19.04.2013 Views

Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa

Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa

Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

172<br />

ESCRITOS II<br />

<strong>de</strong>le: as pernas. Duque <strong>da</strong>nçava com to<strong>da</strong> a alma: <strong>da</strong> cabeça, ilumina<strong>da</strong><br />

com um sorriso, aos pés trepi<strong>da</strong>ntes (BRASILEIROS...,<br />

1914). A brasili<strong>da</strong><strong>de</strong> se expressa, <strong>de</strong> forma contun<strong>de</strong>nte, através do<br />

corpo. Daí resultariam os tipos: brejeiro, esperto, dolente, gracioso<br />

e, sobretudo, sensual. Esse imaginário é contraposto ao argentino:<br />

contenção, rigi<strong>de</strong>z, domínio e controle dos movimentos e <strong>da</strong> situação.<br />

Analisando o tango como “memória do corpo e <strong>da</strong> cultura argentina”,<br />

Taylor (2000) observa que ele expressa uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

extremamente conflituosa. Até os fins do século XIX, o país ocupava<br />

posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque em relação ao conjunto <strong>da</strong> América Latina.<br />

Depois, entraria em franco processo <strong>de</strong> crise econômico-social,<br />

tendo <strong>de</strong> enfrentar o dilema entre a situação <strong>de</strong> barbárie ou a civilização.<br />

Os movimentos do tango, segundo a autora, refletiriam essa<br />

situação <strong>de</strong> dolorosa ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> e insegurança em que os argentinos<br />

buscariam uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> si mesmos. Auto-<strong>de</strong>finindo-se,<br />

freqüentemente, em contraste com a alegria e expansão brasileiras,<br />

os argentinos se i<strong>de</strong>ntificariam como melancólicos, dramatizando<br />

essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> na <strong>da</strong>nça. A coreografia do tango argentino traduziria<br />

o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> invulneralibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e domínio <strong>de</strong> corpo. Ao contrário<br />

do conjunto dos latino-americanos, os argentinos não mexeriam<br />

as ancas e ombros, tentando expressar o domínio e controle <strong>da</strong><br />

situação (TAYLOR, 2000).<br />

O imaginário <strong>de</strong> um corpo brasileiro, <strong>de</strong> natureza <strong>da</strong>nçante, começava<br />

a ser sistematizado.<br />

2.4 A Europa curva-se ante o Brasil<br />

Em raras ocasiões, o brasileiro se sentiria tão à vonta<strong>de</strong> para se<br />

orgulhar do seu país. Os versos <strong>da</strong> modinha <strong>de</strong> Eduardo <strong>da</strong>s Neves,<br />

composta em 1904, em homenagem a Santos Dumont, são retomados<br />

em função do sucesso do maxixe em Paris. Reforçam-se os<br />

laços <strong>de</strong> pertencimento através <strong>de</strong> uma imagem idílica <strong>da</strong> nação.<br />

Consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> “expressão rítmica <strong>da</strong>s raças” (RIO, 1914), o maxixe<br />

passa a <strong>de</strong>sempenhar papel crucial na simbologia <strong>da</strong> naciona-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!