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Castro Alves: o olhar do outro - Fundação Biblioteca Nacional

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"Parecia uma palmeira <strong>do</strong> Oriente pela sua flexibilidade. Uma<br />

leve inclinação da espinha fazia supor uma predisposição para as moléstias <strong>do</strong><br />

peito. A cabeça de <strong>Alves</strong> fúnior parecia pesar-lhe tanto, que caía sobre o peito fraco<br />

e deprimi<strong>do</strong>; mas a beleza <strong>do</strong>s olhos, a <strong>do</strong>urada palidez das faces, o negrume<br />

intenso <strong>do</strong>s cabelos, e sobretu<strong>do</strong> o sorriso angélico daquela fisionomia corrigia a<br />

talvez excessiva magreza daquele corpo. (...) tinha os cabelos muitos pretos escorredios<br />

(...). A boca era um pouco grande, mas ornada de belos cientes. (...) não era com<br />

certeza um belo modelo de estatuária, mas é a impossível encontrar-se um conjunto<br />

maior de graça e simpatia (...) e era impossível furtar-se à sua influência.<br />

Havia apenas um defeito naquela criatura: era o orgulho. (...)<br />

não sei de que tinha orgulho, mas sei que ele já o tinha.<br />

Uma predileção pronunciada pelas gravatas decores muito vivas<br />

tornava-se notável desde já nesse menino, e um cuida<strong>do</strong> imenso pela beleza das<br />

mãos dava a compreender um misto esquisito de aristocracia e republicano.<br />

A alma desse menino era de uma pureza inexcedível, a<br />

inteligência tinha lampejos que ofuscavam como o relâmpago. (...) A sua prodigiosa<br />

imaginação tinha vôos arroja<strong>do</strong>s, que já era impossível acompanhá-lo sem sentirse<br />

vertigem. A rima era de uma facilidade e beleza incrível "<br />

(Intimas confidencias: memórias de Luís Cornélio <strong>do</strong>s Santos,<br />

manuscrito inédito, [s.d.])<br />

Grande amigo de <strong>Castro</strong> <strong>Alves</strong>, Luís Cornélio <strong>do</strong>s Santos retratou, em<br />

suas íntimas confidencias, o poeta ainda a<strong>do</strong>lescente, a quem chamava de<br />

<strong>Alves</strong> Júnior, para diferenciá-lo <strong>do</strong> irmão, José Antônio. Luís Cornélio<br />

conheceu os irmãos <strong>Alves</strong>, quan<strong>do</strong> finalizavam os exames preparatórios<br />

para o ingresso na Faculdade de Direito <strong>do</strong> Recife e com eles morou<br />

numa casa às margens <strong>do</strong> rio Capibaribe. Ao mudar-se para o Rio de<br />

Janeiro, manteve constante correspondência com <strong>Castro</strong> <strong>Alves</strong>,<br />

acolhen<strong>do</strong>-o em sua sua residência, no ano de 1869, depois <strong>do</strong> acidente<br />

que causou a amputação <strong>do</strong> pé <strong>do</strong> poeta. <strong>Castro</strong> <strong>Alves</strong> dedicou-lhe o<br />

poema "A Luís", em 1868.<br />

<strong>Castro</strong> A Ives: o <strong>olhar</strong> <strong>do</strong> <strong>outro</strong> 81

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