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zonte habitual dos antropólogos bra - Mariza Peirano

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Urna antropologia no plural 83<br />

nambá são mais perenes, porque menos diretamente dependentes do<br />

contexto em que foram produzi<strong>dos</strong>? Por estarem intimamente vincula<strong>dos</strong><br />

ao contexto político de então, pode-se classificar os estu<strong>dos</strong><br />

sobre dependência como mais circunstanciais? Estas questões são<br />

importantes, mas escapam aos propósitos deste trabalho. Mantemos<br />

apenas a hipótese central de que os critérios de cientificidade operam,<br />

no mundo moderno, dentro <strong>dos</strong> parâmetros fixa<strong>dos</strong> pela ideologia<br />

de nation building. Esta hipótese pode levar à imp1icação de que<br />

somente podem produzir urna ciência social 'científica', porque menos<br />

objetivamente •interessada', países cujo questionamento da<br />

construção da nação deixou de ser um problema ideológico premente22.<br />

Se assim for, resta-nos o confortador comentário de Norbert<br />

Elias, quando nos diz que<br />

os homens podem formular o seu conhecimento de acordo<br />

com o que eles percebem como seus interesses imediatos,<br />

mas também podem formular o que eles percebem como<br />

seus interesses imediatos de acordo com o seu conhecimento<br />

da sociedade (1971:366).<br />

Os tópicos que levantamos aqui nos fazem retomar, para concluir,<br />

ao tema principal deste ensaio, lem<strong>bra</strong>ndo-nos que, do iluminismo,<br />

herdamos a tensão entre estes dois pólos: a respeitabilidade<br />

exigida da ciência objetiva e a urgência do problema social.<br />

É neste contexto que podemos apreciar a excelência <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong><br />

sobre os Tupinambá e constatar a pouca repercussão de uma<br />

ciência considerada 'menos interessada'. Na sua carreira de cientista<br />

social, Florestan Fernandes oscila entre os dois pólos: na fase Tupinambá,<br />

privilegiava o pólo da 'respeitabilidade da ciência'. O universo<br />

maior de referência era então representado pelo mundo da<br />

academia, e o importante era que o Brasil demonstrasse sua competência<br />

para dele participar. Se os Tupinambá fazem sentido deste<br />

ponto de vista, da perspectiva do processo de nation-building predominante<br />

na época, de um Brasil que se acreditava subitamente<br />

moderno e procurava sua identidade aqui e agora, os livros sobre os<br />

Thpinambá eram, no mínimo, 'academicistas'. De que servia a re-<br />

22. Esta parece ser a postura de Louis Dumont, quando defende que a antropologia só pode<br />

se desenvolver no conteJtto de uma ideologia universalista (Dumont, 1978).

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