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zonte habitual dos antropólogos bra - Mariza Peirano

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64<br />

<strong>Mariza</strong> G. S. Peiraoo<br />

das incursões e das expedições guerreiras; ou que visava a<br />

um 'fun' religioso - a captura de inimigos para o sacriffcio<br />

ritual; ou, ainda, que ela seguia um 'curso' religioso, estranho<br />

aos princfpios da arte militar racional- o sucesso ou o<br />

insucesso das atividades guerreiras dependia diretamente<br />

do sobrenatural (1970:157).<br />

A guerra se integrava ao complexo bibal e era inseparável das condições<br />

e da natureza de sua vida religiosa.<br />

Aorestan Fernandes chama atenção para o fato de que esta relação<br />

entre os aspectos de controle social e os aspectos religiosos<br />

não fazem parte da nossa tradição e podem trazer dificuldades de<br />

entendimento "mesmo com o auxfl.io do m6todo sociológico"<br />

(1970:157). Aparentemente, o autor deseja ressaltar que, diferentemente<br />

da nossa sociedade, a guerra entre os Tupinambá não se transformou<br />

em instrumento polftico consciente. O sacrificante chegou a<br />

ser descrito por um cronista pelo termo "bem-aventurado", indicando<br />

que, por vingar a morte de seus antepassa<strong>dos</strong>, irmãos ou parentes,<br />

ele incorporava um "dom sobrenatural" advindo do espírito a<br />

cujo desfgnio ou vontade se realizava o sacrifício (1970:209). Embora<br />

a aquisição de 'nomes' através do sacrifício naturalmente aumentasse<br />

o prestigio social do sacrificante, a exegese nativa enfatizava,<br />

primordialmente, o vínculo aos antepassa<strong>dos</strong>.<br />

De forma semelhante ao livro anterior, A função social da<br />

guerra não dedica nenhuma parte específica à discussão do sistema<br />

religioso, embora termine enfatizando que "na sociedade Tupinambá<br />

[a guerra] não 'servia' à religião, simplesmente: antes, fazia parte<br />

dela" (1970:371).<br />

Assim, como numa metáfora à própria sociedade Tupinambá, a<br />

religião não é tratada separadamente, mas penetra a estrutura do livro,<br />

fazendo-se presente na explicação de to<strong>dos</strong> os nfveis da guerra.<br />

Fica, inclusive, a impressão de que Aorestan Fernandes organiza<br />

o livro, primeiro focalizando o papel da guerra na adaptação <strong>dos</strong> índios<br />

ao meio ambiente, depois os mecanismos de controle social, de<br />

forma a seguir uma ordenação tradicional, simplesmente para desmenti-la<br />

a seguir. A religião aparece, desta forma, como a instância<br />

que engloba as demais e o fato de o autor não tê-Ia tratado separadamente<br />

apenas confirma sua proposição.

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