Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa
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ESCRITOS II<br />
16 A partir <strong>da</strong> apresentação <strong>da</strong><br />
<strong>da</strong>nça do maxixe nos palcos europeus,<br />
ele passou ser apresentado<br />
como a <strong>da</strong>nça brasileira por<br />
excelência, até que, oficialmente,<br />
foi consi<strong>de</strong>rado como tal pelo Ministério<br />
<strong>da</strong> Educação na déca<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> 1930 (LIMA, 2000).<br />
O <strong>de</strong>mocrata era um dos clubes carnavalescos mais populares <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Lina tinha vivências marcantes <strong>da</strong> cultura brasileira, mas<br />
estava em Paris, palco <strong>da</strong> cultura mundial. Lá conhecera Duque,<br />
que já atuava no Café <strong>de</strong> Paris e tinha planos ambiciosos em relação<br />
à difusão <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça. É a partir <strong>de</strong>sse amálgama <strong>de</strong> valores e<br />
circunstâncias que a atriz vai forjar, com Duque, o imaginário <strong>de</strong><br />
uma <strong>da</strong>nça brasileira: o “tango brasileiro”.<br />
Vale uma observação: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1870, já existia o gênero musical<br />
<strong>de</strong>nominado “tango brasileiro”; porém, foram as companhias <strong>de</strong><br />
teatro musicado que o divulgaram para o gran<strong>de</strong> público. O nosso<br />
tango seria uma mistura <strong>de</strong> ritmos africanos, polca, lundu e habanera<br />
(VASCONCELOS, 1977). Maria Lina já conhecia, portanto, esse<br />
gênero musical. Daí lhe ocorrer a invenção <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça.<br />
Mas voltemos à narrativa <strong>da</strong> atriz, contando como se <strong>de</strong>ra essa<br />
invenção. Planeja uma encenação com Duque no Café <strong>de</strong> Paris.<br />
Após a sua atuação, esse se dirige à mesa <strong>de</strong> Maria Lina, convi<strong>da</strong>ndo-a<br />
a <strong>da</strong>nçar, como o faziam os outros cavalheiros. Os aplausos <strong>de</strong><br />
que foram alvo <strong>da</strong>riam início à consagração do “tango Brasileiro”.<br />
Começariam, a partir <strong>da</strong>í, os convites e a carreira meteórica do casal.<br />
Logo <strong>de</strong>pois, estreariam um musical no Olympia <strong>de</strong> Paris: La<br />
reine s’amuse.<br />
Não importa avaliar o aspecto verídico <strong>de</strong>sse relato, mas as formas<br />
por meio <strong>da</strong>s quais a atriz consegue impor a sua narrativa <strong>da</strong><br />
brasili<strong>da</strong><strong>de</strong>, conquistando o público. Para ganhar a<strong>de</strong>ptos e reforçar<br />
laços <strong>de</strong> pertencimento, a nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> implica sempre em algum<br />
tipo <strong>de</strong> oposição. Buscando <strong>de</strong>finir o tango brasileiro como expressão<br />
do modo <strong>de</strong> ser brasileiro, Lina o contrapõe ao argentino. Os<br />
vínculos nacionais são tecidos no plano imaginário, predominando<br />
o aspecto <strong>da</strong> criação. O pertencimento à nação configura-se como<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> ontológica e natural (ROECKENS, 2006).<br />
A invenção <strong>de</strong> um corpo brasileiro se inscreve nesse contexto.<br />
A <strong>da</strong>nça do maxixe, batiza<strong>da</strong> “tango brasileiro”, passa a sintetizar<br />
a expressão <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, 16 traduzindo uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira