Castro Alves: o olhar do outro - Fundação Biblioteca Nacional
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CASTRO ALVES, A POESIA E O TEMPO<br />
Estamos comemoran<strong>do</strong>, o Ministério da Cultura, a <strong>Fundação</strong><br />
<strong>Biblioteca</strong> <strong>Nacional</strong>, os 150 anos <strong>do</strong> nascimento de Antônio de <strong>Castro</strong> <strong>Alves</strong>.<br />
Foi ele poeta, dramaturgo, tribuno, conforme as indicações <strong>do</strong> tempo. Na<br />
sua época os poetas começavam ce<strong>do</strong> e desapareciam prematuramente.<br />
<strong>Castro</strong> <strong>Alves</strong> não escapou à regra. Escapou à regra que o poder e a moral<br />
haviam institucionaliza<strong>do</strong>. Por isso, amou desinibidamente, combateu os<br />
melhores combates, e partiu antes <strong>do</strong> amanhecer.<br />
Seria um caso de unanimidade, não fosse o tribunal <strong>do</strong> bom<br />
gosto que, instala<strong>do</strong> aqui e ali, exara e exala sentenças de to<strong>do</strong> tipo. O que<br />
não sabem essas instâncias, ou esses guardiães da pureza estética, é que a<br />
poesia pode mais.<br />
<strong>Castro</strong> <strong>Alves</strong> deixou "um punha<strong>do</strong> de versos", como ele próprio<br />
diz no prólogo a Espumas flutuantes, que nos acompanha até hoje. A partir<br />
dele, fica difícil imaginar a literatura brasileira sem ele. Na central produtora<br />
de metáforas, posta em funcionamento pelo poeta, pre<strong>do</strong>minam a pulsação<br />
vital, a temperatura afetiva, a forma altiva, a vontade de justiça social,<br />
raramente alcançadas pela nossa poesia. A contenção e a economia verbais<br />
não foram contemporâneas <strong>do</strong> seu poema. A exaltação, sim. A cultura<br />
política, ancorada instavelmente nos ideais de liberdade, recolhia as lições<br />
da história. Em voz alta, como aconselhava a própria história daqueles dias.<br />
Nela, e por causa dela, a poesia e a política firmaram um pacto, que veio a<br />
ser rigorosamente cumpri<strong>do</strong>. Ao poeta, nunca passaram desapercebidas as<br />
mínimas batidas <strong>do</strong> relógio da história.<br />
23 <strong>Castro</strong> <strong>Alves</strong>-, o <strong>olhar</strong> <strong>do</strong> <strong>outro</strong>