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GRITO no - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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10 <strong>GRITO</strong> <strong>no</strong>rt Marco/Abril<br />

FGTS para o campo<br />

O ex-presi<strong>de</strong>nte Figueiredo enviou, <strong>no</strong> dia 5<br />

<strong>de</strong> março, ao Congresso Nacional o projeto lei<br />

que esten<strong>de</strong> o Fundo <strong>de</strong> Garantia do Tempo <strong>de</strong><br />

Serviço (FGTS) ao trabalhador rural.<br />

A criação do FGTS pela lei nP 107 <strong>de</strong> 1966,<br />

foi justificada oficialmente como um gran<strong>de</strong> be-<br />

nefício ao trabalhador, mas na verda<strong>de</strong> ele veio<br />

para que as empresas tivessem um fundo garan-<br />

tido para cobrir as in<strong>de</strong>nizações <strong>de</strong> antigos tra-<br />

balhadores ao serem <strong>de</strong>mitidos. Por outro lado,<br />

a criação do FGTS daria a base financeira do<br />

Sistema Financeiro Habitacional (SFH). O Ban-<br />

co Nacional <strong>de</strong> Habitação faria uso dos saldos<br />

acumulados para <strong>de</strong>senvolver a política habita-<br />

cional, através <strong>de</strong> seus programas <strong>de</strong> financia-<br />

mento e apoio.<br />

Por essa <strong>no</strong>va lei, as empresas passaram a po-<br />

<strong>de</strong>r <strong>de</strong>spedir seus assalariados sem qualquer pa-<br />

gamento adicional (o que antes era garantido<br />

pela CLT), bastando o pagamento do mês <strong>de</strong><br />

aviso prévio. Em compensação, elas são obriga-<br />

das a <strong>de</strong>positar mensalmente, a crédito <strong>de</strong> cada<br />

assalariado em conta bancária individualizada,<br />

8% do salário pago. Este fundo ren<strong>de</strong>, por lei,<br />

3% ao a<strong>no</strong> mais correção monetária, po<strong>de</strong>ndo o<br />

trabalhador sacá-lo em casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego,<br />

aposentadoria e outros casos especiais.<br />

A POSIÇÃO DO MOVIMENTO SINDICAL<br />

O Movimento Sindical dos trabalhadores ru-<br />

rais vem se posicionando contra a extensão do<br />

FGTS a essa categoria profissional. O presi<strong>de</strong>nte<br />

da Fe<strong>de</strong>ração dos Trabalhadores na Agricultura<br />

<strong>de</strong> Minas Gerais disse que o projeto lei encami-<br />

nhado pelo gover<strong>no</strong> Figueiredo visa aten<strong>de</strong>r a<br />

uma antiga reivindicação dos empresários rurais<br />

e gran<strong>de</strong>s fazen<strong>de</strong>iros e o seu objetivo é o <strong>de</strong><br />

acabar com a estabilida<strong>de</strong> <strong>no</strong> emprego.<br />

A extensão do FGTS ao homem do campo<br />

está prevista <strong>no</strong> artigo 20 da lei 5889, <strong>de</strong> junho<br />

<strong>de</strong> 1973, mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então o Movimento Sindi-<br />

cal ficou contra a sua implantação. Aponta a<br />

ameaça <strong>de</strong> se implantar <strong>no</strong> meio rural um siste-<br />

ma violentador da estabilida<strong>de</strong> <strong>no</strong> emprego, ca-<br />

paz <strong>de</strong> estimular a rotativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra<br />

e contribuir para o <strong>de</strong>semprego, o rebaixamen-<br />

to dos salários e o êxodo rural.<br />

Para o presi<strong>de</strong>nte da Fetaemg, André Mon-<br />

talvão, "aos trabalhadores interessa a permanên-<br />

cia do regime da estabilida<strong>de</strong>, após os <strong>de</strong>z a<strong>no</strong>s<br />

<strong>de</strong> trabalho".<br />

Luta pelo Dissídio<br />

Começou <strong>no</strong> dia 17<br />

<strong>de</strong> março, com assem-<br />

bléias em todos os sindi-<br />

catos dos trabalhadores<br />

da Zona Canavieira <strong>de</strong><br />

Pernambuco, a campanha<br />

pelo cumprimento da ta-<br />

bela <strong>de</strong> limpa da cana. Os<br />

Sindicatos e a Fetape<br />

alertam os trabalhadores:<br />

"Se a gente faz greve para<br />

aumentar o salário e con-<br />

quistar os direitos na<br />

Campanha Salarial, a gen-<br />

te tem que fazer greve pa-<br />

ra cumprir o que ficou<br />

acertado <strong>no</strong> Dissídio. Se<br />

a gente aceita conta gran-<br />

<strong>de</strong>, a gente tá ajudando<br />

o patrão a tirar o empre-<br />

go dos <strong>no</strong>ssos filhos e<br />

companheiros.<br />

AS PRINCIPAIS<br />

ORIENTAÇÕES<br />

1 — Só <strong>de</strong>vemos pegar<br />

o serviço da limpa se tiver<br />

<strong>no</strong> tamanho certo da ta-<br />

bela,<br />

2 - Não vamos <strong>de</strong>ixar<br />

o patrão botar outro <strong>no</strong><br />

<strong>no</strong>sso lugar;<br />

3 — O Sindicato <strong>de</strong>ve<br />

ir ver o tamanho da conta<br />

da limpa. Sindicato tem<br />

obrigação <strong>de</strong> orientar e<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r trabalhador;<br />

4 — Em todos os mu-<br />

nicípios os <strong>de</strong>legados sin-<br />

dicais, os trabalhadores<br />

<strong>de</strong>vem organizar PIGUE-<br />

TES DE ORIENTAÇÃO<br />

para a Campanha <strong>de</strong><br />

Cumprimento da Tabela<br />

da Limpa.<br />

Os trabalhadores <strong>de</strong>-<br />

vem pedir ao Sindicato<br />

ou à Fetape a tabela da<br />

limpa aprovada <strong>no</strong> último<br />

Dissídio. Ela <strong>de</strong>ve ser<br />

bem compreendida e bem<br />

discutida. A luta pelo<br />

cumprimento do dissídio<br />

só tem força se for feita<br />

com a união <strong>de</strong> todos os<br />

municípios e <strong>de</strong> todos os<br />

trabalhadores da região<br />

canavieira <strong>de</strong> Pernambu-<br />

co.<br />

A situação é <strong>de</strong> calma:<br />

a Companhia Mirante<br />

que, com uma escritura<br />

fria, se diz dona das ter-<br />

ras do Sítio Ouro Preto e<br />

Fragoso, em Olinda/PE,<br />

se aquietou. Nada <strong>de</strong><br />

ameaça, nada <strong>de</strong> violên-<br />

cia, nada <strong>de</strong> fazer cerca.<br />

Tudo está na maior paz.<br />

Os posseiros estão tran-<br />

qüilos. De tanta paz, cal-<br />

ma e tranqüilida<strong>de</strong> dá im-<br />

pressão que os posseiros<br />

da área já conseguiram o<br />

título <strong>de</strong>finitivo <strong>de</strong> suas<br />

posses.<br />

Nada mais longe da<br />

verda<strong>de</strong>. Os posseiros,<br />

que lutam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1944<br />

pela posse da terra ainda<br />

não têm títulos <strong>de</strong>finiti-<br />

vos. Parecem enganados<br />

pela <strong>no</strong>va tática da Com-<br />

panhia Mirante, que nem<br />

"sapo olhando jibóia".<br />

Por não enxergar<br />

quem é o verda<strong>de</strong>iro ini-<br />

migo — o latifúndio MI-<br />

RANTE — os posseiros<br />

começam a ter <strong>de</strong>senten-<br />

dimentos, richas, "disse-<br />

me-disse" entre si. A <strong>de</strong>-<br />

sunião é gran<strong>de</strong>. Sinal<br />

disso é que na última reu-<br />

nião do Sindicato partici-<br />

pavam me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 30 com-<br />

panheiros, numa área que<br />

tem mais <strong>de</strong> 500 famí-<br />

lias.<br />

Junto à <strong>de</strong>sunião há<br />

um <strong>de</strong>sânimo: a terra é<br />

fraca e não produz sem<br />

adubo, mas quem po<strong>de</strong><br />

O Grito <strong>de</strong> Alerta<br />

pagar uma carrada <strong>no</strong><br />

preço que está? (CrS 300<br />

mil orgânico e CrS 400<br />

mil da granja). Devido ao<br />

<strong>de</strong>semprego e fome, gen-<br />

te da cida<strong>de</strong> entra <strong>no</strong>s sí-<br />

tios e "rouba". Devido a<br />

<strong>de</strong>mora das autorida<strong>de</strong>s<br />

<strong>no</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapro-<br />

priação, os posseiros co-<br />

meçam a <strong>de</strong>sacreditar <strong>no</strong><br />

Sindicato. Pensam que<br />

lutando sozinhos vão ga-<br />

nhar a causa. . .<br />

Outros companheiros,<br />

ou por motivo <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

avançada ou por querer<br />

dar uma <strong>de</strong> "metido a ri-<br />

co" querem ven<strong>de</strong>r suas<br />

posses. E ven<strong>de</strong>m por<br />

CrS 8, 6, 5 milhões, tem<br />

até quem ven<strong>de</strong> por CrS<br />

1 milhão. Pensam que<br />

vão viver folgados na ci-<br />

da<strong>de</strong>, com este dinheiro<br />

na poupança. . .<br />

Muito "doutor" e rico<br />

estão <strong>de</strong> olho <strong>no</strong>s sítios,<br />

já que a área do Sítio Ou-<br />

ro Preto é reconhecida<br />

como área rural pela Pre-<br />

feitura <strong>de</strong> Olinda. Vão<br />

surgindo belas casas "<strong>de</strong><br />

fim <strong>de</strong> semana", cercadas<br />

com arame e cortando<br />

caminhos. Pois é: cerca<br />

<strong>de</strong> rico é arame farpado,<br />

cerca <strong>de</strong> pobre é a cons-<br />

ciência. Aos poucos se<br />

percebe que os 900 hec-<br />

tares da área vão se trans-<br />

formando <strong>de</strong> uma área<br />

rural <strong>de</strong> agricultura para<br />

uma área rural <strong>de</strong> lazer...<br />

O que os grileiros não<br />

conseguiram com amea-<br />

ças e violências, os pró-<br />

prios posseiros agora es-<br />

tão entregando. A <strong>de</strong>su-<br />

nião, o <strong>de</strong>sânimo e a <strong>de</strong>s-<br />

crença estão enfraque-<br />

cendo a luta dos possei-<br />

ros.<br />

A situação <strong>no</strong> Sítio<br />

Ouro Preto não é das<br />

mais animadoras. Mas<br />

quanto mais escura a <strong>no</strong>i-<br />

te, tanto mais brilhante a<br />

aurora. O grito <strong>de</strong> alerta<br />

— "nada <strong>de</strong> braços cruza-<br />

dos" — foi dado na últi-<br />

ma reunião do Sindicato,<br />

<strong>no</strong> dia 17 <strong>de</strong> março. Não<br />

se po<strong>de</strong> crer na promessa<br />

dos gran<strong>de</strong>s, nem neste<br />

tempo <strong>de</strong> Nova Repúbli-<br />

ca. O próximo passo na<br />

luta será mandar o docu-<br />

mento aprovado na reu-<br />

nião do dia 17 <strong>de</strong> março,<br />

reivindicando a <strong>de</strong>sapro-<br />

priação e posse da terra.<br />

Este documento será en-<br />

viado diretamente à Bra-<br />

sília, <strong>no</strong> 49 Congresso,<br />

uma vez que o Governa-<br />

dor do Estado nem ligou<br />

para o mesmo.<br />

Há um esforço tam-<br />

bém <strong>de</strong> montar uma<br />

cooperativa. Trabalho di-<br />

fícil, mas não fora do al-<br />

cance dos posseiros que<br />

durante muitos a<strong>no</strong>s <strong>de</strong><br />

luta somaram forças <strong>de</strong><br />

resistência, perseverança<br />

e firmeza. Desapropria-<br />

ção é a solução!<br />

Bahia: Queremos a emergência<br />

Gran<strong>de</strong> parte dos municípios baia<strong>no</strong>s ain-<br />

da sofre as terríveis conseqüências <strong>de</strong> cinco<br />

a<strong>no</strong>s seguidos <strong>de</strong> seca e. apesar das chuvas que<br />

têm caído, falta recursos, falta trabalho e<br />

quando o trabalhador rural consegue um dia<br />

<strong>de</strong> serviço recebe dois mil e quinhentos cruzei-<br />

ros <strong>de</strong> diária. O resultado <strong>de</strong> tudo isto é a mul-<br />

tiplicação dos <strong>de</strong>sempregados, a miséria que se<br />

alastra, a fome que <strong>de</strong>ixa profundas marcas<br />

como doenças e até mortes, conforme consta-<br />

tam vários médicos.<br />

Os trabalhadores rurais do Estado da Ba-<br />

hia, diante <strong>de</strong>ste quadro <strong>de</strong> sofrimentos, re-<br />

presentados pela FETAG/BA e os Sindicatos<br />

reuniram-se <strong>no</strong> dia 6 <strong>de</strong> março e aprovaram<br />

um documento <strong>de</strong> reivindicações. No dia 26<br />

uma comissão <strong>de</strong> representantes <strong>de</strong> vários mu-<br />

nicípios veio a Recife e entregou este docu-<br />

mento ao Chefe do Gabinete da Su<strong>de</strong>ne, Va-<br />

nildo Alves <strong>de</strong> Moura, apresentando as exigên-<br />

cias dos trabalhadores. Enquanto isso, <strong>no</strong> mes-<br />

mo dia, uma comissão esteve em Brasília/DF<br />

e outra em Salvador/BA entregando o mesmo<br />

documento às autorida<strong>de</strong>s.<br />

Conforme o documento, as reivindicações<br />

dos trabalhadores são as seguintes:<br />

1 — De imediato: salário <strong>de</strong> emergência pa-<br />

ra o trabalhador rural.<br />

a) que seja correspon<strong>de</strong>nte a um salário<br />

mínimo;<br />

b) que seja para um período <strong>de</strong> seis meses<br />

a partir <strong>de</strong> 1 5 <strong>de</strong> março, po<strong>de</strong>ndo ser prolon-<br />

gado caso não haja safra;<br />

c) que seja para homens, mulheres e jo-<br />

vens a partir <strong>de</strong> 14 a<strong>no</strong>s;<br />

dl que seja para o trabalhador fazer a pró-<br />

pria roça;<br />

e) que possa ser recebido <strong>no</strong> estabeleci-<br />

mento bancário mediante a apresentação <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>stes documentos: registro civil ou título<br />

eleitoral ou carteira sindical;<br />

f) que o fichamento seja feito pelos ór-<br />

gãos governamentais <strong>de</strong> combate à seca<br />

(SUDENE, DNOCS) e seja fiscalizado pelos<br />

Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e<br />

FETAG.<br />

2 — Quanto ás sementes:<br />

a) que sejam distribuídas gratuitamente e<br />

em quantida<strong>de</strong> suficiente para cada família <strong>de</strong><br />

peque<strong>no</strong> produtor (não me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 30 quilos <strong>de</strong><br />

feijão e 10 quilos <strong>de</strong> milho);<br />

b) que sejam distribuídas pelos órgãos go-<br />

vernamentais (SUDENE, DNOCS) e fiscaliza-<br />

das pelos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais<br />

ou representante da FETAG <strong>no</strong> lugar on<strong>de</strong><br />

não haja sindicato do trabalhador rural.<br />

Acreditamos que as medidas propostas e<br />

reivindicadas <strong>no</strong> documento servirão para ali-<br />

viar a fome <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> famílias a curto<br />

prazo, mas que a verda<strong>de</strong>ira solução do pro-<br />

blema está na REFORMA AGRARÍA com<br />

distribuição <strong>de</strong> terras aos trabalhadores, crédi-<br />

to agrícola, irrigação, preços justos para os<br />

produtos agrícolas e assistência técnica ao pe-<br />

que<strong>no</strong> lavrador, para que se evite o flagelo re-<br />

petido ao longo <strong>de</strong> a<strong>no</strong>s e a<strong>no</strong>s.<br />

Como se trata <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong> emer-<br />

gência, os trabalhadores aguardam a resposta<br />

até o dia 10 <strong>de</strong> abril através da FETAG/BA,<br />

pois já é tempo <strong>de</strong> plantação. Caso a resposta<br />

não venha, <strong>no</strong> dia 16 <strong>de</strong> abril os trabalhadores<br />

acamparão em frente ao prédio da SUDENE,<br />

em Recife, até que sejam tomadas as <strong>de</strong>vidas<br />

providências.

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