Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa
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ESCRITOS II<br />
12 Abreu e Dantas (2006) chamam<br />
a atenção para a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
inclusão no pensamento social<br />
brasileiro do estudo dos músicos<br />
e folcloristas na abor<strong>da</strong>gem do<br />
nacional popular.<br />
quem tem saú<strong>de</strong>, quem tem alegria, quem ama o prazer <strong>de</strong>licioso<br />
<strong>de</strong> viver”.<br />
A atriz <strong>de</strong>ixava entrever, aí, uma outra or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> valores: a ênfase<br />
no corpo e nos sentidos.<br />
Essas idéias possibilitam enten<strong>de</strong>r uma atuação singular. Lina<br />
pertencia a um universo social fronteiriço, em constante trânsito e<br />
marcado pela mescla <strong>de</strong> valores e opiniões. Na vi<strong>da</strong> social, <strong>de</strong>terminados<br />
lugares po<strong>de</strong>m engendrar atitu<strong>de</strong>s mentais e campos <strong>de</strong><br />
ação específicos. Cemitérios, passagens, cabarés, revelam aspectos<br />
paradoxais <strong>da</strong> experiência humana, marcando formas <strong>de</strong> disputa e<br />
conciliação, reivindicações e a<strong>de</strong>sões. São lugares, em suma, on<strong>de</strong> as<br />
opiniões se fazem e se <strong>de</strong>sfazem (FARGE, 1997, p. 101).<br />
Na condição <strong>de</strong> atriz, Lina pertencia a um universo que a dispunha<br />
a viver outras experiências sociais <strong>de</strong> caráter intenso, mas<br />
efêmero. Por isso, <strong>de</strong>stacava a alegria como valor maior na <strong>da</strong>nça.<br />
Enfatizava no brasileiro o seu caráter expansivo, os sentidos aguçados<br />
e a intensa corporei<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nessa opinião, não estava só.<br />
Lembremos <strong>de</strong> Olavo Bilac, Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e dos caricaturistas.<br />
De distintas maneiras, eles falam <strong>da</strong> brasili<strong>da</strong><strong>de</strong> em termos <strong>de</strong><br />
uma cultura sensível que se traduz em corpos <strong>da</strong>nçantes. Se as caricaturas,<br />
quando inspira<strong>da</strong>s nos bailes populares, carregavam no aspecto<br />
grotesco dos traços negrói<strong>de</strong>s, mostravam, também, elementos<br />
<strong>de</strong> flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> corpórea, sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e , sobretudo, a <strong>de</strong>senfrea<strong>da</strong><br />
liber<strong>da</strong><strong>de</strong> dos sentidos. Risos, olhares lânguidos, escuta atenta dos<br />
ritmos. Músicos e <strong>da</strong>nçarinos parecem compartilhar uma atmosfera<br />
<strong>de</strong> embriagante alegria referente ao universo dos sentidos.<br />
Se o imaginário <strong>da</strong> imprensa traduz visões estereotipa<strong>da</strong>s,<br />
também tem uma função cognitivo-pragmática, <strong>da</strong>ndo visibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
à traços <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> histórico-social<br />
(JEANNENEY, 2000). Fala-se <strong>de</strong>ssa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> através dos textos<br />
(cartas, romances, revistas e jornais), dramatizações teatrais,<br />
músicas, canções populares 12 e <strong>da</strong>nças.<br />
As caricaturas nos remetem ao universo <strong>de</strong> uma cultura negra<br />
e mestiça, que se <strong>de</strong>staca sobremaneira nos bailes populares. Tais