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Edição completa - Revista de Ciências Sociais

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D O S S I Ê<br />

POLÍTICAS SOCIAIS: NOVAS ABORDAGENS, NOVOS<br />

DESAFIOS<br />

1. A NOVA GERAÇÃO DE<br />

POLÍTICAS SOCIAIS<br />

O Estado-Providência<br />

tem-se comportado ao longo<br />

dos anos como uma “máquina<br />

<strong>de</strong> in<strong>de</strong>mnizar” na formulação<br />

expressiva <strong>de</strong> Pierre Rosanvallon<br />

(1995: 107) e isso revelou-se<br />

claramente ina<strong>de</strong>quado<br />

para o tipo <strong>de</strong> situações <strong>de</strong><br />

risco social que se apresentam<br />

hoje em dia, como o <strong>de</strong>semprego<br />

<strong>de</strong> longa duração ou o<br />

<strong>de</strong>semprego dos trabalhadores<br />

sem qualifi cações profi ssionais.<br />

O emprego não existe pura e<br />

simplesmente para certas categorias<br />

da população, a não<br />

ser que essas pessoas melhorem<br />

a sua situação perante os<br />

mercados <strong>de</strong> trabalho, o que<br />

raramente está ao seu alcance<br />

sem qualquer ajuda. Porém, a<br />

melhoria <strong>de</strong>sejável da sua situação<br />

só é possível se o Estado<br />

<strong>de</strong>senvolver outras políticas<br />

distintas das políticas clássicas<br />

<strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> rendimentos<br />

(políticas in<strong>de</strong>mnizatórias),<br />

políticas que aju<strong>de</strong>m verda<strong>de</strong>iramente<br />

as pessoas a (re)<br />

inserir-se na socieda<strong>de</strong>.<br />

Este é precisamente o<br />

objectivo da nova geração <strong>de</strong><br />

políticas sociais: ajudar as pessoas<br />

a se inserirem socialmente,<br />

seja nos mercados <strong>de</strong> trabalho,<br />

seja em activida<strong>de</strong>s socialmente<br />

reconhecidas. Inserção passou<br />

a ser uma palavra-chave. Em<br />

PEDRO HESPANHA*<br />

RESUMO<br />

De uma forma sintética, a nova geração <strong>de</strong><br />

políticas sociais privilegia a inserção social em<br />

vez da subsidização do risco; a participação<br />

activa dos beneficiários no <strong>de</strong>senho e<br />

aplicação das medidas em vez da submissão<br />

passiva às <strong>de</strong>terminações dos técnicos<br />

sociais; a personalização da ajuda em vez<br />

da sua massificação; a co-responsabilização<br />

do prestador e do beneficiário na aplicação<br />

da medida; a <strong>de</strong>scentralização do <strong>de</strong>senho<br />

das medidas <strong>de</strong> política e a sua gestão<br />

partilhada pelas instituições locais; o<br />

efeito <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> em vez da solicitu<strong>de</strong><br />

distante; a flexibilida<strong>de</strong> das acções em vez<br />

da tipificação das valências. Constitui um<br />

<strong>de</strong>safio para todos e, em particular, para os<br />

cientistas sociais <strong>de</strong>socultar os processos <strong>de</strong><br />

enviezamento e ajudar a repensar as políticas<br />

<strong>de</strong> forma a reconduzi-las aos seus objectivos<br />

mais nobres.<br />

ABSTRACT<br />

In a nutshell, the new generation of social<br />

policies privileges social insertion instead<br />

of risk subsidizing, active participation of<br />

beneficiaries instead of passive submission<br />

to professionals, personalization of the aid<br />

instead of mass provision, human proximity<br />

instead of distant solicitu<strong>de</strong>. Commitment of<br />

beneficiaries, <strong>de</strong>centralized implementation of<br />

policies and local partnerships for management<br />

of programs are central features of the new<br />

active social policies. It constitutes a challenge<br />

for all and, in particular, for social scientists<br />

to unveil distortions in the implementation<br />

processes and to help policy makers and<br />

professionals to rethink social policies in or<strong>de</strong>r<br />

that these policies may recuperate their noble<br />

mission of reduce inequalities.<br />

* Professor do Centro <strong>de</strong> Estudos <strong>Sociais</strong> (CES) e<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra<br />

(FEUC), Portugal.<br />

geral, a inserção preten<strong>de</strong> constituir<br />

um espaço intermédio<br />

entre o emprego assalariado<br />

e a activida<strong>de</strong> social naqueles<br />

casos em que as políticas in<strong>de</strong>mnizatórias<br />

falham. Para tal,<br />

ela reveste-se <strong>de</strong> um conjunto<br />

<strong>de</strong> características que são inovadoras<br />

e que marcam a diferença<br />

relativamente às políticas<br />

sociais clássicas.<br />

Em primeiro lugar, a inserção<br />

é mais do que um mero<br />

direito <strong>de</strong> subsistência, pois<br />

reconhece ao seu titular um<br />

papel positivo na socieda<strong>de</strong>, o<br />

<strong>de</strong> contribuir com a sua activida<strong>de</strong><br />

para a utilida<strong>de</strong> social.<br />

Como refere Castel (1995), não<br />

se trata apenas <strong>de</strong> um direito<br />

a (sobre)viver, mas também<br />

a viver em socieda<strong>de</strong>. Ao se<br />

consi<strong>de</strong>rar os indivíduos como<br />

cidadãos activos e não apenas<br />

como assistidos, introduz-se<br />

uma fi losofi a <strong>de</strong> cidadania que<br />

estava afastada na clássica relação<br />

paternalista entre Estado e<br />

assistido, geradora <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência<br />

e pela qual este último<br />

ten<strong>de</strong> a se tornar um sujeito<br />

subordinado.<br />

Em segundo lugar, a obrigação<br />

não pesa apenas sobre<br />

uma parte; ela pesa também<br />

sobre a socieda<strong>de</strong>, obrigando-a<br />

a levar a sério os direitos da<br />

população marginalizada. Esta<br />

implicação mútua entre indivíduo<br />

e socieda<strong>de</strong> afasta-se quer<br />

HESPANHA, P. Políticas sociais: novas abordagens ... p. 5 - 15<br />

<strong>Revista</strong> CIENCIAS SOCIAIS 39-1 ufc 2008.indd 5 16/10/2008 12:45:55<br />

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