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NATALIDADE E EDUCAÇÃO NO PENSAMENTO POLÍTICO DE HANNAH<br />

ARENDT<br />

Esmeraldina Alves Ferreira (Bolsista PIBID Filosofia/UFSJ)<br />

Prof. Dr. José Luiz <strong>de</strong> Oliveira (Orientador – DFIME/UFSJ)<br />

RESUMO: O <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt (1906-1975) <strong>no</strong>s possibilita pensar o<br />

presente e, nele, pensar a <strong>educação</strong>. O fato <strong>de</strong> que constantemente nascem seres huma<strong>no</strong>s<br />

<strong>no</strong> mundo, a <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, concebida pela autora como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciar algo <strong>no</strong>vo, <strong>no</strong>s<br />

é apresentada como a essência da <strong>educação</strong>. Assim, pensar na inserção dos seres<br />

huma<strong>no</strong>s <strong>no</strong> mundo, para a qual o papel do educador é o <strong>de</strong> condutor <strong>no</strong> processo <strong>de</strong><br />

formação do homem, a íntima relação entre <strong>educação</strong> e <strong>no</strong>vida<strong>de</strong> apresenta relevância por<br />

seu potencial criador. Contudo, é evi<strong>de</strong>nciando a autorida<strong>de</strong> e a tradição como princípios<br />

educacionais, que Arendt <strong>de</strong>nuncia a crise da <strong>educação</strong> na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, que tem como<br />

fator essencial a ausência <strong>de</strong>sses princípios. Da análise teórica do <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong><br />

Hannah Arendt, objetivamos com esse trabalho, caracterizar a concepção <strong>de</strong> <strong>natalida<strong>de</strong></strong>,<br />

sua importância para a formação do homem e suas implicações para as práticas<br />

educacionais na contemporaneida<strong>de</strong>.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Educação. Natalida<strong>de</strong>. Ação. Autorida<strong>de</strong>.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Hannah Arendt 1 figura <strong>de</strong>ntre os principais pensadores do século XX. Da análise<br />

teórica do seu <strong>pensamento</strong>, tomando uma perspectiva reflexiva, perguntamo-<strong>no</strong>s como uma<br />

teórica política interessada na condição humana do pensar, é levada a discorrer sobre a<br />

<strong>educação</strong> <strong>de</strong> maneira tão arrojada. Para tanto, <strong>no</strong>ssas análises concentrar-se-ão nas obras<br />

A condição humana, Entre o passado e o futuro e o ensaio Reflexões sobre Little Rock 2 .<br />

Embora tenha a<strong>de</strong>ntrado na discussão da questão da <strong>educação</strong> em meio ao que<br />

chamou <strong>de</strong> crise da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, seu <strong>pensamento</strong> é isento <strong>de</strong> pretensões educacionais ou<br />

1 Nascida na Alemanha, <strong>de</strong> origem judia, experienciou os horrores do totalitarismo nazista e stalinista, o qual<br />

serviu <strong>de</strong> pa<strong>no</strong> <strong>de</strong> fundo para suas reflexões, por meio das quais intitulou-se teórica política.<br />

2 Localizada <strong>no</strong> sul dos Estados Unidos, Little Rock é a capital do Arkansas. O ensaio, escrito por Arendt em<br />

1959, tem por base o caos gerado pela <strong>de</strong>cisão da Suprema Corte americana <strong>de</strong> promover a integração por meio<br />

das escolas públicas. A segregação - comum na região à época - com a <strong>de</strong>cisão da Suprema Corte, culmi<strong>no</strong>u com<br />

a intervenção do gover<strong>no</strong> do Arkansas que tentou impedir a entrada <strong>de</strong> crianças negras na Escola Secundária<br />

Little Rock Central, até então freqüentada somente por brancos.<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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pedagógicas. Distancia-se do meramente especulativo em favor do factual, ao abordar o<br />

processo <strong>de</strong> humanização do homem por meio da <strong>natalida<strong>de</strong></strong>.<br />

A <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, categoria política apresentada pela autora como a capacida<strong>de</strong> humana<br />

<strong>de</strong> começar algo <strong>no</strong>vo, configura-se em começar algo <strong>no</strong>vo em um mundo velho e <strong>de</strong> todos<br />

conhecido. O que permite-<strong>no</strong>s, como a autora, pensar a ação humana <strong>no</strong> âmbito da política<br />

e do espaço público on<strong>de</strong> todos po<strong>de</strong>m espontaneamente aparecer e, ao mesmo tempo,<br />

enten<strong>de</strong>r uma das características principais <strong>de</strong> seu <strong>pensamento</strong> acerca da <strong>educação</strong>, que é<br />

a separação entre <strong>educação</strong> e política.<br />

O que faz com que Arendt - ao pensar na inserção dos seres huma<strong>no</strong>s <strong>no</strong> mundo,<br />

para a qual o papel do professor é o <strong>de</strong> condutor <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> formação da criança - se<br />

apresente em favor da autorida<strong>de</strong> e da tradição, <strong>de</strong>monstrando um conservadorismo por<br />

meio do qual po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que a íntima relação entre <strong>educação</strong> e <strong>no</strong>vida<strong>de</strong> apresenta<br />

relevância por seu potencial criador.<br />

Assim, sendo a questão da <strong>educação</strong> essencial acerca dos assuntos huma<strong>no</strong>s,<br />

discutir a concepção <strong>de</strong> <strong>natalida<strong>de</strong></strong> e <strong>educação</strong> por meio do <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah<br />

Arendt, se apresenta <strong>de</strong> modo significativo para a problemática do imprescindível caráter<br />

reflexivo da Filosofia e seu ensi<strong>no</strong>.<br />

Educação: uma questão social<br />

Da análise teórica do <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt, <strong>no</strong> que tange à<br />

<strong>educação</strong>, é <strong>no</strong> ensaio Reflexões sobre Little Rock, presente na obra Responsabilida<strong>de</strong> e<br />

julgamento, que a autora permite-<strong>no</strong>s situar qual seja, para ela, o lugar da <strong>educação</strong> na<br />

socieda<strong>de</strong>. Embora escrito após o ensaio A crise na <strong>educação</strong>, presente na obra Entre o<br />

passado e o futuro, faz-se necessário analisarmos suas reflexões acerca da esfera social –<br />

na qual a <strong>educação</strong> está localizada - para que possamos compreen<strong>de</strong>r sua análise acerca<br />

da crise educacional na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />

Nossa pretensão é colocar em discussão não o contexto específico <strong>no</strong> qual Arendt<br />

abordou a questão da <strong>educação</strong>, mas sim a contribuição do seu <strong>pensamento</strong> para a<br />

<strong>educação</strong> na atualida<strong>de</strong>.<br />

O ponto <strong>de</strong> partida para as reflexões arendtianas acerca da esfera social, que inclui o<br />

papel do gover<strong>no</strong> diante da socieda<strong>de</strong>, foi a <strong>de</strong>cisão da Suprema Corte Americana que,<br />

tentado resolver politicamente o problema da segregação, acabou por <strong>de</strong>slocar a<br />

responsabilida<strong>de</strong> do adultos, para as crianças.<br />

Segundo Arendt, o que a Suprema Corte consegue com isso é provocar uma<br />

situação embaraçosa, inserindo uma questão estritamente social na esfera pública.<br />

Embaraçosa porque passa a envolver o orgulho pessoal <strong>de</strong> cada cidadão que, estando fora<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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da esfera política, o gover<strong>no</strong> não tem o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir. Orgulho esse <strong>de</strong>finido pela autora<br />

como “aquele sentimento inato e natural <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com o que somos pelo acaso do<br />

nascimento” 3 .<br />

Para Arendt, é um erro tentar resolver o problema da igualda<strong>de</strong> começando pela<br />

<strong>educação</strong>, pois a igualda<strong>de</strong> só existe na esfera pública. Na esfera social, na qual resi<strong>de</strong> a<br />

<strong>educação</strong>, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> é algo natural. Não são “costumes sociais e maneiras <strong>de</strong> se<br />

educar as crianças” 4 o que infringe o princípio <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>. O que infringe o princípio da<br />

igualda<strong>de</strong> é a imposição da segregação por meio da lei.<br />

Arendt não nega a participação do gover<strong>no</strong> na <strong>educação</strong> das crianças, contudo essa<br />

participação acontece “na medida em essa criança <strong>de</strong>ve crescer e se tornar cidadã” 5 . Não<br />

cabe ao gover<strong>no</strong> o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir pelas relações pessoais dos cidadãos, tomando o lugar<br />

dos pais dizendo em que companhia as crianças <strong>de</strong>vem ser instruídas. Para Arendt, “o<br />

direito <strong>de</strong> os pais <strong>de</strong>cidirem essas questões para os filhos até eles se tornarem adultos só<br />

são questionados pelas ditaduras” 6 .<br />

O que o gover<strong>no</strong> fez, e isso <strong>de</strong>ve ser evitado, é travar uma batalha política <strong>no</strong> pátio<br />

da escola. Segundo a autora. “a idéia <strong>de</strong> que se po<strong>de</strong> mudar o mundo educando as crianças<br />

<strong>no</strong> espírito do futuro tem sido uma das marcas registradas das utopias políticas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

antiguida<strong>de</strong>” 7 . O que, para dar certo essa idéia, implicaria na separação das crianças <strong>de</strong><br />

seus pais ou na doutrinação por meio das escolas como acontece, para a autora, nas<br />

tiranias. Tudo isso, sob pena <strong>de</strong> eliminarmos o bem mais precioso <strong>de</strong> toda República, que é<br />

a igualda<strong>de</strong>. E esta, <strong>de</strong>ve constituir a base <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia.<br />

Ao mesmo tempo, ainda que pese o fato <strong>de</strong> que a igualda<strong>de</strong> seja imprescindível a<br />

uma República, Arendt também <strong>no</strong>s lembra que “o princípio da igualda<strong>de</strong>, mesmo na sua<br />

forma americana, não é onipotente; não po<strong>de</strong> igualar características naturais, físicas” 8 .<br />

Para Arendt, é <strong>de</strong> entristecer o fato <strong>de</strong> que – <strong>no</strong> exemplo dos cidadãos <strong>de</strong> Little Rock<br />

que <strong>de</strong>ixaram a rua para a turba – os adultos não consi<strong>de</strong>rarem ser seu <strong>de</strong>ver cuidar da<br />

segurança das crianças. E o que pareceu-lhe mais surpreen<strong>de</strong>nte, “foi a <strong>de</strong>cisão fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

iniciar o processo <strong>de</strong> integração, <strong>de</strong>ntre todos os lugares, nas escolas públicas” 9 . O que,<br />

segundo a autora, é inevitavelmente evi<strong>de</strong>nte que “sobrecarregaria as crianças, brancas e<br />

pretas, com a elaboração <strong>de</strong> um problema que os adultos por gerações se confessaram<br />

incapazes <strong>de</strong> resolver” 10 .<br />

3 Reflexões sobre Little Rock, p.262.<br />

4 Ibid., p.262.<br />

5 Ibid., p.263.<br />

6 Ibid., p.263.<br />

7 Ibid., p.265.<br />

8 Ibid., p.268.<br />

9 Ibid., p.271.<br />

10 Ibid., p.271.<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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A tarefa <strong>de</strong> mudar o mundo não é futura, é presente. Não é responsabilida<strong>de</strong> das<br />

crianças, mas dos adultos. O problema não po<strong>de</strong>rá ser resolvido abolindo a autorida<strong>de</strong> dos<br />

adultos e negando sua responsabilida<strong>de</strong> com o mundo.<br />

Nas palavras <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Fátima Simões Francisco,<br />

Todas as pessoas presentes em <strong>de</strong>terminado momento neste mundo, e em<br />

particular <strong>no</strong> mundo <strong>de</strong>safiador em que vive o homem do presente, são chamadas a<br />

“reconhecer” esse mundo, isto é, a compreen<strong>de</strong>r o que vai nele e a respon<strong>de</strong>r pelo<br />

que ocorre nele. 11<br />

E como resposta ao que ocorre <strong>no</strong> mundo, Arendt, que não vê <strong>no</strong> costume social da<br />

segregação algo inconstitucional, diz que:<br />

A segregação é a discriminação imposta pela lei, e a <strong>de</strong>ssegregação não po<strong>de</strong> fazer<br />

mais do que abolir as leis que impõem a discriminação; não po<strong>de</strong> abolir a<br />

discriminação e forçar a igualda<strong>de</strong> sobre a socieda<strong>de</strong>, mas po<strong>de</strong> e na verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<br />

impor a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do corpo <strong>político</strong>. Pois a igualda<strong>de</strong> não só tem a sua<br />

origem <strong>no</strong> corpo <strong>político</strong>; a sua valida<strong>de</strong> é claramente restrita à esfera política.<br />

Apenas nesse âmbito somos todos iguais. 12<br />

A igualda<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>ve ser garantida a cada indivíduo por ser cidadão e ser <strong>político</strong>,<br />

não abole da socieda<strong>de</strong> a discriminação. Ao contrário, em socieda<strong>de</strong>, a discriminação é seu<br />

princípio inerente. Socieda<strong>de</strong> essa por Arendt caracterizada como sendo,<br />

[...] essa esfera curiosa, um tanto híbrida, entre o <strong>político</strong> e o privado em que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o início da era mo<strong>de</strong>rna, a maioria dos homens tem passado a maior parte da vida.<br />

Pois cada vez que abandonamos as quatro pare<strong>de</strong>s protetoras <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso lar e<br />

cruzamos o limiar do mundo público, entramos primeiro não na esfera política da<br />

igualda<strong>de</strong>, mas na esfera social. 13<br />

E ainda acrescenta que “sem algum tipo <strong>de</strong> discriminação, a socieda<strong>de</strong><br />

simplesmente <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> existir e possibilida<strong>de</strong>s muito importantes <strong>de</strong> livre associação e<br />

formação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong>sapareceriam” 14 .<br />

A questão não é i<strong>de</strong>ntificar e reconhecer a discriminação como um direito social<br />

intrínseco à socieda<strong>de</strong> ou como aboli-la. Mas, sim, “como mantê-la confinada <strong>de</strong>ntro da<br />

11 Preservar e re<strong>no</strong>var o mundo, Educação, v. 4, p. 29.<br />

12 Reflexões sobre Little Rock, p.272.<br />

13 Ibid., p.273.<br />

14 Ibid., p.273.<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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esfera social, quando é legítima, e impedir que passe para a esfera política e pessoal,<br />

quando é <strong>de</strong>strutiva” 15 .<br />

Explicitando melhor sobre a distinção entre o <strong>político</strong> e o social <strong>no</strong> que tange à<br />

discriminação, Arendt apresenta dois exemplos. O primeiro, a livre associação justificada e<br />

sem direito <strong>de</strong> intervenção do gover<strong>no</strong>. Ao direito <strong>de</strong> livre associação não po<strong>de</strong> haver<br />

<strong>de</strong>terminações legais que <strong>de</strong>finam em companhia <strong>de</strong> quem ou em quais locais <strong>de</strong>sejamos,<br />

por exemplo, passar as férias. Com exceção, vale ressaltar, lugares públicos como teatros e<br />

museus. O segundo exemplo, relacionado a serviços públicos necessários à realização dos<br />

negócios huma<strong>no</strong>s - sejam eles oferecidos por proprieda<strong>de</strong> privada ou particular – a<br />

discriminação é injustificada e prejudicial à esfera política. Como exemplo <strong>de</strong> serviços<br />

públicos temos metrôs, ônibus, hotéis, restaurantes. Tais serviços são <strong>de</strong> domínio público e<br />

encontram-se na esfera política, on<strong>de</strong> todos os homens são iguais.<br />

Segundo Arendt, somente a esfera privada, aquela relacionada ao lar, “não é regida<br />

nem pela igualda<strong>de</strong>, nem pela discriminação, mas pela exclusivida<strong>de</strong>” 16 . Segue dizendo que<br />

“os padrões sociais não são padrões legais e, se a legislatura segue o preconceito social, a<br />

socieda<strong>de</strong> se torna tirânica” 17 . Enfatiza ainda que,<br />

Assim como o gover<strong>no</strong> tem <strong>de</strong> assegurar que a discriminação social nunca cerceie a<br />

igualda<strong>de</strong> política, <strong>de</strong>ve também salvaguardar os direitos <strong>de</strong> toda pessoa <strong>de</strong> agir<br />

como quiser <strong>de</strong>ntro das quatro pare<strong>de</strong>s da sua casa. No momento em que a<br />

discriminação social é legalmente imposta, torna-se perseguição [...]. No momento<br />

em que a discriminação social é legalmente abolida, a liberda<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> é<br />

violada [...]. O gover<strong>no</strong> não po<strong>de</strong> tomar legitimamente nenhum passo contra a<br />

discriminação social, porque o gover<strong>no</strong> só po<strong>de</strong> agir em <strong>no</strong>me da igualda<strong>de</strong> – um<br />

princípio que não existe na esfera social. 18<br />

Por fim, o problema central da imposição legal em favor da <strong>de</strong>ssegregração, <strong>no</strong><br />

âmbito da <strong>educação</strong> pública é o fato <strong>de</strong> ter afetado direitos legítimos da esfera privada e da<br />

esfera social, bem como direitos legítimos da esfera política.<br />

Reforça Arendt dizendo que “o direito dos pais <strong>de</strong> criar os filhos como acharem<br />

a<strong>de</strong>quado é um direito <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong>, pertencente ao lar e à família” 19 . Aprofunda um pouco<br />

mais a questão ao afirmar que “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a introdução da <strong>educação</strong> obrigatória, esse direito<br />

tem sido <strong>de</strong>safiado e restrito, mas não abolido, pelo direito do corpo <strong>político</strong> <strong>de</strong> preparar as<br />

crianças para o cumprimento <strong>de</strong> seus futuros <strong>de</strong>veres como cidadãos” 20 . E ainda que “a<br />

15 Hannah ARENDT, Reflexões sobre Little Rock, p.274.<br />

16 Ibid., p.275.<br />

17 Ibid., p.276.<br />

18 Ibid., p.277.<br />

19 Ibid., p.279.<br />

20 Ibid., p.279.<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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participação do gover<strong>no</strong> na questão é inegável – assim como o direito dos pais” 21 . A<br />

participação do gover<strong>no</strong> na <strong>educação</strong> da criança <strong>de</strong>ve restringir-se ao conteúdo e não <strong>de</strong>ve<br />

incluir o direito à livre associação.<br />

A escola é o primeiro lugar fora do lar em que a criança estabelece relações sociais<br />

<strong>no</strong> mundo público. Contudo, segundo a autora, esse mundo público não é <strong>político</strong>, mas<br />

social. Diz Maria Rita <strong>de</strong> Assis César,<br />

A <strong>educação</strong> <strong>de</strong>veria ser o lugar da preparação <strong>de</strong> crianças e jovens para o espaço<br />

público, o lugar por excelência da formação do cidadão. A escola, encontrando-se<br />

entre o espaço íntimo da família e o mundo público do exercício da cidadania,<br />

<strong>de</strong>veria realizar um papel fundamental <strong>de</strong> transição entre ambos os mundos. 22<br />

E é nessa esfera social e <strong>no</strong> âmbito da <strong>educação</strong>, que a interferência do gover<strong>no</strong><br />

abole a autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pais e professores, que é substituída pelo domínio da opinião pública<br />

que, segundo a autora, a criança “não tem nem a capacida<strong>de</strong> nem o direito <strong>de</strong> estabelecer<br />

uma opinião própria” 23 . Situada na esfera social, a <strong>educação</strong> envolve crianças que precisam<br />

ser guiadas pelos pais ou professores.<br />

Analisando pela perspectiva do espaço público, José Sérgio F. Carvalho corrobora<br />

com essa afirmação <strong>de</strong> Arendt ao dizer que a <strong>educação</strong><br />

É um elo entre o mundo comum e o público e os <strong>no</strong>vos que a ele chegam pela<br />

<strong>natalida<strong>de</strong></strong>. Nesse sentido, o ensi<strong>no</strong> e aprendizado se justificam não<br />

prepon<strong>de</strong>rantemente pelo seu caráter funcional ou pela sua aplicação imediata, mas<br />

pela sua capacida<strong>de</strong> formadora. 24<br />

Nesse contexto perguntamo-<strong>no</strong>s, como compreen<strong>de</strong>r a <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, apontada pela<br />

autora como essência da <strong>educação</strong> e ao mesmo tempo como categoria política na qual<br />

lidamos com adultos?<br />

Para tanto, prosseguiremos <strong>no</strong>ssa análise abordando a ação humana <strong>no</strong> âmbito da<br />

política e do espaço público on<strong>de</strong> todos po<strong>de</strong>m espontaneamente aparecer e que, ao<br />

mesmo tempo, constitui o mundo público que <strong>de</strong>ve perdurar e <strong>no</strong> qual as crianças <strong>de</strong>vem<br />

ser acolhidas com segurança.<br />

A <strong>natalida<strong>de</strong></strong> e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> começar<br />

21 Hannah ARENDT, Reflexões sobre Little Rock, p.279.<br />

22 A <strong>educação</strong> num mundo à <strong>de</strong>riva, Educação, v. 4, p. 37.<br />

23 Reflexões sobre Little Rock, p.281.<br />

24 O <strong>de</strong>clínio do sentido público da <strong>educação</strong>, Revista Brasileira <strong>de</strong> Estudos Pedagógicos, v. 89, n. 223.<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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Pensando a realida<strong>de</strong> constituída da relação entre os homens, meio pelo qual a vida<br />

política se realiza em um momento presente e peculiarmente terre<strong>no</strong>, Arendt <strong>no</strong>s apresenta<br />

a <strong>natalida<strong>de</strong></strong> como categoria política.<br />

Ao mesmo tempo, <strong>no</strong> ensaio A crise na <strong>educação</strong> Hannah Arendt diz que uma crise<br />

é um convite à reflexão, por meio da qual po<strong>de</strong>mos pensar a essência do problema e que “a<br />

essência da <strong>educação</strong> é a <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, o fato <strong>de</strong> que seres nascem para o mundo”. 25<br />

Com base em sua obra A condição humana, po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar a natureza <strong>de</strong> tal<br />

afirmação, pois para Arendt é essencial ao mundo público a capacida<strong>de</strong> criadora do homem,<br />

resultante da <strong>natalida<strong>de</strong></strong>.<br />

A <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, concebida pela autora como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciar algo <strong>no</strong>vo, tem<br />

plena expressão na ação e <strong>no</strong> discurso, meio pelo qual os homens aparecem uns aos<br />

outros. Ação que, caracterizada por José Sérgio F. <strong>de</strong> Carvalho, “é a dimensão na qual<br />

po<strong>de</strong>mos experimentar a liberda<strong>de</strong> como fenôme<strong>no</strong> <strong>político</strong>, ou seja, vivenciar a capacida<strong>de</strong><br />

histórica <strong>de</strong> romper com os automatismos da reprodução e criar o <strong>no</strong>vo” 26 . E ao mesmo<br />

tempo, aparecer aos outros nesse mundo comum como resultado do agir conjunto, que <strong>no</strong>s<br />

coloca em contato com a pluralida<strong>de</strong> humana.<br />

Pois, “nenhuma vida humana, nem mesmo a vida do eremita em meio à natureza<br />

selvagem, é possível sem um mundo que, direta ou indiretamente, testemunhe a presença<br />

<strong>de</strong> outros seres huma<strong>no</strong>s” 27 .<br />

O homem é inserido em um mundo que já existe, cuja realida<strong>de</strong> é por ele constituída<br />

a partir do seu nascimento. E esse nascimento, biológico, é o primeiro instante <strong>de</strong><br />

aparecimento do homem <strong>no</strong> mundo. Mas é a ação humana o constituinte essencial para que<br />

o mundo público perdure e para que nesse espaço público os homens, recém chegados<br />

pelo nascimento, possam contínua e espontaneamente aparecer.<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente, essa imprescindível necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um espaço comum <strong>no</strong> qual<br />

todos possam aparecer e da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservação resulta do fato <strong>de</strong> que,<br />

[...] nenhuma ativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> tornar-se excelente se o mundo não<br />

proporcionar um espaço a<strong>de</strong>quado para o seu exercício. Nem a <strong>educação</strong>,<br />

nem a engenhosida<strong>de</strong>, nem o talento po<strong>de</strong>m substituir os elementos<br />

constitutivos do domínio público, que fazem <strong>de</strong>le o local a<strong>de</strong>quado para a<br />

excelência humana. 28<br />

25 p. 223.<br />

26 O <strong>de</strong>clínio do sentido público da <strong>educação</strong>, Revista Brasileira <strong>de</strong> Estudos Pedagógicos, v. 89, n. 223.<br />

27 Hannah ARENDT, A condição humana, p.26.<br />

28 Ibid., p.60.<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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Afinal, “se o mundo <strong>de</strong>ve conter um espaço público, não po<strong>de</strong> ser construído apenas<br />

para uma geração e planejado somente para os que estão vivos, mas tem <strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>r a<br />

duração da vida <strong>de</strong> homens mortais” 29 .<br />

O que faz com que a <strong>natalida<strong>de</strong></strong> li<strong>de</strong> com o presente e se efetive <strong>no</strong> homem como um<br />

<strong>no</strong>vo nascimento, como o que há <strong>de</strong> potencial em cada um <strong>de</strong> nós que po<strong>de</strong>rá promover<br />

rupturas e ao mesmo tempo ter o dom <strong>de</strong> preservar o mundo. Ou seja, a <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, aquela<br />

faculda<strong>de</strong> da condição humana que, através do nascimento, traz ao mundo o potencial <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>vida<strong>de</strong>, é efetivada com a criação <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va realida<strong>de</strong>, cuja força transformadora <strong>de</strong>ve<br />

ser preservada <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> formação do homem, por meio da <strong>educação</strong>. Em outras<br />

palavras, preservar na criança esse po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> começar potencialmente criador que lhe é<br />

inerente por seu nascimento equivale, na esfera social, à responsabilida<strong>de</strong> do professor com<br />

o mundo.<br />

A ação, condição humana da pluralida<strong>de</strong> e especificamente condição da vida política,<br />

é o meio pelo qual os homens são inseridos <strong>no</strong> mundo público. Segundo Arendt,<br />

Se a ação, como início, correspon<strong>de</strong> ao fato do nascimento, se é a efetivação da<br />

condição humana da <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, o discurso correspon<strong>de</strong> ao fato da distinção e é a<br />

efetivação da condição humana da pluralida<strong>de</strong>, isto é, do viver como um ser distinto<br />

e único entre iguais. 30<br />

A <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, que por meio da ação tem o dom <strong>de</strong> produzir o mundo terre<strong>no</strong> e ao<br />

mesmo tempo <strong>de</strong> preservá-lo para o recém chegado - aos <strong>no</strong>vos por nascimento – torna-se<br />

o meio pelo qual o cuidado com o mundo é efetivado. Cuidado esse que <strong>de</strong>ve ser assumido<br />

pelos adultos.<br />

Contudo, é por meio da <strong>educação</strong> que o cuidado com as crianças <strong>de</strong>verá apresentar-<br />

se como meio <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> tal dom, caracterizando não só a responsabilida<strong>de</strong>, mas<br />

também a autorida<strong>de</strong> da figura do professor.<br />

Embora se apresente como a categoria central do <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah<br />

Arendt a <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, por seu caráter potencial presente na ação, po<strong>de</strong>-se esperar o<br />

inesperado que o homem é capaz <strong>de</strong> realizar, isto é, o <strong>no</strong>vo. E a ação, por consistir em<br />

processos <strong>de</strong> iniciamento, seu significado está contido em todo o processo. Processo esse<br />

iniciado com o movimento que a ação estabelece e que a <strong>natalida<strong>de</strong></strong> promove.<br />

Nas palavras <strong>de</strong> Arendt, “é da natureza do início que se comece algo <strong>no</strong>vo, algo que<br />

não se po<strong>de</strong>ria esperar <strong>de</strong> coisa alguma que tenha ocorrido antes. Esse caráter <strong>de</strong><br />

surpreen<strong>de</strong>nte impresciência é inerente a todo início e a toda origem” 31 .<br />

29 Hannah ARENDT, A condição humana, p. 67.<br />

30 Ibid., p. 223.<br />

31 Ibid., p.222<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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Assim, o nascimento prece<strong>de</strong> o ato <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas realida<strong>de</strong>s, cuja realização<br />

se encontra pautado na <strong>natalida<strong>de</strong></strong>. Ora, se a <strong>natalida<strong>de</strong></strong> é para Arendt a essência da<br />

<strong>educação</strong> e esta situa-se na esfera social antece<strong>de</strong>ndo a esfera pública, é neste âmbito que<br />

situa-se a esperança, o milagre, o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformar o mundo com a criação <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas<br />

realida<strong>de</strong>s, para as quais a <strong>educação</strong> <strong>de</strong>ve contribuir. A tarefa da <strong>educação</strong>, segundo Maria<br />

<strong>de</strong> Fátima Simões Francisco, “é justamente a <strong>de</strong> apresentar o mundo às gerações do<br />

presente, tentando fazê-las conscientes <strong>de</strong> que comparecem a um mundo que é o lar<br />

comum <strong>de</strong> múltiplas gerações humanas” 32 . E, ao professor, cabe a tarefa <strong>de</strong> possibilitar que<br />

esse potencial criador <strong>de</strong> cada ser huma<strong>no</strong> continue latente, visando inserir <strong>no</strong> mundo<br />

público o adulto dotado <strong>de</strong> ação com seu potencial <strong>de</strong> início.<br />

A <strong>educação</strong> à guisa da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />

Analisar a questão da <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt como<br />

instante <strong>de</strong> reflexão acerca da <strong>educação</strong> na contemporaneida<strong>de</strong> permite-<strong>no</strong>s – com as<br />

<strong>de</strong>vidas ressalvas – não restringir a discussão ao contexto america<strong>no</strong> que à autora serviu <strong>de</strong><br />

pa<strong>no</strong> <strong>de</strong> fundo, por ter se tornado um problema <strong>político</strong>. Para Arendt, a <strong>educação</strong><br />

caracterizada <strong>no</strong> âmbito escolar viveu intenso momento <strong>de</strong> crise com as quais as<br />

autorida<strong>de</strong>s não conseguiram lidar <strong>de</strong> modo a eliminar os sérios problemas acarretados.<br />

Se acompanharmos as discussões acerca da <strong>educação</strong> <strong>no</strong> Brasil, bem como as<br />

medidas políticas apresentadas como soluções que corrijam problemas passados,<br />

percebemos o quão significativas e atuais são as reflexões <strong>de</strong> Arendt acerca da <strong>educação</strong>.<br />

E que o sentido <strong>de</strong>stas reflexões não estão circunscritos apenas à realida<strong>de</strong> americana à<br />

época pensada. Sobretudo quando a autora reflete a importância dos momentos <strong>de</strong> crise<br />

para que possamos pensar e explorar as questões que <strong>de</strong>terminam o aparecimento <strong>de</strong> um<br />

problema.<br />

Nas palavras <strong>de</strong> Arendt, “uma crise <strong>no</strong>s obriga a voltar às questões mesmas e exige<br />

respostas <strong>no</strong>vas ou velhas, mas <strong>de</strong> qualquer modo julgamentos diretos” 33 . Arendt ressalta<br />

que refletir acerca do problema da <strong>educação</strong>, não é restringir-se a questões <strong>de</strong> realida<strong>de</strong><br />

escolar, alfabetização ou o que especificamente po<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r uma <strong>de</strong>terminada região.<br />

Trata-se <strong>de</strong> ir à origem do problema e essa origem encontra-se na essência da<br />

<strong>educação</strong> que, segundo Arendt, é a <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, presente em cada homem, por seu<br />

nascimento e, ao mesmo tempo, presente <strong>no</strong> mundo como um <strong>no</strong>vo nascimento. É a<br />

possibilida<strong>de</strong> do <strong>no</strong>vo em um mundo que já existe.<br />

32 Preservar e re<strong>no</strong>var o mundo, Educação, v. 4, p. 35.<br />

33 A crise na <strong>educação</strong>, p. 223.<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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Com vistas na <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, esse potencial criador presente em cada homem por seu<br />

nascimento, aliado a seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> começar algo totalmente <strong>no</strong>vo, Arendt atribui à <strong>educação</strong><br />

a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong>sse dom <strong>de</strong> começar. Não é responsabilida<strong>de</strong> da<br />

política a <strong>educação</strong> <strong>de</strong> crianças e jovens. Pois, “a <strong>educação</strong> não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar papel<br />

nenhum na política, pois na política lidamos com aqueles que já estão educados. Quem<br />

quer que queira educar adultos na realida<strong>de</strong> preten<strong>de</strong> agir como guardião e impedi-los <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong> política” 34 .<br />

A <strong>educação</strong> não <strong>de</strong>ve servir à política e tampouco a política se servir da <strong>educação</strong>. A<br />

política <strong>de</strong>ve acolher seres que são, por meio da <strong>educação</strong>, inseridos <strong>no</strong> mundo. Ou seja,<br />

seres adultos e já educados são inseridos na esfera pública <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> entre os homens.<br />

Pois, “<strong>no</strong> âmbito <strong>político</strong> tratamos unicamente com adultos que ultrapassaram a<br />

ida<strong>de</strong> da <strong>educação</strong> propriamente dita, e a política, ou o direito <strong>de</strong> participar da condução dos<br />

negócios públicos, começa precisamente on<strong>de</strong> termina a <strong>educação</strong>” 35 . Em <strong>educação</strong><br />

lidamos com pessoas que não po<strong>de</strong>m ainda ser admitidas na política como seres iguais.<br />

Pessoas essas que encontram-se na esfera social, <strong>no</strong> limiar da esfera pública.<br />

Ao separar a esfera pública do âmbito <strong>no</strong> qual a <strong>educação</strong> está inserida (esfera<br />

social), Arendt enten<strong>de</strong> que falar <strong>de</strong> <strong>educação</strong> na política não soa bem, pois se isso<br />

acontece o real objetivo “é a coerção, sem o uso da força” 36 .<br />

Embora a <strong>educação</strong> faça parte da esfera social, é uma das ativida<strong>de</strong>s mais<br />

importantes presentes na condição humana e necessária à vida em socieda<strong>de</strong>. Socieda<strong>de</strong><br />

essa que é sempre re<strong>no</strong>vada pela constante chegada <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos seres huma<strong>no</strong>s <strong>no</strong> mundo.<br />

O que faz com que, nas palavras <strong>de</strong> Arendt, “a criança, objeto da <strong>educação</strong>, possui para o<br />

educador um duplo aspecto: é <strong>no</strong>va em um mundo que lhe é estranho e se encontra em<br />

processo <strong>de</strong> formação; é um <strong>no</strong>vo ser huma<strong>no</strong> e é um ser huma<strong>no</strong> em formação” 37 .<br />

Para Arendt, é por meio da <strong>educação</strong> que pais e educadores assumem a<br />

responsabilida<strong>de</strong> tanto pela vida e <strong>de</strong>senvolvimento das crianças, como pela continuida<strong>de</strong><br />

do mundo. Dessa maneira, garantimos tanto a proteção às crianças dos perigos do mundo,<br />

bem como garantimos ao mundo proteção para que perdure.<br />

Contudo, Arendt atenta-<strong>no</strong>s para o fato <strong>de</strong> que as crianças são seres huma<strong>no</strong>s em<br />

processo <strong>de</strong> formação que são introduzidas ao mundo por intermédio da escola, mas que a<br />

escola não é o próprio mundo. A escola faz parte do mundo, mas não o representa. A escola<br />

é, segundo a autora, “a instituição que interpomos entre o domínio privado do lar e o mundo<br />

34 Hannah ARENDT, A crise na <strong>educação</strong>, p. 225.<br />

35 I<strong>de</strong>m., Que é autorida<strong>de</strong>?, p.160.<br />

36 I<strong>de</strong>m., A crise na <strong>educação</strong>, p. 225<br />

37 Ibid., p. 234-235.<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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com o fito <strong>de</strong> fazer com que seja possível a transição, <strong>de</strong> alguma forma, da família para o<br />

mundo” 38 . Em outras palavras, André Duarte diz que,<br />

O que caracteriza a <strong>educação</strong> em relação a outras formas <strong>de</strong> inserção dos seres<br />

vivos em um ambiente já existente é essa relação privilegiada que a vida humana<br />

(bios) mantém com o mundo, uma relação que tem <strong>de</strong> ser tecida. Se o mundo é<br />

estranho e hostil ao recém nascido, caberá justamente à <strong>educação</strong>, a princípio por<br />

intermédio dos pais, <strong>de</strong>pois pela escola, a tarefa <strong>de</strong> ambientá-lo e familiarizá-lo com<br />

o que lhe é <strong>de</strong>sconhecido. 39<br />

Por outro lado, uma vez que a presença da criança na escola é uma exigência do<br />

Estado, a escola se apresenta, em certa medida, como representação do mundo público, já<br />

conhecido pela criança. Mas Arendt <strong>no</strong>s atenta para o fato <strong>de</strong> que não <strong>de</strong>vemos confundir a<br />

representação, com o mundo como <strong>de</strong> fato é.<br />

Por isso, “na medida em que a criança não tem familiarida<strong>de</strong> com o mundo, <strong>de</strong>ve-se<br />

introduzí-la aos poucos a ele; na medida em que ela é <strong>no</strong>va, <strong>de</strong>ve-se cuidar para que essa<br />

coisa <strong>no</strong>va chegue à fruição em relação ao mundo como ele é” 40 . O educador assume seu<br />

papel perante a criança e o jovem, como representante <strong>de</strong> um mundo pelo qual <strong>de</strong>ve<br />

assumir a responsabilida<strong>de</strong>. Responsabilida<strong>de</strong> essa implícita ao fato <strong>de</strong> que os jovens são<br />

inseridos <strong>no</strong> mundo por adultos, em um mundo em constante mudança.<br />

Para Arendt, “na <strong>educação</strong>, essa responsabilida<strong>de</strong> pelo mundo assume a forma <strong>de</strong><br />

autorida<strong>de</strong>” 41 A autorida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>ve ser confundida com qualificação, tampouco com<br />

alguma forma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ou violência. A qualificação refere-se ao conhecimento do educador<br />

acerca do mundo, que reflete na sua condição <strong>de</strong> instruir; o po<strong>de</strong>r e violência referem-se à<br />

utilização <strong>de</strong> meios exter<strong>no</strong>s <strong>de</strong> coerção e exclui a autorida<strong>de</strong>. O uso da força indica o<br />

fracasso da autorida<strong>de</strong>. O uso <strong>de</strong> argumentos põe em suspenso a autorida<strong>de</strong> e em uso a<br />

obediência. Segundo Arendt, “se a autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>finida <strong>de</strong> alguma forma, <strong>de</strong>ve sê-<br />

lo, então, tanto em contraposição à coerção pela força como à persuasão através <strong>de</strong><br />

argumentos” 42 . (129) Entretanto, “a autorida<strong>de</strong> implica uma obediência na qual os homens<br />

retêm sua liberda<strong>de</strong> [...]” 43 .<br />

Ora, o educador, ao assumir a responsabilida<strong>de</strong> com o mundo, assume também o<br />

papel que a <strong>educação</strong> <strong>de</strong>sempenha na socieda<strong>de</strong> em favor do mundo, do <strong>no</strong>vo, da<br />

preservação. O mundo que para Arendt, “tanto <strong>no</strong> todo como em parte, é irrevogavelmente<br />

38<br />

Hannah ARENDT, A crise na <strong>educação</strong>, p. 238.<br />

39<br />

Educação: entre a tradição e a ruptura. Educação, v. 4, p.85.<br />

40<br />

Hannah ARENDT, A crise na <strong>educação</strong>, p. 239.<br />

41<br />

Ibid., p. 239.<br />

42<br />

I<strong>de</strong>m., Que é autorida<strong>de</strong>?, p.129.<br />

43 Ibid., p.145.<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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fadado à ruína pelo tempo, a me<strong>no</strong>s que existam seres huma<strong>no</strong>s <strong>de</strong>terminados a intervir, a<br />

alterar, a criar aquilo que é <strong>no</strong>vo” 44 . Para tanto, <strong>de</strong>ve-se, segundo Arendt,<br />

Educar <strong>de</strong> tal modo que um por-em-or<strong>de</strong>m continue sendo efetivamente possível,<br />

ainda que não possa nunca, é claro, ser assegurado. Nossa esperança está<br />

pen<strong>de</strong>nte sempre do <strong>no</strong>vo que cada geração aporta; precisamente por basearmos<br />

<strong>no</strong>ssa esperança apenas nisso, porém, é que tudo <strong>de</strong>struímos se tentarmos<br />

controlar os <strong>no</strong>vos <strong>de</strong> tal modo que nós, os velhos, possamos ditar sua aparência<br />

futura. 45<br />

Não po<strong>de</strong>mos impedir o jovem <strong>de</strong> livre e espontaneamente agir. Para Arendt, a<br />

<strong>educação</strong> <strong>de</strong>ve ser conservadora, <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> conservar o que é <strong>no</strong>vo e revolucionário em<br />

cada criança, bem como o <strong>de</strong> conservar o mundo. Deve possibilitar a inserção do <strong>no</strong>vo em<br />

um mundo velho e <strong>de</strong> todos conhecido.<br />

Falarmos em preservação da <strong>no</strong>vida<strong>de</strong> como objetivo da <strong>educação</strong>, implica em<br />

tentarmos explicitar sua relação com o caráter <strong>de</strong> conservação empregado pela autora. Para<br />

Arendt, a crise mo<strong>de</strong>rna na <strong>educação</strong> trouxe consigo a conseqüente crise da autorida<strong>de</strong>,<br />

conectada à crise da tradição. A crise da tradição consiste na “crise <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa atitu<strong>de</strong> face ao<br />

âmbito do passado” 46 .<br />

No entanto, tradição e passado não são a mesma coisa. Com a perda da tradição<br />

per<strong>de</strong>mos também “o fio que <strong>no</strong>s guiou com segurança através dos vastos domínios do<br />

passado” 47 O professor, por situar-se como mediador entre o <strong>no</strong>vo (criança) e o velho (o<br />

mundo já existente), <strong>de</strong>ve respeito ao passado, pois sua autorida<strong>de</strong> situa-se entre o <strong>no</strong>vo e<br />

o passado. Respeito àquele princípio <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o qual algo <strong>no</strong> mundo foi instaurado.<br />

Enfim, o que Arendt visa por em discussão sobre a <strong>educação</strong> é, na relação entre<br />

adultos e crianças,<br />

44<br />

Hannah ARENDT, A crise na <strong>educação</strong>, p. 242.<br />

45<br />

Ibid., p. 243.<br />

46<br />

Ibid., p. 243.<br />

47<br />

I<strong>de</strong>m., Que é autorida<strong>de</strong>?, p. 130.<br />

48 Ibid., p. 247.<br />

<strong>no</strong>ssa atitu<strong>de</strong> face ao fato da <strong>natalida<strong>de</strong></strong>: o fato <strong>de</strong> todos nós virmos ao mundo ao<br />

nascermos e <strong>de</strong> ser o mundo constantemente re<strong>no</strong>vado mediante o nascimento. A<br />

<strong>educação</strong> é o ponto em que <strong>de</strong>cidimos se amamos o mundo o bastante para<br />

assumirmos a responsabilida<strong>de</strong> por ele, e com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria<br />

inevitável não fosse a re<strong>no</strong>vação e a vinda dos <strong>no</strong>vos e dos jovens. 48<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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Somente separando o âmbito da <strong>educação</strong> dos <strong>de</strong>mais (privado e público), po<strong>de</strong>-se<br />

a ele aplicar o conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> e tradição que lhes são específicos. À escola, cabe<br />

“ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte <strong>de</strong> viver” 49 .<br />

Diz José Sérgio F. Carvalho,<br />

O acolhimento dos <strong>no</strong>vos <strong>no</strong> mundo pressupõe, pois, um duplo e paradoxal<br />

compromisso do professor. Por um lado, cabe-lhe zelar pela durabilida<strong>de</strong> do mundo<br />

<strong>de</strong> heranças simbólicas <strong>no</strong> qual ele inicia e acolhe seus alu<strong>no</strong>s. Por outro, cabe-lhe<br />

cuidar para que os <strong>no</strong>vos possam se inteirar, integrar, fruir e, sobretudo, re<strong>no</strong>var<br />

essa herança pública que lhes pertence por direito, mas cujo acesso só lhe é<br />

possível por meio da <strong>educação</strong>. 50<br />

E embora Arendt afirme que não se possa educar adultos ou tratar as crianças como<br />

adultas, afirma também que não <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong> forma alguma separar a criança do mundo dos<br />

adultos. Pois, o mundo <strong>no</strong> qual todos os seres se relacionam, se mostram e se i<strong>de</strong>ntificam, é<br />

um mesmo mundo.<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

A relevância do <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt <strong>no</strong> que tange à questão da<br />

<strong>educação</strong> apresenta-se em seu modo peculiar <strong>de</strong> refletir acerca do homem situado <strong>no</strong><br />

mundo. Um jeito <strong>no</strong>vo <strong>de</strong> reflexão acerca da essência da <strong>educação</strong> e o papel que a<br />

<strong>educação</strong> <strong>de</strong>sempenha na socieda<strong>de</strong>.<br />

No Brasil, sobretudo quando confrontamos a responsabilida<strong>de</strong> atribuída por Arendt<br />

ao educador com a finalida<strong>de</strong> da <strong>educação</strong> básica, que consiste na preparação do<br />

educando para o exercício da cidadania, possibilitado por uma formação reflexiva, crítica e<br />

voltada para a auto<strong>no</strong>mia. O que evi<strong>de</strong>ncia, a <strong>no</strong>sso ver, a responsabilida<strong>de</strong> do educador<br />

com o mundo ao se colocar como mediador <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> aprendizagem e formação <strong>de</strong><br />

crianças e jovens.<br />

Ao mesmo tempo, se pensarmos a <strong>educação</strong> básica como o período <strong>no</strong> qual o<br />

educando é preparado para o exercício da cidadania, reafirmamos o posicionamento <strong>de</strong><br />

Arendt <strong>de</strong> que o mundo público, essencialmente <strong>político</strong>, é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> dos adultos,<br />

não das crianças. Que aos adultos cabe garantir a segurança e a <strong>educação</strong> necessária para<br />

que cheguem ao mundo público, adultos livres e autô<strong>no</strong>mos. E que, a autorida<strong>de</strong> do<br />

49 Hannah ARENDT, A crise na <strong>educação</strong>, p. 246.<br />

50 A crise na <strong>educação</strong> como crise da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, Educação, v. 4, p. 21.<br />

Natalida<strong>de</strong> e <strong>educação</strong> <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> <strong>político</strong> <strong>de</strong> Hannah Arendt – Esmeraldina A. Ferreira - 2012<br />

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professor, está circunscrita à escola, à mediação <strong>de</strong>sta com o mundo público <strong>no</strong> qual os<br />

jovens serão inseridos<br />

Ora, as reflexões arendtianas se apresentam como um convite para que pensemos o<br />

presente. Mas, ainda que pese o fato <strong>de</strong> que a tarefa <strong>de</strong> mudar o mundo seja presente e<br />

não futura, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> dos adultos e não das crianças, Arendt, ao pressupor um<br />

começo e que esse começo po<strong>de</strong> ser totalmente <strong>no</strong>vo, assinala a esperança <strong>no</strong> homem e<br />

<strong>no</strong> mundo <strong>político</strong>.<br />

Pautada na <strong>natalida<strong>de</strong></strong>, essa esperança representa uma crença <strong>no</strong> futuro, na<br />

preservação do mundo e, sempre que possível transformação da realida<strong>de</strong>. Ao professor,<br />

cabe a tarefa <strong>de</strong> preservar esse princípio criador, permitindo chegar ao mundo público<br />

adultos reflexivos, críticos e autô<strong>no</strong>mos, cuja dignida<strong>de</strong> se efetiva na participação <strong>no</strong>s<br />

negócios huma<strong>no</strong>s.<br />

Assim, po<strong>de</strong>remos atribuir significado ao que comumente ouvimos quando o assunto<br />

é <strong>educação</strong>: que <strong>de</strong>vemos educar as crianças, pois elas são o futuro do país. E, ao mesmo<br />

tempo, atribuir sentido à contribuição da Filosofia e seu ensi<strong>no</strong>, presente como disciplina<br />

obrigatória na etapa final da <strong>educação</strong> básica.<br />

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