19.04.2013 Views

Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa

Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa

Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

164<br />

ESCRITOS II<br />

9 Declarações <strong>de</strong> Lina ao Jornal<br />

do Brasil, em 25/01/1914 (apud<br />

EFEGÊ 1974, p. 63).<br />

do quimbundo maxixi, <strong>de</strong>signava o fruto do maxixeiro. Composto<br />

por muitas sementes apinha<strong>da</strong>s, o fruto inspirara a <strong>de</strong>nominação<br />

dos bailes populares, os “criouléus”, nos quais os pares se comprimiam<br />

num espaço exíguo, em “<strong>da</strong>nça rebolante e sem preocupações<br />

com formali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e etiqueta” (EFEGÊ, 1975, p. 34-35).<br />

Em uma <strong>de</strong> suas conferências, associando a <strong>da</strong>nça à educação,<br />

Maria Lina estabelece distinção entre os bailes populares e o maxixe,<br />

<strong>da</strong>nçado por ela. Mas, logo em segui<strong>da</strong>, observa que “a <strong>da</strong>nça é<br />

alegria, não tem moral. Nós é que pomos moral, segundo a nossa<br />

educação”. Essas palavras foram ditas em uma conferência, no Teatro<br />

Fênix, local que abrigava uma platéia, em gran<strong>de</strong> parte, composta<br />

pelas elites. Esse é um <strong>da</strong>do a ser consi<strong>de</strong>rado. Na sua palestra,<br />

Lina <strong>de</strong>monstrava cui<strong>da</strong>do em externar as suas opiniões. Observava<br />

que a sua intenção, jamais, seria a <strong>de</strong> chocar público tão respeitoso<br />

e seleto; comparava as senhoras presentes às parisienses. Dizia que<br />

o Rio era a Paris <strong>da</strong> América. Ela buscava externar as suas opiniões,<br />

<strong>de</strong> forma a ganhar apoio, reconhecimento e simpatia <strong>da</strong> platéia.<br />

No entanto, não participava <strong>da</strong> opinião que estigmatizava o maxixe<br />

como amoral.<br />

Em janeiro <strong>de</strong> 1914, recém-chega<strong>da</strong> <strong>de</strong> Paris, <strong>de</strong>clarava:<br />

O maxixe é e não é imoral. Tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do modo <strong>de</strong> <strong>da</strong>nçar.<br />

O maxixe po<strong>de</strong> ser uma <strong>da</strong>nça dos salões aristocráticos<br />

sem que haja a mais leve ofensa à moral, ao pudor, e quer<br />

saber? A valsa, a valsa i<strong>de</strong>al, po<strong>de</strong>, à vonta<strong>de</strong> dos pares, provocar<br />

o rubor dos assistentes. 9<br />

“La petite reine du tango”, como fora <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> a artista, em<br />

Paris, passa a se constituir em voz autoriza<strong>da</strong> na <strong>de</strong>fesa do maxixe,<br />

i<strong>de</strong>ntificando-o como alma <strong>da</strong> brasili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Estava construí<strong>da</strong> uma<br />

imagem do Brasil.<br />

Mas voltemos à questão: será que a reinvenção do maxixe, em<br />

Paris, não teria o objetivo <strong>de</strong> apagar as suas raízes populares, con-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!