19.04.2013 Views

Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa

Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa

Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

si<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s incompatíveis com o cenário <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>? “La petite<br />

reine” não seria , ela própria, a encarnação <strong>da</strong> mímese? 10<br />

Lina fazia questão <strong>de</strong> diferençar o seu trabalho em relação ao<br />

conjunto <strong>da</strong>s <strong>da</strong>nçarinas e cantoras. Argumentava que essas teriam<br />

que se submeter às solicitações e excentrici<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos clientes masculinos.<br />

Não teriam, portanto, autonomia e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>cisória.<br />

Reforçar a sua condição <strong>de</strong> artista, <strong>de</strong> intelectual e, sobretudo, <strong>de</strong><br />

mulher mo<strong>de</strong>rna e informa<strong>da</strong>, era uma forma <strong>de</strong> se legitimar diante<br />

<strong>da</strong> opinião pública. Ao longo <strong>da</strong> sua palestra, Lina fez alusões ao<br />

crítico literário José Veríssimo e a idéias filosóficas <strong>de</strong> Nietzsche e<br />

Bergson. A atriz pretendia participar do processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

uma opinião pública a respeito <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça do maxixe.<br />

2.2 A linguagem implícita<br />

As opiniões nem sempre se verbalizam. Po<strong>de</strong>m, também, se fazer<br />

presentes através <strong>da</strong> <strong>de</strong>negação silenciosa, aparecendo nos sonhos,<br />

medos e ilusões. É nesse espaço que se cria a história e a cultura<br />

(FARGE, 1997, p. 102).<br />

Se a elegante conferência, realiza<strong>da</strong> no Teatro Fênix, <strong>de</strong>stacava<br />

o papel <strong>da</strong>s <strong>da</strong>nças na civilização mo<strong>de</strong>rna, a fala <strong>da</strong> atriz <strong>de</strong>ixava<br />

vazar outras idéias. Revela-se a ingerência <strong>de</strong> uma outra gama <strong>de</strong><br />

valores regendo a vi<strong>da</strong> social. Em suma: na história há mais coisas<br />

entreditas do que ditas.<br />

Mas voltemos ao momento em que Maria Lina procurava reforçar<br />

o argumento <strong>da</strong> brasili<strong>da</strong><strong>de</strong> do maxixe. Afirma à platéia que<br />

o maxixe, <strong>da</strong>nçado por ela, teria “to<strong>da</strong>s as marcas <strong>da</strong> cultura brasileira”.<br />

E que marcas seriam essas? Por que a atriz seria, especialmente,<br />

capaz <strong>de</strong> traduzi-las?<br />

Lina <strong>de</strong>ixa algo subentendido aí: a sua condição <strong>de</strong> artista. Essa<br />

a legitima, frente ao público, ao exercício <strong>de</strong> intérprete <strong>da</strong> brasili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Mas alguns trechos <strong>de</strong>ssa conferência po<strong>de</strong>riam reforçar a tese<br />

<strong>da</strong> europeização <strong>da</strong> cultura brasileira: a <strong>de</strong>nominação do maxixe<br />

como “tango brasileiro”(<strong>de</strong>svinculado <strong>da</strong>s suas origens africanas),<br />

<strong>Narrativas</strong> <strong>da</strong> brasili<strong>da</strong><strong>de</strong>: Paris, Rio <strong>de</strong> Janeiro e o maxixe<br />

10 Estamos utilizando o termo no<br />

sentido primeiro empregado por<br />

Aurélio Buarque <strong>de</strong> Holan<strong>da</strong>, qual<br />

seja, “imitação do gesto, voz e palavras<br />

<strong>de</strong> outrem”.<br />

165

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!