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Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa

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pseudônimo nobiliárquico do <strong>da</strong>nçarino (“Duque”) e o fato <strong>de</strong> ele<br />

ter diploma superior são elementos que po<strong>de</strong>riam reforçar a tese <strong>da</strong><br />

tentativa <strong>de</strong> mímese.<br />

Tal interpretação (“europeização” do maxixe) se faz acompanhar,<br />

fatalmente, pela tese <strong>da</strong> “<strong>de</strong>puração <strong>da</strong> africani<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Sabemos<br />

o quanto é simplificadora tal chave explicativa, sustenta<strong>da</strong> a<br />

partir do binômio civilização versus barbárie.<br />

A situação passa a ser mais complexa se consi<strong>de</strong>rarmos o envolvimento<br />

e a atuação singulares <strong>da</strong>s diversas subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e histórias<br />

<strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Como as pessoas compreendiam e organizavam os seus<br />

valores e idéias, traduzindo-os em comportamentos? É apurando,<br />

pacientemente, o foco em direção a <strong>de</strong>terminado tema ou personagem<br />

– como bem observa Alain Corbin – que o historiador <strong>da</strong>s<br />

sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s po<strong>de</strong> alcançar a via <strong>de</strong> acesso a um horizonte social<br />

mais amplo (2000, p. 187).<br />

Esse é, precisamente, um dos lugares <strong>da</strong> história: a articulação<br />

entre as vozes singulares e a dita expressão coletiva <strong>da</strong> opinião<br />

pública. 7 Tais idéias, que enfatizam a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> do coletivo,<br />

constituem nosso ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>. Comecemos <strong>da</strong>ndo voz a uma<br />

personagem <strong>de</strong> pouca visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> nessa história: Maria Lina, i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>,<br />

quase sempre, como o par <strong>de</strong> Duque. A <strong>da</strong>nçarina-atriz<br />

consegue assumir projeção no noticiário, entre os anos <strong>de</strong> 1912-<br />

1914, ao se apresentar como a inventora do “tango brasileiro”, que,<br />

na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, era o maxixe.<br />

O processo inventivo começava aí: na re-nomeação <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça.<br />

Como a <strong>da</strong>nça argentina fazia gran<strong>de</strong> sucesso em Paris, pareceu<br />

oportuno essa nova <strong>de</strong>nominação, argumentara Lina (jul. 1914).<br />

Podíamos ficar com essa explicação.<br />

Mas temos, ain<strong>da</strong>, outros <strong>da</strong>dos interessantes: a origem do termo<br />

maxixe. São várias as versões apresenta<strong>da</strong>s por folcloristas e gramáticos.<br />

8 To<strong>da</strong>s elas remetem, no entanto, a um eixo: as origens populares<br />

<strong>da</strong> <strong>da</strong>nça. Mas <strong>de</strong>ixemos falar Antenor Nascentes, que no<br />

seu Dicionário <strong>da</strong> gíria brasileira, publicado originalmente em 1922,<br />

referen<strong>da</strong> algumas explicações. Ele nos ensina que o termo, oriundo<br />

<strong>Narrativas</strong> <strong>da</strong> brasili<strong>da</strong><strong>de</strong>: Paris, Rio <strong>de</strong> Janeiro e o maxixe<br />

7 Cf. Farge (1997).<br />

8 Sobre as origens do termo, ver<br />

o trabalho pioneiro <strong>de</strong> Jota Efegê,<br />

especificamente o capitulo “vocábulo”<br />

(1975, p. 33-39).<br />

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