Cadernos HumanizaSUS - BVS Ministério da Saúde
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Formação<br />
<strong>Cadernos</strong> <strong>HumanizaSUS</strong><br />
ora do sujeito sobre o objeto, ora do objeto sobre o sujeito. O que aqui ganha relevo é a<br />
aposta no caráter intervencionista do conhecimento, que se afirma no entendimento de<br />
que “todo conhecer é um fazer” (BENEVIDES, 2007).<br />
As ativi<strong>da</strong>des do trabalho humano, além dos modos operatórios definidos pelas normas<br />
prescritas para as diferentes tarefas, implicam, também, improviso, antecipação. Trabalhar<br />
é gerir, é co-gerir (SCHWARTZ, 2000). Portanto, estamos nos referindo a um processo de<br />
formação em saúde como possibili<strong>da</strong>de de produzir novas normas, novas formas de vi<strong>da</strong>/<br />
trabalho.<br />
Com isso afirmamos que os processos de trabalho são campos de produção de saber em<br />
que não se aprende por si mesmo, mas onde estão em cena redes de saberes formulados<br />
coletivamente. Se reduzimos o trabalho ao emprego, ao desempenho de uma tarefa<br />
formula<strong>da</strong> por outrem (cisão entre planejar e fazer, cui<strong>da</strong>r e gerir), focalizamos somente<br />
uma <strong>da</strong>s formas que o trabalho assumiu em nossa socie<strong>da</strong>de. Neste caso, gerir seria<br />
sinônimo de administrar, e trabalhar seria o correlato de executar meramente prescrições<br />
já formula<strong>da</strong>s. Porém, o trabalho é exercício <strong>da</strong> potência de criação do humano, é inventar<br />
a si e o mundo. Trabalhar é gerir e colocar à prova experiências, saberes, prescrições; é li<strong>da</strong>r<br />
com a variabili<strong>da</strong>de e imprevisibili<strong>da</strong>de que permeia a vi<strong>da</strong>, criando novas estratégias,<br />
novas normas. Ao gerir o trabalho, os sujeitos criam e recriam saberes sofisticados e<br />
necessários ao seu fazer. Desse modo, como afirmou Yves Clot (2000), a análise do processo<br />
de trabalho requer perceber não somente o que foi feito, mas como foi feito, o que se<br />
deixou de fazer, o que foi desfeito e o que não se conseguiu fazer. Ou seja, há modos de<br />
fazer desperdiçados e desqualificados que são fun<strong>da</strong>mentais ao processo de trabalho e<br />
sem os quais seria impossível li<strong>da</strong>r com os imprevistos.<br />
Estamos, portanto, tratando com a dimensão inventiva do trabalho sem, com isso,<br />
negligenciar os processos de exploração, de submissão, de violência que aí se presentificam.<br />
Mas dizer do caráter de dominação que permeia o processo de trabalho não fala de tudo<br />
que o trabalho é, pois deixa exatamente de lado sua dimensão inventora. A ação não<br />
está permea<strong>da</strong> apenas por formas (que são elementos importantes), mas é fabrica<strong>da</strong><br />
em um jogo de forças que não está definido a priori, uma vez que são as forças que<br />
delineiam as formas, ao mesmo tempo em que não se esgota nessas formas. Trabalho e<br />
formação podem, também, ser campo de produção de novos possíveis, de fabricação de<br />
aprendizes-inventores.<br />
O que podemos perceber é que, ao abor<strong>da</strong>r o cui<strong>da</strong>do em saúde apartado dos processos<br />
de gestão do cui<strong>da</strong>do e dos modos de fazer a formação, sedimentam-se e (re)alimentam-se<br />
algumas práticas naturaliza<strong>da</strong>s que só reforçam os impasses que precisamos enfrentar. No<br />
que se refere à formação, reforça-se uma perspectiva bancária de produção e transmissão<br />
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