(Sérgio Túlio Generoso de Mattos - DISSERTACAO) - Biblioteca ...
(Sérgio Túlio Generoso de Mattos - DISSERTACAO) - Biblioteca ...
(Sérgio Túlio Generoso de Mattos - DISSERTACAO) - Biblioteca ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
outro lado, a excessiva liberda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá comprometer a formação da criança, pois “o caráter,<br />
que só age a partir da vonta<strong>de</strong> própria, ficará fraco ou <strong>de</strong>formado” (HERBART, 2003, p.34 e<br />
35, respectivamente).<br />
Até mesmo o criador da tão comentada escola Summerhill, o inglês Alexan<strong>de</strong>r Neill (1883 -<br />
1973), vê problemas no excesso <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> na educação. Para ele, a incompreensão <strong>de</strong><br />
liberda<strong>de</strong> é que torna a “criança estragada”; é a criança que “teve licença, em lugar <strong>de</strong><br />
liberda<strong>de</strong>” (NEILL, 1976, p.285).<br />
Para Ferrière, a liberda<strong>de</strong> é uma questão que está relacionada aos instintos, pois “o homem<br />
que só aten<strong>de</strong> a seus instintos é seu escravo, ao passo que quem disciplina suas forças, com<br />
vistas num alto objetivo, é senhor <strong>de</strong> si próprio, é livre” (FERRIÈRE, 1952, p. 19). A idéia <strong>de</strong><br />
liberda<strong>de</strong> associada a fazer o que se quer, ou ce<strong>de</strong>r a caprichos, não faz parte dos i<strong>de</strong>ários da<br />
escola renovada, garante Ferrière. Ele lembra que, ao contrário do que se po<strong>de</strong>ria imaginar,<br />
para Montesquieu a “liberda<strong>de</strong> é possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer o que se <strong>de</strong>ve” (MONTESQUIEU<br />
apud FERRIÈRE, 1952, p. 20).<br />
Numa discussão contemporânea, Sny<strong>de</strong>rs consi<strong>de</strong>ra que, quando há complacência exagerada<br />
do adulto ao choro do bebê “tudo está perdido se seus prantos [do bebê] se transformam em<br />
or<strong>de</strong>ns, pois a criança será logo um pequeno tirano” (SNYDERS, 1977, p.298). Na análise <strong>de</strong><br />
Sny<strong>de</strong>rs, Rousseau “põe à luz certas ilusões”, pois haveria, já naquela época, certos<br />
equívocos, quando “os interesses particulares [da criança] se confun<strong>de</strong>m com o interesse geral<br />
[da educação]” (SNYDERS, 1977, p.296).<br />
As consi<strong>de</strong>rações acima sobre a relação entre a noção <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e a noção <strong>de</strong> interesse<br />
também po<strong>de</strong>m ser melhor compreendidas pela seguinte narrativa. Conta Lourenço Filho que,<br />
ao fazer uma visita a uma escola, Claparè<strong>de</strong> foi questionado se as crianças ali faziam o que<br />
queriam e respon<strong>de</strong>u: “Não, as crianças não fazem o que querem; simplesmente elas querem o<br />
que fazem” (CLAPARÈDE apud LOURENÇO FILHO, 1930, p.214).<br />
Essa resposta reflete bem o que Claparè<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong> por liberda<strong>de</strong>. Não se trata apenas <strong>de</strong><br />
um jogo <strong>de</strong> palavras, mas é sim uma crítica dirigida àqueles que, diferentemente <strong>de</strong>le,<br />
achavam que liberda<strong>de</strong> é <strong>de</strong>ixar as crianças fazerem tudo aquilo que a imediatida<strong>de</strong> do<br />
26