ana luiza de oliveira duarte ferreira - ANPUH-SP - XXI Encontro ...
ana luiza de oliveira duarte ferreira - ANPUH-SP - XXI Encontro ...
ana luiza de oliveira duarte ferreira - ANPUH-SP - XXI Encontro ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
inteiro: Manifesto da Poesia Pau. Porque é poesia <strong>de</strong> programa e toda arte <strong>de</strong> programa é pau.<br />
Aborrecem os poetas que se lembram <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> quando fazer versos. Eu quero ser<br />
eventualmente mistura <strong>de</strong> turco com sírio-libanês. Quero ter o direito <strong>de</strong> falar ainda na<br />
Grécia” (BORGES PINTO, 2001: 454).<br />
Interessante, então, que Ban<strong>de</strong>ira falasse justamente na Grécia. Porque no México, a<br />
partir <strong>de</strong> 1932, houve uma querela contun<strong>de</strong>nte entre a segunda geração dos editores da<br />
revista Contemporáneos e intelectuais mais tradicionalistas e esquematicamente nacionalistas,<br />
e essa querela passou justamente pelo profundo interesse que esses novos poetas tinham pela<br />
poesia clássica grega. Pelo interesse pela poesia grega, foram taxados <strong>de</strong> alienados,<br />
<strong>de</strong>scomprometidos com o sentido revolucionário, com os interesses nacionais, e, a<strong>de</strong>mais,<br />
afeminados. E <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram o direito <strong>de</strong> acessar a Literatura dita “universal” como Literatura<br />
também sua (afinal, entendiam o México não como uma realida<strong>de</strong> à parte, mas integrada à<br />
Europa, ao mundo).<br />
Em outras palavras: interessante (ok!), mas também óbvio que Ban<strong>de</strong>ira e a segunda<br />
geração dos Contemporáneos falassem em Grécia, certo? Ban<strong>de</strong>ira e os Contemporáneos<br />
foram intelectuais igualmente engajados num sentido cosmopolita, universalista <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
e arte.<br />
Outro ponto que consi<strong>de</strong>ro relevante: o professor da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gu<strong>ana</strong>juato<br />
Andreas Kurz afirma, em artigo recente, que há um círculo <strong>de</strong> reflexão em torno da<br />
mexicanida<strong>de</strong> que se abre com La raza cósmica e <strong>de</strong> fecha com El perfil <strong>de</strong>l hombre y la<br />
cultura en México (1934), escrito por Samuel Ramos. Isso porque esse filósofo ensaísta,<br />
oriundo do estado <strong>de</strong> Michoacán, <strong>de</strong>ixava em seu livro <strong>de</strong> propor uma alegoria do homem<br />
americano, do homem tropical, do homem mexicano, para refletir sobre as imagens que o<br />
mexicano teria <strong>de</strong> si; para refletir criticamente sobre o que até então se havia elaborado a<br />
respeito. Em muitos pontos, assim, El perfil... se aproxima <strong>de</strong> Raízes do Brasil, clássico livro<br />
do <strong>de</strong>cepcionado Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda (KURZ, 2008).<br />
As artes plásticas também foram influenciadas por essa nota dissonante, no México,<br />
que cortava com navalha crítica o tema da nacionalida<strong>de</strong>. É claro que los tres gran<strong>de</strong>s<br />
circularam entre os Contemporáneos. Ramos, aliás, foi amigo íntimo <strong>de</strong> Rivera, a quem<br />
<strong>de</strong>dicou alguns estudos. No primeiro <strong>de</strong>les, publicado na década <strong>de</strong> 1950 junto a reproduções<br />
impressas <strong>de</strong> trabalhos do muralista, abordou a importância política da arte (DEL VALLE,<br />
1965: 53).<br />
Anais do <strong>XXI</strong> <strong>Encontro</strong> Estadual <strong>de</strong> História –<strong>ANPUH</strong>-<strong>SP</strong> - Campinas, setembro, 2012.<br />
9