zonte habitual dos antropólogos bra - Mariza Peirano
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194 <strong>Mariza</strong> G. S. <strong>Peirano</strong><br />
pólogos, na medida em que se define como verdadeiramente indiana,<br />
vem embutida ou acoplada a uma visão universalista. Em outras palavras,<br />
ela inclui o diálogo com o Ocidente, mesmo que esse diálogo<br />
seja unilateral, como no caso de Uberoi, ou íntimo ou introjetado,<br />
como no sentido de Nandy. É possível, neste contexto, questionar-se<br />
até que ponto os indianos não estarão inventando um novo Ocidente<br />
na sua procura universalista, da mesma forma que, anteriormente, a<br />
Europa construiu um 'orientalismo'. O certo, no entanto, é que, no<br />
processo, forja-se uma nova concepção de universalismo.<br />
O universalismo indiano difere do ocidental na medida em que<br />
a Índia teria procurado capturar a diferença entre as duas civilizações<br />
dentro do seu próprio domínio cultural; não meramente na base<br />
de uma visão do Ocidente como politicamente intrusivo ou culturalmente<br />
inferior, mas olhando a Índia ocidentalizada como uma subtradição<br />
local, resultado de uma forma 'digerida' de outra civilização.<br />
Assim, enquanto para o europeu a Índia é o 'outro', um duplo,<br />
um diferente, que não afeta, necessariamente, sua visão de mundo<br />
cotidiano, o indiano teria intemalizado o Ocidente. Deste modo,<br />
exemplifica Ashis Nandy, é possível entender porque Rudyard Kipling,<br />
quando optou por se definir como ocidental, precisou deixar<br />
para trás e internamente negar toda a sua infância indiana: ele não<br />
pôde ser ocidental e indiano ao mesmo tempo. O indiano comum, no<br />
entanto, mesmo quando se define como indiano, é duplamente indiano<br />
e ocidental. Esta foi a minha experiência com Thomas, o jovem<br />
cultivador de orquídeas, e talvez seja esta, também, a atitude presente<br />
na decisão de Uberoi, em fazer de Goethe seu objeto de estudo.<br />
(Recentemente surpreendi-me ao ver Marguerite Yourcenar desvendar<br />
o mesmo processo na personalidade de Yukio Mishima.)<br />
A intemalização do Ocidente se dá, contudo, em níveis diferentes<br />
na vida indiana e, freqüentemente, Índia e Ocidente parecem<br />
nunca se encontrar. E. M. Forster e o próprio Kipling sugeriram esta<br />
visão. Mas Ashis Nandy argumenta que a familiaridade pode, também,<br />
gerar distância. Se existe um Ocidente endógeno ou um Ocidente<br />
com um lugar definido na cosmologia indiana, não há porque<br />
ele ser visto como, necessariamente, o invasor por excelência. Desta<br />
forma, o conflito entre o Ocidente e o Oriente, que existe, não é vivido<br />
como o conflito central na vida indiana. Depois de quase quatrocentos<br />
anos de exposição ao Ocidente, sentimentos de impotên-