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zonte habitual dos antropólogos bra - Mariza Peirano

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Uma antropologia no plural 69<br />

O funcionalismo de Aorestan Fernandes tem como característica<br />

produzir, através de uma "operação do espírito", construções<br />

sistemáticas e conduzir à descoberta <strong>dos</strong> princípios organizatórios<br />

que resultam da vida em sociedade". Deixando claro que este método<br />

não se reduz a um empirismo, o autor continua:<br />

Por isso, a investigação cientffica das condições de existência<br />

social de povos particulares representa [ ••• ) uma 'reconstrução'<br />

intelectual de configurações efetivas de vida<br />

em sociedade. Um <strong>dos</strong> resulta<strong>dos</strong> básicos das orientações<br />

metodológicas do tipo funcionalismo consiste na restrição<br />

ao mfnimo possível, nesse processo de reconstrução intelectual,<br />

das 'interferências deformadoras' da mente humana.<br />

À medida que orienta deliberadamente a investigação<br />

no sentido de compreender os fenômenos sociais através da<br />

forma de integração <strong>dos</strong> mesmos ao sistema organizatório<br />

das sociedades pesquisadas e da função por eles desempenhada<br />

no seio destas, o funcionalista reduz as possibilidades<br />

de deformação da realidade apreendida aos efeitos<br />

violentadores da própria técnica de análise cientffica (1975:<br />

278-9).<br />

Aqui, Aorestan Fernandes abre a possibilidade para o estudo<br />

de diferentes "povos particulares" e, implicitamente, ado ta um método<br />

comparativo quando admite que os conceitos gera<strong>dos</strong> no nosso<br />

meio possam não se adequar a "diferentes condições de existência".<br />

É assim que reconhece o perigo do etnocentrismo, e alerta para as<br />

possíveis "interferências defonnadoras" a que o investigador está sujeito,<br />

tanto na pesquisa quanto na análise.<br />

O funcionalismo de Florestan Fernandes, caracterizando-se,<br />

portanto, por uma postura relativizadora, antietnocêntrica, que procura<br />

a "reconstrução intelectual" de totalidades sociais a partir de<br />

uma fidelidade aos da<strong>dos</strong> como realidade empírica e teórica, levou o<br />

autor ao que hoje seria aceito, simplesmente, como uma postura antropológica<br />

convencional. Especificamente, a antropologia de Florestan<br />

Fernandes se percebe no extremo cuidado com que o autor<br />

aplicou conceitos da nossa sociedade aos Tupinambá; na arbitrariedade<br />

que verificou na divisão tradicional entre economia, política,<br />

parentesco, religião; na constatação da possibilidade de uma hierar-

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