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Edição completa - Revista de Ciências Sociais

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<strong>de</strong> 1955 «A obra <strong>de</strong> arte aberta» (que Umberto Eco, em sua obra semelhante, reconhece como antecipador),<br />

no qual houve uma segunda precursão: em seus parágrafos fi nais, anunciou expressamente o prospecto<br />

<strong>de</strong> um “barroco mo<strong>de</strong>rno” ou “neobarroco”: antes, portanto, <strong>de</strong> Severo Sarduy, seu amigo a cuja memória<br />

<strong>de</strong>dicou um poema em Crisamtempo; Sarduy veio a introduzir esse conceito no campo hispano-americano<br />

em 1972, <strong>de</strong>sconhecendo seu texto <strong>de</strong> 1955. Além disso, embora não empregassem o termo “neobarroco”,<br />

tanto Lezama Lima (La expresión americana, 1ª ed., 1957), como Alejo Carpentier, dois mestres cubanos que<br />

infl uenciaram Sarduy, já reivindicavam, em âmbito hispano-americano, o estilo barroco e o barroquismo em<br />

seu impacto trans-histórico 26 . Citando enfi m sua própria prática poética, diz que textos como Ciropédia e<br />

Claustrofobia, <strong>de</strong> 1952, são a pré-história barroquizante <strong>de</strong> suas Galáxias (1963-1976). E conclui afi rmando<br />

que, hoje, o conceito <strong>de</strong> “neobarroco” parece <strong>de</strong>rivar rumo a um pervasivo “transbarroco” latino-americano<br />

(para só falar do que se passa na América Ibérica). Para ilustrar isso, cita três antologias: Caribe transplatino,<br />

bilíngüe, organizada por Néstor Perlongher, com traduções <strong>de</strong> Josely Vianna Baptista (S. Paulo: Iluminuras,<br />

1991); Transplatinos, organizada por Roberto Echavarren (México: El Tucán <strong>de</strong> Virginia, 1990); Medusario/<br />

Muestra <strong>de</strong> poesía lantinoamericana, organizada por Roberto Echavarren, José Kozer y Jacobo Sefamí (México:<br />

Fondo <strong>de</strong> Cultura Económica, 1996). Menciona ainda: Jardim <strong>de</strong> Camaleões – A poesia neobarroca na América<br />

Latina, antologia organizada pelo poeta Cláudio Daniel (ele próprio um “neobarroquista” talentoso), com<br />

traduções <strong>de</strong>le e <strong>de</strong> Luiz Roberto Gue<strong>de</strong>s, editada por Iluminuras, o que torna acessível ao leitor brasileiro<br />

«essa <strong>de</strong>riva “transbarroca” que percorre o espaço textual <strong>de</strong> nossa América, não <strong>de</strong> modo homogêneo e uniforme,<br />

mas regendo-se por uma fascinante estratégia <strong>de</strong> nuanças», nas palavras <strong>de</strong> Haroldo <strong>de</strong> Campos.<br />

* * *<br />

Portanto, se atentarmos abertamente para o quanto teríamos a apren<strong>de</strong>r com os gran<strong>de</strong>s escritores e<br />

estudiosos da América hispânica (Cubanos, Mexicanos, Peruanos, Argentinos, etc.), então, esta dimensão<br />

comparativa e enriquecedora faria <strong>de</strong>scortinar uma gama <strong>de</strong> alternativas que estão muito acima <strong>de</strong> minha<br />

capacida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> meu <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rato.<br />

Além disso, a tendência que adoto na concepção do Barroco nesta pesquisa me leva a um confronto<br />

com um intenso questionamento entre especialistas brasileiros, <strong>de</strong> que assinalo apenas alguns exemplos mais<br />

relevantes. Em primeiro lugar, mas sem hierarquia, cito a fi gura <strong>de</strong> um mestre da crítica e da história que foi<br />

Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda, o qual, em vários <strong>de</strong> seus ensaios [1944, 1952, 1979, 1991a, 1991b, 1996, etc.],<br />

se <strong>de</strong>bruça sobre nossas expressões barrocas, sem aceitar sua perspectiva ampla <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo interpretativo <strong>de</strong><br />

nosso processo histórico-cultural, embora haja traços evi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ssa concepção no seu Raízes do Brasil. Por<br />

sua vez, o historiador Guilherme Simões Gomes Jr., em seu livro Palavra Peregrina: o barroco e o pensamento<br />

sobre artes e letras no Brasil, obra excepcionalmente bem urdida, adota a concepção tradicional do Barroco<br />

histórico e se posiciona claramente contra a tese em que se inspira meu trabalho; todavia, ele constitui fonte<br />

preciosa para minha pesquisa. Enfi m, o caso mais espantoso em nossa historiografi a literária é o <strong>de</strong> Antonio<br />

Candido, mestre da crítica, que, nos dois alentados volumes <strong>de</strong> sua obra Formação da Literatura Brasileira,<br />

acolhida como verda<strong>de</strong>iro paradigma neste campo, estabelece como parâmetros históricos <strong>de</strong>ssa construção<br />

nacional os anos <strong>de</strong> 1750 e 1880, excluindo <strong>de</strong> sua análise justamente o período mais crucial para o meu trabalho:<br />

eis por que mereceu <strong>de</strong> Haroldo <strong>de</strong> Campos corajosa e arguta crítica num expressivo ensaio intitulado<br />

O Seqüestro do Barroco na Formação da Literatura Brasileira [1989, 2a ed.].<br />

Mas se tenho opositores <strong>de</strong> peso, conto também nesta navegação procelosa com bons companheiros <strong>de</strong><br />

rota, <strong>de</strong> quem colho algumas notas preciosas. Jamil Almansur Haddad, no belo estudo crítico que introduz a<br />

edição por ele preparada <strong>de</strong> uma seleção dos Sermões <strong>de</strong> Vieira, faz esta afi rmação <strong>de</strong> quem sabe <strong>de</strong> que está<br />

falando: «Como material para uma possível interpretação do Brasil – interpretação da história e interpretação<br />

do homem brasileiro – o valor da obra <strong>de</strong> Vieira é enorme». [1957: 10]. O próprio Sérgio B. <strong>de</strong> Holanda, a<br />

<strong>de</strong>speito <strong>de</strong> todas as restrições que faz, assevera: «é forçoso admitir que a noção do barroco, no seu sentido<br />

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