sangue de Nikolai fazia algum tipo de magia na


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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

infecção.<br />

Renata se sentiu o suficientemente forte quando deu uma olhada e viu o celeiro fechado – o<br />

edifício anexo onde ela e tantos outros tinham sido presos como isca para o esporte de sangue<br />

doente de Yakut – ela não pensou duas vezes em saltar e pegar o rifle preso em suas costas. Ela<br />

disparou no pesado ferrolho até que se rompeu e caiu no chão. Então ela abriu a porta e soltou<br />

mais tiros dentro do grande refúgio pontilhando as paredes e vigas - tudo com uma saraivada de<br />

balas destrutiva.<br />

Ela não soltou o gatilho até que o carregador ficou vazio e sua garganta seca por seus gritos.<br />

Seus ombros pesavam, o peito cortado por um bramido.<br />

—Deveria ter estado aqui— disse ela, ouvindo Nikolai aproximar-se dela por trás. —Quando<br />

Lex a jogou sobre Fabien, deveria o ter detido. Deveria ter estado ali por Mira. Em vez disso estava<br />

na cama, muito fraca e… inútil.<br />

Ele fez um pequeno ruído, um rechaço sem palavras a sua culpabilidade.<br />

—Não podia saber que estava em perigo. Não podia evitar nada do que ocorreu, Renata.<br />

—Nunca deveria ter abandonado o edifício!— gritou ela, o próprio desprezo queimando-a<br />

azedo. —Fugi, quando deveria ter ficado aqui todo o tempo e conseguir que Lex me dissesse onde<br />

ela estava.<br />

—Não fugiu. Foi pedir ajuda. Se não o tivesse feito, estaria morto.— Suas pegadas se<br />

moviam mais próximas, vindo com cuidado atrás dela. —Se tivesse ficado aqui todo este tempo,<br />

Renata, então teria morrido esta noite junto com Lex e os outros guardas. O que ocorreu aqui foi<br />

um plano executado a sangue frio, e tem escrito o nome de Fabien.<br />

Ele tinha razão. Ela sabia que tinha razão, em tudo. Mas isso não fez que doesse menos.<br />

Renata olhava fixamente, sem ver, para o abismo cheio de pólvora da granja.<br />

—Temos que voltar para a cidade e começar a procurá-la. Porta a porta, se for necessário.<br />

—Sei o que sente— disse Nikolai. Ele tocou sua nuca e ela se obrigou a afastar-se de sua<br />

ternura. —Maldita seja, Renata, não acredita que se achasse que chutar todas as portas daqui a<br />

Porto Velho nos aproximaria mais de Fabien, não estaria contigo? Mas isso não nos ajuda.<br />

Especialmente não com o amanhecer só a umas horas e subindo justo sobre nossos calcanhares.<br />

Ela agitou sua cabeça.<br />

—Não preciso me preocupar com a luz do dia. Posso voltar para a cidade por mim mesma.<br />

—Pelos demônios que o fará.— Suas mãos estavam brutas quando a fez girar para ver seu<br />

rosto.<br />

Seus olhos tinham brilhos âmbar, e uma emoção que parecia notavelmente ao medo,<br />

inclusive na escuridão.<br />

—Não vai a nenhum lugar perto de Fabien sem mim.— Ele acariciou sua sobrancelha, seus<br />

ferozes olhos queimando dentro dos dela. —Estamos juntos nisto, Renata. Sabe disso, não? Sabe<br />

que pode confiar em mim?<br />

Ela olhou fixamente o rosto de Nikolai e sentiu uma emoção que começava a crescer dentro<br />

dela, sentindo como se elevava como uma enorme onda que não podia fazer recuar mesmo se<br />

tentasse. As lágrimas correram por seus olhos, então a alagaram. Antes que pudesse parar a


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

inundação, ela estava esfregando os olhos enquanto um dique tinha estalado dentro dela e todas<br />

as muitas feridas que havia sentido- toda a dor e vazio de sua completa existência- saiu veloz dela<br />

em grandes e pesados soluços.<br />

Nikolai a rodeou com seus braços e a sustentou. Ele não tentou fazer que suas lágrimas<br />

parassem. Não a alimentou com suaves mentiras para fazê-la sentir-se melhor, ou falsas<br />

promessas para acomodar seu desespero.<br />

Ele só a sustentou.<br />

Sustentou-a e a deixou sentir que a entendia. Que não estava sozinha e que possivelmente,<br />

de alguma pequena maneira, merecia a pena ser amada.<br />

Ele a agarrou, levantando-a em seus braços, e começou a se afastar da granja.<br />

—Vamos procurar um lugar para que descanse um pouco—, disse ele, sua relaxante voz<br />

vibrando em seu peito, vibrando contra ela enquanto se aferrava nele.<br />

—Não posso voltar para a casa, Nikolai. Não ficarei ali.<br />

—Sei— murmurou ele, entrando mais nos bosques. —Tenho outra idéia.<br />

Ele a deixou sobre um leito de folhas secas entre dois altos pinheiros. Renata não sabia o<br />

que esperar, mas nunca teria imaginado do que seria testemunha nos seguintes momentos.<br />

Nikolai se ajoelhou junto dela e relaxou seus braços, seu queixo baixo, seu imenso e<br />

musculoso corpo num estado de tranquila concentração. Renata sentiu a energia ao redor deles<br />

ranger. Ela cheirava a rica e fértil terra, como o bosque depois de uma tormenta. Uma brisa cálida<br />

fazia cócegas em sua nuca enquanto Nikolai pousava suas gemas sobre o chão de cada lado dele.<br />

Havia um tranquilo sussurro de movimento na grama próxima - um sussurro de vida. Renata<br />

viu algo serpentear sob as mãos de Nikolai e não pôde evitar ofegar assombrada quando se deu<br />

conta do que estava vendo.<br />

Pequenas parras, disparando através do chão, correndo para os pinheiros gêmeos a cada<br />

lado dela.<br />

—OH, Meu Deus—, murmurou ela, encantada. —Nikolai…o que está acontecendo aqui?<br />

—Está bem— disse ele, olhando as parras- as comandando, por mais difícil que fosse<br />

acreditar.<br />

Os talos faziam espirais ao redor dos troncos das árvores e escalavam mais alto, enchendoos<br />

com folhas que multiplicavam exponencialmente enquanto ela olhava. Por cima de sua cabeça<br />

a uns dois metros e meio de altura, as parras saltavam o espaço entre os pinheiros. Retorciam-se<br />

juntas, então enviavam disparos largos de vegetação, criando um vívido dossel que se estendia<br />

por todo o caminho até o chão onde Renata e Nikolai estavam sentados.<br />

—Está fazendo isto?— perguntou ela, incrédula.<br />

Ele assentiu mas manteve sua concentração nisso, mais e mais folhas desdobrando-se sobre<br />

as parras. Grossas paredes de fragrante aroma formavam um refúgio ao redor deles, a exuberante<br />

folhagem intercalava com diminutas flores brancas que Renata tinha encontrado no quarto de<br />

Mira.<br />

—Está bem... como está fazendo isto?<br />

O rangido de plantas crescendo parou e Nikolai lançou um olhar despreocupado sobre ela.


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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Presente de minha mãe, herdado por seus dois filhos.<br />

—Quem é sua mãe, a Mãe Natureza?— disse Renata, rindo, surpreendida apesar de saber<br />

que as belas flores e parras eram só um véu temporário. Fora, toda a fealdade e violência<br />

permaneciam.<br />

Nikolai sorriu e agitou sua cabeça.<br />

—Minha mãe era uma companheira de raça, como você. Seu talento era o poder de sua<br />

mente. Este era seu talento.<br />

—É incrível.— Renata passou sua mão sobre as frescas folhas e delicadas pétalas.<br />

—Deus, Nikolai, sua habilidade é... Dizer que é surpreendente nem sequer chega perto.<br />

Deu de ombros.<br />

—Nunca a usei muito. Me dê um fragmento cheio de buracos ou uns blocos de C-4 qualquer<br />

dia. Então mostrarei algo surpreendente.<br />

Ele estava se gabando, mas ela sentia que sua lábia ocultava algo mais sombrio.<br />

—E seu irmão?<br />

—O que tem ele?<br />

—Você disse que também pode fazer isto?<br />

—Ele podia, sim,— disse Nikolai, as palavras soaram algo ocas. —Dimitri era mais jovem que<br />

eu. Está morto. Aconteceu faz muito tempo, na Rússia.<br />

Renata estremeceu.<br />

—Sinto muito.<br />

Ele assentiu, arrancou uma folha da massa de vegetação e a fez em pedaços.<br />

—Ele era um menino, um menino muito bom. Era algumas décadas mais jovem que eu.<br />

Estava acostumado a me seguir como um maldito cachorrinho, querendo fazer tudo o que eu<br />

fazia. Não tinha muito tempo para ele. Eu gostava de viver no limite, suponho que ainda gosto. De<br />

todo modo, Dimitri meteu na cabeça que precisava me impressionar.— Ele exalou uma maldição<br />

afogada. —Estúpido menino. Ele faria qualquer coisa para que eu notasse sua presença, sabe?<br />

Para me ouvir dizer que o via, que estava orgulhoso dele.<br />

Renata o olhou na escuridão, vendo a mesma culpabilidade que ela sentia quando pensava<br />

em Mira. Ela viu o mesmo terror, a mesma condenação interior por uma menina em grave perigo-<br />

que poderia inclusive estar já morta - tudo porque alguém em quem eles confiavam tinha falhado.<br />

Nikolai conhecia essa tortura. Ele mesmo a tinha vivido.<br />

—Que ocorreu ao Dimitri?— Renata perguntou com cuidado. Ela não queria abrir velhas<br />

feridas, mas precisava saber. E ela podia ver o peso por Nikolai levar essa dor durante tanto<br />

tempo. —Pode me contar Nikolai. Que ocorreu a seu irmão?<br />

—Ele não era como eu,— disse, as palavras contemplativas, como se afundasse em sua<br />

história. —Dimitri era inteligente, um estudante modelo. Amava seus livros e a filosofia, adorava<br />

desmontar coisas, descobrir como funcionava tudo ao redor dele para juntá-las de novo. Era<br />

brilhante, verdadeiramente superdotado, mas queria ser como eu.<br />

—E como era você então?<br />

—Selvagem,— disse, dizendo isto mais como um epíteto que uma ostentação. —Sou o


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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

primeiro a admitir. Fui sempre um pouco temerário, sem me preocupar onde terminaria amanhã<br />

enquanto estivesse passando um bom momento hoje. Dimitri gostava da contemplação, eu<br />

gostava da adrenalina. Ele desfrutava unindo coisas; eu em quebrá-las.<br />

—Foi por isso que se uniu à Ordem, pela adrenalina da luta?<br />

—Esse é parcialmente o por que, sim.— Ele pousou seus cotovelos sobre seus joelhos e<br />

olhou o chão. —Depois do assassinato de Dimitri, tinha que me afastar. Culpei-me pelo que<br />

ocorreu. Deixei o país e vim aos EUA. Me associei com Lucan e os outros em Boston não muito<br />

tempo depois disso.<br />

Ela não deixou de lado o fato que ele havia dito que seu irmão foi assassinado, não<br />

meramente morto.<br />

—O que ocorreu, Nikolai?<br />

Ele exalou um longo suspiro.<br />

—Tinha uma conversa mútua de ódio com um idiota Darkhaven fora da Ucrânia.<br />

Chegávamos a sérios mão à mão de vez em quando, só por aborrecimento principalmente. Exceto<br />

uma noite que Dimitri ouviu este chupa-sangue num botequim falando estupidezes sobre mim e<br />

decidiu chamar sua atenção. Dimitri tirou uma espada e cortou o tipo diante de seus amigos. Foi<br />

um golpe de sorte – ele não era bom com armas. De todo modo, encheu o saco do bastardo e dois<br />

minutos depois, meu irmão estava morto numa piscina com seu próprio sangue, sua cabeça<br />

separada de seu pescoço.<br />

—OH, Deus meu— Renata disse com a respiração entrecortada, sentindo-se doente em seu<br />

coração. —Sinto muito, Nikolai.<br />

—Eu também.— Deu de ombros. —Depois, saí e persegui o assassino de Dimitri. Tomei sua<br />

cabeça e a trouxe para meus pais como desculpas. Deixaram-me de lado, disseram que deveria ter<br />

sido eu a estar morto, não D. Não os podia culpar por isso. Demônios, tinham razão, depois de<br />

tudo. Assim fugi e nunca olhei atrás.<br />

—Sinto muito, Nikolai.<br />

Ela não sabia mais o que dizer. Ela tinha pouca experiência oferecendo consolo, e inclusive<br />

se a tivesse, não estava segura que quisesse ou necessitasse. Como um ombro repentinamente<br />

incômodo em sua própria pele, Nikolai ficou calado durante um longo momento.<br />

Ele pigarreou, então passou uma mão pelo cabelo e ficou em pé.<br />

—Deveria sair e dar outra olhada na casa. Estará bem durante uns minutos?<br />

—Sim. Estou bem.<br />

A olhou fixamente, procurando seu rosto. Ela não sabia o que queria que dissesse, mas o<br />

olhar em seus olhos parecia indecifrável.<br />

—E a cabeça? Nenhum sinal ainda?<br />

Renata deu de ombros.<br />

—Um pouco, mas não muito mau.<br />

—E seu ombro?<br />

—Bom,— disse ela, flexionando seu braço esquerdo para mostrar que já não tinha dor. —<br />

Está muito melhor agora.


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Um silêncio mais longo e covarde se estendeu entre eles, como se nenhum soubesse como<br />

superá-lo ou fazer a coisa mais fácil e deixá-lo durar. Não foi até que Nikolai começou a separar<br />

algumas das grossas parras para sair que Renata estendeu a mão para o tocar.<br />

—Nikolai... eu, um...queria te agradecer,— disse ela, consciente do fato que embora ele<br />

tenha parado, ela seguia com a mão em seu braço. —Preciso agradecer… por me dar seu sangue<br />

hoje.<br />

Ele girou para ela, deu um leve movimento de cabeça.<br />

—A gratidão é agradável, mas não a necessito. Se nossas situações estivessem invertidas, sei<br />

que teria feito o mesmo por mim.<br />

Ela o teria feito; Renata podia dizer sem a menor dúvida. Este homem que era um estranho<br />

há menos de uma semana - um guerreiro que também era um vampiro - era agora seu mais<br />

confiável e íntimo amigo. Se fosse honesta consigo mesma, teria que admitir que Nikolai ia além<br />

disso, e tinha sido inclusive antes que compartilhasse seu sangue com ela. Inclusive antes do sexo<br />

que ainda fazia pés se retorcerem só de lembrar.<br />

—Não estou segura de como fazer isto…—Renata elevou a vista para ele, lutando com as<br />

palavras mas precisando dizer. —Não estou acostumada a contar com ninguém. Não sei como<br />

estar com alguém. Não é algo que tenha feito antes, e só… sinto como se tudo que pensei que<br />

sabia, todas as coisas que uma vez me ajudaram a sobreviver, fugissem de mim. Estou à deriva…<br />

estou aterrada—. Nikolai acariciou sua bochecha, então a rodeou com um abraço.<br />

—Está a salvo,— disse meigamente atrás de sua orelha. —Te tenho, e vou te proteger.<br />

Ela não se deu conta do quanto precisava ouvir essas palavras até que Nikolai as disse. Ela<br />

não sabia quanto morria por ter seus braços ao redor dela ou quanto ansiava seu beijo até que<br />

Nikolai a aproximou mais e pôs sua boca sobre a dela. Renata o beijou com despreocupação,<br />

deixando-se levar pelo momento porque Nikolai estava com ela, sustentando-a, dando segurança.<br />

Seu beijo cresceu mais apaixonado, ele a inclinou sobre a terra almofadada de seu refúgio. Renata<br />

sentiu seu peso sobre ela, suas cálidas e seguras mãos acariciando-a. Sob sua solta camiseta,<br />

passando seus dedos por seu estômago e por cima de seus seios.<br />

Ele deu a seu lábio um pequeno e zombador toque de suas presas enquanto o separava para<br />

beijá-la. Seus olhos brilhavam como brasas sob suas pálpebras. Ela não precisava ver sua cara<br />

transformada para saber que ele a queria. A dura evidência disso apertava insistentemente contra<br />

seu quadril. Ela moveu suas mãos por cima de sua medula e ele gemeu, sua pélvis golpeando com<br />

um reflexivo empurrão.<br />

Seu nome era um gemido gutural enquanto ele movia a boca sob seu queixo e por seu<br />

pescoço. Subiu sua camiseta e Renata arqueou as costas para receber seus lábios enquanto ele<br />

descia sobre seus peitos nus e a suave planície de seu estômago. Ela estava perdida no prazer de<br />

seu beijo. Sentindo a dor de sua pele contra a sua.<br />

Com hábeis dedos, desabotoou seu jeans e os deslizou por suas coxas. Sua boca seguiu seu<br />

progresso, queimando-a do quadril até o tornozelo enquanto separava suas pernas e empurrava<br />

suas roupas para um lado. Ela gritou quando ele então se inclinou entre suas coxas e a chupou,<br />

sua língua e presas levando-a a uma velocidade de deliciosa tormenta.


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—OH, Deus,— ofegou ela, seus quadris elevando do chão enquanto ele enterrava sua boca<br />

em seu sexo.<br />

Ela não soube como conseguiu, mas um momento mais tarde ele estava nu também. Deitou<br />

sobre ela, mais que humano, mais que simplesmente um homem, e qualquer mulher na situação<br />

da Renata tremeria de desejo. Ela abriu suas pernas para ele, ansiosa por senti-lo dentro,<br />

enchendo o vazio com sua força e calor.<br />

—Por favor,— ela gemeu, ofegando de necessidade.<br />

Não a fez pedir duas vezes.<br />

Movendo-se para cobri-la, Nikolai pôs seus joelhos entre suas pernas e a dobrou debaixo<br />

dele. A cabeça de seu pênis golpeou a fenda lisa de seu corpo, em seguida, mergulhou, longo,<br />

lento e profundo.<br />

Seu grunhido enquanto se afundava dentro dela era feroz, um eco de trovões em seus ossos<br />

e sangue. Começou a empurrar lentamente, tomando seu tempo no princípio, embora fosse claro<br />

que a paciência era uma tortura. Renata podia sentir a intensidade de sua fome por ela, a<br />

profundidade de seu prazer enquanto o corpo dele a cobria da cabeça ao testículo.<br />

—Você é tão boa,— ele murmurou entredentes enquanto se retirava para começar de novo,<br />

mais profundo que antes. Empurrou forte, estremecendo com o esforço. —Jesus, Renata... sintote<br />

tão fodidamente bem.<br />

Ela uniu seus tornozelos ao redor de suas costas enquanto ele tomava um ritmo mais<br />

frenético.<br />

—Mais forte— sussurrou ela, querendo sentir que amassava seus medos, um martelo<br />

esmagando toda sua culpa, dor e solidão. —OH, Deus, Nikolai... foda-me mais forte.<br />

Seu grunhido de resposta soou tão entusiasta quanto selvagem. Deslizando seu braço por<br />

baixo dela, a inclinou para encontrar suas carícias, conduzindo-a com toda a ira que ela tão<br />

desesperadamente necessitava. Varreu sua boca com um beijo febril, pegando seu grito enquanto<br />

seu clímax rugia sobre ela como uma tormenta. Renata tremeu e estremeceu, o agarrando<br />

enquanto ele continuava empurrando, cada músculo de suas costas e ombros ficando tão duros<br />

como granito.<br />

—Ah, Cristo,— disse entre seus dentes e presas, seus quadris movendo-se de forma<br />

estrepitosa contra ela num rápido e temerário ritmo, que era tão bom. Tão cheio de vida e alegria.<br />

Seu vulgar grito de liberação ecoou na voz de Renata enquanto ela voltava de novo,<br />

aferrando-se a ele enquanto se perdia neste delicioso novo sentido de despreocupação.<br />

Ela verdadeiramente estava à deriva, mas neste momento não sentia medo. Estava a salvo<br />

com este homem selvagem e temerário - ela verdadeiramente acreditava isso. Ela confiava em<br />

Nikolai com seu corpo e sua vida. Enquanto permanecia ali com ele em uma postura intima, não<br />

era tão difícil imaginar que podia confiar nele com seu coração também.<br />

O que poderia, de fato, era estar se apaixonando por ele.<br />

* * *


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

A batida foi insistente - um frenético bater na sólida porta de carvalho do Darkhaven de<br />

Andreas Reichen em Berlin.<br />

—Andreas, por favor! Está aí? É Helene. Tenho que te ver!<br />

Eram mais de 4 horas da manhã, só um breve momento antes que o sol aparecesse sobre o<br />

horizonte, só uns poucos atrasados na casa permaneciam acordados. O resto dos familiares de<br />

Reichen - cerca de uma dúzia deles, jovens homens da raça e casais com crianças pequenas, alguns<br />

deles recém-nascidos - já tinham começado a ir para a cama.<br />

—Andreas? Alguém?— Outra série de golpes cheios de pânico, seguidos por um grito<br />

apavorado. —Olá! Alguém, por favor... me deixem entrar!<br />

Dentro da mansão, um homem da raça saiu da cozinha onde estava esquentando um copo<br />

de leite para sua companheira de raça que o esperava no andar de cima na enfermaria, onde<br />

estava atendendo seu exigente bebê. Conhecia a mulher humana que estava na porta. A maioria<br />

do Darkhaven a conhecia, e Andreas tinha deixado claro que Helene era sempre bem-vinda em<br />

sua casa. Que tivesse chegado sem avisar a essa hora tardia, e enquanto Andreas estava longe em<br />

negócios privados durante duas noites, era estranho. Inclusive mais estranho era o fato que a<br />

típica executiva sob controle estivesse tão obviamente assustada.<br />

Cheio de preocupação pelo que podia ter ocorrido à companheira humana de Andreas, o<br />

homem do Darkhaven deixou a xícara de leite e correu pelo chão de mármore do vestíbulo, sua<br />

roupa de banho voando atrás dele como uma vela.<br />

—Já vou,— gritou, elevando sua voz para ser ouvido pelo golpe incessante e as súplicas<br />

chorosas de Helene por ajuda do outro lado da porta. Seus dedos voaram sobre o teclado do<br />

sistema de segurança da mansão. —Um momento! Estou aqui, Helene. Vai ficar tudo bem.<br />

Quando a luz eletrônica piscou para indicar que os sensores estavam desabilitados, tirou os<br />

ferrolhos e abriu a porta.<br />

—OH, graças a Deus!— Helene correu para ele, sua maquiagem borrada, manchas negras<br />

cobrindo suas bochechas. Estava pálida e tremente, seus habituais olhos ardilosos pareciam de<br />

algum modo vazios enquanto ela fazia uma rápida busca visual do vestíbulo.<br />

—Andreas...onde está ele?<br />

—Foi a Hamburgo a negócios até amanhã de noite. Mas você é bem vinda aqui.— Recuou<br />

para dar espaço e deixar que entrasse na mansão. —Entra, Helene. Andreas não gostaria que a<br />

rejeitássemos.<br />

—Não,— disse ela de algum jeito débil. —Sei que ele nunca me rejeitaria.<br />

Entrou no vestíbulo e pareceu instantaneamente mais calma.<br />

—Eles sabiam que ele nunca me rejeitaria...<br />

Foi nesse momento que o jovem Darkhaven se deu conta que Helene não estava sozinha.<br />

Atrás dela, apressando-se agora antes que pudesse fazer algo mais que gritar em alarme, havia<br />

uma equipe de agentes da lei pesadamente armados vestidos da cabeça aos pés de preto.<br />

Ele virou sua cabeça para olhar Helene incrédulo. Com completo horror.<br />

—Por que?— perguntou, mas a resposta estava em seus olhos vazios.<br />

Alguém tinha conseguido controlá-la. Alguém muito poderoso.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Alguém que tinha convertido Helene em uma Minion.<br />

O pensamento se registrou antes que o primeiro disparo o golpeasse. Ele ouviu carregadores<br />

sendo disparados, ouviu os gritos de sua família enquanto o Darkhaven despertava com terror.<br />

Mas então outra bala golpeou seu crânio, e seu mundo e tudo nele se voltou silencioso e<br />

negro.<br />

Capítulo 25<br />

Nikolai se sentou dentro do refúgio de videiras e observou como um único raio de luz<br />

atravessava as folhas e iluminava o cabelo escuro de Renata enquanto dormia. A luz ultravioleta<br />

era tóxica para os de sua espécie após meia hora de exposição contínua, mas não resistiu ao<br />

desejo de deixar aquele pequeno buraco na vegetação, e deixar entrar o teimoso raio.<br />

Em troca, nos últimos minutos, tinha ficado sentado junto de Renata observando,<br />

admirando, muito intrigado, como a luz cobria seu cabelo de ébano, a infusão de fios de seda com<br />

uma dúzia de tons diferentes, cobre, bronze e vermelho.<br />

Que diabos acontecia?<br />

Estava sentado, olhando seu cabelo, pelo amor de Deus. Não só olhando, mas olhando com<br />

total fascinação. Para Niko isso indicava uma de duas coisas preocupantes: ou devia considerar<br />

muito seriamente tomar aulas com o Vidal Sassoon 17 , ou estava completamente perdido por esta<br />

mulher.<br />

Tanto quanto no passado, eternamente, arruinado por ninguém menos que ele.<br />

Em algum lugar, de algum jeito, deixou-se apaixonar por ela.<br />

O que explicava por que não podia manter suas mãos e outras partes longe dela. Também<br />

explicava por que tinha passado toda a noite – com exceção de sua viagem rápida ao refúgio antes<br />

do amanhecer – deitado junto de Renata, sustentando-a em seus braços. E se necessitava uma<br />

explicação do por que seu peito havia se sentido tão apertado e pesado quando começou a chorar<br />

ontem de noite, ou por que havia se sentido obrigado a compartilhar com ela seu sentimento de<br />

culpa pela perda de Dimitri há tantos anos, supunha-se que o estar apaixonado por ela explicava.<br />

Por muito que tentasse se convencer que estava a salvo com ele, Nikolai se sentia a salvo<br />

com ela também. Confiava nela plenamente. Mataria para protegê-la, morreria por ela, sem<br />

duvidar nem um segundo se chegasse a isso. Talvez ela não fizesse parte de sua vida há muito<br />

tempo, mas não se imaginava sem ela.<br />

17 Vidal Sassoon é um cabeleireiro inglês, nascido em Londres, em 1928, no seio de uma família judaica.Nos Estados<br />

Unidos estudou na universidade de Nova Iorque. Como cabeleireiro, notabilizou-se por ter criado uma forma de<br />

penteado baseada na Bauhaus e cortes baseados nas formas geométricas. Vencedor de vário prêmios, foi presidente<br />

da Multinacional Vidal Sassoon, presidente da Fundação Vidal Sassoon e do centro Vidal Sassoon para o Estudo do<br />

Anti-Semitismo da Universidade de Jerusalém


Tiamat World<br />

156<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Oh! Merda. Realmente tinha se apaixonado por Renata.<br />

— Fodidamente brilhante,— murmurou, fazendo uma careta quando ela se agitou pelo som<br />

de sua voz.<br />

Ela abriu os olhos e sorriu quando o viu sentado.<br />

—Olá!<br />

—Bom dia,— disse, casualmente alcançando um ramo de videira para fechá-la e deixar fora<br />

o último raio de sol.<br />

Encontrou seu espreguiçar felino mais fascinante que seu cabelo. Estava usando a mesma<br />

camisa de algodão Oxford da noite anterior, a metade dos botões pulverizados pelo chão do<br />

refúgio. A grande camisa estava aberta da metade para baixo mal cobrindo sua nudez. Nenhuma<br />

queixa por ele.<br />

—Como se sente?<br />

Ela pareceu considerar por um segundo, depois olhou para ele com o cenho franzido.<br />

—Sinto-me realmente bem. Quero dizer, ontem à noite estava…— Ruborizou, uma doce cor<br />

rosa encheu suas bochechas. — Ontem à noite foi incrível, mas pensei que ficaria fora de combate<br />

depois do ataque. Não entendo… nunca aconteceu nada assim. Quero dizer, tive um pouquinho<br />

de dor, mas pelo ataque na casa de Jack, devia estar agonizando a noite toda.<br />

—Isso nunca aconteceu antes?<br />

Ela sacudiu sua cabeça.<br />

— Nunca. Cada vez que usava minha habilidade, o efeito retornava.<br />

—Mas ontem à noite não.<br />

—Não, ontem à noite não,— ela disse. — Nunca me senti melhor.<br />

Niko talvez houvesse feito uma brincadeira sobre os efeitos milagrosos de suas proezas<br />

sexuais, mas sabia o tipo de magia que havia feito Renata suportar o efeito rebote de seu poder.<br />

— Bebeu de meu sangue ontem. Isso é o que o faz diferente.<br />

—Acredita que seu sangue ajudou a sanar meu ombro, mas também ajudou nisto? É<br />

possível?<br />

—É definitivamente uma possibilidade. A companheira de raça que bebe regularmente o<br />

sangue de vampiro se volta muito mais forte do que seria sem ele. O envelhecimento se<br />

desacelera a um passo de tartaruga. As células do corpo, músculos e todo o metabolismo chega a<br />

um estado físico visivelmente saudável. E sim, muitas vezes o sangue de um companheiro impacta<br />

sua habilidade psíquica também.<br />

—Isso é por que Sergei nunca me deixou beber dele,— Renata disse, sua mente veloz para<br />

chegar na mesma conclusão que tinha chegado Niko. —Não fez segredo que gostava que meu<br />

poder fosse limitado a pequenas rajadas. As vezes que tentei golpeá-lo, nunca podia manter o<br />

tempo suficiente para derrubá-lo, e no final o esforço sempre me custava caro depois que<br />

ricocheteasse de volta.<br />

—Sergei Yakut era Gen Um,— Niko recordou. — Seu sangue em seu sistema poderia te fazer<br />

virtualmente incansável.<br />

Renata zombou em voz baixa.


Tiamat World<br />

157<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

— Só um grilhão a mais para mim. Devia saber que o mataria se tivesse a menor esperança<br />

de êxito. — Guardou silêncio durante um minuto, com os braços cruzados arrancou uma fibra de<br />

erva do chão do refúgio improvisado. — Tentei matá-lo… no dia que Mira e eu fugimos juntas da<br />

guarida. Nesse dia pôs o ferro quente nas minhas costas. Fez outras coisas também nesse dia.<br />

Nikolai não tinha que perguntar mais sobre o que tinha sofrido. As cicatrizes das<br />

queimaduras em suas costas eram atrozes, mas pensar no castigo de Yakut era pior… O sangue de<br />

Niko fervia de indignação. Pôs sua mão sobre a dela.<br />

— Deus, Renata. Sinto muito.<br />

Olhou-o, um firme olhar que não procurava simpatia.<br />

— Sua misericórdia era que não forçou Mira a ver o que me fazia. Mas Sergei me disse que<br />

se ela ou eu tentássemos escapar outra vez Mira pagaria da mesma forma que eu o tinha feito.<br />

Prometeu que seria pior para ela, e sabia que dizia a sério… assim fiquei, e o obedecia, e cada hora<br />

de cada dia rezava por um milagre que eliminasse Sergei Yakut de minha vida.<br />

Deteve-se, acariciando seu rosto.<br />

— Então você chegou e tudo mudou. Suponho que em muitos sentidos, é meu milagre.<br />

Nikolai capturou sua mão e plantou um beijo no centro de sua palma.<br />

—Os dois somos afortunados.<br />

—Alegra-me que Sergei esteja morto,— confessou ela brandamente.<br />

—Devia sofrer mais,— Niko disse, sem tentar ocultar o tom escuro de sua voz. — Mas já foi.<br />

Renata assentiu.<br />

— E agora Lex está morto também. Os guardas de Yakut. Todos eles.<br />

—A esta hora da manhã, ele e os outros na guarida não são mais que cinza,— Niko disse ao<br />

esticar-se para por um de seus cabelos negros brilhantes atrás da orelha. — Depois que dormiu<br />

ontem à noite retornei e abri todas as persianas para que entrasse a luz do sol. Também chamei<br />

Boston para dar os números no celular de Lex. Gideon nos chamará quando houver feito o<br />

rastreamento para nos dar os detalhes.<br />

Outro assentimento, sua voz suave esperançada.<br />

—Está bem.<br />

—Enquanto estava lá, trouxe algo que pensei que poderia precisar.<br />

Inclinou-se para o monte de armas e outros instrumentos que havia recolhido e pegou o<br />

pacote de seda e veludo que pertencia a Renata.<br />

—Minhas adagas,— disse ela, seu rosto se iluminou de alegria quando pegou o pacote em<br />

suas mãos. Desatou as cintas que as prendiam e desenrolou todo o veludo que cobria as quatro<br />

adagas com gravuras personalizadas. Jack me deu isso…<br />

—Sei, me disse que as havia feito para você, um presente. Disse que não estava certo que as<br />

tivesse conservado.<br />

—São muito caras para mim. - Murmurou, seguindo o lavrado do punho à ponta com o<br />

dedo.<br />

—Eu disse que ainda as tinha. Alegrou-se ao escutar o muito que significam para você.<br />

Seu olhar cheio de gratidão o banhou.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Nikolai… obrigado. Por fazer isso pelo Jack, e por me devolver isso. Obrigado.<br />

Ela se aproximou dele e o beijou. A suave pressão de seus lábios foi algo profundo. Nikolai<br />

pegou seu rosto entre suas mãos, acariciando sua mandíbula com os polegares, o delicado ângulo<br />

de suas maçãs do rosto. Ela separou seus lábios enquanto sua língua percorria a abertura de seus<br />

lábios, soltou um doce gemido quando entrou em seu interior.<br />

Suas presas se estenderam pontudas pela luxúria que corria através dele como fogo. Entre<br />

suas pernas, seu sexo era uma coluna de granito, passando rapidamente à idéia de ter Renata<br />

debaixo dele. Quando sua mão se arrastou para baixo além da cintura da calça para o tocar, seu<br />

membro ávido saltou, aumentando mais sob o calor da palma de sua mão enquanto ela o<br />

acariciava.<br />

—Que horas são? murmurou ela contra sua boca febril.<br />

Ele grunhiu, muito absorto em suas tormentosas carícias para processar imediatamente sua<br />

pergunta. Através de sua respiração entrecortada conseguiu responder.<br />

—É cedo. Provavelmente ao redor das nove.<br />

—Bom, diabos, suponho que é muito cedo. Ela murmurou, movendo longe a boca e<br />

deixando um rastro de beijos ao longo de sua garganta, jogando sobre o montículo do pomo de<br />

Adão. —Não pode sair a luz do sol, verdade?<br />

—Não.<br />

—Hmm. Seus lábios úmidos desceram sobre seu peito nu. Recostou-se sobre seus cotovelos<br />

enquanto ela seguia o contorno de seus dermoglifos com a ponta rosada de sua língua, riscando<br />

os arcos e redemoinhos ao redor de seu mamilo e através do plano de seu estômago. Quando<br />

falou, sua voz vibrava em todos seus ossos. —Assim, suponho que isso significa que estamos<br />

presos aqui por um tempo, né?<br />

—Sim. A palavra saiu como um ofego. Seu beijo viajou devagar para baixo, além de seu<br />

umbigo, seguindo as linhas de seus dermoglifos. Suava pelo esforço, palpitava pela necessidade de<br />

sentir seus lábios úmidos e quentes apertar-se ao seu redor.<br />

—Suponho que estamos presos aqui até de noite.<br />

—Hum-hum. Ela prendeu o cordão de suas calças entre seus dentes e deu um forte puxão. O<br />

nó caiu solto, e então baixou suas calças o suficiente para que a cabeça de seu membro nu saísse<br />

ansiosa. Ela o lambeu, observando seu rosto enquanto formava redemoinhos com sua língua<br />

diabólica ao redor de sua carne, sugando uma gota do líquido salgado.<br />

—Ah, Cristo…<br />

—Assim,— ela murmurou, seu fôlego flutuando através de sua pele úmida, atormentando-o<br />

ainda mais. —O que vamos fazer aqui o dia todo enquanto esperamos a noite chegar?<br />

Niko riu entredentes.<br />

—Querida, posso pensar em centenas de coisas que gostaria de fazer contigo.<br />

Ela sorriu desafiante.<br />

—Só cem?<br />

Antes que pudesse dar uma réplica inteligente, ela envolveu seus lábios ao redor de seu<br />

pênis e o tomou profundamente dentro de sua boca. O corpo de Niko teve uma explosão nuclear


Tiamat World<br />

159<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

de prazer, encontrava-se rezando para que o tempo e os dias a sós com esta incrível mulher – sua<br />

mulher – pudessem estender-se para sempre.<br />

Capítulo 26<br />

Renata caminhou para a porta traseira do alojamento e se deteve na soleira. Havia deixado<br />

Nikolai no refúgio, decidindo que sua maior prioridade era um banho, uma ducha quente, e uma<br />

muda de roupa que realmente seria melhor que sua resistência em permanecer inclusive de novo<br />

sob o domínio de Sergei Yakut.<br />

Agora duvidava. No início da tarde o sol em suas costas era alentadoramente complacente,<br />

mas dentro do alojamento era escuro e frio. Sombras caíam sobre a mobília derrubada<br />

estendendo-se através das ordinárias tábuas do chão. Avançou e caminhou para o lugar onde Lex<br />

havia caído.<br />

Seu corpo se havia ido, o sangue também. Nada mais que um pequeno rastro de cinza<br />

deixado para trás – como Nikolai prometeu. As persianas sobre a janela da sala estavam<br />

totalmente abertas, mas o sol já havia passado. Uma fresca brisa soprou o aroma de resina de<br />

pinheiro e ar fresco do bosque na calma úmida do lugar. Renata respirou profundamente em seus<br />

pulmões, deixando a fragrância de um novo dia impregnar suas lembranças de morte, sangue e<br />

violência que tinham coberto o albergue ontem à noite.<br />

Hoje, nesta nova luz, parecia tão diferente para ela.<br />

Ela mesma parecia diferente, e sabia a razão.<br />

Estava apaixonada.<br />

Pela primeira vez em muito tempo, talvez em toda sua vida, sabia o verdadeiro sentido da<br />

esperança. Acomodando-se em seu coração – acreditando que seu futuro mantinha algo mais que<br />

a mera sobrevivência, que poderia em algum momento medir a felicidade de anos, não em raros e<br />

fugidos momentos. Estar com Nikolai, sendo em seus braços ou parada ao seu lado, faziam-na<br />

acreditar que muitas coisas fossem possíveis.<br />

Renata caminhou na grande sala, apoiando-se no fato que esta seria a última vez que<br />

precisaria ver o lugar.<br />

Isto era um adeus.<br />

Quando ela e Nikolai saíssem daqui para continuar sua busca por Mira, este albergue, o<br />

terrível celeiro e o canil que se encontrava na parte detrás, incluindo Sergei Yakut, Lex, e todos os<br />

outros que marcaram os últimos dois anos de sua vida seriam história. Deixaria tudo aqui, a<br />

fealdade e a dor desterradas de alguma parte de seu futuro.<br />

Esta parte de sua vida havia terminado.<br />

Andou pelo pequeno banheiro que havia compartilhado com Mira, em paz com ela mesma e<br />

seu entorno enquanto ligava a água quente na ducha. Quando o vapor úmido começou a rodar<br />

fora da cortina, desabotoou uns poucos botões da camisa emprestada de Jack e ficou ali parada


Tiamat World<br />

160<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

por um momento, nua, contemplando seu futuro com novos olhos. Não sabia o que a esperava<br />

uma vez que a noite caísse e a nova jornada começasse, mas estava disposta a enfrentá-lo.<br />

Com Nikolai ao seu lado – com a esperança e o ardente amor tão resplandecente como uma<br />

chama em seu coração – estava preparada para enfrentar tudo.<br />

Como um cavalheiro destinado a uma batalha - procurando harmonia e bênção, Renata deu<br />

um passo sob a água quente da ducha. Fechou seus olhos numa solene oração enquanto a<br />

reconfortante água caía sobre ela.<br />

***<br />

Nikolai ficou na sombra, refugiando-se enquanto os passos de Renata se aproximavam.<br />

—Toc, toc,— ela o chamou através das folhas. —Vêem, assim poderá olhar a luz do dia. Não<br />

vai querer enferrujar-se por mim.<br />

Separou algumas folhas verdes e avançou, pronunciando uma rápida desculpa quando notou<br />

que ele tinha o telefone celular de Lex no ouvido. Niko havia chamado à Ordem pouco depois que<br />

ela saiu do resguardo para limpar-se. As notícias de Boston eram uma mistura entre boas e más,<br />

junto com uma ajuda extra de sérios e fodidos problemas.<br />

A boa? Um dos números no telefone de Lex era, de fato, de Edgar Fabien. Sem muito<br />

esforço, Gideon havia sido capaz de piratear nos registros da base de dados de identificação<br />

internacional de Fabien. Agora, a Ordem tinha os endereços da residência do líder do Darkhaven<br />

de Montreal, sua casa rural, assim como os dados de todas suas outras propriedades privadas,<br />

tanto de negócios como pessoais. Gideon tinha acesso aos números de telefone celular de Fabien,<br />

carteira de motorista, arquivos do computador, inclusive do filho da puta da equipe de vigilância<br />

eletrônica do Darkhaven.<br />

E aí é onde o mal havia chegado.<br />

Edgar Fabien não estava em casa. Gideon pirateando havia conectado um canal de vídeo<br />

mais cedo nesta noite, mostrando um grupo de sete machos da Raça – um deles provavelmente<br />

Fabien – deixando o Darkhaven em companhia de uma escolta armada da Agência de Execução.<br />

Havia sido difícil dizer quem eram os visitantes de Fabien, quando todos seus luxuosos trajes<br />

pareciam iguais e suas caras tinham sido completamente ocultas por capuzes escuros.<br />

Quanto à maldita seriedade do episódio, o grupo de vampiros havia saído com uma menina<br />

nas costas. Uma jovem que evidentemente não havia tido nada de paz. A descrição do Gideon da<br />

fêmea pequena loira não deixava nenhuma dúvida de que era Mira.<br />

—Ainda está comigo? - Gideon perguntou no outro extremo da linha.<br />

—Sim, continuo aqui.<br />

—Lucan quer que Fabien seja trazido a Boston para um interrogatório. Isso significa que o<br />

necessitamos vivo, meu homem.<br />

Niko soltou uma maldição.<br />

—Primeiro temos que encontrar esse bastardo.<br />

—Sim, bom, estou nisso. Rastreei o GPS do telefone celular de Fabien. Consegui um sinal de


Tiamat World<br />

161<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

um lugar há aproximadamente uma hora ao norte de Yakut – uma das propriedades de Edgar<br />

Fabien. Tem que ser lá.<br />

—Está seguro?<br />

—Bastante seguro, já enviamos reforços a caminho. Tegan, Rio, Brock, e Kade se dirigem ao<br />

norte para encontrar-se com você enquanto falamos.<br />

—Reforços a caminho? - perguntou Niko, olhando uma parte de luz UV que aparecia através<br />

das folhas do refúgio. A Ordem tinha trajes de amparo solar para situações de emergência, mas<br />

inclusive uma geração antiga de vampiros vestidos dos pés a cabeça com trajes UV seria incapaz<br />

de resistir à luz solar que golpearia no assento do condutor numa viagem de quase sete horas. —<br />

Jesus, não pode estar falando a sério. Quem derramou a última gota que transbordou o copo<br />

dessa missão?<br />

Gideon riu.<br />

—Fêmeas teimosas, meu homem. Em caso que não tenha se dado conta, fomos invadidos<br />

por elas nos últimos tempos.<br />

—Sim, notei.<br />

Niko não podia menos que jogar uma olhada a Renata, que estava verificando algumas das<br />

armas que tinham recolhido de Lex e dos outros.<br />

—Qual é a situação, então?<br />

—Dylan está conduzindo os meninos a bordo da Rover com Elise montando guarda. Sua hora<br />

estimada de chegada em sua área será perto das nove em ponto, justo depois do pôr-do-sol.<br />

Como Fabien tem vários sócios desconhecidos com ele, vamos precisar entrar e sair dali<br />

garbosamente, sem vitimas desnecessárias. - Gideon fez uma pausa. —Escuta, sei que está<br />

preocupado com a menina. Sua segurança é importante, sem dúvida, mas isto é grande, Niko. Se<br />

Fabien pode nos levar a algum lugar perto de Dragos, temos que nos assegurar de capturá-lo esta<br />

noite. Essa é a missão número um, diretamente de Lucan.<br />

—Sim,— disse Nikolai. Sabia a missão. Também sabia que não podia decepcionar Renata, ou<br />

Mira de fato. —Merda… de acordo. Gideon, você escutou.<br />

—Chamarei se Fabien se mover entre agora e o pôr-do-sol. Enquanto isso, estou<br />

trabalhando num ponto de encontro para que se reúna com os meninos esta noite e ponha em<br />

marcha um plano de infiltração. Deverei ter algo em uma hora ou duas. Te chamo então.<br />

—Correto. Até depois.<br />

Nikolai fechou o telefone e o colocou junto dele.<br />

—Gideon conseguiu algo daqueles números telefônicos? - perguntou Renata, olhando-o<br />

cuidadosamente. —Temos alguma pista do Darkhaven de Fabien?<br />

Niko assentiu.<br />

—Temos seu endereço.<br />

—Graças a Deus,— ela respirou. O alívio cedeu passo rapidamente à determinação. Tão<br />

feroz como nunca havia visto nela. —Onde está ele? Em seu Darkhaven privado na cidade, ou em<br />

alguma parte nos subúrbios? Posso fazer uma coberta ali agora mesmo para ter uma vista do<br />

terreno. Inferno, sinto-me de uma maneira – sem dor, meu ombro deve estar melhorando – talvez


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

deveria caminhar diretamente até a frente de sua porta e golpeá-lo com uma explosão de...<br />

—Renata. Niko pôs sua mão sobre a dela e sacudiu a cabeça. —Fabien está em movimento.<br />

Não está mais na cidade.<br />

—Então onde?<br />

Poderia contar sobre o sinal do GPS que Gideon estava rastreando. Poderia dizer que Fabien<br />

tinha Mira em sua custódia e que a menina estava provavelmente a só uma hora ao norte de onde<br />

estavam sentados agora. Mas também sabia que se dissesse isso a Renata – se desse o mínimo de<br />

certeza sobre o paradeiro da menina que tanto significava para ela não a poderia deter de sair por<br />

sua própria conta agora mesmo para encontrá-la.<br />

A promessa de Niko à ordem era seu dever – sua vida – sua honra jurada – mas e Renata?<br />

Esta mulher era seu coração. Não podia pôr em perigo a missão de seus irmãos mais que permitir<br />

à mulher que amava partir precipitadamente ao perigo sem ele ali para vê-la. O pensamento era<br />

de macho pré-histórico, possivelmente por ter em conta que Renata era uma mulher que sabia<br />

como dirigir ela mesma quase qualquer situação. Estava bem treinada e capaz, definitivamente<br />

valente, mas maldita fosse, significava muito para que corresse esse tipo de risco. Acima de tudo,<br />

não era uma opção.<br />

—Estamos esperando uma localização sólida do Intel sobre onde está Fabien,— disse ele, a<br />

mentira amarga sobre sua língua, independentemente de suas boas intenções. —Enquanto isso, a<br />

Ordem está enviando reforços. Reuniremo-nos com eles esta noite.<br />

Renata escutou, claramente confiando nele e em sua palavra.<br />

—A Ordem tem alguma idéia se Mira está com Fabien em qualquer lugar que esteja agora?<br />

—Estamos trabalhando nisso. Nikolai encontrou difícil sustentar seu olhar verde claro sem<br />

pestanejar. —Quando encontrarmos Fabien, encontraremos Mira. Ela vai estar bem. Prometi isso,<br />

recorda?<br />

Quando pensou que ela só assentiria com a cabeça e afastaria o olhar, Renata em troca<br />

estendeu sua mão para apanhar seu rosto na palma de sua mão.<br />

—Obrigado… por estar aí para me apoiar em tudo isto. Não sei como serei capaz de pagar,<br />

Nikolai.<br />

Ele pegou sua mão e pôs um tenro beijo em sua palma. Ia dizer algo singelo, uma das<br />

brincadeiras sem sentido habituais que tão freqüentemente usava quando as emoções ao seu<br />

redor eram muitos reais e emotivas ou muitas cruas de honestidade. Tinha seus métodos sob a<br />

manga: desviar com humor. Desarmar com indiferença. Atacar e correr como o inferno à primeira<br />

indicação de sua própria vulnerabilidade. Mas todas aquelas velhas e confiáveis armas que havia<br />

aperfeiçoado falhavam agora.<br />

Acariciou com seu dedo polegar o dorso da mão de Renata e se deixou perder no refúgio<br />

verde de seus olhos.<br />

—Não sou muito bom nisto,— murmurou ele. —Quero dizer algo… merda. Vou te encher o<br />

saco provavelmente, mas quero que saiba que me preocupo com você. Preocupo-me…<br />

endemoniadamente muito, Renata.<br />

Ela o olhou fixamente, indo tão lento e silencioso que nem sequer estava seguro que ela


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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

estivesse respirando.<br />

—Preocupo-me,— soltou, frustrado consigo mesmo pela estupidez das palavras que queria<br />

que fossem perfeitas para ela. —Não sei como aconteceu, ou inclusive o que significará para você<br />

– se algo – mas preciso dizer afinal porque isto é real. É real, e nunca me senti desta maneira<br />

antes. Não com ninguém.<br />

Sua boca se suavizou num pequeno sorriso enquanto divagava com estupidez, tentando<br />

encontrar uma maneira de dizer a profundidade do que estava em seu coração. Tentar e falhar<br />

miseravelmente.<br />

—O que tento dizer é…— sacudiu sua cabeça, sentindo-se um merda, mas o suave toque de<br />

Renata em seu rosto o tranqüilizou. Seu claro olhar o trouxe de volta, direto e centrado,<br />

conectando-o com a terra. —O que tento dizer é, que estou apaixonado por você… realmente<br />

apaixonado. Não estava procurando que isto acontecesse. Não pensei que alguma vez realmente<br />

o quisesse, mas…. ah, Cristo, Renata, quando olhei seus olhos, a palavra saltou em minha mente:<br />

PARA SEMPRE.<br />

Ela exalou devagar e seu pequeno sorriso se estendeu em radiante alegria.<br />

Niko passou suas mãos sobre sua suave pele, e seu cabelo úmido.<br />

—Estou apaixonado por você, Renata. Sei que não sou um poeta – merda, nem sequer<br />

chegou perto. Não tenho todas aquelas finas palavras que desejaria poder dizer… mas quero que<br />

saiba que o que sinto por você é real. Te amo.<br />

Ela riu brandamente.<br />

—O que te faz pensar que quero poesia ou palavras finas? Acaba de dizer exatamente o que<br />

queria ouvir, Nikolai. Ela deslizou sua mão pela parte detrás de seu pescoço e o puxou para um<br />

longo e apaixonado beijo. —Também te amo,— sussurrou contra sua boca. —Assusta-me como o<br />

inferno admitir isso, mas é certo. Te amo, Nikolai.<br />

Passou seus lábios sobre os dela e a abraçou, desejando nunca ter que afastar-se. Mas o<br />

entardecer chegaria antes de tempo, e ainda havia uma coisa que precisava fazer.<br />

—Tem que fazer algo por mim.<br />

Renata se acomodou contra ele.<br />

—Tudo.<br />

—Não sei o que vai acontecer esta noite, mas preciso saber que vai nisto tão forte como<br />

possa. Quero que tome mais de meu sangue.<br />

Ela se soltou de seu abraço e zombateiramente arqueou uma sobrancelha para ele.<br />

—Está certo que não está somente tentando entrar em minhas calças de novo?<br />

Niko riu entredentes, uma sacudida de calor formando redemoinhos diretamente em sua<br />

virilha como uma boa idéia.<br />

—Eu não rejeitaria o convite. Mas digo a sério…. Quero que beba de mim de novo agora.<br />

Faria isso por mim?<br />

—Sim, é obvio.<br />

Afastou uma mecha escura de sua testa.<br />

—Há uma coisa mais, Renata. Quando nos movermos sobre Fabien esta noite, mataria-me


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

se algo… bom, simplesmente não posso me arriscar a estar separado de você, vou precisar saber<br />

que está bem todo o tempo, ou minha concentração vai para a merda. Preciso ter um enlace de<br />

você. Sei como se sentia com Yakut, usando seu sangue como uma trava para você, e prometo que<br />

isso não é o que...<br />

—Sim, Nikolai. Disse ela, interrompendo-o com um movimento suave de seus dedos sobre<br />

sua boca. —Sim… pode beber de mim.<br />

Sua maldição como resposta foi baixa de alívio.<br />

—É para sempre,— recordou firmemente. —Precisa entender isso. Igual ao vínculo de<br />

sangue que tem comigo agora, se beber de você, não poderemos desfazê-lo nunca.<br />

—Entendo,— disse ela, sem vacilação. Se aproximou e o beijou, longo e profundo. —<br />

Entendo que o vinculo é para sempre… e sigo dizendo que sim.<br />

Niko gemeu. O fogo iluminando suas veias. Suas presas se alongaram, e seu sexo se elevou<br />

por atenção imediata, tudo nele ansioso por reclamar Reata como sua. Ele a beijou, seu coração<br />

golpeando fortemente contra sua caixa torácica quando ela passou sua língua por seus lábios para<br />

brincar com as pontas afiadas de suas presas.<br />

—Te quero nua para isto. Disse ele, incapaz de conter o tom autoritário que se filtrava em<br />

sua voz. Ele era parte humano, mas havia outra parte dele – uma parte mais selvagem – que era<br />

menos paciente do que gostaria.<br />

Niko olhou com olhos chamejantes de âmbar como Renata o obedecia rapidamente,<br />

despojando-se de sua roupa e estendendo-se sobre o chão de grama sombreado do refúgio, suas<br />

coxas deixando-se abrir, apresentando-se a ele sem um pingo de inibição.<br />

—OH, sim,— Niko grunhiu. —Isso é muito melhor.<br />

Ele estava desenfreado pela necessidade dela. Arrancando sua própria roupa e deixando-a<br />

de lado, subiu sobre seus quadris e a montou. Seu membro empurrou, esperneando enquanto ela<br />

o acariciava, torturando-o, uma fresta de luz filtrava-se, ele sustentou seu ardente olhar enquanto<br />

levava seu pulso até sua boca e mordia sua própria carne.<br />

—Me deixe te provar de novo,— disse ela. Subindo até encontrar sua veia enquanto ele<br />

levava suas perfurações a sua boca. Gotas carmesim salpicaram até cair sobre seus seios, tão<br />

vividas contra sua cremosa pele. Ela gemeu, fechando seus olhos enquanto sugava, saboreando-o.<br />

Niko a olhava beber, olhando seu corpo começar a retorcer-se pela excitação. Com sua mão<br />

livre, ele a acariciou, incapaz de resistir a passar seus dedos pelo sangue que havia derramado<br />

sobre ela. A perspectiva de seu sangue marcando sua pele era tão erótica como nada antes. Seu<br />

toque atrevido foi mais abaixo, ao centro fundido dela que estava tão preparado para ele. Seus<br />

braços seguraram seu pulso, sustentando-o contra ela enquanto o primeiro orgasmo disparou<br />

através dela.<br />

Niko grunhiu de pura adoração masculina enquanto alimentava sua fêmea de seu corpo e a<br />

sentia clamar por ele. Ele a deixou beber durante vários minutos, até seu corpo arder de novo sob<br />

ele.<br />

Ele também estava ardendo.<br />

Suavemente tirou o pulso de sua boca e fechou as perfurações com uma passada em sua


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

boca. Renata ainda estava arqueando e retorcendo-se, ainda gemendo por ele, enquanto ele se<br />

ajeitava sobre ela e se inundava em casa, suas unhas sobre seus ombros numa dor deliciosa.<br />

Nikolai fez amor tão devagar como pôde – tão devagar como a febre de seu corpo permitia.<br />

Ela gozou de novo, retorcendo-se e extraindo dele uma furiosa liberação também. Duramente<br />

reduziu a investida. Ainda estava duro dentro dela, ainda faminto por esta mulher… sua mulher.<br />

Com mão tremente, Nikolai acariciou os pontos escuros já fechados de um lado da formosa<br />

garganta de Renata.<br />

—Está segura? perguntou, sua voz apenas reconhecível para ele mesmo, estava tão seco e<br />

desesperado. —Renata…. Quero que esteja segura.<br />

—Sim,— ela arqueou confirmando com um empurrão, seu constante olhar suplicante. —<br />

Sim.<br />

Com um grunhido selvagem enroscando-se em sua garganta, Nikolai despiu suas presas e<br />

desceu sobre ela.<br />

O doce sabor do sangue de Renata emergiu em sua boca caindo como um pontapé no<br />

estômago. Ah, Cristo, agora sabia. Quantas vezes havia especulado com os outros guerreiros a<br />

respeito de estar emparelhados e encontrar uma fêmea que os impressionaria? Facilmente<br />

centenas de vezes. Milhares, provavelmente.<br />

Que merda de desorientado havia estado.<br />

Agora sabia. Renata o tinha, inclusive antes mesmo que ele a mordesse. Estava de joelhos<br />

diante desta mulher, e com gosto ficaria ali pelo resto de sua vida.<br />

Niko bebeu mais, afogando-se no prazer do vínculo que havia forjado através da união de<br />

sangue e do ritmo exagerado de seus corpos unidos. Seus dentes ainda a mantinham sob ele<br />

enquanto tomava seu último gole dela, e Nikolai gozou de novo, desta vez mais forte, uma<br />

descarga assombrosa que o golpeou como um trem de carga. Aferrou-se a ela, estremecendo com<br />

intensa satisfação. Embora pudesse beber de sua veia durante toda a noite, Nikolai se obrigou a<br />

afastar-se, selando suas feridas com uma tenra lambida de sua língua.<br />

Ele ficou olhando-a, seu olhar iluminando sua pele.<br />

—Te amo,— ofegou necessitando que o escutasse e acreditasse nisso. Queria que ela<br />

lembrasse depois desta noite, depois que conseguissem localizar Fabien no norte e Nikolai<br />

explicasse por que havia precisado mentir hoje. Beijou seu queixo, sua bochecha, sua testa. —Te<br />

amo. Renata.<br />

Sorriu sonolenta.<br />

—Mmmm… eu gosto realmente de como isso soa.<br />

—Então terei que me assegurar que o ouça muito.<br />

—De acordo. Murmurou ela, seus dedos brincando com seu cabelo empapado de suor sobre<br />

sua nuca. —Isso foi incrível, por certo. Sempre vai ser assim bom?<br />

Ele gemeu.<br />

—Tenho a sensação de que pode melhorar.<br />

Ela riu, e a vibração fez despertar de novo seu sexo.<br />

—Se continuar assim, vou ter que voltar e tomar outra ducha.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Ele fez um movimento sexy e poderoso com sua pélvis, encaminhando sua ereção até mais<br />

fundo.<br />

—OH, posso continuar. Não se preocupe, isso nunca vai ser um problema estando perto.<br />

—Melhor tomar cuidado, ou eu poderia te obrigar a isso.<br />

Niko riu entredentes apesar de seu pesado humor.<br />

—Coração, pode me obrigar a tudo que queira.<br />

A beijou de novo, e grunhiu de prazer quando ela envolveu suas pernas ao redor dele e o fez<br />

girar de costas para começar uma lenta, e tortuosa investida.<br />

Capítulo 27<br />

Houve uma época para Andreas Reichen, com quase trezentos anos andando nesta Terra,<br />

que a morte choveu sobre ele como um dilúvio. Noutro tempo, quando uma desatinada onda<br />

brutal de massacre tinha visitado seu pacífico domínio.<br />

Naquele tempo, no verão úmido de 1809, tinha sido uma manada de vampiros Renegados<br />

que tinham forçado sua entrada neste mesmo Darkhaven, violando e matando vários de seus<br />

familiares. O ataque tinha sido uma coisa ao azar, a mansão e seus residentes só tiveram a má<br />

sorte de estar no caminho de uma turma de Renegados viciados em sangue. Tinham forçado sua<br />

entrada além das portas desprotegidas e janelas, alimentando-se e matando muitos inocentes...<br />

apesar de tudo houve sobreviventes. Os Renegados tinham dado rédea solta ao seu horror e<br />

passado como a peste que eram, mas finalmente foram caçados e destruídos por um membro da<br />

Ordem que tinha vindo ajudar Reichen.<br />

A matança então tinha sido insuportável, mas não havia sido completa.<br />

O que enfrentou Reichen na sua volta para casa esta noite tinha sido um ataque calculado.<br />

Não uma entrada pela força bruta, mas traição. Um inimigo bem vindo como um amigo. E o<br />

massacre ocorrido - provavelmente nas primeiras horas da manhã, justo antes da saída do sol -<br />

tinha sido uma aniquilação total.<br />

Ninguém se salvou.<br />

Nem sequer a alma mais jovem na residência.<br />

Com um terrível silêncio que impregnava o ar como uma enfermidade, Reichen caminhou<br />

através do sangue e da destruição como um dos próprios mortos. Seus passos seguiram a pista de<br />

manchas pegajosas escarlates no mármore do vestíbulo e da sala, além de seu jovem sobrinho,<br />

que tinha estado tão contente ao convidar Reichen para padrinho de seu filho recém-nascido. O<br />

novo pai ruivo estendido na porta tinha sido o primeiro a morrer, Reichen adivinhou, incapaz de<br />

olhar o rosto sem vida que olhava sem ver a escada cheia de balas que conduzia aos dormitórios<br />

dos Darkhaven nos andares superiores.<br />

Mais morte esperava no corredor fora da biblioteca, onde outros machos tinham sido<br />

cortados ao meio. Ainda mais vidas extintas perto da escada da adega, um dos primos de Reichen


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

e sua Companheira de Raça, ambos mortos enquanto tentavam escapar dos disparos.<br />

Não viu o corpo da criança até que quase tropeçou nele - um menino vampiro de cabelo<br />

revolto que evidentemente tinha tentado esconder-se num dos gabinetes da sala de jantar. Seus<br />

assaltantes o tiraram e o mataram como um cão no antigo tapete persa.<br />

—Bom Cristo— Reichen sufocado, caiu de joelhos e levou a mão branda do menino a sua<br />

boca para sossegar seu gutural grito. —Pelo amor de Deus... por que? Por que eles e não eu!<br />

—Ele disse que saberia por que.<br />

Reichen fechou os olhos diante do som rígido da voz de Helene. Ela falava muito devagar, as<br />

sílabas muito planas... carente de matizes.<br />

Desumana.<br />

Ele não precisava se virar para saber que seus olhos estariam estranhamente mortos para<br />

ele agora. Mortos por que toda sua calidez - toda sua humanidade - tinha sido recentemente<br />

purgada fora dela.<br />

Já não era sua amante, nem sua amiga. Ela era uma Minion.<br />

—Quem te converteu? - ele perguntou, deixando cair a mão do menino morto. A quem<br />

pertence agora?<br />

—Você deve saber, Andreas. Você me enviou a ele, afinal.<br />

Filho da puta.<br />

Reichen apertou sua mandíbula, os molares quase quebrando pela pressão. Wilhelm Roth.<br />

Ele te enviou aqui para fazer isto. Ele te usou para me destruir.<br />

Que Helene não dissesse nada só fez a compreensão do golpe mais profunda. Tão<br />

dilacerador como seria olhar os olhos de sua ex-amante e ver uma aparência sem alma da mulher<br />

que tinha cuidado, Reichen tinha que ver por si mesmo.<br />

Levantou-se e virou lentamente.<br />

—OH, Cristo. Helene...<br />

Sangue seco salpicado em seu rosto e roupa - quase cada polegada quadrada dela coberta<br />

de sangue de seus mais apreciados amigos e familiares. Ela devia estar ali no centro de todo o<br />

massacre, uma insensível testemunha não afetada por tudo isto.<br />

Ela não disse nada quando o olhou fixamente, com a cabeça inclinada um pouco para o lado.<br />

Seus olhos uma vez brilhantes e ardilosos agora estavam vazios e frios como um tubarão. Abaixo<br />

ao seu lado, ela sustentava uma grande faca de cozinha em sua mão. A folha larga brilhava à luz do<br />

abajur de cristal da sala de jantar.<br />

—Sinto muito— ele murmurou, seu coração retorcido. —Eu não sabia... quando enviou o email<br />

e me deixou a mensagem com o nome de Roth, tentei te advertir. Tentei chegar a você...<br />

Ele deixou que as palavras se desvanecessem, sabendo que as explicações não importavam.<br />

Não agora.<br />

—Helene, só sei que sinto. Tragou a bílis que subiu no fundo de sua garganta. —Só sei que<br />

realmente me importava. Te amav...<br />

Com um grito de banshee, a Minion se lançou sobre ele.<br />

Reichen sentiu o fio da folha cortando através de seu peito e braço, um profundo corte


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

castigador. Ignorando a dor, fazendo caso omisso da inalação repentina do aroma de seu próprio<br />

sangue, agarrou o violentamente agitado braço escravo da mente de Roth e o torceu atrás dela.<br />

Ela gritou, opondo-se e lutando enquanto ele puxava seu braço esquerdo para baixo e bloqueava<br />

ambos os membros ajustados aos lados de seu corpo. Ela amaldiçoou e gritou, o chamando com<br />

nomes vis, cuspindo em fúria.<br />

—Shh— Reichen sussurrou ao lado de seu ouvido. —Shh agora... Se cale.<br />

Como um animal selvagem, Helene se manteve retorcendo-se, permaneceu gritando para<br />

que ele a deixasse livre.<br />

Não, corrigiu-se. Não Helene. Esta já não era a mulher que ele conhecia. Foi-se, morta para<br />

ele no momento em que trouxe o esquadrão da morte de Wilhelm Roth para dentro deste<br />

Darkhaven. Em realidade, por muitas razões, ela nunca foi sua para reclamar. Mas Deus tenha<br />

piedade dela, não merecia esse fim. Nenhum dos caídos aqui merecia tal horror.<br />

—Tudo está bem agora— ele murmurou, sua mão direita acariciando as bochechas<br />

manchadas de sangue. —Está tudo bem agora, querida.<br />

Um grito saiu disparado de sua garganta enquanto ela puxava bruscamente seu rosto fora de<br />

seu alcance.<br />

—Bastardo! Deixe-me ir!<br />

—Sim— ele disse. Arrebatou-lhe a faca. —Terminou agora. Vou te deixar ir.<br />

Com a dor estrangulando-o, Reichen girou a faca em torno de seus dedos e levou a ponta ao<br />

seu peito.<br />

—Me perdoe, Helene...<br />

Sustentando-a apertada contra ele, afundou a folha profundamente em seu peito. Ela não<br />

fez nenhum som enquanto morria, só deixou escapar um suspiro longo e lento enquanto<br />

desinflava em seus braços e desabava ali, frouxa como uma boneca de pano. Tão brandamente<br />

como pôde, Reichen deitou seu corpo no chão. A faca caiu de sua mão ao lado dela, revestida com<br />

o carmesim brilhante de seus sangues mesclados.<br />

Reichen deu um longo e inquebrável olhar aos restos do que tinha sido seu lar. Agora que<br />

tudo tinha terminado, queria memorizar cada mancha de sangue, cada vida que se interrompeu<br />

por causa de sua falta de atenção. Seu engano. Ele precisava recordar, porque em pouco tempo<br />

nada disto existiria.<br />

Não podia permitir que nada permanecesse, não assim.<br />

Tampouco ia deixar que estas mortes fossem insatisfeitas.<br />

Reichen deu meia volta e se afastou da matança. Suas botas ecoaram no chão de madeira na<br />

sala, seus passos o único som na horripilante tumba maciça. No momento em que chegou ao<br />

jardim na frente da propriedade, seu peito não estava mais apertado, mas frio.<br />

Tão frio como uma pedra.<br />

Tão frio como a vingança que tinha a intenção de visitar Wilhelm Roth e todos os associados<br />

com ele.<br />

Reichen se deteve brevemente na grama iluminada pela lua. Ele se virou para a mansão e,<br />

por um momento, simplesmente a viu em sua perfeita e estranha quietude. Então sussurrou uma


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

oração, palavras antigas que se sentiam oxidadas em sua língua por seu abandono.<br />

Não é que a oração lhe fizesse nenhum bem agora. Estava abandonado, agora mais que<br />

nunca. Realmente sozinho.<br />

Reichen baixou sua cabeça até seu peito, invocando seu terrível talento. Encheu-se em seu<br />

interior, um calor que rapidamente se intensificou, formando um fundido e revolto círculo em<br />

suas vísceras.<br />

Ele o deixou crescer. Deixou-o girar e ganhar força até que seu interior se sentiu abrasado<br />

por sua fúria.<br />

E ainda o conteve.<br />

Manteve-o em seu interior até que a bola de fogo golpeou contra sua caixa torácica, fumaça<br />

e cinza flutuando até queimar o fundo de sua garganta. Até que a bola de fogo o consumiu,<br />

iluminando todo seu corpo com um resplendor muito quente. Cambaleou sobre seus calcanhares,<br />

lutando por mantê-lo até que soubesse que desataria a total destruição instantânea.<br />

Por último, com um rugido cheio de dor, Reichen soltou o poder de dentro dele.<br />

Um disparo de calor saiu de seu corpo, derramando e girando enquanto avançava para a<br />

frente, uma esfera de pura energia explosiva. Como um míssil lançado num objetivo por um laser,<br />

o círculo disparou dentro da porta aberta da mansão Darkhaven. Um segundo depois, detonou,<br />

uma coisa de impressionante beleza infernal.<br />

Reichen foi golpeado de volta com o estalo sônico da explosão.<br />

Deitou-se na grama, observando com satisfação desinteressada como as chamas e as faíscas<br />

e fumaça devoravam inclusive os menores pedaços do que tinha sido sua vida.<br />

Capítulo 28<br />

Estamos carregados e preparados para partir, Renata. Precisa de mais tempo antes de<br />

sairmos?<br />

Em pé no caminho de cascalho diante da casa principal, Renata girou quando Nikolai se<br />

aproximou por trás.<br />

—Não, não necessito mais tempo aqui. Estou pronta para deixar este lugar.<br />

Ele abraçou-a, envolvendo-a em sua força.<br />

—Acabo de falar com Gideon. Tegan, Rio, e os outros estão fazendo bons progressos. Eles<br />

devem estar em nosso ponto de encontro em uma hora.<br />

—Está bem. Certo.<br />

Renata se inclinou em seu abraço, feliz pela calidez de seu refúgio... e seu amor. Nikolai a<br />

tinha mantido perto dele no refúgio de videira até que o sol se pôs, acalmando seus temores com<br />

seu corpo, transportando-a longe da feia realidade que originalmente os tinha unido - e do que<br />

poderia acontecer esta noite, quando eles finalmente teriam a oportunidade de enfrentar Edgar<br />

Fabien.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

A verdade era, que ela estava preocupada com o que poderiam encontrar. Uma<br />

preocupação profunda até os ossos, e embora Nikolai não havia dito nada que sugerisse que tinha<br />

dúvidas também, ela podia dizer que sua mente estava carregada de pensamentos que parecia<br />

decidido a esconder dela.<br />

—Pode me dizer, você sabe. Ela saiu de seus braços e o enfrentou. —Se tiver um mau<br />

pressentimento a respeito desta noite... pode me dizer.<br />

Algo cruzou sua expressão, mas ele não disse nada. Ele sacudiu sua cabeça. Colocando um<br />

casto beijo na sua testa.<br />

—Não sei o que podemos encontrar com Fabien. Mas posso te dizer que aconteça o que<br />

acontecer, vou estar ali com você, certo? Vamos sair disto.<br />

—E uma vez que tenhamos Fabien, vamos procurar Mira,— disse ela, procurando seus<br />

olhos. —Certo?<br />

—Sim—, disse ele, com seu inquebrável e acerado olhar que sustentou estável. —Sim, eu<br />

prometi. Dei minha palavra a respeito. Não vou te faltar.<br />

Ele a atraiu para ele uma vez mais, capturando-a num afeto que parecia pouco disposto a<br />

deixá-la ir. Renata o sustentou também, escutando o forte, rítmico palpitar de seu coração sob sua<br />

orelha... e perguntando-se por que seu próprio pulso parecia estar soando uma advertência em<br />

suas veias como uma sentença de morte.<br />

* * * Tiamat – World * * *<br />

Em uma remota fazenda abandonada de cem hectares a algumas horas ao norte de<br />

Montreal, o bosque da noite estremeceu com o gemido de um motor de combustão interna e o<br />

excesso de velocidade de um bote que passava através do lago geralmente desabitado. A terra e o<br />

lago, bem como o transporte proporcionado a Dragos para chegar neste lugar pertenciam a Edgar<br />

Fabien.<br />

Embora Fabien tivesse sido uma decepção recentemente, Dragos supôs que o Líder<br />

Darkhaven merecia algum crédito pela aproximação de duas vertentes para esta reunião<br />

importante. Enquanto o resto dos assistentes chegaram ontem à noite de automóvel, esta noite,<br />

um bote rápido tinha sido enviado para levar Dragos do pequeno atracador, depois que um<br />

hidroavião o havia trazido da cidade por outro caminho interno de água sobre a característica<br />

propriedade de Fabien. Depois do reverso sofrido há poucas semanas, durante a reunião de<br />

Dragos com a Ordem, ele tinha ficado muito mais cauteloso sobre como viajava ao ar livre, entre<br />

outras coisas. Ele tinha chegado muito longe agora para correr riscos. Tinha arriscado muito para<br />

perder tudo por um descuido ou incompetência de outros.<br />

Lançou um olhar depreciativo para o outro passageiro sentado no bote com ele. O rosto do<br />

Caçador permanecia impassível no resplendor leitoso da Lua sobre suas cabeças, seu enorme<br />

corpo perfeitamente imóvel mesmo quando o condutor girou o leme e o bico da proa do bote<br />

conectou diretamente com a água para desviar-se para o cais solitário que se encontrava mais<br />

adiante na costa.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

O Caçador provavelmente sabia que se dirigia para sua própria morte. Tinha fracassado em<br />

sua missão de matar o Gen Um em Montreal, o que pedia um incrível castigo. Ele seria cuidado<br />

esta noite, e se Dragos pudesse usar este castigo como uma demonstração adicional de seu poder<br />

diante dos tenentes que estavam reunidos para dar as boas vindas agora, melhor.<br />

O motor do bote mudou para uma marcha inferior, quando chegaram ao cais não iluminado<br />

e modesto onde Edgar Fabien esperava para saudá-lo. Os vapores do gás formaram redemoinhos<br />

fora da água, asquerosamente doces. A reverência profunda de Fabien e a boa vinda aduladora<br />

tinha um efeito similar.<br />

—Meu Senhor, é a honra de toda uma vida dar a boa vinda em meus domínios.<br />

—De verdade,— Dragos arrastou as palavras enquanto dava um passo fora do bote sobre as<br />

tábuas de madeira escura do cais. Ele fez um gesto para que o caçador o seguisse, e não perdeu a<br />

reação de Fabien quando divisou o tamanho e a imensidão do Gen Um que prestava serviços à<br />

ordem de Dragos. —Está todo mundo reunido no interior?<br />

—Sim, Senhor. Fabien saiu de sua reverência e se precipitou a caminhar ao lado de Dragos.<br />

—Tenho boas notícias. O guerreiro que escapou da contenção foi eliminado. Tanto ele como a<br />

mulher que o ajudou. Um de meus ajudantes agarrou a dupla, e ontem à noite enviei uma equipe<br />

com meus melhores agentes para limpar o problema.<br />

—Está seguro que o guerreiro está morto?<br />

O sorriso de suficiência de Fabien ressoou.<br />

—Aposto minha própria vida nisso. Enviei capacitados profissionais para a tarefa. Confio em<br />

sua habilidade de forma implícita.<br />

Dragos grunhiu, sem deixar-se impressionar.<br />

—Que grande comodidade deve ter esse tipo de confiança em seus subordinados.<br />

A confiança de Fabien vacilou com a espetada, e esclareceu a garganta com estupidez.<br />

—Meu Senhor... noutro momento, se quiser.<br />

Dragos dispensou o Caçador de sua presença com um gesto cortante.<br />

—Aproxime-se da casa e me espere. Não fale com ninguém.<br />

Quando o assassino Gen Um caminhou a passos longos para a frente, Dragos fez uma pausa<br />

para girar um olhar impaciente para Fabien.<br />

—Meu senhor, eu esperava, quer dizer, pensei que um presente poderia ir bem—, gaguejou<br />

ele. —Para celebrar este importante evento.<br />

—Um presente? - Antes que pudesse perguntar a Fabien o que pensava que Dragos poderia<br />

necessitar dele, Fabien estalou os dedos e um agente de execução surgiu das sombras das árvores<br />

circundantes, empurrando uma menina diante dele. A menina parecia perdida na escuridão, seu<br />

cabelo loiro brilhando como cabelo de milho, seu pequeno rosto perdido debaixo dele. —Qual é o<br />

sentido disto?<br />

—Uma jovem Companheira de Raça, Meu Senhor. Meu presente para você.<br />

Dragos contemplou à menina desamparada, impressionado. As companheiras de raça eram<br />

um acontecimento bastante raro entre as populações humanas, isso era certo, mas ele preferia as<br />

férteis, em idade de procriar. Esta garota não estaria pronta por vários anos, o que sem dúvida


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

mostrava que Fabien tinha algo mais a respeito dela.<br />

—Pode mantê-la—, disse Dragos, reatando sua viagem para a reunião. —Tenha seu homem<br />

conduzindo o bote através do lago enquanto nos encontramos. Chamarei pelo rádio quando o<br />

necessitar.<br />

—Vá—, Fabien ordenou em resposta, então voltou novamente ao lado de Dragos, tão<br />

ansioso como um cão mendigando pelas sobras. —Meu Senhor, sobre a menina... em realidade,<br />

você deve ver por si mesmo. Ela está dotada de um talento extraordinário que estou seguro<br />

saberá apreciar. Ela é um oráculo, meu Senhor. Fui testemunha por mim mesmo.<br />

Contra sua vontade, a curiosidade prendeu sua atenção. Seu passos desaceleraram,<br />

continuando, deteve-se.<br />

—Traga-a.<br />

Quando ele girou ao redor, o sorriso impaciente de Fabien ficou ainda mais amplo.<br />

—Sim, Senhor.<br />

A menina foi conduzida a ele uma vez mais, resistindo em seus passos, seus obstinados<br />

calcanhares cravando-se nas velhas agulhas de pinheiro e na areia que enchiam o pequeno cais.<br />

Ela tentou lutar contra o guarda vampiro que a sustentava, mas era um esforço inútil. Ele<br />

simplesmente a empurrou para frente até que ela ficou de pé diretamente na frente de Dragos.<br />

Ela manteve seu queixo para baixo, com seu olhar posto no chão aos seus pés.<br />

—Levanta a cabeça,— Fabien ordenou, mal esperando que obedecesse, antes de pegar sua<br />

cabeça com ambas as mãos e a obrigar a olhar para cima. —Agora, abre seus olhos. Faça!<br />

Dragos não sabia muito bem o que esperar. Ele não estava absolutamente preparado para a<br />

palidez surpreendente de seu olhar. A íris da menina era tão clara como espelhos de cristal e tão<br />

impecável que imediatamente o fascinaram e hipnotizaram. Ele era vagamente consciente que<br />

Fabien vaiou de emoção, mas toda a atenção de Dragos estava arraigada na menina e no brilho<br />

tênue incrível de seus olhos.<br />

E então ele viu... um brilho de movimento na meditação pacifica. Viu uma forma movendose<br />

através das espessas sombras - um corpo que acreditou reconhecer como o seu próprio. A<br />

imagem ficava mais clara quanto mais olhava fixamente, absorto e impaciente por ver mais do<br />

presente que Fabien havia descrito. Era ele.<br />

Era seu refúgio também. Inclusive envolto na névoa escura, as imagens que se mostravam<br />

eram intimamente familiares. Viu o laboratório subterrâneo, as celas de contenção… a jaula de luz<br />

UV que continha sua maior arma na guerra que estava preparando por todos estes séculos. Tudo<br />

estava ali, revelando-se a ele através dos olhos desta menina Companheira de Raça.<br />

Mas então, um momento de alarme surpreendente.<br />

Seu laboratório antigo, tão rigidamente assegurado e ordenado, estava em ruínas. As celas<br />

de contenção tinham sido deixadas abertas. E a jaula de luz UV... estava vazia.<br />

—Impossível—, murmurou ele, golpeado por um temor sombrio, furioso.<br />

Ele piscou com força, várias vezes, querendo limpar a visão de sua cabeça. Quando abriu os<br />

olhos outra vez, viu algo novo nos olhos malditos da menina... algo ainda mais incompreensível.<br />

Viu a si mesmo, pedindo por sua vida. Chorando, abatido.


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Lamentável. Derrotado.<br />

—É isto algum tipo de puta brincadeira? Sua voz tremia tanto com a raiva como com outra<br />

coisa muito fraca para admitir. Arrancou seu olhar da moça e o fixou em Fabien.<br />

—Que diabos significa isto?<br />

—Seu futuro, Senhor. A cara de Fabien se pôs completamente pálida. Sua boca se moveu<br />

durante um momento sem expressar som algum, então, finalmente balbuciou, —A menina... viu<br />

você, ela é um Oráculo. Ela me mostrou em pé aqui, nesta grande reunião, apresentando uma<br />

visão de seu futuro que o agradava enormemente. Quando o vi, soube que tinha que salvá-la para<br />

você, meu senhor. Tinha que oferecê-la a você, não importava o custo.<br />

O sangue de Dragos era como lava ardendo por suas veias. Ele deveria matar este idiota aqui<br />

e agora, só por este insulto.<br />

—É óbvio que interpretou mal o que viu.<br />

—Não!— Fabien exclamou, agarrando a menina e girando ao redor dela. Deu a ela uma<br />

sacudida forte. —Me mostre outra vez! Demonstre que não me engano, maldita!<br />

Dragos observou tão imóvel como uma pedra, enquanto Fabien olhava atentamente seus<br />

olhos. O grito horrorizado do líder Darkhaven disse tudo o que ele tinha que saber. Ele cambaleou<br />

para trás, tão branco como uma folha. Golpeado como se tivesse testemunhado sua própria<br />

morte.<br />

—Não entendo—, murmurou Fabien. —Tudo mudou. Você tem que acreditar, senhor! Não<br />

sei como ela mudou a visão, mas a pequena bruxa está mentindo agora. Ela tem que estar!<br />

—Tire-a da minha frente,— Dragos grunhiu ao guarda da Agência de Execução que a<br />

sustentava. —A levarei comigo quando for, mas até então, não quero ver nem um fio de cabelo<br />

dela.<br />

O guarda assentiu com a cabeça e afastou a menina, virtualmente arrastando-a até a casa.<br />

—Senhor, rogo isso—, suplicou Fabien. —Me perdoe por este... lamentável engano.<br />

—Tratarei contigo mais tarde—, disse Dragos, sem preocupar-se em externar a ameaça<br />

reflexiva no fundo de suas palavras.<br />

Ele reatou sua marcha para a reunião, mais decidido que nunca a fazer que sua autoridade, -<br />

incomparável poder - fosse compreendido por todos.<br />

Capítulo 29<br />

Estava completamente escuro quando Niko e Renata chegaram às coordenadas que Gideon<br />

tinha enviado do imóvel de Edgar Fabien ao norte. O líder Darkhaven evidentemente possuía um<br />

pedaço considerável de mata, o suficientemente longe de Montreal para que a zona ao redor<br />

permanecesse amplamente sem explorar: Acre após acre de enormes coníferas e zonas verdes,<br />

sem uma alma viva à vista exceto por um ocasional veado ou alce americano que se erguia com o<br />

primeiro aroma do vampiro armado que se arrastava através de seu santuário natural.


Tiamat World<br />

174<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Nikolai tinha corrido sozinho para reconhecer a zona durante os últimos poucos minutos.<br />

Uma casa de dois andares feita de troncos e pedra estava metida num grosso canto do bosque.<br />

Um estreito caminho sem pavimentar, apenas o suficientemente largo para um veículo, cortava<br />

através das árvores na parte dianteira da casa. Niko saltou esse passeio para a proteção dos<br />

bosques, tomando nota dos dois agentes da lei vestidos como SWAT, plantados no meio do<br />

caminho e os três grandes Humvees estacionados em fila única justo para fora da porta principal<br />

da zona. Três guardas vampiros mais, rifles M16 a ponto, cobriam a entrada. Leste e oeste<br />

estavam também sob vigilância com um sentinela armado.<br />

Embora não figurava que eles deixariam a parte traseira do lugar vulnerável a infiltrações,<br />

Niko se moveu ao redor desse caminho para fazer uma idéia da extensão do terreno. Ouviu a<br />

suave capa de água inclusive antes de ver o tranqüilo lago e o cais vazio na borda uns trezentos<br />

metros atrás da casa. Na parte traseira do lugar outra dupla de agentes da lei permanecia de<br />

guarda.<br />

Maldição.<br />

Entrar no lugar para pegar Fabien não ia ser fácil. A menos que ele e a Ordem voassem, se<br />

queriam tirar o sócio de Dragos dali iam ter que ferir uns quantos guardas da agência no processo.<br />

E isso sem considerar o grupo desconhecido de vampiros da raça que tinham acompanhado o líder<br />

do Darkhaven de Montreal aqui ontem à noite. Levar Fabien esta noite sem muitas baixas civis<br />

podia raiar o impossível. Dobre esse cálculo quando o problema de resgatar Mira for acrescentado<br />

à combinação. Assim, basicamente a rede de seu reconhecimento era que a merda provável era<br />

conseguir muita confusão aqui por uns dois dias.<br />

E então estava a situação com Renata.<br />

Uma das coisas mais duras que Nikolai já fizera foi passar o dia inteiro com ela, sabendo que<br />

a tinha enganado. Ele queria dizer- depois que fizeram amor, depois que o honrou com o presente<br />

de seu sangue e o vínculo completo que agora os unia eternamente. Tinha querido dizer-lhe uma<br />

dúzia de vezes, numa dúzia de momentos diferentes, mas egoistamente, mantinha a verdade<br />

oculta por sua própria proteção. Ele ainda mantinha a esperança que ela entenderia sua cautela -<br />

que inclusive poderia estar agradecida que a fizesse esperar para saber a localização de Mira até<br />

que ele e os outros guerreiros tivessem uma oportunidade montar uma sólida estratégia de<br />

evacuação.<br />

Sim, seguia dizendo-se isso, porque não queria considerar outras alternativas.<br />

Afastando o arrependimento que perseguia seus passos e o medo que seguia arrastando-se<br />

por trás de seu pescoço, Nikolai se moveu a uma melhor posição de acesso aos bosques. Ele olhou<br />

através dos ramos de pinheiro, vários dos ocupantes da casa enquanto passavam por uma janela<br />

no andar térreo. Fez uma rápida recontagem dos vampiros da raça encapuzados enquanto<br />

andavam a passos longos como um grupo para outra zona do lugar. Cinco, seis, sete… e então<br />

outro, este sem o capuz negro lhe cobrindo.<br />

Oh, Cristo.<br />

Nikolai o conhecia. Tinha visto o filho da puta de perto e pessoalmente só umas poucas<br />

semanas antes, quando uma missão para a Ordem tinha enviado Niko a encontrar-se com um dos


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

oficiais da mais alta fila na agência da lei. Nesse momento, o homem usava um apelido de larga<br />

permanência - um dos dois falsos nomes que a Ordem tinha descoberto não fazia muito. Agora<br />

eles conheciam o bastardo por seu verdadeiro nome, o único cujo traidor pai Gen Um antes o<br />

tinha levado também.<br />

Dragos. Maldita… seja.<br />

Durante semanas a Ordem tinha investigado exaustivamente procurando nas mínimas coisas<br />

para encontrar Dragos, tudo sem êxito. Agora ele estava aqui, na frente deles como um peixe num<br />

barril. O bastardo estava aqui. E maldito seja, ia cair esta noite.<br />

Niko se tranqüilizou na volta pelo matagal, então arrastou o traseiro na direção sul, onde<br />

tinha deixado Renata com seu carro esportivo roubado da agência. Não podia esperar para<br />

chamar Tegan e Rio e lhes dar estas boas notícias.<br />

* * *<br />

A confusão e angústia de Edgar Fabien sobre seu presente arruinado para Dragos lhe sentou<br />

como um espectro enquanto ele e os outros seguiam seu recém chegado líder à sala de<br />

conferências do refúgio norte. Sabia que era perigoso, geralmente mortal, desagradar Dragos, algo<br />

que tinha evitado muito bem até agora. Mas ele também sabia- enquanto assumia que o resto dos<br />

vampiros da raça se reuniam aqui para este encontro –que Dragos tinha comprado todos por um<br />

objetivo específico. Esta ia ser uma noite histórica. Seriam recompensados, Dragos tinha<br />

prometido, por seus anos de sociedade encoberta e lealdade para um objetivo comum.<br />

Depois de tanto tempo e esforço passados congraçando-se com Dragos durante as décadas<br />

passadas, Fabien só rezava que não tivesse jogado tudo fora naquele instante perto do cais.<br />

—Sentem-se,— Dragos ordenou enquanto se apresentava e tomava seu lugar na frente da<br />

sala de reuniões.<br />

Ele vigiava enquanto Fabien e os outros seis, todos ocultos atrás de seus capuzes negros,<br />

ocupavam as cadeiras que estavam reunidas ao redor do bloco de granito polido que servia como<br />

mesa de conferências.<br />

—Todos nos reunimos aqui nesta sala porque compartilhamos um interesse comum- que é o<br />

de ser o atual e futuro estado de nossa raça. — Fabien assentiu de acordo sob seu capuz, igual<br />

fizeram o resto da mesa. —Compartilhamos um rancor comum pela corrupção de nossas linhas de<br />

descendência pela mancha de humanidade e pela maneira ambiciosa em que os que estão no<br />

poder dentro da raça escolheram para nos governar com respeito à inferioridade humana. Desde<br />

que as primeiras sementes da raça foram semeadas neste planeta, o vampirismo degenerou em<br />

uma grande e triste vergonha. Com cada nova geração nascida, nossa descendência cresce mais e<br />

mais mesclada com a humanidade. Nossos líderes preferem que nos ocultemos do mundo dos<br />

Homo sapiens, todos com medo de serem descobertos, e mascarando essa covardia com leis e<br />

políticas supostamente feitas para proteger o segredo de nossa existência. Estivemos debilitados<br />

pelo medo e o segredo. Já é hora que mude, e necessitamos um Novo e poderoso líder.<br />

Agora os assentimentos chegaram mais vigorosos, os acordos murmurados mais ferventes.


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Dragos começou sem pressa na frente da sala, suas mãos juntas sem apertar à costas.<br />

—Nem todos compartilham nosso desejo de mudar radicalmente as falhas passadas e<br />

restaurar a raça a uma posição de poder. Nem todos vêem o futuro que nós vemos. Alguns diriam<br />

que o preço é muito alto, os riscos muito grandes. Mil desculpas para explicar por que a raça<br />

deveria manter seu status quo e não tomar os passos valentes requeridos para aproveitar o futuro<br />

ao que temos direito.<br />

—Ouça, ouça,— Fabien interferiu, ansioso por esse futuro o lambendo como uma chama.<br />

—Estou encantado de que todos vocês nesta sala entendam o fato que devem dar um passo<br />

valente— disse Dragos. —Cada um de vocês, individualmente, teve um papel no avanço de nossa<br />

visão ao seguinte nível. E o fizeram sem perguntas, sem conhecer o outro… até agora. Nosso<br />

próprio momento de segredo acabou. Por favor— disse ele, —tirem seus capuzes, e nos deixem<br />

começar a fase mais nova de nossa aliança.<br />

Fabien estendeu a mão para o pano negro que cobria sua cabeça, a insegurança fazendo<br />

seus dedos duvidarem. Se deteve até que alguns dos outros assistentes tiraram seus capuzes<br />

antes de encontrar coragem para tirar o seu.<br />

Por um momento, nenhum dos vampiros da raça disse uma palavra. Olhadas passaram ao<br />

redor da mesa, alguns presunçosos com reconhecimento de olhares conhecidos, outros cautelosos<br />

pelos estranhos agora, que com esta confissão de mal-intencionada traição, seriam seus mais<br />

profundos aliados. Fabien conhecia várias das caras que devolveram seu olhar- todos Darkhaven<br />

de alta fila ou oficiais da agência da lei, alguns do EUA e outros de fora.<br />

—Somos um conselho de oito— anunciou Dragos. —Como os antigos que chegaram aqui há<br />

tanto tempo. Somos, todos nós, a segunda geração de filhos desses poderosos ultramundos. Logo,<br />

uma vez que o último vampiro Gen Um seja eliminado, estaremos entre os mais velhos e<br />

poderosos de nossa raça. Cada um de vocês ajudou nesse esforço, ou proporcionando as<br />

localizações dos membros que restavam de nossa primeira geração ou apoiando a causa com<br />

companheiras de raça para levar as sementes de nossa revolução.<br />

—E sobre a Ordem? - perguntou um dos assistentes europeus, seu acento alemão era afiado<br />

como uma lâmina de barbear. —Esses dois guerreiros Gen Um com quem ainda temos que lutar.<br />

—E o faremos— disse Dragos sem problemas. —Estarei planejando o ataque direto na<br />

Ordem muito em breve. Depois de seu recente golpe contra mim, será um prazer pessoal enterrar<br />

sua operação e ver os guerreiros – e suas companheiras - encontrarem a morte.<br />

Um diretor da agência da lei da Costa Oeste do EUA se inclinou para trás em sua cadeira e<br />

arqueou suas sobrancelhas castanhas.<br />

—Lucan e seus guerreiros sobreviveram a outros ataques antes. A Ordem existe desde a<br />

Idade Média. Não cairão sem luta - uma muito dura e sangrenta.<br />

Dragos riu entredentes.<br />

—OH, eles sangrarão. E se tudo sair como espero, pedirão misericórdia e não receberão<br />

nenhuma. Não do poderoso exército que terei às minhas ordens.<br />

—Quando começaremos a criar esse exército? - alguém mais no grupo perguntou.


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O sorriso de Dragos se encheu de malícia.<br />

—Começamos faz cinqüenta anos. Na verdade, esta revolução começou inclusive faz muito<br />

mais tempo que isso. Muito mais.<br />

Todos os olhos estavam cravados nele enquanto passeava a passos largos até um<br />

computador portátil que tinha mandado Fabien preparar na sala. Enquanto digitava uma ordem<br />

no teclado, o grande monitor plano da sala de conferências se elevou do chão. Dragos deu mais<br />

instruções e logo esse escuro monitor piscou, mostrando o que parecia ser um laboratório de<br />

investigação.<br />

—Um satélite conecta com uma de minhas fortalezas,— explicou, usando o controle manual<br />

para controlar a câmara do outro lado da conexão. —É aqui onde estive colocando as peças—. O<br />

olho da câmara vagava para um muro de cilindros criogênicos codificados, depois passou por uma<br />

frota de microscópios, computadores e copos contêineres de DNA alinhados em filas nas mesas.<br />

Em meio a todo este equipamento estavam vários subordinados cientistas vestidos com máscaras<br />

e jalecos brancos.<br />

—Parece um laboratório de genética,— disse o alemão.<br />

—E é,— respondeu Dragos.<br />

—Que tipo de experimentos está dirigindo?<br />

—De todo tipo. Dragos voltou para o teclado e teclou outra seqüência de comandos. A<br />

câmara do laboratório se voltou escura, só para ser substituída com outra vista, esta era um<br />

ângulo panorâmico de um longo corredor alinhado com celas da prisão. Embora da posição da<br />

câmara fosse difícil distinguir algo exceto as mais rudimentares formas, era óbvio que as celas<br />

continham mulheres, algumas delas com crianças.<br />

—Companheiras de raça,— tomou fôlego Fabien. —Devia haver vinte ou mais ali. —Nem<br />

sempre sobrevivem aos procedimentos e provas, assim que o número tende a flutuar,— disse<br />

Dragos em tom de conversa. —Mas tivemos nossos êxitos com o processo de reprodução. Essas<br />

mulheres e as que estiveram antes delas estão dando a luz ao maior exército que este mundo<br />

jamais viu. Uma armada de assassinos Gen Um que estarão sob minhas ordens.<br />

Um silêncio tão grande como uma capa de inverno caiu sobre a reunião.<br />

—Gen Um? perguntou o diretor da Costa Oeste. —Isso não pode ser possível. Necessitaria<br />

um dos Antigos para produzir uma primeira geração de vampiros da raça. Todos foram<br />

exterminados pela Ordem faz uns setecentos anos. O próprio Lucan declarou Guerra a todos os<br />

Antigos e viu que nenhum sobreviveu.<br />

—Viu? - sorriu Dragos, mostrando as pontas de suas presas. —Acredito que… não.<br />

Com uns poucos golpes mais de teclado, mostrou a vista de outra câmara na conexão do<br />

satélite. Desta vez o foco se localizava numa grande sala cheia de segurança, que tinha em seu<br />

centro uma cela cilíndrica construída com fachos de luz. Os raios ultravioleta emitidos da jaula de<br />

barras verticais estavam piscando, inclusive na tela.<br />

E continha dentro dessa jaula de raios ultravioleta uma criatura nua e sem cabelo que de pé<br />

mediria dois metros. Seu corpo nu era imenso, cada polegada dele coberto de dermaglifos. Ele


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

elevou a vista enquanto as lentes da câmara zumbiam sobre ele de algum lugar da câmara. Pupilas<br />

e olhos âmbar, mas devoradas pelo fogo que ardia fora de suas órbitas, reduzido com letal<br />

consciência. A criatura saiu de sua posição de cócoras e se preparou para atacar, só para receber<br />

de novo o calor das barras ultravioleta que o deixavam prisioneiro. Abriu sua boca e deixou sair<br />

um furioso rugido que não precisou ser ouvido para ser entendido.<br />

—Meu Deus— mais de um dos assistentes ofegou.<br />

Dragos lançou um olhar mortalmente sóbrio sobre o grupo.<br />

—Contemplem… nossa revolução.<br />

* * *<br />

O telefone móvel de Lex vibrou no centro do console do carro esportivo. Renata o pegou e<br />

olhou a tela digital: Chamada desconhecida.<br />

Merda.<br />

Ela não podia estar segura se a chamada era para Lex ou para Nikolai, posto que estava<br />

usando o telefone para chamar e receber chamadas da Ordem. Ela não sabia quanto tempo<br />

estaria fora em reconhecimento, e estava a ponto de perder a cabeça esperando por ele. Ela<br />

precisava fazer algo. Ao menos sentir que estariam fazendo algum progresso para encontrar Mira<br />

logo…<br />

O telefone móvel seguiu vibrando em sua mão. Ela pressionou o botão de responder mas<br />

não disse nada. Só abriu a linha e deixou que quem chamava se revelasse primeiro.<br />

—Olá? Niko, está aí, amigo? A profunda voz denotava um acento espanhol, tão quente e<br />

suave como caramelo. —Sou Rio, meu hom...<br />

—Ele não está aqui— disse Renata. —Estamos em posição no lado norte da cidade,<br />

esperando que vocês cheguem. Nikolai está fora em reconhecimento. Não deve demorar muito.<br />

—Bem— disse o guerreiro. —Já estamos quase chegando, em aproximadamente 45<br />

minutos. Deve ser Renata.<br />

—Sim.<br />

—Quero te agradecer por salvar o traseiro de nosso menino ai. O que fez foi… bem, ele é<br />

afortunado de te ter trabalhando ao seu lado. Todos somos. - Ela podia ouvir a genuína<br />

preocupação e gratidão na voz do vampiro, e se encontrou muito curiosa por conhecer os outros<br />

guerreiros que Nikolai chamava de amigos. —Está tudo bem aí? Você está bem? Se mantendo<br />

alerta?<br />

—Estou bem. Só ansiosa para que tudo isto acabe esta noite.<br />

—Entendo— respondeu Rio. —Niko nos disse sobre a menina, Mira. Lamento pelo que<br />

passou, sabendo que um doente como Fabien está retendo-a. Sei que não deve ter sido fácil<br />

esperar o dia todo para se encontrar conosco.<br />

—Não, não foi. Sinto-me tão inútil— confessou ela. —Odeio esse sentimento.<br />

—Lamento tudo isso. Não vamos deixar que nada ocorra esta noite quando entrarmos ali,


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Renata. Estou seguro que Nikolai te explicou que pôr nossas mãos sobre Edgar Fabien é crítico<br />

para a Ordem, mas vamos dar o melhor de nós para que a menina saia de toda esta situação bem.<br />

Um súbito frio impregnou seu peito enquanto as palavras de Rio se afundavam.<br />

—O que disse?<br />

—Ela vai ficar bem.<br />

—Não… isso que não deixariam que nada ocorresse esta noite… ali dentro…<br />

Do outro lado da linha, um longo silêncio se marcou.<br />

—Ah, Cristo. Niko não te disse nada sobre o vídeo que temos do Darkhaven de Fabien ontem<br />

à noite?<br />

O calafrio nela se voltou mais frio agora, o gelo estendendo-se de seu peito a seus membros.<br />

—Um vídeo…de ontem à noite— respondeu ela paralisada. —O que havia nele? Viu Mira?<br />

OH, Deus. Fabien fez algo? Me diga.<br />

—Mãe de Deus,— disse com uma larga exalação. —Se Niko não te disse isso… não estou<br />

certo que seja eu a te contar agora.<br />

—Me diga, maldito seja.<br />

Ela ouviu um estrondo de conversa rápida ao fundo antes que Rio finalmente cedesse.<br />

—A menina está com Fabien e outros que ainda não identificamos. Recolhemos a<br />

informação de uma câmara de segurança no Darkhaven de Fabien. Foram-se ontem à noite e os<br />

seguimos até a propriedade onde está agora.<br />

—Ontem à noite— murmurou Renata. —Fabien esteve retendo Mira aqui… desde ontem à<br />

noite. E sobre Nikolai… vai me dizer o que ele sabia? Quando ouviu tudo isto? Quando?<br />

—Tenho que pedir que agüente aí um momento mais— disse Rio. —Tudo vai ficar bem…<br />

Renata sabia que o guerreiro estava ainda falando, ainda dando consolo, mas sua voz se<br />

apagou lentamente de sua consciência como osso –uma profunda ira e medo- uma dor tão<br />

profunda que acreditava que poderia destruí-la em pedaços, sepultá-la. Ela fechou o telefone,<br />

cortando a chamada e deixando o artefato cair no chão a seus pés.<br />

Mira estava aqui desde ontem à noite, com Fabien.<br />

Todo este tempo.<br />

E Nikolai sabia.<br />

Ele sabia, e o ocultou. Ela poderia estar aqui há horas –nas horas de sol- fazendo algo, algo,<br />

para ver Mira a salvo. Em vez disso, Nikolai tinha oculto deliberadamente a verdade e, como<br />

resultado, ela não fez nada.<br />

Não totalmente nada, ela admitiu, golpeada com culpabilidade pelo prazer que tinha<br />

desfrutado enquanto Mira estava sozinha a uma hora de seu alcance.<br />

—OH, Deus!— sussurrou ela, sentindo-se doente com o pensamento.<br />

Ela era vagamente consciente dos passos aproximando-se do veículo, seus sentidos<br />

elevando-se antes que sua mente pudesse processar o som. O vínculo de sangue que agora<br />

compartilhava com Nikolai lhe disse que era ele antes que sua escura forma aparecesse no guichê.<br />

Ele abriu a porta do carro esportivo e entrou como se pisassem em seus calcanhares.<br />

—É Dragos,— disse ele, procurando no console, procurando no assento pelo telefone móvel.


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—Maldito seja, não posso acreditar nisso, mas era ele. Só vi o filho da puta dentro da casa com<br />

Fabien e os outros. Dragos está aqui- justo em nossas mãos. Onde demônios está esse telefone?<br />

Renata o olhou fixamente, olhando como uma estranha enquanto ele se inclinava para a<br />

frente e estendia a mão para o telefone móvel que permanecia aos pés dela no chão do veículo.<br />

Ela mal ouvia o que estava dizendo. Apenas se preocupava agora.<br />

—Mentiu.<br />

Ele se voltou para trás, o telefone de Lex em sua mão. O rangido de adrenalina que tinha<br />

iluminado seus olhos se reduziu um pouco quando encontrou seu olhar.<br />

—O que?<br />

—Confiava em você. Disse que podia confiar em você, que podia contar com você, e o fiz.<br />

Acreditei em você, e me traiu. - Ela tragou saliva passando o terrível nó de sua garganta e forçando<br />

a si mesma a tirar as palavras. —Mira está aqui. Esteve aqui com Fabien desde ontem à noite.<br />

Sabia disso… e não me disse.<br />

Ele estava tranqüilo, mas nem sequer tentava negar o que ela dizia. Ele olhou o telefone em<br />

sua mão como se acabasse de dar-se conta de como tinha descoberto seu engano.<br />

—Podia ter estado aqui, Nikolai. Há horas, podia ter estado aqui, fazendo algo para tirar<br />

Mira das mãos desse monstro!<br />

—Pelo que exatamente não te disse— disse amavelmente.<br />

Ela se sentia uma boba, com o coração quebrado.<br />

—Traiu-me.<br />

—Fiz para te proteger. Porque te amo.<br />

—Não— disse ela, agitando sua cabeça para evitar ser tomada por idiota de novo. —Não.<br />

Não diga isso. Como pode dizer isso quando usou todas essas palavras para me manter distraída,<br />

para me fazer acreditar que realmente se preocupava por mim enquanto você e seus amigos da<br />

Ordem faziam planos ao meu redor?<br />

—Não é assim. Nada do que ocorreu entre nós hoje - nada do que disse tem a ver com a<br />

Ordem. Hoje era sobre você e sobre mim… era sobre nós.<br />

—Merda!— Ele estendeu a mão para ela e ela recuou, fora de seu alcance. Ela abriu a porta<br />

e saiu do carro esportivo. Ele estava fora do veículo e ao seu lado, bloqueando-a com seu corpo,<br />

tudo tão rápido que ela inclusive não pôde dar um passo.<br />

—Se afaste de mim, Nikolai.<br />

—Aonde vai? - perguntou ele amavelmente.<br />

—Não posso me sentar aqui por mais tempo e não fazer nada—. Ela deu um passo ao redor<br />

dele mas continuava plantado ali de novo. A sutileza desapareceu rápido, substituída por uma<br />

firmeza que dizia que ele a manteria ali com grilhões se pensasse que o necessitava.<br />

—Não posso deixar que faça isso, Renata.<br />

—Essa não é sua escolha— ela lançou, tremendo com medo e indignação. —Maldito seja,<br />

nunca foi sua escolha me foder!<br />

Ele grunhiu uma maldição e a agarrou.<br />

Renata mal sabia o que fez até que ele ficou paralisado a meio caminho, segurando sua


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cabeça entre suas mãos. Ele vaiou, seus olhos arrojando brilhos âmbar enquanto lhe dirigia um<br />

olhar horrorizado e furioso.<br />

—Renata. Não o faça.<br />

O atacou de novo, todo seu medo por Mira e sua dor por sua traição verteram dela numa<br />

corrente castigadora de dor mental. Nikolai caiu de joelhos, rugindo e retorcendo-se pela dor que<br />

ela tinha desencadeado nele.<br />

Renata se afastou dele, no bosque, antes que permitisse a si mesma ser dissuadida pelo<br />

arrependimento que já estava crescendo nela.<br />

Capítulo 30<br />

A casa estava sob forte armamento, guardada por todos os lados. Era impossível entrar sem<br />

ser notado, pelo menos por um dos agentes de execução vestidos com o equivalente vampiro a<br />

equipe da SWAT antiterrorista. Cada um deles estampava um atire-primeiro-pergunte-depois,<br />

desde sua escura viseira no capacete preto e equipamentos de combate, até os rifles automáticos<br />

pendurados.<br />

Graças aos agentes que tinham invadido a casa de Jack na outra noite, Renata e Nikolai<br />

tinham conseguido transporte, uniforme e armas. Ela não se iludia que teria a sorte de chegar ao<br />

edifício, mas à primeira vista, vestida como eles, os agentes de plantão podiam pensar que era um<br />

dos seus.<br />

Ela vestiu o capacete que tinha trazido com ela do SUV e fechou o visor colorido. Adotando a<br />

postura de um soldado o melhor que podia, Renata saiu da mata e se aproximou do vampiro que<br />

guardava o lado oeste da casa.<br />

O agente a viu imediatamente.<br />

—Henri? Que porra estava fazendo lá fora?<br />

Renata deu de ombros, ergueu o braço bom num gesto de vá para o inferno. Ela não correria<br />

o risco de falar com ele, não mais que correria o risco de usar sua arma para derrubar esse<br />

obstáculo do caminho. Se o derrubasse, teria toda a segurança na bunda dela. Não, tinha que<br />

manter a calma e apenas continuar caminhando na direção dele com a esperança que não abriria<br />

fogo se suspeitasse de algo.<br />

—Qual o problema com você, idiota?<br />

Renata deu de ombros novamente. Chegando mais perto.<br />

Seus dedos coçavam para fazê-lo voar - ele era um alvo fácil como um tronco, mas o mais<br />

leve cheiro de sangue derramado chamaria a atenção de todos os vampiros ao redor. Renata sabia<br />

que tinha que aproximar-se o suficiente para chegar nele com sua mente. Sua única opção era<br />

atingi-lo com uma explosão rápida e sólida.<br />

—Ingrato de merda, Henri, volte ao seu posto—, disse o agente grunhindo. Ele estendeu a<br />

mão para um pequeno dispositivo de comunicação em seu cinto. —Estou chamando Fabien para


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denunciá-lo. Se quiser mijar fora, vá em frente, mas eu não quero fazer parte disso.<br />

Usando todo seu poder, Renata lançou uma descarga selvagem de energia a partir de sua<br />

mente e enviou ao vampiro estrelar-se contra uma árvore. Suas palavras sufocaram com um<br />

grunhido e ele caiu como uma pedra. Manteve a descarga até que ele ficou em silêncio. Quando<br />

ficou certa que estava morto, inclinou-se e tirou tanto a arma dele quanto seu dispositivo.<br />

Renata abriu a porta de entrada lateral e deu uma rápida olhada na área interna. Estava<br />

limpa. Ela deslizou para dentro, o coração martelando no peito, a respiração ofegante contra a<br />

viseira fechada de seu capacete.<br />

Depois da fúria por Nikolai não dizer a ela que Mira estava aqui com Fabien, agora só tinha<br />

gratidão com a Ordem pela prova visual da localização da criança. Era tarde demais para saber<br />

como tinham ficado as coisas com Nikolai. Tarde demais para se preocupar se deveria ter<br />

esperado por ele e seus irmãos de armas para apoiá-la. Parte dela sabia que tinha sido injusta,<br />

mas tinha ido muito longe para voltar.<br />

Ela tomou uma decisão impulsiva e emocional baseada em sentimentos feridos. Foi uma<br />

decisão que poderia custar a amizade que tinha com Nikolai, talvez até mesmo seu amor, mas<br />

mesmo já lamentando, não podia ser desfeito. Nikolai poderia nunca perdoá-la por colocar em<br />

risco sua missão, ela entenderia se ele não pudesse.<br />

Agora, ela só podia rezar para que Mira não pagasse o preço.<br />

* * *<br />

Niko despertou com o zumbido irritante de um celular ao lado de sua cabeça. Ele estava no<br />

chão ao lado do veículo. Não fazia idéia de quanto tempo estava lá. O celular vibrou novamente,<br />

mexendo na grama e folhas velhas, que se espalhavam pelo chão da floresta. Levou quase toda a<br />

sua força mover a mão para pegar a maldita coisa. Desajeitadamente, abriu o aparelho. Tentou<br />

dizer algo, mas só conseguiu um seco grasnido.<br />

—Sim—, disse ele mais uma vez, forçando seus membros a arrastarem-se para cima e<br />

encostar-se contra a roda dianteira do SUV.<br />

—Niko? A voz de Rio veio através do receptor, pesada com a preocupação. —Você parece<br />

uma merda, amigo. Fale comigo. O que está acontecendo?<br />

—Renata—, disse ele, segurando sua cabeça em suas mãos. —Se enfureceu...<br />

Rio amaldiçoou.<br />

—Sim, deduzi isso. Minha culpa, homem. Não sabia que não estava a par sobre a menina ter<br />

sido levada na noite passada.<br />

—Ela se foi—, Niko disse. Notou que todos os seus sentidos começaram a ficar on-line como<br />

um interruptor num gerador de reserva jogado dentro dele. —Ah, merda, Rio ... eu a enfureci e<br />

agora ela foi em busca de Mira por conta própria.<br />

—Madre de Dios.<br />

Na outra ponta da linha, ouviu Rio dar a Tegan e aos outros um rápido esboço da situação.<br />

—Isso não é o pior, meu homem—, acrescentou Nikolai, ignorando a dor do tiro em sua cabeça


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enquanto se levantava do chão e dava uma corrida impressionante para a parte traseira do SUV.<br />

—Esta reunião de Fabien é maior do que pensávamos... Dragos está aqui também.<br />

—Você tem certeza disso?<br />

—Eu vi o desgraçado com meus próprios olhos. Ele está aqui. Nikolai foi pegar as armas<br />

automáticas na parte traseira tão rápido quanto seus braços lentos poderiam se mover. Ele cobriu<br />

o corpo com fuzis, enfiou uma pistola na parte traseira de seu uniforme roubado do agente de<br />

Execução e outra num coldre no tornozelo. —A casa está cercada por guardas, assim quando você<br />

chegar aqui, entre a pé e se dividam.<br />

—Niko, o que você está fazendo?<br />

Ele não respondeu; sabia que seu velho amigo não ia gostar da resposta. Em vez disso,<br />

puxou revistas extras e clipes do veículo, carregando com munição tudo o que podia carregar.<br />

—Tem dois homens no meio do estacionamento e três na frente do lugar. Retire-os<br />

primeiro e terão o caminho limpo.<br />

—Nikolai. A voz de Rio era baixa com a advertência. —Amigo, você não está pensando<br />

direito agora... não.<br />

—Ela está lá dentro, Rio. Junto com Dragos e Fabien, e Deus sabe quem mais... e ela está<br />

sozinha. Eu vou atrás dela.<br />

Rio soltou algo desagradável em espanhol.<br />

—Fique atento. Estamos a dez minutos de distância e estamos acelerando, cara.<br />

Niko fechou a parte de trás do SUV.<br />

—Estou indo pelo perímetro.<br />

—Porra, Nikolai, se esta mulher quer se matar, não é seu problema. Nós vamos ajudá-la no<br />

que pudermos, mas...<br />

—Ela é minha companheira, Rio. - Nikolai soprou uma maldição. —Estamos ligados pelo<br />

sangue... e eu a amo. Eu a amo mais que minha própria vida.<br />

O suspiro do guerreiro soou pesado com compreensão e derrota.<br />

—Suponho que não há nenhum ponto que diga que você está desafiando as ordens diretas<br />

de Lucan, se for lá agora. Se Dragos está no lugar faz esta merda ainda mais crítica e você sabe<br />

disso. Precisamos de você parado e esperando para voltar.<br />

—Não posso fazer isso—, respondeu Nikolai.<br />

Ele fechou o telefone e lançou-o pela janela do motorista aberta. Então saiu para ir<br />

encontrar sua mulher.<br />

Capítulo 31<br />

Dragos se permitiu deleitar-se com o temor de seus subordinados quando ficaram<br />

assombrados com o Antigo apanhado em sua cela UV da prisão na tela. Do assombro de suas caras<br />

– a absorta incredibilidade – qualquer um pensaria que ele conseguiu prender a luz numa garrafa.


Tiamat World<br />

184<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Na verdade, o que tinha conseguido nestas últimas décadas era algo ainda maior do que isso.<br />

Os sete machos da raça que se reuniram com ele no quarto já o olhavam como um deus, e<br />

justamente por isso. Ele era o arquiteto de uma revolução que iria transformar o planeta inteiro.<br />

Hoje à noite eles testemunhariam a história, e o começo de um futuro que tinha projetado<br />

pessoalmente.<br />

—Como pode ser isso? Alguém murmurou. —Se realmente é um dos antigos que foi pai de<br />

nossa raça, como sobreviveu à guerra com a Ordem?<br />

Dragos sorriu enquanto andava mais perto da tela.<br />

—Meu pai era um membro original da Ordem... mas foi, em primeiro lugar, o filho desta<br />

criatura. Durante o banho de sangue perpetrado pela Ordem, quando Lucan declarou guerra aos<br />

antigos, meu pai e seu pai alienígena fizeram um pacto. Em troca do poder compartilhado no<br />

futuro, meu pai iria escondê-lo até a histeria passar. Infelizmente, depois de fazer sua promessa,<br />

meu pai não sobreviveu à guerra. Mas o antigo sim, como podem ver.<br />

—Então, pretende cumprir o acordo de seu pai com essa... coisa? - Fabien perguntou, sua<br />

expressão como a de um cãozinho que acaba de perder seu osso para um lobo selvagem.<br />

—O Antigo está totalmente sob meu controle. Ele é uma ferramenta que utilizo quando e<br />

como se adapta a mim e à nossa causa.<br />

—Como assim?- Perguntou outro do grupo.<br />

—Permita-me mostrar.<br />

Dragos caminhou até a porta da sala de conferências. Ele estalou os dedos para Hunter que<br />

esperava lá fora, então virou de volta para seus associados como o grande Gen Um<br />

obedientemente em seus calcanhares.<br />

—Tire sua camisa—, ele ordenou a Hunter.<br />

O enorme macho obedeceu em silêncio, desnudando os ombros enormes e o peito sem<br />

pêlos coberto por uma densa rede emaranhada de glifos. Mais de uma cabeça se voltou para o<br />

monitor para comparar as marcas da pele hereditárias da criatura contido dentro da célula UV.<br />

—Eles tem dermaglifos semelhantes—, Fabien engasgou. —Este macho é da família do<br />

Antigo?<br />

—Um Gen Um filho, criado com o único propósito de servir a causa—, disse Dragos. —Todos<br />

os caçadores em meu exército pessoal são os mais fortes, as armas mais letais do mundo. Eles<br />

foram especialmente criados e treinados sob minha direção. São assassinos sem falhas, e são<br />

infalivelmente leais a mim.<br />

—Como pode estar certo disso? - Perguntou o líder darkhaven de Hamburgo, um homem<br />

sagaz que, sem dúvida apreciaria a demonstração em tempo real que Dragos tinha em mente.<br />

—Você percebe que Hunter usa um colar. É um dispositivo de monitoramento GPS, mas<br />

também está equipado com um laser ultravioleta. Cada caçador usa um, a partir do momento que<br />

pode andar. Eu posso acompanhar todos os seus movimentos, localizá-lo num instante. E se me<br />

desagrada, de qualquer maneira —, disse Dragos, lançando um olhar significativo a Hunter<br />

rigidamente em pé ao lado dele, tudo que preciso é um simples controle remoto e o laser ativa,<br />

emitindo uma luz UV fina como uma navalha no pescoço do caçador, cortando sua cabeça.


Tiamat World<br />

Um ou dois homens na mesa trocaram olhares desconfortáveis.<br />

Foi o alemão quem falou primeiro, os olhos brilhantes.<br />

—O que acontece se o colar for adulterado, ou removido?<br />

Dragos sorriu, não para o alemão, mas para o próprio Hunter.<br />

—Vamos ver?<br />

* * *<br />

185<br />

Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Apesar de seu instinto gritar com toda sua fluência como um ladrão à espreita, Renata<br />

caminhou pelo corredor oeste do covil de seus inimigos como se tivesse todo o direito de estar lá.<br />

Ela ouviu o baixo ruído de conversa masculina vindo de uma das grandes salas nos fundos. Noutra<br />

parte da casa, não havia nada, mas calma, até que...<br />

Soluços suaves de uma criança chegavam a partir de uma escada que conduzia ao segundo<br />

andar.<br />

Mira.<br />

Renata voou pelos degraus e seguiu os gritos até o final do corredor. A porta do quarto<br />

estava trancada por fora. Ela passou a mão na parte superior do batente, mas não encontrou<br />

nenhuma chave.<br />

—Maldição—, sussurrou tirando uma de suas lâminas da lateral de sua calça.<br />

Ela encravou no ponto entre a porta e o batente apenas acima da fechadura e fez uma<br />

alavanca dura. A madeira rachou, afrouxando um pouco. Mais duas vezes e, finalmente, tinha<br />

espaço suficiente para abrir. Com agitação e mãos ansiosas, Renata abriu a porta.<br />

Mira estava lá, graças a Deus.<br />

Estava sem véu, e assim que olhou para cima e viu a figura vestida de preto entrando na sala<br />

se encolheu no canto com terror absoluto.<br />

—Mira, sou eu—, disse Renata, abrindo a viseira escura. —Está tudo bem agora, garota. Eu<br />

estou aqui para te levar para casa.<br />

—Rennie!<br />

Ajoelhando, Renata estendeu os braços. Com um pequeno grito, Mira voou em seu abraço.<br />

—Oh, ratinha,— Renata sussurrou, dando beijos aliviados no topo da cabeça loira. —Eu<br />

fiquei tão preocupada com você. Me desculpe, eu não vim mais cedo. Está tudo bem, querida?<br />

Mira assentiu com a cabeça, os braços pequenos em volta do pescoço de Renata.<br />

—Eu estava preocupada com você também, Rennie. Eu estava com medo de nunca ver você<br />

de novo.<br />

—Eu também, criança. Eu também. Renata odiava soltá-la, mas ainda tinha que sair de lá<br />

antes que Fabien e seus companheiros chegassem. Ficou de pé, levantando Mira nos braços. —<br />

Temos que correr agora. Se abrace em mim, certo?<br />

Renata ainda não tinha descido dois degraus com a criança quando as explosões rápidas de<br />

tiros irromperam de todas as direções em algum lugar fora da casa.


Tiamat World<br />

* * * Tiamat – World * * *<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

Dragos estava ansioso para demonstrar a beleza tecnológica do colarinho UV do Caçador<br />

quando o inferno desabou fora da reunião. Ele disparou um olhar mortal a Edgar Fabien quando o<br />

grupo pulou de seus assentos em alarme atordoado.<br />

—O que está acontecendo lá fora? - Ele exigiu do seu anfitrião. —Essa é outra de suas<br />

incompetências?<br />

O rosto estreito de Fabien tinha uma sombra pálida.<br />

—Eu não sei, senhor. Seja o que for, tenho certeza que meus agentes resolverão.<br />

—Foda-se seus agentes!— Dragos rugiu. Ele tateou para o rádio e emitiu uma ordem para o<br />

motorista levar o barco, então olhou para o rosto do caçador. —Fora, agora. Lide com isso. Mate<br />

todos em seu caminho.<br />

O caçador, o altamente treinado soldado obediente e impecável apenas ficou ali, imóvel<br />

como um pilar de pedra.<br />

—Fora. Eu te ordeno!<br />

—Não.<br />

—O que? - Dragos não podia acreditar em seus ouvidos. Ele sentiu os olhares de seus<br />

subordinados fixos nele. Ele podia sentir sua descrença, sua dúvida. Um silêncio floresceu,<br />

maduro, com expectativa. —Eu lhe dei uma ordem direta, Hunter. Faça-o, ou vou terminar com<br />

você aqui e agora.<br />

Com tiros chegando nos muros da casa, o caçador teve a audácia de olhar Dragos nos olhos<br />

e balançar a cabeça.<br />

—De qualquer forma, estou morto. Se me quer lutando para que possa viver, desative o<br />

meu colar.<br />

—Como ousa sequer sugerir...<br />

—Está perdendo tempo—, disse ele, aparentemente imperturbável pelo caos crescente à<br />

sua volta. —Liberte-me deste colar, seu filho da puta arrogante.<br />

Apenas então, um dos fracos vigias de Fabien veio correndo para a porta aberta.<br />

—Senhor, estamos recebendo tiros provenientes de todo o perímetro. Não podemos ter<br />

certeza ainda, mas deve haver um exército sobre nós a partir da floresta.<br />

—Oh, Jesus—, Fabien engasgou. —Oh, doce Cristo! Vamos todos morrer!<br />

Dragos rosnou em fúria, sem a menor confiança que os guardas de Fabien pudessem<br />

encontrar suas próprias bundas, muito menos proporcionar uma cobertura adequada para o<br />

grupo de altos machos da raça que estavam olhando atualmente para Dragos como seu líder para<br />

ajudá-los a fugir. Esperando que ele decidisse se os salvava ou derrubaria sua prometida revolução<br />

de uma só vez.<br />

—Terminamos aqui—, ele rosnou. —Todo mundo para fora pela porta traseira, para o barco.<br />

Sigam-me.<br />

Quando o grupo começou a sair em torno dele, Dragos lançou um olhar ameaçador por cima<br />

do ombro ao Hunter. Nenhum homem disse uma palavra – o ódio mútuo era suficiente para ler


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

em seus olhares, quando Dragos pôs a mão no bolso e recuperou o dispositivo que controlava o<br />

colar de Hunter e digitou o código que o desativava.<br />

No instante que o colar clicou em ponto morto, o Caçador estendeu a mão e arrancou-o do<br />

pescoço. Então, com um olhar de descrença, de fria determinação, ele caminhou para fora da<br />

porta em direção ao centro da perturbação.<br />

Capítulo 32<br />

Nikolai sorriu para si mesmo quando sua tática de distração criou confusão repentina e<br />

maciça em todo o lugar. Os agentes em guarda corriam precipitadamente ao redor em pânico<br />

total, mais de um recebeu um golpe da explosão de disparos que vinham de todas as direções do<br />

bosque. Niko convocou a uma videira do enredo de ramos sobre sua cabeça no bosque e fez com<br />

que o ramo enrolasse ao redor do gatilho de sua última M16 escondida.<br />

Quando a videira fez como as anteriores, segurando o fuzil no alto e aplicando uma pressão<br />

cada vez maior no gatilho, o corredor verde cresceu mais grosso e mais forte, então Niko correu<br />

para a entrada lateral da casa.<br />

Não foi difícil encontrar Renata. Seu vínculo de sangue era um farol para ele, levando-o<br />

através da parte traseira do lugar para um vôo por cima das escadas. Renata estava descendo,<br />

Mira apertada em seus braços. Ela viu seu olhar e, por um instante infinito, nenhum dos dois disse<br />

uma palavra. Nikolai queria dizer como estava arrependido. Como estava aliviado que ela<br />

encontrasse a criança ilesa.<br />

Ele tinha mil coisas que queria dizer a Renata naquele momento, principalmente que a<br />

amava e que sempre a amaria.<br />

—Rápido—, ouviu-se murmurar. —Precisamos sair daqui agora.<br />

—O tiroteio está por toda parte—, disse Renata, a preocupação marcando suas feições.—O<br />

que está acontecendo?<br />

—Apenas diversão. Tive que criar uma oportunidade para conseguir que você saísse daqui.<br />

Ela parecia aliviada, mas só por um segundo.<br />

—Fabien e os outros ... Eu os ouvi saindo pelo caminho detrás há alguns minutos atrás.<br />

—Estou nisso—, Niko disse. —Agora vá. Não pare por nada. Leve Mira de volta para o<br />

veículo. A ordem deve chegar a qualquer minuto.<br />

—Nikolai.— Fez uma pausa olhando Renata firmemente, esperando ouvir o perdão, senão<br />

uma afirmação que ela ainda podia amá-lo depois de tudo que tinha acontecido. Ela prendeu seu<br />

olhar, formando um vinco entre as sobrancelhas. —... seja cuidadoso.<br />

Ele deu-lhe um aceno triste, não sentindo suas habituais altas de adrenalina na espera do<br />

combate. Aqueles dias pareciam séculos atrás, quando nada mais importava para ele, exceto a<br />

glória da batalha e o triunfo da vitória, por mais sem sentido que fosse.<br />

Agora tudo importava, sobretudo quando Renata estava preocupada. Sua segurança e


Tiamat World<br />

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Midnight Breed 05<br />

<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

felicidade eram tudo que importava, mesmo que isso significasse que ele não poderia estar na<br />

foto.<br />

—Leve Mira de volta para o veículo—, disse novamente. —Mantenha sua cabeça baixa e<br />

fique segura. Nós vamos tirar você daqui.<br />

Ele esperou até que Renata saiu correndo, então foi para a porta dos fundos da casa por<br />

onde seus inimigos tinham fugido.<br />

* * *<br />

A lancha estava parada na doca quando Dragos e os outros correram ladeira abaixo para<br />

pegá-la. Ao redor da floresta e até perto da casa, os agentes de Fabien mexiam-se como formigas<br />

que tinham acabado de perder sua casa. Tiros iluminavam a noite, de modo casual, era impossível<br />

dizer qual rajada vinha dos aliados e quais dos aparentes intrusos.<br />

Tudo que Dragos sabia era que não ficaria para enfrentar a Ordem ou esperar que alguém o<br />

derrubasse.<br />

Quando ele e seu grupo começaram a subir no barco, Dragos colocou-se no caminho de<br />

Edgar Fabien.<br />

—Não há espaço a bordo para você—, disse para o líder darkhaven de Montreal. —Você nos<br />

prejudicou bastante com sua idiotice. Você fica aqui.<br />

—Mas... senhor, eu, por favor, posso garantir que não vou decepcioná-lo novamente.<br />

Dragos sorriu, mostrando as pontas de seus dentes.<br />

—Não, você não vai.<br />

Com isso, levantou uma pistola 9 mm e disparou um tiro mortal direto entre os olhos<br />

redondos de Fabien.<br />

—Vamos!—, Ordenou ao condutor do barco, Edgar Fabien apagado de sua mente<br />

completamente quando o motor rugiu e a embarcação os levou até o hidroavião que esperava na<br />

outra extremidade do lago.<br />

* * *<br />

Ele chegou fodidamente tarde.<br />

Niko encontrou alguns agentes em seu caminho até o lago, mas quando chegou lá, da rápida<br />

lancha se via pouco mais que uma agitação na água. Nikolai disparou alguns tiros atrás deles, mas<br />

estava apenas perdendo balas. O cadáver de Edgar Fabien jazia na doca de madeira. Dragos e os<br />

outros já estavam do outro lado do lago, agora.<br />

—Maldição.<br />

Com a fúria e determinação o alimentando, Nikolai começou a correr ao longo da costa,<br />

chamando a velocidade sobrenatural que todos os da sua espécie possuíam quando precisavam. O<br />

barco era rápido, mas a água estava cercada de terra. Em algum ponto Dragos e seus<br />

companheiros teriam que desembarcar e pegar outro meio de fuga. Com alguma sorte, poderia


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

alcançá-los antes que fugissem.<br />

Ele não sabia o quão longe estava - uma milha provavelmente - quando de repente seu peito<br />

gelou de medo.<br />

Renata.<br />

Algo estava errado. Terrivelmente errado. Ele podia sentir suas emoção nele como se fossem<br />

suas. Ela, corajosa, imperturbável Renata, estava agora morrendo de medo.<br />

Ah, Cristo.<br />

Se alguma coisa acontecesse com ela...<br />

Não. Ele não podia sequer pensar nisso.<br />

Com todos os pensamentos sobre Dragos deixados de lado, Nikolai virou e continuou em<br />

alta velocidade, rezando como o inferno para chegar a tempo.<br />

* * *<br />

Ela não tinha visto o vampiro enorme vindo por ela.<br />

Num minuto estava cortando o mato escuro com Mira firme em seus braços, e no seguinte<br />

se viu olhando para o rosto implacável e impiedosos olhos dourados de um macho da raça, cujo<br />

imenso torso nu, ombros e braços estavam cobertos por um espesso padrão de dermaglifos.<br />

Era um Gen Um; Renata soube instintivamente. Seus instintos também diziam que este<br />

macho era mais letal que a maioria, frio como pedra.<br />

Um assassino.<br />

O terror a cobriu como uma maré negra. Ela sabia que se o atacasse era melhor ter certeza<br />

que poderia matá-lo rapidamente, ou então ela e Mira seriam mortas no mesmo instante. Ela não<br />

se atreveu a tentar quando Mira podia sofrer, se ela falhasse.<br />

Mãe do céu, tinha chegado tão longe, finalmente tinha Mira abrigada em seus braços, a<br />

poucos passos da liberdade...<br />

—Por favor—, Renata murmurou, desesperada por atrair a mais leve misericórdia. —A<br />

criança não. Deixe-a ir... por favor.<br />

Seu silêncio era irritante. Mira tentou levantar a cabeça do ombro de Renata, mas Renata<br />

gentilmente a empurrou de volta para baixo, não querendo que ela se assustasse com o<br />

mensageiro da morte que sem dúvida tinha sido enviado pelo Edgar Fabien ou pelo próprio<br />

Dragos.<br />

—Vou colocá-la no chão—, Renata disse a ele, sem ter certeza que a compreendia, e muito<br />

menos se cumpriria. —Assim... deixe-a ir. Eu sou a que você quer, não ela. Só eu.<br />

Os olhos de falcão dourado seguiam cada movimento de Renata enquanto cuidadosamente<br />

tirava Mira de suas mãos e, lentamente colocava os pés da menina no chão. Renata colocou-se<br />

entre o assassino e a criança, rezando que a morte dela fosse suficiente para satisfazê-lo e seu<br />

mestre do mal.<br />

—Rennie, o que está acontecendo? - Mira perguntou por trás de suas pernas, as mãos<br />

pequenas segurando as calças de Renata enquanto olhava ao seu redor. —Quem é esse homem?


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

O vampiro deixou seu olhar de pedra viajar até a origem daquela voz minúscula. Ele olhou.<br />

Sua cabeça raspada virou lentamente para o lado. Então, ele fez uma careta.<br />

—Você—, disse ele, com uma voz tão profunda que tremeu todo o caminho até à medula<br />

Renata. Algo sombrio passou em seu rosto. —Deixe-me vê-la.<br />

—Não—, declarou Renata, segurando Mira atrás dela e bloqueando-a como um escudo. —<br />

Ela é apenas uma criança. Não fez nada contra você ou qualquer outra pessoa. Ela é inocente.<br />

Ele lançou a Renata um olhar tão feroz que quase a derrubou.<br />

—Me-deixe-ver-seus-olhos.<br />

Antes que pudesse recusar mais uma vez, antes que pudesse pensar em alguma forma de<br />

pegar Mira e fugir o mais rápido possível, Renata sentiu Mira dar um passo para sair detrás dela.<br />

—Mira, não.<br />

Tarde demais para interromper o que ia ocorrer, Renata só pode olhar com terror quando<br />

Mira caminhou direto para fora e olhou para cima, subindo, para o duro olhar do mortal vampiro<br />

Gen Um.<br />

—Você—, disse ele novamente, olhando duro para o doce rosto de Mira.<br />

Renata poderia dizer o momento em que começou a testemunhar o presente de Mira. Seus<br />

olhos dourados ficaram tempestuosos, e ele olhava, absorto, quando a criança mostrou certos<br />

eventos a acontecer. Ele chegou mais perto, muito perto, quando os braços maciços poderiam<br />

atacar e quebrar Mira sem uma pitada de advertência.<br />

—Não,— ela deixou escapar, mas ele já estava chegando em Mira.<br />

—Está tudo bem, Rennie,— Mira sussurrou, em pé diante dele tão inocente como uma<br />

criancinha que vagava na cova dos leões.<br />

E foi então que Renata percebeu que algo de extraordinário estava para acontecer.<br />

—Você me salvou—, ele sussurrou, com as mãos enormes nos pequenos ombros de Mira. O<br />

vampiro se ajoelhou, ficando em seu nível. Quando ele falou, a voz mortal estava tranquila, com<br />

espanto e confusão. —Você salvou minha vida. Eu vi, agora em seus olhos. Eu vi naquela noite<br />

também...<br />

Capítulo 33<br />

O coração de Nikolai gelou no peito, um crescente pânico, medo, cheio de gelo. Com o<br />

tiroteio ainda em erupção na área, ele tinha dado uma volta pela floresta até o lugar onde seu<br />

sangue tinha mostrado que encontraria sua companheira apavorada.<br />

Renata estava lá. Na escuridão da floresta enluarada, imóvel como uma estátua e olhando<br />

um imenso vampiro Gen Um agachado diante de Mira, segurando a criança com suas enormes<br />

mãos.<br />

Jesus Cristo.<br />

Niko moveu seus pés sem som, rastejando para se aproximar e tentar encontrar uma


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

posição em que poderia atirar sem colocar Renata ou a menina no fogo cruzado.<br />

Derrube-o, Renata.<br />

Faça-o cair e corra como se o inferno estivesse aí.<br />

Ela não lançou seu poder mental sobre ele. Ela não tentou contrair um dedo na direção de<br />

qualquer uma de suas armas, psíquica ou de outra forma. Não, para seu horror, ela nem sequer se<br />

moveu. Só ficou ali, no centro do que rapidamente se transformaria numa tempestade infernal de<br />

sangue e violência.<br />

O próprio medo de Niko nesse momento era insondável. Tudo o que sentia era o terror<br />

rasgando-o por dentro, seus ossos gelados, um desespero tão selvagem dentro do seu coração<br />

que batia como um tambor no peito.<br />

Ele tirou as pistolas 9 mm de seus coldre laterais e avançou. Embora estivesse se movendo a<br />

um ritmo que apenas um da raça poderia controlar, Renata olhou para cima. Ela sentiu-o ali,<br />

mexendo o ar ao seu redor, mesmo que os olhos não conseguissem registrar sua velocidade. O<br />

sangue dele lhe disse que estava perto, assim como o seu sempre a encontraria.<br />

Ele estava muito consumido pela raiva para notar que ela olhava para ele com alarme e não<br />

para o inimigo vampiro que enfrentava.<br />

Nikolai avançou como um flash de movimento, totalmente preparado para matar. Ele parou<br />

logo atrás do grande Gen Um, as duas pistolas apertadas contra os glifos que seguiam até a parte<br />

traseira do crânio raspado do vampiro.<br />

Tudo aconteceu num piscar de olhos, mas parecia em câmara lenta na consciência de<br />

Nikolai.<br />

Ele engatilhou as armas, os dedos nos gatilhos.<br />

Os olhos de Renata se abriram. Ela balançou a cabeça.<br />

—Niko espere... não!<br />

O Gen Um soltou Mira, deixando as grandes mãos caírem ao seu lado. Ele nem sequer reagiu<br />

às armas apontadas em sua cabeça. Seu peito expandiu quando puxou uma respiração longa,<br />

então deixou-a sair em um suspiro resignado.<br />

Ele não estava lutando contra sua morte.<br />

Ele não se importava se morresse.<br />

E então Mira gritou, a voz da criança alta com o medo.<br />

—Não! Não o machuque!<br />

Nikolai assistiu incrédulo e com espanto total quando Mira arremeteu e jogou seus braços<br />

em torno dos ombros largos do Gen Um.<br />

—Por favor, não o machuque!— Ela chorou, olhando para Niko suplicando enquanto tentava<br />

proteger o vampiro desajeitado com seu corpo minúsculo.<br />

* * *<br />

—Nikolai. - Renata prendeu seu olhar quando ele a olhou, incrédulo, as duas pistolas de<br />

grande porte ainda armadas e prontas, niveladas na cabeça do Gen Um. —Nikolai... por favor, está


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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

tudo bem. Basta esperar um segundo.<br />

Ele franziu a testa, mas sua atitude guerreira relaxou um pouco.<br />

—Levante-se—, ordenou o vampiro. —Levante, e fique longe da criança.<br />

O Gen Um obedeceu sem qualquer comentário, lentamente, soltando os braços de Mira do<br />

seu pescoço e empurrando-a para longe enquanto levantava.<br />

Niko se moveu para enfrentá-lo, as armas ainda sobre ele, quando orientou tanto Renata<br />

quanto Mira a ficar atrás dele.<br />

—Quem diabos é você?<br />

Os olhos sóbrios, inexpressivos fitaram a terra.<br />

—Eu sou chamado Hunter.<br />

—Você não é um agente executor—, disse Nikolai cautelosamente.<br />

—Não. Eu sou um caçador.<br />

Renata trouxe Mira para perto, segurando-a enquanto o caos na floresta e na casa morria<br />

lentamente em torno deles.<br />

—Seus olhos, Nikolai—, disse ela, entendendo agora. —Ele é o Olhos-Dourados, o assassino<br />

que tentou matar Sergei Yakut naquela noite. Ele é o que Mira viu no alojamento.<br />

A expressão de Nikolai escureceu.<br />

—É verdade? Você é um assassino de aluguel?<br />

—Eu era. - O Hunter deu um aceno triste e, finalmente, levantou o olhar. —A criança me<br />

salvou. ... Algo mudou em mim depois que eu vi a visão nos olhos dela naquela noite. Eu a vi salvar<br />

minha vida, exatamente como aconteceu há pouco.<br />

No instante seguinte, a floresta ganhou vida com homens armados se deslocando sobre eles<br />

de todas as direções. Nikolai tinha suas armas na mão, mas não fez nenhum movimento para<br />

disparar sobre as ameaças recém-chegadas. Renata entrou em pânico.<br />

—Ah, merda. Niko.<br />

—Está tudo bem. - Ele a acalmou com um olhar tranquilizador e algumas palavras gentis. —<br />

Estes são os rapazes bons, meus amigos da Ordem.<br />

Ela observou quando quatro dos guerreiros amigos de Nikolai entraram na área. Todos eram<br />

formidáveis no tamanho e atitude, um grupo de músculos e força que parecia sugar todo o ar da<br />

floresta pela sua simples presença.<br />

—Como vai, amigo? Tudo bem aqui? —, Perguntou a voz suave de caramelo que agora<br />

Renata reconhecia como pertencente a Rio.<br />

Nikolai assentiu com a cabeça, os olhos e armas ainda no Gen Um.<br />

—Tenho tudo sob controle, mas a situação na casa está toda fodida. Edgar Fabien está<br />

morto, e Dragos e os outros fugiram pela costa. Foram de barco para o outro lado do lago. Tentei<br />

segui-los, mas... Olhou para Renata. —Tinha que me assegurar que tudo estava bem aqui<br />

primeiro.<br />

—Nós ouvimos um motor de avião pequeno zumbindo quando chegamos—, disse Rio.<br />

—Merda—, Nikolai sussurrou. —Eram eles, sem dúvida. Se foram. Raios, Dragos estava aqui<br />

e nós perdemos o filho da puta.


Tiamat World<br />

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<strong>Lara</strong> <strong>Adrian</strong><br />

—Deixe-me ajudar a encontrá-lo.<br />

Todos os olhos se voltaram para o vampiro ainda detido na mira de Nikolai.<br />

—Por que confiaríamos em você? Nikolai perguntou, estreitando seu olhar. —Por que<br />

estaria disposto a nos ajudar a chegar em Dragos?<br />

—Porque ele é a pessoa que me criou. - Não havia calor no tom dourado dos olhos do Gen<br />

Um assassino quando respondeu à pergunta, só ódio frio. —Ele me fez o que sou. Eu, e todos os<br />

outros caçadores para matar criados por ele.<br />

—Oh, meu Deus,— Renata respirou. —Você quer dizer que há mais como você?<br />

A cabeça raspada acenou sobriamente.<br />

—Eu não sei quantos e onde estão localizados, mas Dragos me disse que não sou o único da<br />

minha espécie. Há outros.<br />

—Por que devemos acreditar em você? - Perguntou outro dos guerreiros, este quase tão<br />

sombrio quanto a noite ao seu redor, seus dentes e presas brilhando como pérolas contra sua pele<br />

marrom.<br />

Outro guerreiro interveio, então, de olhos rápidos e sagazes, astuto como um lobo sob os<br />

pontos de ébano de seus cabelos cortados.<br />

—Vamos Tegan diga-nos se podemos confiar nele.<br />

Renata assistiu com espanto, e um pouco de medo quando o maior do grupo, um guerreiro<br />

que parecia um fantasma perseguindo as sombras, deu alguns passos a frente. Imenso, com<br />

cabelos alourados sob o capuz preto de malha que usava, ele era uma grande placa de músculos e<br />

energia sombria. Facilmente tão grande quanto o Gen Um diante dele, esperando seu julgamento.<br />

Sem dizer nada, o guerreiro chamado Tegan estendeu a grande mão. O caçador a pegou,<br />

seus olhos tão constantes quanto seu aperto.<br />

Após um longo momento, Tegan deu um aceno vago.<br />

—Ele vem com a gente. Vamos garantir este lugar e dar o fora daqui.<br />

Renata sentiu o enorme peso da tensão do momento ser removido, dando lugar a um novo<br />

propósito. O grupo se dividiu, a maioria dos guerreiros indo cuidar das coisas na casa de Fabien<br />

enquanto Rio e Nikolai andavam com Renata, Mira, e seu companheiro inesperado de volta ao<br />

veículo à espera da Ordem.<br />

Já perto, Nikolai pegou a mão de Renata na dele.<br />

—Encontramos você lá, Rio.<br />

O guerreiro assentiu. A medida que avançavam, Renata olhou maravilhada e atemorizada<br />

quando Mira deslizou sua mão muito pequena na palma maior do Caçador.<br />

—Meu Deus—, disse ela a Nikolai. —O que está acontecendo?<br />

Ele balançou a cabeça, claramente surpreso como ela.<br />

—Vou levar algum tempo para descobrir isso, acho. Mas primeiro quero esclarecer as coisas<br />

entre nós.<br />

—Nikolai, desculpe.<br />

Ele silenciou-a com um beijo longo, doce, puxando-a em seus braços quentes.<br />

—Eu estraguei tudo, Renata. Eu estava com tanto medo de perder você que a empurrei


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longe de mim com uma mentira, estúpido imprudente. Eu nunca teria me perdoado, se alguma<br />

coisa acontecesse com você ou Mira. Você é meu coração, Renata. Minha vida.<br />

Ele acariciou seu rosto, seu olhar a engolindo, bebendo.<br />

—Eu te amo tanto... eu não quero viver um só momento sem você ao meu lado.<br />

Ela fechou os olhos, dominada pela emoção.<br />

—Eu nunca quis nada mais—, ela sussurrou, sua garganta fechada com alegria. —Eu te amo<br />

também, Nikolai. Mas tem que entender que tenho um pacote agora. Mira não é minha filha de<br />

sangue, mas é de coração. Eu a amo como se fosse minha.<br />

—Eu sei—, disse sobriamente. —Você já provou isso.<br />

Renata olhou para ele, incapaz de conter a esperança que espremia seu peito.<br />

—Você acha que pode encontrar espaço em sua vida e em seu coração para nós duas?<br />

—O que a faz pensar que não tenha feito isso já? Ele beijou-a novamente, desta vez com<br />

ternura. Quando olhou nos seus olhos, seu olhar era tão cheio de amor que varreu seu fôlego. —<br />

Vamos sair daqui agora. Eu quero levar minhas meninas para casa.<br />

Capítulo 34<br />

Boston. Três noites depois.<br />

O complexo da Ordem pareceu muito diferente a Nikolai quando andou pelo corredor que<br />

conduzia do laboratório de tecnologia onde tinha se reunido com os outros guerreiros. A missão<br />

de frustrar Dragos tinha levado um golpe significante há algumas noites, mas também tinham<br />

ganhado uma vantagem muito inesperada na sua busca e encerramento da operação.<br />

Infelizmente, enquanto o Caçador tomava a forma de um valioso aliado, a Ordem também<br />

tinha perdido um aliado crucial e confiável amigo: Andreas Reichen tinha sumido completamente,<br />

e a notícia de Berlim era a pior possível. Ninguém sabia se o líder do Darkhaven alemão tinha<br />

sobrevivido ao ataque na sua residência. Baseado na matança informada de toda sua família e o<br />

fogo que consumiu a propriedade inteira, a Ordem tinha pouca esperança por seu amigo.<br />

Pessoalmente, Nikolai pensou que seria uma pequena misericórdia se Reichen morresse no<br />

ataque. Ele sabia que uma perda tão profunda jamais poderia ser superada. Certamente, nenhum<br />

homem, raça ou de outra forma, seria forte o suficiente para sair ileso de um golpe tão brutal na<br />

alma. Como um guerreiro, Nikolai entendia baixas em combate. Todo guerreiro entrava na batalha<br />

sabendo que ele ou seus irmãos podiam não retornar para a base.<br />

Mas perder uma família...<br />

Ele não queria nem mesmo considerar o que isso faria com um homem. Em vez disso, Nikolai<br />

se centrou sobre as bênçãos que tinha, uma das quais podia ser ouvida falando baixinho quando<br />

se aproximou da porta aberta de seus aposentos particulares.<br />

Renata estava lá dentro, sentada no sofá da sala lendo para Mira.


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Por um momento, quando Niko chegou na entrada, ele encostou-se na soleira da porta,<br />

simplesmente ouvindo e deleitando seus olhos sobre a bela mulher que agora era sua<br />

companheira. Ele adorava ver como Renata ficava tão confortável enrolada com um livro como<br />

quando estava segurando uma arma. Ela tinha uma suavidade que ele admirava, uma inteligência<br />

que o desafiava continuamente, e uma força interior que o fazia procurar ser um homem digno de<br />

sua devoção.<br />

Não prejudicava também que fosse mais quente que o inferno, sobretudo quando ela o fazia<br />

desviar o olhar de suas 9 mm com as suas lâminas queridas no treinamento. Kade e Brock tinham<br />

estado quase permanentemente na sala de armas nos últimos dias, só pela possibilidade de<br />

treinar com Renata ou olhá-la em ação. Nikolai podia culpá-los apenas. Mas quando sentiu o<br />

beliscão leve do ciúme, bastou um olhar malicioso de sua mulher para colocá-lo à vontade. Ela o<br />

amava, e Nikolai era o condenado mais sortudo do sexo masculino no planeta.<br />

—Oi—, disse agora, olhando enquanto virava a última página de um capítulo e parava para<br />

cumprimentá-lo.<br />

—Olá, Niko,— Mira sussurrou sob o véu curto. —Você acabou de perder uma parte muito<br />

boa da história.<br />

—Eu o fiz? Talvez possa falar com Renata para ler mais tarde —, disse ele, enviando um<br />

olhar aquecido a sua companheira quando entrou na sala. Ele caminhou até o sofá e se encolheu<br />

na frente de Mira. —Eu tenho algo para você.<br />

—Sério? - Seu rosto se iluminou com um pequeno sorriso. —O que é isso?<br />

—Uma coisa que pedi a Gideon para você. Tire seu véu e vou mostrar.<br />

Ele não perdeu o olhar protetor de Renata quando Mira afastou o tecido preto longe do seu<br />

rosto.<br />

—O que é isto?<br />

—Tudo bem—, disse ele, tirando uma pequena caixa de plástico do bolso da calça jeans. —<br />

Você pode confiar em mim. Ambas podem confiar em mim.<br />

Renata relaxou, e olhou quando Nikolai retirou a tampa de um recipiente de lentes de<br />

contato.<br />

—Estas são as lentes especiais que Gideon acha que vão ajudar com seus olhos. Você<br />

gostaria de nunca mais usar véu de novo?<br />

Mira concordou com entusiasmo.<br />

—Deixe-me vê-las, Niko!<br />

—Que tipo de lentes são estas? - Renata perguntou, cautelosamente otimista.<br />

—Íris opacas para proteger o efeito de espelhamento dos olhos de Mira. Ela será capaz de<br />

ver através delas, mas ninguém olhando para ela vai notar nada de incomum sobre os olhos. Suas<br />

íris serão cobertas, da mesma forma que o véu cobre. Eu pensei que seriam melhores.<br />

Renata acenou, sorrindo calorosamente para ele.<br />

—Muito melhor. Obrigada.<br />

—Posso experimentá-las? - Mira perguntou, ansiosamente olhando a pequena caixa nas<br />

mãos de Niko. —Olha, Rennie, são roxas!


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—Essa é sua cor favorita—, disse ela, jogando um olhar interrogativo sobre Nikolai.<br />

Ele tinha mudado muito nos últimos dias, empreendendo um papel que nunca se imaginou,<br />

sem falar no fato dele se ajustar tão confortavelmente nele. Ele era um macho com laço de sangue<br />

com uma Companheira de Raça que o amava e uma criança para criar como sua. E ele apreciou a<br />

idéia de ambos.<br />

Ele, um dissidente e imprudente, tinha uma família própria agora. Era incompreensível para<br />

ele, para não mencionar ao resto do complexo. Era a última coisa que sonhou que queria ou<br />

precisava, e agora, apenas alguns dias, não poderia ver sua vida de outra maneira.<br />

Seu coração nunca se sentiu tão completo.<br />

—Deixe-me ajudá-lo com isto—, disse Renata, tirando as lentes dele com cuidado e<br />

colocando-as em Mira. Quando estavam no lugar há alguns segundos e a criança não se mexeu,<br />

Renata pegou um riso pequeno na mão. —Oh, meu Deus. Funcionou, Nikolai. Basta olhar para ela.<br />

As lentes trabalham lindamente.<br />

Ele olhou para as piscinas violeta nos olhos alterados de Mira e viu... nada. Apenas o feliz,<br />

despreocupado olhar de uma criança.<br />

Renata jogou os braços em volta dele e o beijou. Mira estava bem atrás dela, e Niko pegou<br />

as duas num sincero abraço.<br />

—Há mais—, disse, esperando para aproveitar o resto da sua surpresa. Ele se levantou e<br />

pegou cada uma delas na mão. —Venham comigo.<br />

Ele as levou pelo corredor até o elevador que subia da sede subterrânea para a enorme<br />

mansão acima. Ele podia sentir a apreensão de Renata em seu aperto e no pico de adrenalina em<br />

sua corrente sanguínea.<br />

—Não se preocupe, - ele sussurrou contra sua orelha. —Você vai gostar, eu prometo.<br />

Pelo menos, esperava que sim. Ele estava trabalhando nisso durante um dia e meio,<br />

tentando fazer tudo certo. Ele guiou Renata e Mira ao coração da propriedade, em direção à luz de<br />

velas e o calor da sala de jantar formal. Os aromas de pão e carne assada os receberam. Niko não<br />

tinha apreço por comida humana, mas as companheiras de raça que viviam no composto<br />

certamente tinham, e a julgar pela aparência das duas mulheres caminhando ao seu lado, elas<br />

também.<br />

O espanto brilhou nos olhos de Renata.<br />

—Você fez o jantar?<br />

—Claro que não. Acredite em mim, sou a última pessoa que você quer encarregada por suas<br />

refeições. Pedi alguns favores a Savannah, Gabrielle, e as outras mulheres. Seu estômago está em<br />

muito boas mãos.<br />

—Mas eu estive com todas elas mais cedo hoje e ninguém disse nada sobre isso.<br />

—Eu queria fazer uma surpresa. Elas queriam surpreendê-la, também.<br />

Ela não disse mais nada, mas ele não pôde deixar de notar que os passos de Renata<br />

diminuíam ao chegar mais perto da sala de jantar. Mira, no entanto, pulava com entusiasmo.<br />

Assim que chegaram à porta de entrada em arco, ela soltou-se de Niko e correu a mil por hora<br />

como se tivesse vivido lá toda sua vida.


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Mas não Renata.<br />

Ela ficou em silêncio e imóvel. Ela deu uma olhada para a mesa cheia de pratos de porcelana<br />

e enfeites finos e puxou uma respiração superficial. Ela não disse nada quando olhou para o rosto<br />

dos guerreiros e suas Companheiras de raça erguidos em boas vindas quando ela e Nikolai<br />

pararam na porta.<br />

—Oh, Deus—, ela finalmente sussurrou, sua voz quebrada e ferida.<br />

Niko a seguiu quando ela recuou, voltando pelo corredor.<br />

Maldição. Ele estava tão certo que ela iria desfrutar de um agradável jantar com todos, mas<br />

é óbvio que estava errado.<br />

Quando falou com ele, sua voz estava embargada pela emoção.<br />

—Todo mundo está esperando lá dentro... por nós?<br />

—Não se preocupe com isso—, disse ele, puxando-a em seus braços. —Eu queria fazer algo<br />

especial para você, e estraguei tudo. Sinto muito. Você não tem que fazer isso.<br />

—Nikolai. - Ela olhou para ele, os olhos brilhantes de lágrimas. —Eu nunca vi nada mais<br />

bonito que aquela mesa, com todos ao redor dela.<br />

Ele franziu a testa, confuso agora.<br />

—Então o que está errado?<br />

Ela balançou a cabeça, engolindo um riso estrangulado.<br />

—Nada há de errado. Apenas isso. Nada de errado em tudo. Estou tão feliz. Você me faz tão<br />

completamente feliz. Eu tenho medo deste sentimento. Eu nunca soube o que era, e eu estou<br />

morrendo de medo que seja apenas um sonho.<br />

—Não é um sonho—, disse ele suavemente, acariciando uma perdida lágrima de seu rosto.<br />

—E você pode se segurar em mim se sentir medo. Eu vou estar aqui ao seu lado enquanto quiser.<br />

—Para sempre—, disse ela, sorrindo para ele.<br />

Nikolai assentiu.<br />

—Sim, amor. Para sempre.<br />

O riso exaltado de Renata borbulhou fora dela. Ela o beijou duramente, em seguida,<br />

aninhada contra seu lado caminhou com ele sob o abrigo do seu braço, voltando a se juntar aos<br />

outros. Voltando para se juntar ao resto da sua família.<br />

Fim

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