18.04.2013 Views

Prosa 1 - Academia Brasileira de Letras

Prosa 1 - Academia Brasileira de Letras

Prosa 1 - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Lúcio <strong>de</strong> Mendonça e a fundação da <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong><br />

Curioso o comentário <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Alencar:<br />

“Por força da contradição humana coube essa iniciativa conservadora a<br />

um homem <strong>de</strong> temperamento acentuadamente revolucionário; o promotor<br />

da fundação da <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> foi Lúcio <strong>de</strong> Mendonça.”<br />

Depõe Coelho Neto:<br />

“A <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Brasileira</strong> nasceu no escritório da Revista <strong>Brasileira</strong>, noprimeiro<br />

andar <strong>de</strong> um prédio humil<strong>de</strong> na antiga Rua Nova do Ouvidor. Duas<br />

salas acanhadíssimas: redação em uma, secretaria em outra. Dos sócios da<br />

casa, o menos assíduo era o sol, representado, quase sempre, pelo gás, porque,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a escada, tinha-se a impressão <strong>de</strong> que, em tal cacifro, mal os galos<br />

começavam a cantar matinas, a noite recolhia a sua sombra...<br />

Com o negrume do recinto contrastava o brilho da palestra que ali se<br />

tratava. Se as idéias fulgissem e as imagens relumbrassem, certo não haveria,<br />

em toda a cida<strong>de</strong>, casa mais iluminada do que aquela. Infelizmente,<br />

porém, apesar dos conceitos diamantinos <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis, do<br />

esplendor dos períodos <strong>de</strong> Nabuco, da cintilação do espírito <strong>de</strong> Lúcio e<br />

dos paradoxos relampejantes <strong>de</strong> Paula Ney, era necessário manter sempre<br />

aceso um bico ao menos <strong>de</strong> gás para que tantos luzeiros não andassem<br />

aos esbarros...<br />

Foi em tal pobreza obscura que nasceu a <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>. Fraca, entanguida,<br />

morre não morre, só não sucumbiu porque teve a <strong>de</strong>svelá-la a <strong>de</strong>dicação dos<br />

seus fundadores, que a aleitavam com esperanças, leite muito <strong>de</strong>ssorado, e<br />

envolviam-na, para aquecerem-na, em faixas <strong>de</strong> entusiasmo.<br />

Lúcio era o mais corajoso e solícito dos aios da pobrezinha. Foi ele que a<br />

vacinou com a linfa da perseverança. Foi ele que a curou da coqueluche, que<br />

lhe pôs ao pescoço o colar <strong>de</strong> âmbar para evitar as crises da <strong>de</strong>ntição, que a<br />

batizou no templo das musas e que lhe incutiu na alma a gran<strong>de</strong> fé, tônico<br />

que a fortaleceu para vencer os percalços da primeira infância.”<br />

27

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!