Roteiro de trabalho - Início - Ser
Roteiro de trabalho - Início - Ser
Roteiro de trabalho - Início - Ser
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Roteiro</strong> <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong><br />
o ponto <strong>de</strong> vista da normalida<strong>de</strong> burguesa, o conto se enquadra ainda naquela<br />
concepção <strong>de</strong> literatura como “sorriso da socieda<strong>de</strong>”. Mas o apito insistente da<br />
locomotiva, rasgando o subúrbio, lembra que a cida<strong>de</strong> é feita <strong>de</strong> tudo e <strong>de</strong> todos. A<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> inclui também “os mutilados da belle époque” (a expressão é <strong>de</strong><br />
Antonio Arnoni Prado) e vai além da burguesia esnobe que João do Rio tanto<br />
reverenciou em sua obra, ao mesmo tempo que lhe dava alfinetadas.<br />
Para Lima Barreto, o subúrbio é o “refúgio dos infelizes”. Seus livros contêm<br />
representantes <strong>de</strong> todos os grupos sociais, mas sobretudo das camadas populares.<br />
Nos personagens suburbanos, o escritor projeta amarguras pessoais, o que dá à sua<br />
literatura um forte caráter memorialístico. No romance Recordações do escrivão<br />
Isaías Caminha, ele retrata a si mesmo e revela seus conflitos em face dos<br />
preconceitos <strong>de</strong> cor e <strong>de</strong> classe. O mesmo sentimento <strong>de</strong> exílio aparece no conto “O<br />
filho da Gabriela” (pág. 83). Vivendo entre favores e humilhações, Horácio tem em<br />
comum com o autor a saú<strong>de</strong> frágil, a fantasia e a vaida<strong>de</strong>. Na escola, ele manifesta<br />
<strong>de</strong>sprezo pelo “espetáculo do saber”, criticado com numerosos adjetivos: grandioso,<br />
apoteótico, solene, carrancudo, feroz, autoritário. Contra as regras da gramática e<br />
da socieda<strong>de</strong>, volta-se o menino com sua febre — e o escritor com a “loucura” que o<br />
fez terminar a vida tragicamente, em hospícios.<br />
Nos contos <strong>de</strong> Afonso Arinos, a i<strong>de</strong>ntificação é com os sertanejos. Em Pelo<br />
sertão, a preposição que faz parte do título indica tanto a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma viagem<br />
“através <strong>de</strong>”, como a <strong>de</strong> um manifesto político “em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>”. O escritor não<br />
apenas viaja pelo sertão, mas também fala pelo sertanejo e, portanto, no lugar <strong>de</strong>le.<br />
Daí a intrusão da gramática culta no linguajar errado <strong>de</strong> personagens que se tornam,<br />
por esse motivo, artificiais. Excessivamente bondosos, valentes e fiéis, não<br />
conseguem ainda falar por si mesmos; limitam-se a reproduzir o discurso dos<br />
patrões, assumindo uma posição subalterna. Em “Joaquim Mironga” (pág. 11),<br />
Arinos não <strong>de</strong>monstra preocupação com os conflitos sociais. O que predomina é a<br />
Coleção O prazer da prosa