Edição completa - Revista de Ciências Sociais
Edição completa - Revista de Ciências Sociais
Edição completa - Revista de Ciências Sociais
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
a resolução dos problemas e correndo-se o risco da<br />
<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção no âmbito <strong>de</strong> um projecto<br />
limitado temporalmente.<br />
A intervenção <strong>de</strong>scentralizada<br />
As novas metodologias <strong>de</strong> abordagem implicam<br />
também uma acção <strong>de</strong>scentralizada e a partilha <strong>de</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> acção com as organizações<br />
da socieda<strong>de</strong> civil. As parcerias ou re<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong><br />
parceiros são estruturas <strong>de</strong> acção integrada que põem<br />
em comum recursos com vista a atingir <strong>de</strong>terminadas<br />
fi nalida<strong>de</strong>s, como partilhar pertenças, fazer circular<br />
informação, produzir ajudas, mobilizar capital social,<br />
ligar os agentes económicos ou controlar as políticas<br />
públicas.<br />
A fi losofi a <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização impôs-se por<br />
um conjunto <strong>de</strong> razões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pragmática, mas<br />
também pelas crescentes difi culda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gerir as políticas<br />
assistenciais a partir <strong>de</strong> cima. O argumento da<br />
subsidiarieda<strong>de</strong> é também recorrentemente invocado.<br />
Seja como for, no âmbito local: a) po<strong>de</strong>-se ajuizar<br />
melhor das necessida<strong>de</strong>s específi cas e das oportunida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> inserção e daí adaptar as políticas para<br />
tirarem proveito disso; b) existe capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerir<br />
o conjunto <strong>de</strong> políticas nacionais, regionais e locais<br />
que afectam um dado território <strong>de</strong> forma a evitar<br />
duplicações e a maximizar as sinergias, e c) existem<br />
aspectos e espaços comuns que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar<br />
um papel importante na mobilização <strong>de</strong> agentes<br />
locais, empregadores e grupos <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> para<br />
apoiar objectivos <strong>de</strong> política.<br />
A dimensão local das políticas, em regra, traduzse<br />
em três tendências principais: a <strong>de</strong> níveis inferiores<br />
<strong>de</strong> governação ou parcerias locais se envolverem<br />
mais activamente no <strong>de</strong>senvolvimento e gestão dos<br />
projectos e políticas nacionais; a <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong> uma<br />
maior margem <strong>de</strong> manobra na execução das políticas<br />
nacionais e a <strong>de</strong> <strong>de</strong>volver a competência para fazer políticas<br />
a níveis inferiores <strong>de</strong> governação. O processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scentralização é acompanhado, no plano orgânico,<br />
da criação <strong>de</strong> parcerias <strong>de</strong> agências locais dos sectores<br />
público, privado, comunitário e não lucrativo com<br />
vista a i<strong>de</strong>ntifi car necessida<strong>de</strong>s e conceber estratégias<br />
ou a criar projectos conjuntos.<br />
A <strong>de</strong>scentralização das políticas, sendo em geral<br />
positiva, tem algumas limitações que só po<strong>de</strong>m ser<br />
corrigidas com uma boa articulação com os princípios<br />
8 REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS v. 39 n. 1 2008<br />
gerais do sistema e com uma estrutura coor<strong>de</strong>nadora<br />
que controle o seu cumprimento.<br />
De uma forma sintética, os problemas da intervenção<br />
<strong>de</strong>scentralizada manifestam-se sob os<br />
seguintes ângulos:<br />
a) Efi cácia – as iniciativas locais não conseguem<br />
por si resolver os problemas sociais (como a<br />
exclusão ou o <strong>de</strong>semprego) e <strong>de</strong>vem ser acompanhadas<br />
por medidas <strong>de</strong> carácter nacional.<br />
b) Equida<strong>de</strong> – po<strong>de</strong> gerar-se uma distribuição<br />
<strong>de</strong>sigual <strong>de</strong> protecção social pelos diferentes<br />
territórios, sendo os mesmos problemas cobertos<br />
<strong>de</strong>sigualmente consoante o território<br />
em que ocorrem.<br />
c) Accountability – maior difi culda<strong>de</strong> em controlar<br />
a aplicação <strong>de</strong> recursos públicos.<br />
d) Localismo – possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “<strong>de</strong>svios” signifi<br />
cativos na execução <strong>de</strong> políticas, entre os<br />
objectivos nacionais e a sua concretização<br />
local.<br />
e) Efeito <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong>/familiarida<strong>de</strong> – nem<br />
sempre a proximida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong> a uma<br />
maior consciência das necessida<strong>de</strong>s e das<br />
oportunida<strong>de</strong>s locais por falta <strong>de</strong> distanciamento<br />
face ao que é familiar.<br />
f) Escala – certas funções <strong>de</strong>vem ser asseguradas<br />
à escala regional e não local (por exemplo,<br />
certos tipos <strong>de</strong> equipamentos colectivos).<br />
De uma forma geral, o papel do Estado central<br />
continua a manifestar a sua indispensabilida<strong>de</strong>: no<br />
uso das formas <strong>de</strong> controlo apropriado para resolver<br />
os problemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> na protecção, <strong>de</strong> falta<br />
<strong>de</strong> responsabilização e <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio relativamente aos<br />
objectivos nacionais; na provisão <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong><br />
apoio que permitam complementar as iniciativas<br />
locais (por exemplo, no domínio da fi scalida<strong>de</strong> e do<br />
equipamento); e no fornecimento <strong>de</strong> certos serviços<br />
centrais, como fi nanciamento, campanhas <strong>de</strong> consciencialização,<br />
avaliação dos projectos e assistência<br />
técnica.<br />
A intervenção em parceria<br />
A partilha <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> acção com<br />
as organizações da socieda<strong>de</strong> civil vai <strong>de</strong> par com a<br />
<strong>de</strong>scentralização das políticas. As parcerias ou re<strong>de</strong>s<br />
<strong>Revista</strong> CIENCIAS SOCIAIS 39-1 ufc 2008.indd 8 16/10/2008 12:45:55