Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa
Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa
Narrativas da brasilidade - Fundação Casa de Rui Barbosa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
2. Witkowski (1990).<br />
156<br />
ESCRITOS II<br />
3. A reflexão <strong>de</strong> Robert Darnton<br />
(2005) apresenta indicações sugestivas<br />
para pensar a inteligibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e a historici<strong>da</strong><strong>de</strong> dos diferentes<br />
sistemas <strong>de</strong> comunicação.<br />
C´est la <strong>da</strong>nse nouvelle<br />
Ma<strong>de</strong>moiselle<br />
Prenez un air <strong>de</strong> canaille 2<br />
A canção foi sucesso na França e no Brasil. No carnaval <strong>de</strong><br />
1907, os cariocas respon<strong>de</strong>ram ao compositor francês com uma<br />
paródia que explorava uma manchete <strong>da</strong> época: a prisão dos<br />
bandidos Carleto e Roca. Esses <strong>da</strong>dos <strong>de</strong>notam as informações<br />
e amálgamas culturais no processo <strong>de</strong> invenção <strong>da</strong>s nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Um outro <strong>da</strong>do é interessante: o casal <strong>de</strong> <strong>da</strong>nçarinos não era<br />
brasileiro, nem carioca, conforme era dito. Duque (pseudônimo<br />
<strong>de</strong> Antonio Lopes <strong>de</strong> Amorim) era baiano, resi<strong>de</strong>nte no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, e a sua partenaire Maria Lina era <strong>de</strong> origem italiana.<br />
Tinha realizado os seus primeiros estudos <strong>de</strong> ballet no Scala <strong>de</strong><br />
Milão. Chegara, ain<strong>da</strong> adolescente, ao Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
As notícias <strong>da</strong> imprensa se <strong>de</strong>tinham em um ponto: pela primeira<br />
vez, era apresentado ao mundo o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro maxixe: o<br />
“nacional-brasileiro”. To<strong>da</strong>s as exibições anteriores não passariam<br />
<strong>de</strong> camouflages, assegurava-se. Tais <strong>de</strong>clarações eram reforça<strong>da</strong>s<br />
por fotos e <strong>de</strong>senhos em que se apresentavam <strong>de</strong>talhes<br />
<strong>da</strong> <strong>da</strong>nça, sobretudo mostrando a posição dos pés, como sinal <strong>da</strong><br />
autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma coreografia dita brasileira (EFEGÊ, 1974;<br />
SAROLDI, 2000). Esse <strong>de</strong>talhe é importante. Remete à idéia <strong>de</strong><br />
uma brasili<strong>da</strong><strong>de</strong> corpórea, que se traduziria pelo ritmo dos pés.<br />
As notícias não são o que aconteceu, mas o que os relatos e<br />
as narrativas <strong>de</strong>claram ter acontecido, como nos lembra Robert<br />
Darnton. 3 É a dinâmica <strong>da</strong> comunicação que mol<strong>da</strong> o acontecimento.<br />
A sua forma <strong>de</strong> expressão, organização e divulgação<br />
articula-se a traços do imaginário social que se <strong>de</strong>seja realçar.<br />
A polêmica sobre o maxixe circunscreve-se ao contexto <strong>de</strong><br />
criação <strong>de</strong> uma “comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> imaginária brasileira”, centra<strong>da</strong> no<br />
corpo.<br />
É em torno <strong>de</strong>ssa invenção que se estabelecem sintonias entre<br />
a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro e a metrópole parisiense, na primeira