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Jornalismo e o mito da perfeição andrógina - Unirevista - Unisinos

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<strong>Jornalismo</strong> e o <strong>mito</strong> <strong>da</strong> <strong>perfeição</strong> <strong>andrógina</strong><br />

Marcia Benetti Machado e Sean Hagen<br />

Bernardes. “O curioso é que a jornalista se considera uma pessoa comum” (MAGARIAN, 2002, Nova). “Sou<br />

igual a todo mundo” (BERNARDES apud MAGARIAN, 2002, Nova), responde Bernardes. Ao que a repórter,<br />

em uma seqüência inequívoca, amarra o sentido dominante <strong>da</strong> celebri<strong>da</strong>de conti<strong>da</strong> em Bernardes: “A gente<br />

discor<strong>da</strong>, é claro” (BERNARDES apud MAGARIAN, 2002, Nova, grifo nosso). Para a repórter, não existe outra<br />

possibili<strong>da</strong>de a não ser discor<strong>da</strong>r do sentido medíocre que Bernardes tenta imputar a si mesma, já que “[...]<br />

a modéstia refina<strong>da</strong> (virtude indispensável de to<strong>da</strong>s as grandes personali<strong>da</strong>des) provoca um supremo<br />

deslumbramento” (MORIN, 1989, p. 33).<br />

“A gente”, como explicitou a repórter, são todos os que comungam do ritual do autógrafo, expoente máximo<br />

<strong>da</strong> liturgia do <strong>mito</strong> <strong>da</strong>s estrelas. Quem distribui autógrafos carrega o sentido <strong>da</strong> vitória. É o ápice <strong>da</strong> fama.<br />

Bernardes e Bonner procuram construir uma imagem de avessos a essas demonstrações típicas de estrelas,<br />

parecendo reconhecer que são jornalistas e transitam em um espaço que não comportaria atitudes como<br />

essas, mas se deleitam com o sucesso.<br />

- [...] a jornalista é reconheci<strong>da</strong> em todos os lugares. Não é à toa que é uma farta distribuidora de<br />

autógrafos (MÁXIMO, 2002, Méier)<br />

- Até mesmo no momento de afivelar os filhos nas cadeirinhas de bebê do carro <strong>da</strong> família, um jipe<br />

Grand Cherokee, William era obrigado a responder curiosas perguntas dos admiradores (RÓNAI,<br />

1999a, Caras, grifo nosso)<br />

Os jornalistas trabalham com a idéia de que a vi<strong>da</strong> de Bernardes e Bonner é um eterno bate-papo com<br />

estranhos, tendo sido necessário, por parte de ambos, aprendizado e maturi<strong>da</strong>de que permitisse conviver<br />

com isso, salientando o esforço e dedicação de quem é superior aos desígnios <strong>da</strong> fama. “Quando entrei na<br />

Globo, trabalhava em jornal e tinha resistência a essa história de virar artista” (BERNARDES apud<br />

APOLINÁRIO, 1998, Estadão). Por isso, Bernardes diz que “estranhou” muito a primeira vez que lhe pediram<br />

um autógrafo, mas na<strong>da</strong> mais pode fazer além de aceitar seu desígnio. “Dei [o autógrafo] e não questionei<br />

mais. Se isso faz tão bem às pessoas, qual o problema? O público transforma, mesmo, o jornalista em ar-<br />

tista” (BERNARDES apud APOLINÁRIO, 1998, Estadão, grifo nosso). Ao naturalizar essa relação, Bernardes<br />

aceita como “normal” a vi<strong>da</strong> de celebri<strong>da</strong>de: faz a parte dela, <strong>da</strong>ndo autógrafos e deixando o público feliz,<br />

enquanto o público a reverencia. Com sua “experiência e sabedoria”, é Bernardes quem ensina Bonner a<br />

conviver com a fama e não lutar contra o inevitável.<br />

- [...] a Fátima me disse que se eu não conseguisse me sentir à vontade onde todo mundo estivesse<br />

olhando pra mim é porque estava na profissão erra<strong>da</strong> (BONNER apud ARAÚJO, 2002, IstoÉ Gente,<br />

grifo nosso).<br />

A única referência negativa que Bonner faz à fama está relaciona<strong>da</strong> aos filhos:<br />

- Não tenho como perguntar para três crianças de 5 anos se elas querem ser celebri<strong>da</strong>de [...]. Não<br />

per<strong>mito</strong> que a imprensa entre nas festas de meus filhos, mas não posso impedir que tirem fotos na<br />

rua (BONNER apud ARÚJO, 2002, IstoÉ Gente).<br />

UNIrevista - Vol. 1, n° 3 : (julho 2006)<br />

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