18.04.2013 Views

zonte habitual dos antropólogos bra - Mariza Peirano

zonte habitual dos antropólogos bra - Mariza Peirano

zonte habitual dos antropólogos bra - Mariza Peirano

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Uma antropologia no plural 13<br />

Os <strong>antropólogos</strong> podem se vangloriar de partilhar ancestrais<br />

com outros cientistas sociais (como Durkbeim, Weber e Marx) tanto<br />

quanto linhagens comuns, através das quais iniciam os estudantes,<br />

quer estejam no Brasil, nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, na Inglaterra, na Austrália,<br />

no Japão ou na Índia. Um curso de história e teoria antropológica<br />

pode variar no que diz respeito ao período contemporâneo e<br />

às figuras locais, mas há que ler Durkbeim, Mauss, Morgan, Frazer,<br />

Malinowski, Boas, Radcliffe-Brown, Evans-Pritchard, Lévi-Strauss.<br />

Não há por que não cultivar esta 'tradição'. Na verdade, é justamente<br />

pela segurança que dela se obtém em termos teóricos, e na<br />

pragmática de uma possível comunicação internacional, que também<br />

se pode observar que contextos nacionais e, especificamente, ideologias<br />

de nation-buiiding deixam sua marca nas vertentes disciplinares<br />

(ou, parafraseando Mário de Andrade, nos "acordes antropológicos"),<br />

quer nos centros hegemônicos da disciplina, quer nos contextos<br />

chama<strong>dos</strong> de periféricos. Em outras palavras, este discurso<br />

que é a antropologia assume polftica e eticamente diferentes estilos,<br />

de acordo com o contexto no qual se desenvolve, o que não lhe tira<br />

a característica universalista, porque esta é teórica.<br />

Estas idéias não são novas: há quase um século, Durkheim já<br />

indicava a afinidade entre ciência e religião como sistemas de representação.<br />

Se a antropologia avançou no estudo da religião, é possível<br />

trazer estes resulta<strong>dos</strong> para a auto-reflexão dentro da disciplina,<br />

utilizando-se da mesma abordagem com que ela estuda fenômenos<br />

ideológicos em sociedades diversas. Aqui, trata-se então de examinar,<br />

através de casos concretos (e microscópicos), aquelas concepções<br />

'nativas' da experiência antropológica. Neste processo, a sensibilidade<br />

que o pesquisador um dia teve que desenvolver na sua relação<br />

com os nativos tradicionais- o que nos faz perceber, por exemplo,<br />

que as teorias postuladas por Malinowski sobre a magia não são<br />

totalmente de Malinowski, mas do diálogo de Malinowski com os<br />

trobriandeses - também se reproduz entre pesquisador e público<br />

leitor. Os ensaios que apresento aqui, portanto, ao relacionarem teoria<br />

e contexto, tocam tangencialmente na questão das múltiplas audiências<br />

que o antropólogo almeja atingir na sua procura de universalidade:<br />

mas ele é o primeiro a ter consciência de que seu trabalho<br />

é produto de época e lugar especfficos, o que tinge com matizes<br />

particulares os temas seleciona<strong>dos</strong>, as abordagens que adota, as

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!