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24/10/03 TURNO: Matutino TIPO DA SESSÃO: Ordinária

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA<br />

REVISÃO E RE<strong>DA</strong>ÇÃO<br />

<strong>SESSÃO</strong>: <strong>24</strong>0.1.52.O<br />

<strong>DA</strong>TA: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong><br />

<strong>TURNO</strong>: <strong>Matutino</strong><br />

<strong>TIPO</strong> <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong>: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

LOCAL: Plenário Principal - CD<br />

INÍCIO: 09h09min<br />

TÉRMINO: 13h20min<br />

DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR PARA REVISÃO<br />

Hora Fase Orador<br />

<strong>10</strong>:12 PE PAES LANDIM<br />

12:18 GE PAES LANDIM<br />

Incluídos os seguintes discursos: do Deputado Paes Landim proferido na Sessão Solene<br />

da Câmara dos Deputados nº 215, realizada em 8 de outubro de 20<strong>03</strong>; do Deputado Paes<br />

Landim proferido na Sessão Solene da Câmara dos Deputados nº 226, realizada em 15 de<br />

outubro de 20<strong>03</strong>; do Deputado José Thomaz Nonô proferido na Sessão <strong>Ordinária</strong> da<br />

Câmara dos Deputados nº 227, realizada em 15 de outubro de 20<strong>03</strong>; do Deputado Daniel<br />

Almeida proferido na Sessão <strong>Ordinária</strong> da Câmara dos Deputados nº 227, realizada em 15<br />

de outubro de 20<strong>03</strong>; do Deputado Bismarck Maia proferido na Sessão Solene da Câmara<br />

dos Deputados nº 229, realizada em 16 de outubro de 20<strong>03</strong>; do Deputado Antonio Carlos<br />

Mendes Thame proferido na Sessão <strong>Ordinária</strong> da Câmara dos Deputados nº 231, realizada<br />

em 16 de outubro de 20<strong>03</strong>; do Deputado Mauro Benevides proferido na Sessão <strong>Ordinária</strong><br />

da Câmara dos Deputados nº 232, realizada em 17 de outubro de 20<strong>03</strong>; do Deputado José<br />

Thomaz Nonô proferido na Sessão <strong>Ordinária</strong> da Câmara dos Deputados nº 234, realizada<br />

em 21 de outubro de 20<strong>03</strong>; do Deputado Antonio Carlos Mendes Thame proferido na<br />

Sessão <strong>Ordinária</strong> da Câmara dos Deputados nº 234, realizada em 21 de outubro de 20<strong>03</strong>.


CÂMARA DOS DEPUTADOS<br />

Ata da <strong>24</strong>0ª Sessão, em <strong>24</strong> de outubro de 20<strong>03</strong><br />

Presidência dos Srs. ...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

...................................................................<br />

ÀS 9 HORAS E 9 MINUTOS COMPARECEM OS SRS.:<br />

João Paulo Cunha<br />

Inocêncio Oliveira<br />

Luiz Piauhylino<br />

Geddel Vieira Lima<br />

Severino Cavalcanti<br />

Nilton Capixaba<br />

Ciro Nogueira<br />

Gonzaga Patriota<br />

Wilson Santos<br />

Confúcio Moura<br />

João Caldas


CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. PRESIDENTE (Nilson Mourão) - Não havendo quorum regimental para<br />

abertura da sessão, nos termos do § 3º do art. 79 do Regimento Interno,<br />

aguardaremos até meia hora para que ele se complete.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

I - ABERTURA <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong><br />

O SR. PRESIDENTE (Nilson Mourão) - Havendo número regimental, declaro<br />

aberta a sessão.<br />

trabalhos.<br />

Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos<br />

A Sra. Secretária procederá à leitura da ata da sessão anterior.<br />

II - LEITURA <strong>DA</strong> ATA<br />

A SRA. ANN PONTES, servindo como 2º Secretária, procede à leitura da ata<br />

da sessão antecedente, a qual é, sem observações, aprovada.<br />

O SR. PRESIDENTE (Nilson Mourão) - Passa-se à leitura do expediente.<br />

O SR. ..........................................................., servindo como 1º Secretário,<br />

procede à leitura do seguinte<br />

III - EXPEDIENTE<br />

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passa-se ao<br />

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. PRESIDENTE (Nilson Mourão) - Finda a leitura do expediente,<br />

IV - PEQUENO EXPEDIENTE<br />

Concedo a palavra ao Sr. Deputado Coriolano Sales.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. CORIOLANO SALES (PFL-BA. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, a idéia do programa governamental<br />

denominado de Parceria Público-Privada, anunciada bombasticamente pelo Ministro<br />

do Planejamento, poderá não ser exeqüível para todas as necessidades de obras na<br />

área de infra-estrutura do País, notadamente de transporte, energia e saneamento.<br />

A proposta para obter financiamento privado para obras públicas, com<br />

hipoteca do Orçamento da União, pode resultar em dificuldades de fixação de<br />

prioridades públicas. Poder-se-á privilegiar o privado em detrimento do público, uma<br />

situação que ensejará enorme perplexidade na sociedade brasileira.<br />

O privilégio a ser concedido às empresas privadas, no Programa de Parceria<br />

Público-Privada, fugirá dos limites da Lei de Licitações, envolvendo a “hipoteca” do<br />

Orçamento da União de forma antecipada por disponibilidade jurídica de uma nova<br />

lei a ser aprovada pelo Congresso Nacional. É claro que nenhum empresário vai<br />

querer pôr seu capital em risco diante de uma situação duplamente benéfica: a de<br />

emprestador de recursos financeiros e executor da obra, ocorrência que determinará<br />

ganhos líquidos e certos para os que forem contratados.<br />

Essa nova modalidade de contrato, que ultrapassa o modelo de privatização e<br />

de concessão de serviços públicos ao setor privado, devidamente garantido pelo<br />

Orçamento-Geral da União, poderá ensejar uma corrida para a realização de obras<br />

no País, a serem pagas por toda a população brasileira, privilegiando algumas<br />

regiões em detrimento de outras.<br />

É uma situação anômala e complicada. Quais aos critérios que vão ser<br />

adotados para celebração de contrato de PPP de modo que se promova um certo<br />

equilíbrio entre as diversas regiões do País na aplicação de recursos? É uma<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

situação que precisa ser resolvida de forma equilibrada, sob pena de prejuízo para<br />

uma ou mais regiões. O volume de recursos por regiões é fundamental para que o<br />

OGU não seja “hipotecado” a empresas privadas em detrimento da destinação de<br />

recursos para áreas universais como as de educação e de saúde.<br />

A melhor hipótese contratual para a PPP seria a de grandes obras de caráter<br />

nacional. Mas o Brasil é um país muito grande. E obras públicas nem sempre têm<br />

caráter nacional. Como resolver essa questão? Essa me parece uma das mais<br />

graves distorções que a PPP poderá ensejar se os contratos forem definidos<br />

exclusivamente pela força dos Estados mais poderosos, como, aliás, sempre<br />

prevaleceu na distribuição de verbas no Orçamento da União. Já se praticaram as<br />

injustiças mais profundas contra milhares de Municípios e regiões mais pobres. É<br />

preciso que essas injustiças não sejam exacerbadas, o que seria muito ruim para um<br />

grupo político que assumiu o poder em nome e sob a bandeira do socialismo e logo<br />

em seguida optou pelas regras mais duras do capitalismo.<br />

Sr. Presidente, manifesto apreensão e dúvida com relação ao Programa de<br />

Parceria Público-Privada. É claro que o Orçamento da União já é utilizado para<br />

financiar obras públicas, mas tenho muita dúvida quanto à exeqüibilidade desse<br />

programa, que é, a priori, de iniciativa do próprio Poder Executivo, que executa<br />

algumas obras onde mais lhe convier politicamente.<br />

A alocação de verbas envolve um amplo debate público de cada emenda<br />

incluída no Orçamento da União ou quando originária do Poder Executivo. Num país<br />

grande como o Brasil, fazer obras fora da modalidade de concessões públicas ou de<br />

privatizações, como autorizado pela lei, pode exacerbar as grandes diferenças nos<br />

investimentos públicos.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Está me parecendo que haverá uma hipoteca dos recursos da União em favor<br />

de empresas privadas, que duplamente terão as funções de financiadoras e<br />

executoras de obras, o que significará uma vantagem extraordinária sobre qualquer<br />

empresa que não tenha participação nesse programa ou dele possa participar.<br />

Podemos aprofundar as injustiças já acontecem hoje no Brasil na aplicação<br />

de verbas públicas do Orçamento da União. Hoje milhares de Municípios não<br />

recebem nada do Orçamento da União, salvo as transferências ordinárias para todos<br />

os Municípios brasileiros: o Fundo de Participação dos Municípios, os recursos do<br />

FUNDEF e da área da saúde.<br />

A PPP pode aprofundar injustiças. Se os recursos da União serão<br />

abocanhados pelas empresas para execução do programa, milhares de obras serão<br />

executadas em benefício de determinadas regiões, em detrimento de outras. Como<br />

os investimentos já são poucos, poderá ocorrer uma vantagem em favor de grandes<br />

Municípios e de regiões que mais pesam politicamente no Congresso Nacional.<br />

Essa é uma distorção que tende a ocorrer em programa dessa natureza. Esse<br />

programa só seria exeqüível, do ponto de vista da justiça distributiva de recursos do<br />

Orçamento da União, se envolvesse obras de caráter nacional. Grandes<br />

empreendimentos na área de energia elétrica que beneficiassem regiões inteiras<br />

poderiam ser feitos com recursos previamente hipotecados no Orçamento da União,<br />

dentro da visão do Programa de Parceria Público-Privada. Obras pequenas e<br />

médias trariam benefícios para determinados Municípios e regiões em detrimento da<br />

grande maioria dos Municípios brasileiros.<br />

Essa matéria será analisada pela Câmara dos Deputados. Não há marco<br />

regulatório nem lei que discipline a execução desse programa. Será uma matéria<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

bastante discutida. Temo que esse programa beneficie grandes empresas, em<br />

detrimento não apenas das pequenas empresas, mas da maioria do povo brasileiro.<br />

É um risco muito grande alocar recursos para beneficiar grandes empresas<br />

em detrimento de pequena e da maioria do povo brasileiro. O País precisa<br />

estabelecer prioridades concretas em benefício do povo e da população mais pobre.<br />

Sr. Presidente, solicito a V.Exa. que meu pronunciamento seja divulgado<br />

pelos órgãos de comunicação da Casa.<br />

Muito obrigado.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. WASHINGTON LUIZ (PT-MA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, faço este pronunciamento para celebrar 2 datas<br />

muito especiais: o Dia do Servidor Público — 28 de outubro — e o aniversário de 13<br />

anos do Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Maranhão — SINDSEP/MA,<br />

que ocorrerá em 1º de novembro.<br />

Parabenizo todos os servidores, em especial as companheiras e os<br />

companheiros do Maranhão, com os quais convivo desde a fundação do SINDSEP,<br />

em 1990. Na minha trajetória no movimento sindical, devo muito ao aprendizado que<br />

tive nas lutas junto aos servidores, que antes da Constituição de 1998 não tinham<br />

amparo legal para se organizarem em sindicatos. Foi com muita luta que<br />

conquistamos este direito e ampliamos os benefícios da categoria, como a<br />

instituição do Regime Jurídico Único (RJU), planos de cargos e carreiras, seguridade<br />

social, auxílio-alimentação e tantos outros.<br />

Esses avanços, no entanto, começaram a ser desregulamentados no<br />

Governo anterior. Durante 8 anos, servidores públicos federais foram seguidamente<br />

atacados em seus direitos. No projeto de reforma do Estado concebido pelo<br />

Governo neoliberal, os serviços públicos foram paulatinamente desmontados.<br />

Criaram as agências executivas, em relação às quais estamos enfrentando muitas<br />

dificuldades no atual Governo. Instituíram a concepção do Estado ineficiente e da<br />

precariedade do servidor para ceder espaço às forças do mercado em setores<br />

estratégicos para o desenvolvimento do País.<br />

Todo esse projeto de desmonte do Estado atingiu em cheio os servidores<br />

públicos. Além de serem submetidos a um arrocho salarial de 8 anos, ainda foram<br />

punidos com a retirada de vários direitos. Durante as campanhas salariais, a<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público (CONDSEF) sequer era<br />

recebida pelo Governo para negociar a pauta de reivindicações, na maioria das<br />

vezes protocolada no Ministério do Planejamento.<br />

Sr. Presidente, essa conduta está mudando. No Governo Lula, os servidores<br />

esperam receber novo tratamento. Com a instalação da Mesa Nacional de<br />

Negociação Permanente, foi assinado protocolo em que se afirma “o<br />

reconhecimento de que a democratização das relações de trabalho, tanto no setor<br />

público como no setor privado, constitui verdadeiro pressuposto para a<br />

democratização do Estado, para o aprofundamento da democracia e para a garantia<br />

do exercício pleno de direitos de cidadania em nosso País”. A composição deste<br />

fórum de debate comprova o que se afirma acima. Fazem parte da Mesa Nacional<br />

de Negociação Permanente 6 Ministérios e 18 representações sindicais da<br />

categoria. Todas as representações foram escolhidas livremente pelas partes.<br />

Pretende-se, num médio prazo, criar condições para implantar um novo projeto de<br />

serviço público, em que a questão central seja a valorização do servidor e o<br />

atendimento às demandas da sociedade.<br />

Manifesto minha preocupação pelo fato de a Mesa de Negociação não se<br />

reunir há alguns meses. Após a realização de 6 reuniões, desde julho não mais<br />

houve reunião. Existe a informação que ainda este mês ocorrerá novo encontro da<br />

Mesa de Negociação, o que espero que aconteça. Dentro da Mesa Nacional de<br />

Negociação Permanente foram criadas as Comissões Temáticas, para debater e<br />

negociar questões específicas.<br />

O Governo Lula reconhece a defasagem salarial e as restrições que foram<br />

impostas à categoria e investe no processo de revitalização dos serviços públicos e<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

em nova política de recursos humanos, visando colocar o aparelho estatal a serviço<br />

de todo o povo. Uma primeira iniciativa já foi tomada, o reajuste de 33% no<br />

auxílio-alimentação, antiga reivindicação dos servidores que vinha se arrastando há<br />

vários anos. Ainda é pouco se considerarmos a grande defasagem no poder<br />

aquisitivo da categoria.<br />

Governo.<br />

Portanto, a Mesa Nacional de Negociação deve ser uma prioridade do<br />

É fundamental ainda definir as diretrizes de plano de carreira, para que os<br />

servidores possam ter ascensão funcional através de concurso interno, valorizando<br />

ainda a qualificação profissional, estimulando a produtividade e a auto-estima da<br />

categoria.<br />

Outra questão fundamental é a garantia de um plano de saúde para os<br />

servidores federais. Neste aspecto, reconhecemos o esforço do Governo para<br />

celebrar convênio da Administração Pública com a GEAP — Fundação de<br />

Seguridade Social, à medida que os convênios forem sendo encerrados nos<br />

diversos órgãos.<br />

Por iniciativa deste mandato, levamos ao Maranhão o então Secretário de<br />

Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Luís Fernando Silva,<br />

companheiro advogado do movimento sindical que conhece profundamente a<br />

realidade do serviço público, para participar de um seminário com os servidores<br />

federais. Na oportunidade, ele esclareceu os principais pontos da nova política de<br />

recursos humanos e o projeto de serviço público que está em curso no Governo<br />

Lula.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Essas mudanças visam, num primeiro plano, atender às demandas<br />

emergenciais da categoria e, num contexto mais amplo, reestruturar o Estado<br />

brasileiro para criar condições de retomada do crescimento econômico. As reformas<br />

em fase de aprovação e as que começarão a tramitar — como a reforma sindical e a<br />

trabalhista — são fundamentais para que possamos acabar com a visão retrógrada<br />

do sindicalismo getulista, herdeiro do Estado Novo, e modernizar as relações de<br />

trabalho.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, reitero minhas felicitações pela<br />

passagem do Dia do Servidor Público, 28 de outubro, e pelos 13 anos do Sindicato<br />

dos Servidores Públicos Federais no Maranhão — SINDSEP/MA, entidade que<br />

ajudei a fundar e que me proporcionou grande aprendizado. O SINDSEP Maranhão<br />

começou numa pequena sala alugada e hoje é a maior entidade filiada à CUT no<br />

Maranhão. Tem cerca de <strong>10</strong> mil servidores na base, mais de 8 mil filiados, com sede<br />

própria em São Luís e <strong>10</strong> Secretarias Regionais nas principais microrregiões do<br />

Maranhão.<br />

Meus parabéns aos servidores federais de todo o Brasil, especialmente das<br />

regiões de Imperatriz, Pedreiras, Santa Inês/Pindaré, Balsas, Presidente Dutra,<br />

Chapadinha, Pinheiro, Caxias, Codó e São João dos Patos, que no dia 1º de<br />

novembro estarão comemorando os 13 anos do SINDSEP.<br />

Parabéns, servidor público!<br />

Parabéns, SINDSEP Maranhão!<br />

Muito obrigado.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

A SRA. ANN PONTES (PMDB-PA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, todos temos conhecimento de que uma das<br />

áreas de atendimento mais carentes no Brasil é o sistema de saúde pública.<br />

O cidadão que chega a qualquer espaço de atendimento de saúde, já<br />

fragilizado pelo sofrimento que o aflige, se ressente de um atendimento mais<br />

humanizado e eficaz.<br />

Realidade mais inquietante é o fato de grande parte dos Municípios do Norte<br />

e do Nordeste não conseguirem sequer manter um médico para fazer o atendimento<br />

clínico. No Pará, há Municípios que pagam até R$ 14 mil para manter um médico na<br />

cidade, e não conseguem fazê-lo por muito tempo.<br />

O Brasil precisa dar atenção mais do que especial à saúde, para que esse<br />

setor seja operacionalizado com maior eficácia, aliviando, assim, a dor de cabeça<br />

que isso causa ao Governo e à Nação.<br />

Mas, Sr. Presidente, discurso sem recurso é placebo de curtíssima duração.<br />

Quero, com a confiança que deposito no Presidente Lula, manifestar o meu<br />

descontentamento com o corte de mais de 4 bilhões do Ministério da Saúde no<br />

Orçamento de 2004.<br />

O Ministério do Planejamento precisa se curvar à necessidade do cidadão,<br />

orientação do próprio Presidente da República, e encontrar formas de realocar<br />

recursos de outras áreas para acudir o Fundo de Combate e Erradicação da<br />

Pobreza.<br />

As atividades do Fundo são providenciais, mas não podem ser tangidas com<br />

recursos que poderão deixar à míngua pacientes do sistema de saúde. As ações<br />

devem ser paralelas, e não concorrentes.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Esta Casa deve reagir com eficácia contra esta fórmula do Ministério do<br />

Planejamento que inclui como despesas de saúde os custos do Fundo de Combate<br />

e Erradicação da Pobreza.<br />

Está claro que as atividades do Fundo podem ser interpretadas como ações<br />

de saúde, mas, para efeitos contábeis, incluir os custos deste como despesas do<br />

Ministério correspondente é um desserviço ao setor.<br />

É necessária ação imediata da Câmara dos Deputados para que o Ministério<br />

do Planejamento volte atrás, pois, apesar das pressões que o Parlamento está<br />

exercendo, o Ministro Guido Mantega continua afirmando que a proposta do<br />

Governo está dentro da lei.<br />

Não se deve tratar a questão do ponto de vista jurídico. O fato é que, à guisa<br />

de fechar as contas, o Ministério do Planejamento foi tirar a prova dos nove em um<br />

setor que está perto de zero.<br />

Se o Ministro Mantega descer do seu patamar da aritmética pura e voltar os<br />

olhos às necessidades da Nação, com certeza usará sua habilidade para tirar esses<br />

mais de R$ 4 bilhões de outro local: não se deve tirar de onde muito ainda falta.<br />

Não é o meu intuito incentivar a abertura de uma crise entre o Planejamento e<br />

a Saúde, mas nossa solidariedade fica aqui manifestada ao Ministro Humberto<br />

Costa, e, ao mesmo tempo, cobro dele todo empenho para que sua Pasta não fique<br />

prejudicada.<br />

Não adianta cobrir um santo deixando o outro mal vestido, quando os 2<br />

precisam fazer milagres todos os dias.<br />

Há muitas coisas na República que são supérfluas e precisam ser cortadas. O<br />

Governo precisa ter a coragem de cortar certos privilégios da burocracia.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Com certeza, esses privilégios somados e devidamente apartados cobrem os<br />

4 bilhões de reais de que o Planejamento precisa para operacionalizar o Fundo de<br />

Combate e Erradicação da Pobreza: o sacrifício deve ser de todos e não só do<br />

Ministério da Saúde.<br />

O Planejamento optou pela solução mais fácil e não atentou para uma<br />

indicação do próprio Presidente Lula: realizar o Fome Zero sem prejudicar a Saúde.<br />

Esta Casa, Sr. Presidente, precisa ser mais agressiva em ocasiões como<br />

esta, em que a tecnocracia fria dos números ignora a sociedade.<br />

Nós, representantes do povo brasileiro, não devemos permitir que uma<br />

operação contábil possa repercutir, no mais longínquo rincão da nossa terra, como<br />

falta de antibiótico.<br />

O Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza precisa ser efetivamente<br />

implantado, mas o meio que o Ministério do Planejamento encontrou para alocar os<br />

recursos necessários não justifica a finalidade para a qual ele está proposto.<br />

O que está sendo feito é tirar do pobre, com uma mão, para lhe devolver com<br />

a mesma mão.<br />

Neste propósito, as contas de fato ficam zeradas.<br />

Ninguém ganha coisa alguma: simplesmente estar-se-á vendendo o almoço,<br />

por 4 bilhões de reais, para, pelos mesmos 4 bilhões de reais, comprar o jantar.<br />

Sr. Presidente, solicito a V.Exa. mande divulgar este pronunciamento em A<br />

Voz do Brasil e no Jornal da Câmara.<br />

Muito obrigada.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Durante o discurso da Sra. Ann Pontes, o Sr.<br />

Nilson Mourão, § 2º do art. 18 do Regimento Interno,<br />

deixa a cadeira da presidência, que é ocupada pelo Sr.<br />

Washington Luiz, § 2º do art. 18 do Regimento Interno.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Concedo a palavra ao Deputado<br />

Nilson Mourão.<br />

O SR. NILSON MOURÃO (PT-AC. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, o Estatuto do Desarmamento, aprovado ontem nesta Casa,<br />

representa extraordinário avanço da sociedade brasileira na busca da construção de<br />

uma democracia social, da cidadania e de um processo de civilização que vai ser<br />

exemplo para muitos países do mundo.<br />

Esse projeto estava encalhado nesta Casa há mais de <strong>10</strong> anos, e precisamos<br />

divulgá-lo para o povo brasileiro, porque, sob a corajosa iniciativa e determinação do<br />

Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Deputado Luiz Eduardo<br />

Greenhalgh, e o apoio do Presidente João Paulo e da maioria desta Casa, tivemos<br />

coragem de aprová-lo. Ao fazê-lo, a Câmara dos Deputados demonstrou estar em<br />

sintonia com o povo brasileiro. De fato, Sr. Presidente, desde as grandes metrópoles<br />

até as pequenas cidades do interior, cada família tem uma tragédia para contar.<br />

Crianças foram colhidas por balas perdidas, algumas morreram, outras ficaram<br />

paraplégicas ou tetraplégicas, inteiramente prejudicadas para o resto da vida. Foram<br />

atingidas pessoas de idade, estudantes.<br />

Quantas vítimas inocentes foram tragicamente atingidas em nosso País? É o<br />

uso e o abuso das armas. Podemos constatar a extrema facilidade e liberalidade na<br />

aquisição de armas, o abuso das polícias e corporações militares no uso das armas,<br />

o tráfico de drogas, a compra na clandestinidade de armas utilizadas para praticar<br />

mortes e violência.<br />

Sr. Presidente, com a aprovação dessa lei essa situação terá paradeiro. Não<br />

tenho a ilusão de que a desmedida violência vai se encerrar, mas estou convencido<br />

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de que impusemos limite que permitirá, a partir de agora, com bases concretas,<br />

trabalharmos uma cultura de paz e de não violência. É disso que a sociedade<br />

brasileira precisa. Enganam-se e iludem-se redondamente aqueles que se sentem<br />

seguros armados. Ao contrário, todas as pesquisas no Brasil e em todo o mundo<br />

indicam que quanto mais pessoas armadas, mais violência se comete. Imaginem<br />

V.Exas. pessoas armadas quando provocadas. A reação natural é responder pela<br />

armas, e, assim, diante de fatos corriqueiros do dia-a-dia, haverá muitas mortes<br />

trágicas.<br />

O Estatuto do Desarmamento vai fazer história, na medida em que o Sistema<br />

Nacional de Armas vai cadastrar as armas de fogo produzidas e vendidas no País. O<br />

porte de arma fica proibido em todo o território nacional, para menores de 25 anos,<br />

salvo para as Forças Armadas e a Polícia, entre outros.<br />

Sr. Presidente, podemos acompanhar, através da imprensa, crianças que<br />

utilizam armas e, involuntariamente, matam colegas e até irmãos. As autorizações<br />

para porte de arma já concedidas expirarão em 90 dias após a publicação da lei.<br />

Por fim, a grande novidade para o País é o referendo popular sobre a<br />

proibição do comércio de armas. Esta Câmara dos Deputados contribuiu<br />

enormemente com o povo brasileiro ao ter coragem de aprovar o texto do Estatuto<br />

do Desarmamento. Esta geração e as futuras serão capazes de dimensionar o<br />

quanto de democracia, de cidadania, de cultura de paz e de não violência foi<br />

concretizado no momento em que aprovamos essa lei que dormia há mais de <strong>10</strong><br />

anos.<br />

Parabéns, Câmara dos Deputados! Parabéns, povo brasileiro!<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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A SRA. ANGELA GUA<strong>DA</strong>GNIN - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

A SRA. ANGELA GUA<strong>DA</strong>GNIN (PT-SP. Pela ordem. Sem revisão da<br />

oradora.) - Sr. Presidente, o Deputado Nilson Mourão acabou de se pronunciar<br />

sobre o Estatuto do Desarmamento, aprovado ontem nesta Casa, após <strong>10</strong> anos.<br />

No início desta Legislatura, estamos vivenciando a aprovação de diversos<br />

projetos engavetados há tempos, como o de Lei de Falências, o Estatuto do Idoso e<br />

o Estatuto do Desarmamento.<br />

Em pronunciamentos sobre o projeto, muitos Parlamentares argumentaram<br />

que a pesquisa apresentada era falsa, que desarmar não iria reduzir a violência.<br />

Mas inúmeros e-mails foram enviados ao meu gabinete e inúmeras manifestações<br />

por meio do Disque-Câmara foram feitas solicitando que nós, Parlamentares,<br />

votássemos a favor do desarmamento, para conseguirmos uma cultura de paz.<br />

Mourão.<br />

É minha manifestação, apenas para reforçar as palavras do Deputado Nilson<br />

O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Está feito o registro, Deputada<br />

Angela Guadagnin.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Concedo a palavra ao Deputado<br />

Luiz Alberto, que dispõe de 5 minutos.<br />

O SR. LUIZ ALBERTO (PT-BA. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, venho falar hoje sobre o trabalho que vem sendo<br />

desenvolvido pelo companheiro Deputado Vicentinho, do PT de São Paulo, que<br />

preside a Comissão Especial de Reforma Trabalhista e Sindical.<br />

Essa Comissão adotou uma metodologia de trabalho que tem permitido o<br />

amplo debate da proposta de reforma trabalhista e sindical no País.<br />

Sr. Presidente, na qualidade de membro da Comissão, participei, no final da<br />

semana passada, de um grande debate na Bahia, que envolveu representações<br />

sindicais daquele Estado e de Sergipe. Também contamos com a presença das<br />

centrais sindicais, como a Central Única dos Trabalhadores, a Força Sindical e a<br />

CGT, além da Federação Baiana das Indústrias. Estiveram presentes ainda o<br />

Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe e várias lideranças<br />

populares.<br />

Uma das questões mais discutidas foi a necessidade de se fazer uma reforma<br />

sindical e principalmente uma reforma trabalhista para garantir e consolidar os<br />

direitos dos trabalhadores. Houve também um levantamento das diversas<br />

legislações, dos diversos atos do Governo do Presidente Fernando Henrique<br />

Cardoso que flexibilizaram as relações de trabalho no Brasil e geraram graves<br />

prejuízos para os trabalhadores. Uma das conseqüências dessa chamada<br />

flexibilização dos direitos trabalhistas foi a diminuição do poder de compra dos<br />

assalariados, porque na verdade criou-se um ambiente de precariedade do trabalho<br />

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e conseqüentemente de diminuição dos salários, particularmente no setor de<br />

serviços.<br />

Outra preocupação levantada pelas centrais sindicais refere-se à legislação<br />

sindical. Tem sido constatado que os patrões criam cada vez mais dificuldades para<br />

os trabalhadores. Lembro aqui que o Governo Fernando Henrique Cardoso inclusive<br />

se posicionou no sentido de impedir a livre organização e a livre manifestação do<br />

movimento sindical. Um exemplo típico, que contaminou até o Judiciário, ocorreu na<br />

Bahia, onde o Judiciário deferiu liminar proibindo o sindicato dos trabalhadores do<br />

setor químico-petroleiro de realizar assembléias em frente às fábricas do Pólo<br />

Petroquímico de Camaçari, atentando assim contra a liberdade sindical.<br />

É nesse ambiente que precisamos debater profundamente a questão, que<br />

envolve o patronato e os trabalhadores urbanos e rurais, para fazermos uma reforma<br />

trabalhista e sindical que confirme o disposto na Constituição, garantindo a liberdade<br />

de organização sindical e ao mesmo tempo, na legislação trabalhista, o direito dos<br />

trabalhadores, daqueles que estão empregados, de avançarem mais.<br />

Com o capitalismo internacionalizado, num ambiente globalizado, cada vez<br />

mais o capital vai querer, para continuar a explorar, que não haja regras. E muitas<br />

vezes as pessoas citam como referência a legislação dos países do Primeiro Mundo,<br />

mas não se dispõem a discutir as condições sociais, as condições de trabalho e de<br />

salário nesses países. Referem-se somente à legislação que retira direitos dos<br />

trabalhadores e fragiliza o trabalho.<br />

Este, portanto, é um momento importante. Na Bahia, eu e o Deputado Daniel<br />

Almeida, do PCdoB daquele Estado, numa audiência pública em que houve bastante<br />

participação, demonstramos que a sociedade brasileira responde quando chamada<br />

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a debater importantes questões. Esta, Sr. Presidente, é uma das marcas<br />

importantes do Governo Lula: chamar o povo para o debate das questões estruturais<br />

do País. Dessa forma, os brasileiros conscientizam-se da sua co-responsabilidade<br />

pela busca de soluções para a Nação.<br />

Herdamos um país em que durante 500 anos a elite sempre mandou,<br />

comandou e utilizou a máquina do Estado a seu serviço, fazendo com que<br />

ostentássemos os indicadores sociais mais perversos do mundo, o maior índice de<br />

exclusão social. Evidentemente, nem em <strong>10</strong> meses, nem em 1 ano o Governo terá<br />

condições de resolver todos os problemas acumulados nesse período.<br />

Este o registro que tinha a fazer sobre o trabalho do nosso companheiro<br />

Vicentinho, Presidente da Comissão Especial de Reforma Trabalhista e Sindical.<br />

Dentro de alguns minutos voltarei à tribuna para falar sobre um tema importante<br />

para a Região Nordeste: a recriação da SUDENE, que desempenhará fundamental<br />

papel para o desenvolvimento nacional.<br />

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O SR. CHICO ALENCAR (PT-RJ. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, funcionários do Legislativo que garantem esta sessão,<br />

mudei de lado fisicamente, mas continuo com a mesma visão e esperança que me<br />

unem aos Deputados Luiz Alberto e João Grandão: a de que este Governo<br />

realmente transformará o País.<br />

Um pequeno passo foi dado ontem. Vamos eliminar o mito de que o Estatuto<br />

do Desarmamento acabará com a violência no Brasil ou será decisivo para que isso<br />

aconteça. Não. Estamos redefinindo o Sistema Nacional de Armas. E as medidas,<br />

no geral, são muito boas. É evidente que quanto mais a sociedade profissionalizar<br />

os serviços de segurança pública, equipar as suas polícias e trabalhar com a<br />

investigação e a inteligência, mais eficientes serão. O caldo de cultura degenerada<br />

que leva à violência é o processo de desagregação da sociedade brasileira devido<br />

ao desemprego, à injustiça e, principalmente, à quebra de valores fundamentais<br />

como a fraternidade e a solidariedade. Quando um jovem procura a droga como<br />

ânimo para a sua vida, está procurando loucamente, de forma destrutiva, um sentido<br />

para a sua própria existência, que a sociedade do ter, do consumo não dá. Portanto,<br />

a mudança fundamental para reduzirmos os níveis de violência na sociedade<br />

humana é muito mais demorada e estrutural.<br />

Jean Jacques Rousseau disse que tudo começou quando uma pessoa, julgando-se<br />

mais esperta do que as outras, resolveu cercar um terreno, apropriar-se da mina<br />

d’água, afirmar ser sua e encontrar gente suficientemente tola, desinformada, para<br />

acreditar naquilo. A fundação da desapropriação coletiva, portanto, da propriedade<br />

privada de um bem comum, é a origem de todas as injustiças sociais ao longo da<br />

caminhada da humanidade.<br />

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O Estatuto do Desarmamento, obviamente, não trata disso, mas é um<br />

pequeno degrau para começarmos a reparar essa desagregação da sociedade<br />

brasileira. Daí a importância do referendo, que não pode ser jogado para as<br />

calendas gregas.<br />

Eu e o Deputado Fernando Gabeira temos a idéia de que o referendo poderia<br />

ser realizado, perfeitamente, no dia das eleições municipais de 2004. Ele seria<br />

simples, para a população dizer “sim” ou “não” à lei aprovada nesta Casa, que<br />

voltará ao Senado Federal. Essa idéia derruba o argumento de que o referendo<br />

popular dá despesa, de que consumirá 500 milhões de reais de uma combalida<br />

economia, de um Erário tão maltratado como o nosso.<br />

Sr. Presidente, o que nós queremos é avançar e conseguimos dar esse<br />

pequeno passo. O que nós queremos é uma política de segurança pública<br />

inteligente, competente. Por isso, reitero aqui que a saída de Luiz Eduardo Soares<br />

da Secretaria Nacional de Segurança Pública foi uma grande perda para o Brasil. Se<br />

houve, como dizem, algum problema de licitação, que isso venha à luz. Sua<br />

ex-mulher, Dra. Bárbara Musumeci Soares, é uma pessoa competente, já foi<br />

Subsecretária de Segurança do Rio. Não dá para jogar com esse fato. Na verdade, a<br />

nossa cabeça machista, patriarcal, sempre quer ver a mulher em posição subalterna.<br />

Isso não tem nada a ver com nepotismo, que existe em larga escala no Brasil e é<br />

possível que exista inclusive em nosso Governo, porque vícios seculares não são<br />

superados tão rapidamente assim. Mas, neste caso, quem perde é a segurança<br />

pública do País.<br />

Por fim, Sr. Presidente, já alertado pelo cronômetro e agradecendo a<br />

generosidade de V.Exa., quero dizer que está se aproximando o mês de dezembro<br />

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e, com ele, a Semana dos Direitos Humanos. Uma bela campanha que a Comissão<br />

de Justiça e Paz da CNBB está propondo e quer realizar de forma ecumênica e<br />

ampla é exatamente começar a lançar os alicerces para uma cultura de justiça e paz<br />

no Brasil, para a superação de todas as violências.<br />

Nós estamos engajados nisso e vamos fazer com que esta Câmara assuma<br />

essa semana e essa cultura, para — aí, sim — podermos viver dias melhores.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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O SR. JOÃO GRANDÃO (PT-MS. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, o Deputado Luiz Alberto, discursando na tribuna há poucos<br />

instantes, referiu-se às discussões que estavam sendo travadas em torno da<br />

reforma trabalhista, num importante esforço conduzido por um Parlamentar que tem<br />

conhecimento de causa nessa área, o companheiro Vicentinho. Agora, gostaria de<br />

fazer alguns comentários, chamando a atenção da sociedade para um tema sobre o<br />

qual, na nossa avaliação, estão faltando mais debates: a questão dos transgênicos.<br />

Desde meu primeiro mandato temos tratado dessa matéria na Comissão da<br />

Agricultura. E hoje, Deputado Luiz Alberto, observamos uma situação de<br />

constrangimento, na divisa do Estado do Mato Grosso do Sul com o Estado do<br />

Paraná, em face da disposição do Governador Requião de fazer cumprir a lei em<br />

relação aos transgênicos.<br />

Minha origem é a agricultura familiar. Tive a felicidade de trabalhar na lavoura,<br />

na roça, até os 20 anos de idade, e sei o quanto é importante para o pequeno<br />

produtor rural a semente que ele pode plantar, guardar, trocar com o vizinho; é a<br />

chamada semente crioula. Nos dias de chuva, separávamos as sementes de milho;<br />

tirávamos as duas pontas da espiga e aproveitávamos as sementes do meio, que,<br />

no conhecimento do meu pai, era de melhor qualidade, e trocávamos com o vizinho.<br />

No ano seguinte plantávamos arroz, trocando sementes com outro vizinho. Hoje,<br />

porém, Sr. Presidente, vejo que estamos caminhando para uma situação que poderá<br />

gerar muito constrangimento para esses pequenos produtores que fazem a<br />

agricultura familiar.<br />

Lembro-me de quando morava no Município de Terra Rica, no interior do<br />

Paraná, precisamente no Distrito Adhemar de Barros, no Bairro Gleba Seca, onde<br />

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meu pai possuía uma propriedade. Depois viemos para o Mato Grosso do Sul, para<br />

a cidade de Viena. Lembro-me de quantas vezes meu pai trocou sementes com o<br />

vizinho ao lado, o Sr. Luiz Segantini, e também com o Sr. José Olerindo. Tudo era<br />

muito tranqüilo. Hoje vejo que os agricultores familiares estão ficando numa situação<br />

constrangedora, dada a interferência das multinacionais. Se não tivermos cuidado, a<br />

situação pode piorar.<br />

Quero deixar claro que não somos contra o avanço tecnológico; ao contrário,<br />

a tecnologia tem de ser empregada em todos os setores. Ela é importante, embora<br />

provoque o desemprego. Não podemos mudar essa realidade. Mas temos que<br />

discutir, e muito, a questão dos transgênicos. Quando se trata de uma máquina, de<br />

um computador, por exemplo, se determinado avanço tecnológico causar algum<br />

problema, poderemos alterar, melhorar, fazer o que quisermos com o programa; já<br />

com os transgênicos, não, porque as células são alteradas de forma irreversível. E<br />

podemos citar o exemplo da soja transgênica, que tem a resistência do Roundup<br />

Ready. Portanto, essa questão tem que ser muito bem debatida. Temos que aplicar<br />

o princípio da precaução.<br />

Imaginem se um produto originário dos organismos geneticamente<br />

modificados causar algum problema à saúde. Aí não se trata de uma máquina ou de<br />

um programa de computador. Aí estamos mexendo com vida, com o ser humano,<br />

com a alimentação humana.<br />

Sr. Presidente, peço apenas um pouco mais de tempo para concluir meu<br />

raciocínio. Quero falar da importância de aprovarmos no Congresso Nacional uma<br />

lei de biossegurança, mas depois de discutirmos amplamente o projeto com a<br />

sociedade, com técnicos, com cientistas, sempre respeitando a soberania nacional.<br />

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Não podemos imaginar que o controle das sementes fique com uma ou duas<br />

empresas. Hoje sabemos, por exemplo, que o controle da tecnologia dos<br />

germoplasmas do milho está praticamente todo ele com a Monsanto.<br />

Sr. Presidente, sou da base do Governo. Tenho o maior orgulho de pertencer<br />

ao Partido dos Trabalhadores. Trabalhei muito para ajudar a construir este<br />

momento, para que o Partido dos Trabalhadores assumisse o Governo,<br />

evidentemente com a ajuda dos partidos aliados. Há muito tempo milito no PT. Mas<br />

quero fazer um apelo ao grande companheiro Lula, ao grande companheiro José<br />

Dirceu e a todos os companheiros de partido: vamos debater mais a transgenia.<br />

Podemos conviver com essa tecnologia sem deixar de proteger nossa soberania e<br />

nossa agricultura familiar.<br />

A criação da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Biossegurança e pelo<br />

Princípio da Precaução é uma demonstração de que os Parlamentares brasileiros<br />

estão ouvindo os clamores da sociedade civil, que, por intermédio de suas<br />

organizações, está manifestando sua preocupação com a liberação dos cultivos<br />

transgênicos.<br />

Essa Frente é o elo que faltava entre a entidades que lutam contra os<br />

transgênicos e os Parlamentares brasileiros, que firmam posição no sentido de exigir<br />

um mais amplo debate dessa questão que tanto preocupa a sociedade atual, não só<br />

no Brasil como nos países desenvolvidos, que há muito tempo não aceitam a<br />

imposição dos alimentos geneticamente modificados.<br />

A Frente Parlamentar já nasce forte, com a participação de Deputados,<br />

Senadores e organizações não-governamentais. Esse grupo tem a missão de influir<br />

decisivamente no debate acerca da produção comercial dos produtos geneticamente<br />

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modificados e de acompanhar os projetos de lei sobre o assunto que tramitam na<br />

Casa, além de realizar debates e seminários sobre a clonagem, a bioética, e<br />

fortalecer ainda mais a relação dos Deputados com a sociedade civil.<br />

Senhores, a Frente Parlamentar, que deverá escolher na próxima semana os<br />

seus coordenadores, tem a grande responsabilidade de ser a ponta de lança na<br />

defesa da sociedade contra os organismos geneticamente modificados, elevando ao<br />

máximo o princípio da precaução, ressaltando a necessidade de pesquisa sobre o<br />

impacto desses produtos na saúde humana e no meio ambiente.<br />

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.<br />

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O SR. CORONEL ALVES (Bloco/PL-AP. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Deputado Washington Luiz, antes de passar ao meu discurso, quero<br />

registrar que o Estado de V.Exa., o Maranhão, sempre recebe com muito calor todos<br />

aqueles que o visitam. O povo maranhense é muito bom, assim como todo o povo<br />

brasileiro.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, esta semana travamos nesta<br />

Casa calorosa discussão acerca do chamado Estatuto do Desarmamento. Houve<br />

muitas reivindicações, muitos gritos, aborrecimentos. Nós, do Partido Liberal,<br />

acreditamos que será um grande avanço para a sociedade brasileira a aprovação do<br />

Estatuto do Desarmamento. O povo brasileiro é pacifista, ordeiro, quer progredir,<br />

dando a outros povos exemplo de grande nação que é. E o maior exemplo é<br />

estarmos todos desarmados.<br />

Mas, se estamos desarmados do espírito de guerra, da combatividade,<br />

porque queremos progredir como nação, não podemos estar desarmados na defesa<br />

da nossa sociedade. São 2 situações diferentes. Temos espírito desarmado,<br />

queremos ver nossas crianças felizes, os pais de família tranqüilos — e o Partido<br />

Liberal quer a sociedade brasileira cada dia mais feliz —, mas não podemos nos<br />

esquecer da nossa responsabilidade com a proteção da população brasileira. E<br />

nesse campo destaca-se uma categoria que dedica a própria vida ao combate à<br />

criminalidade. Refiro-me aos policiais militares, aos policiais civis federais e<br />

estaduais, aos guardas municipais, aos bombeiros. Aumenta agora o nosso dever<br />

de proporcionar à sociedade brasileira a tão esperada paz social.<br />

Sr. Presidente, o Estatuto do Desarmamento não vai trazer de volta a<br />

tranqüilidade que todos desejamos, mas será uma ferramenta a favor da população.<br />

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Sabemos que a segurança pública não depende apenas do combate à<br />

criminalidade. São muito importantes também as políticas públicas de educação, de<br />

saúde, de geração de empregos, de diminuição das desigualdades. Na falta de<br />

políticas públicas adequadas, aumenta o consumo de drogas, o contrabando, a<br />

violência.<br />

Sabedor disso e preocupado com a segurança do povo brasileiro, o Governo<br />

investe com muita dedicação em programas sociais, para que os agentes da<br />

segurança pública tenham tranqüilidade para fazer a sua parte.<br />

A votação do Estatuto do Desarmamento é mais uma luta desta Casa em<br />

defesa do cidadão, daquele cidadão que cumpre os seus deveres. É esse o<br />

entendimento da grande maioria desta Casa. Se conseguirmos combater<br />

efetivamente a criminalidade nas fronteiras, diminuindo o contrabando de armas e o<br />

tráfico de drogas, o Estatuto do Desarmamento será mencionado no futuro apenas<br />

como uma lembrança, porque o próprio cidadão não vai querer saber de armas.<br />

Quando o campo estiver pacificado, livre de movimentos como o dos sem-terra, que<br />

muitas vezes invade propriedades conquistadas ao longo de anos, não<br />

precisaremos nos preocupar com a execução do Estatuto do Desarmamento, porque<br />

o Estado brasileiro dará à sua sociedade a segurança necessária.<br />

Que venha o Estatuto do Desarmamento, mas, junto com ele, o aumento da<br />

responsabilidade do Estado e da sociedade brasileira no combate à criminalidade.<br />

Sr. Presidente, faço um apelo ao Governo, em especial ao Ministro da Justiça,<br />

Sr. Márcio Thomaz Bastos, a propósito da mudança do Secretário Nacional de<br />

Segurança Pública, ocorrida esta semana, para que não tenham solução de<br />

continuidade os convênios que já estão prontos para ser assinados; que sejam<br />

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finalmente oficializados com mais de 14 Estados brasileiros, como é o caso do<br />

Amapá e do Rio de Janeiro. Há um ano aguardamos essa medida.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. GILBERTO NASCIMENTO (PMDB-SP. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, funcionários da Taquigrafia, demais funcionários<br />

desta Casa, venho hoje à tribuna apresentar projeto de lei relativo à proibição da<br />

criação de cachorros da raça pit bull, projeto esse que apresentei também à<br />

Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo numa época em que estava<br />

havendo um grande número de ataques, como voltou a acontecer nos últimos 2<br />

meses, deixando várias vítimas. E embora esse projeto tenha causado certa<br />

polêmica, pesquisas realizadas pelos meios comunicação, sobretudo jornais e<br />

emissoras de rádio, revelaram que a maioria da população era favorável a ele.<br />

Sr. Presidente, o pit bull é um animal violento. À semelhança dos vegetais<br />

transgênicos, é um animal geneticamente modificado, criado especificamente para a<br />

rinha com touros. Para que os senhores tenham uma idéia, esse cachorro, de cerca<br />

de 30 quilos, é capaz de matar um touro em aproximadamente 5 minutos. Quando<br />

ataca, normalmente atinge a jugular da vítima, matando-a imediatamente. Nos<br />

últimos anos essa raça foi muito difundida no Brasil, e acabou sendo comercializada<br />

com muita rapidez exatamente por essa característica de violência. Muitas pessoas<br />

acham que manter um animal desses dentro de um terreno ou dentro de casa<br />

representa proteção.<br />

Esse cão pode exercer com sua mandíbula uma força de aproximadamente<br />

500 quilos. Quando morde o braço de uma pessoa pode pressionar a ponto de<br />

decepar o membro. Há poucos dias uma moradora de rua de São Paulo foi atacada<br />

e morta por um pit bull. Houve vários outros casos semelhantes no Estado. Ainda<br />

ontem tivemos notícia de que uma criança foi atacada. O animal praticamente<br />

arrancou seu couro cabeludo. Normalmente esse cão avança na garganta, no<br />

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pescoço da vítima, que muitas vezes, ao tentar defender-se, acaba sendo atingida<br />

na cabeça.<br />

Infelizmente, Sr. Presidente, está na moda possuir um cão dessa raça. É<br />

muito comum nas grandes cidades rapazes lutadores de jiu-jitsu andarem com um<br />

pit bull do lado. Às vezes até tatuam no corpo a figura desse cachorro, para<br />

parecerem mais violentos. Alguns, principalmente os mais jovens, ficam muito<br />

satisfeitos quando as pessoas que passam na calçada demonstram medo do seu pit<br />

bull. Essa raça já está sendo até usada em assaltos, principalmente em São Paulo.<br />

Enfim, é um cão que tem feito muitas vítimas, matado muita gente. Na França e na<br />

Inglaterra sua criação foi proibida. Como o pit bull vive em média entre <strong>10</strong> e 12 anos<br />

e lá a esterilização hoje é obrigatória, a tendência é que daqui a aproximadamente<br />

uma década já não existam mais pit bulls nesses países. Também a lei francesa,<br />

assim como prevê o nosso projeto, proíbe o comércio interno e a importação dessa<br />

raça, e inclusive de outros cães de guarda. Enfim, para que os senhores tenham<br />

uma idéia do grau de periculosidade desses cães, na Inglaterra eles são<br />

enquadrados na mesma categoria das armas de fogo. Como esta Casa aprovou<br />

ontem o Estatuto do Desarmamento, provavelmente este seja o grande momento de<br />

estudarmos o assunto, porque realmente o pit bull é uma arma perigosa.<br />

Nos Estados Unidos o dono do cão não raro é condenado à prisão em regime<br />

fechado se ocorrer ataque de que decorra morte ou lesão corporal de natureza<br />

grave.<br />

Na Alemanha essa raça também está sendo proibida.<br />

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No Brasil, estamos apresentando esse projeto que dispõe sobre o<br />

impedimento da comercialização, da reprodução e da importação de cães da raça pit<br />

bull e dá outras providências.<br />

Está, portanto, apresentado o projeto, e em outro momento vou voltar a falar<br />

sobre ele. Entendo que meus pares nesta Casa, depois de analisá-lo, haverão de<br />

emitir parecer favorável. E espero que com essa medida possamos estar salvando<br />

muitas vítimas, como tentamos fazer em São Paulo, onde, infelizmente, depois de<br />

um grande trabalho, aprovado o projeto, a lei foi vetada pelo Chefe do Executivo.<br />

Espero que esta Casa aprove o nosso projeto para que o Executivo possa<br />

sancioná-lo. Se assim tivesse acontecido no Estado de São Paulo e em outros<br />

Estados do Brasil, hoje as muitas pessoas que foram vítimas dessa raça, como nos<br />

últimos dias, ainda estariam desfrutando a vida entre seus familiares.<br />

Muito obrigado e um bom dia a todos.<br />

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O SR. JOÃO GRANDÃO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. JOÃO GRANDÃO (PT-MS. Pela ordem. Pronuncia o seguinte<br />

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a criação da Frente Parlamentar<br />

Mista em Defesa da Biossegurança e pelo Principio da Precaução é uma<br />

demonstração de que os Parlamentares brasileiros estão ouvindo os clamores da<br />

sociedade civil, que através de suas organizações está preocupada com a liberação<br />

dos cultivos transgênicos.<br />

Essa frente é o elo que faltava entre a entidades que lutam contra os<br />

transgênicos e os Parlamentares brasileiros que estão com posição firme no sentido<br />

de exigir maior debate em torno da questão, que tanto preocupa a sociedade atual,<br />

não só no Brasil, como nos países desenvolvidos, que há muito tempo não aceitam<br />

a imposição dos alimentos geneticamente modificados.<br />

A Frente Parlamentar já nasce forte, com a participação de Deputados,<br />

Senadores e organizações não governamentais. Esse grupo tem a missão de influir<br />

decisivamente no debate acerca da produção comercial dos produtos geneticamente<br />

modificados e acompanhar projetos de lei sobre o assunto que tramitam na Casa,<br />

realizar debates, seminários sobre clonagem e bioética e fortalecer ainda mais a<br />

relação dos Deputados com a sociedade civil.<br />

Srs. Deputados, a Frente Parlamentar, que deverá escolher na próxima<br />

semana os seus coordenadores, tem a grande responsabilidade de ser a<br />

ponta-de-lança na defesa da sociedade contra os organismos geneticamente<br />

modificados, elevando ao máximo o principio da precaução e da pesquisa sobre o<br />

impacto desses produtos para a saúde humana e o meio ambiente.<br />

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Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, gostaria que este pronunciamento<br />

fosse divulgado nos órgãos de comunicação da Casa.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Concedo a palavra ao Sr. Deputado<br />

Paes Landim.<br />

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Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

DISCURSO DO SR. DEPUTADO PAES LANDIM QUE, ENTREGUE À<br />

REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.<br />

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O SR. MAURÍCIO RABELO (Bloco/PL-TO. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, companheiros de trabalho da Câmara dos<br />

Deputados, é com muito orgulho e satisfação que ocupamos mais uma vez esta<br />

tribuna para render uma homenagem especial a 2 cidades que fizeram aniversário<br />

ontem. São cidades muito importantes para mim e, com certeza, para o povo de<br />

Tocantins, meu Estado, e do Brasil. Uma delas é Paraíso do Tocantins, fundada no<br />

dia 23 de outubro. Faço uma saudação especial a esse Município que acolhe gente<br />

de todos os lugares do Brasil.<br />

Paraíso é verdadeiramente um paraíso, uma cidade acolhedora e calma. Está<br />

situada às margens da Rodovia Belém—Brasília, de tráfego muito intenso. Mesmo<br />

assim, a cidade é tranqüila e seu povo hospitaleiro. Deixo aqui minha saudação a<br />

toda a gente de Paraíso do Tocantins, um lugar que ficou eternizado na voz de<br />

Evandro Mesquita, da banda Blitz, que escreveu, nos anos 80, a canção A Dois<br />

Passos do Paraíso. Do plenário da Câmara dos Deputados presto esta minha<br />

homenagem a essa cidade que mora em nossos corações. Ao seu Prefeito, Hider<br />

Alencar, e à Primeira-Dama, Dra. Ana Alencar, a nossa saudação. E falo em nome<br />

de toda a bancada federal do Tocantins, liderada por nosso querido Senador<br />

Eduardo Siqueira Campos, nosso eterno Governador, e pelo atual Governador,<br />

Marcelo Miranda.<br />

Minhas congratulações ao povo de Paraíso do Tocantins. Desejo que essa<br />

cidade esteja sempre se desenvolvendo e oferecendo melhores condições de vida à<br />

sua gente.<br />

Parabéns, Paraíso! Parabéns, Tocantins!<br />

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Quero homenagear também, na data de hoje — queria tê-lo feito ontem, mas<br />

tivemos debates muito importantes na Câmara e o tempo foi pequeno —, o Dr.<br />

Condim e a Dra. Rita, Prefeito e Primeira-Dama de Monte do Carmo, o eterno<br />

Principado do Carmo, no Tocantins, próximo à Serra Geral. Um abraço muito<br />

carinhoso para Monte do Carmo, onde tive orgulho de ter sido o Deputado Federal<br />

mais votado. Uma saudação muito especial ao Prefeito, à Primeira-Dama, aos<br />

Vereadores, às Lideranças e ao povo daquela região que está, com certeza, em<br />

festa, nessa cidade tão alegre e tão importante para todos nós, onde o turismo e a<br />

agricultura são as principais molas da economia.<br />

Parabéns, Monte do Carmo!<br />

Para encerrar, Sr. Presidente, quero falar de uma preocupação dos<br />

caminhoneiros e das pessoas que se deslocam de Brasília para Goiás, Tocantins,<br />

Maranhão, Pará ou Piauí. Saindo aqui de Brasília, ao invés de seguirem por<br />

Anápolis, as pessoas prosseguem pela rodovia que passa por Padre Bernardo, por<br />

Dois Irmãos do Tocantins, por Barro Alto, utilizando esse atalho para economizar<br />

120 quilômetros de percurso. E não entendemos por que até hoje permanecem não<br />

asfaltados 30 quilômetros dessa estrada. Muitos caminhoneiros já foram assaltados<br />

nesse trecho e ninguém passa por ali à noite. Quando era radialista, eu já ouvia os<br />

reclamos dos caminhoneiros, através das ondas da Rádio Nacional. Tantas vidas já<br />

foram perdidas ali! Amigos meus, como o Sr. Raimundo e a D. Lana, foram<br />

humilhados por assaltantes naquele trecho.<br />

Ora, trata-se de uma rodovia de grande importância para o Norte e o<br />

Nordeste do Brasil. Como disse, são 120 quilômetros de atalho, o que nos permite<br />

economizar tempo e combustível. Mas entra Governo, sai Governo, muda o Governo<br />

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Estadual, muda o Federal, e nada é feito. Os caminhões têm manter uma velocidade<br />

de 5 quilômetros por hora naquele trecho!<br />

Peço ao Ministro Anderson Adauto, do meu partido, o PL, e ao Presidente da<br />

República que ouçam essas pessoas, que vêm sendo ameaçadas por bandidos. Às<br />

20h há um verdadeiro toque de silêncio ali. Ninguém se arrisca a transitar por aquela<br />

rodovia que passa por Padre Bernardo e Barro Alto. Eu mesmo, sempre que passo<br />

por lá, sinto medo. Não só os caminhoneiros; todos os motoristas que circulam por lá<br />

têm razão de sentir medo. Não sabemos se existe algum lobby de cidades mais<br />

importantes, como Anápolis, no sentido de que não haja tráfego de veículos ali.<br />

Mais uma vez, peço ao Ministro dos Transportes e ao Presidente da<br />

República que tenham sensibilidade e lembrem que muitas pessoas precisam dessa<br />

rodovia, que serve a Tocantins, a Goiás e ao Brasil.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Passa-se ao<br />

V - GRANDE EXPEDIENTE<br />

Concedo a palavra ao Sr. Deputado Luiz Alberto.<br />

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O SR. LUIZ ALBERTO (PT-BA. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, tramita na Casa projeto de lei complementar que recria a<br />

SUDENE. É a chamada nova SUDENE. Esse projeto de lei está em Comissão<br />

Especial cujo Relator é o Deputado Zezéu Ribeiro, do PT da Bahia. Na condição de<br />

membro da Comissão, tenho participado de alguns debates. Algumas audiências<br />

públicas têm sido realizadas em todo o Nordeste.<br />

O Governo Federal lançou, em julho do presente ano, o esperado<br />

documento-base para a recriação da SUDENE. Desde então, foi possível<br />

discutirmos, de forma objetiva, este que é um dos temos da maior importância não<br />

só para os nordestinos, mas para todos os brasileiros.<br />

O texto da proposta da nova SUDENE chama a atenção para o conceito de<br />

planejamento adotado, agora visto como “uma aposta no futuro”, que “lida com<br />

decisões em ambiente de alta incerteza”. Planejar é, portanto, para os idealizadores<br />

da nova SUDENE, orientar o processo de tomada de decisões em torno de<br />

propostas e objetivos variados, com base em um referencial flexível.<br />

É digna de nota também, Sr. Presidente, na formatação da nova SUDENE, a<br />

visão do planejamento regional como "uma negociação da sociedade que planeja,<br />

confrontando percepções da realidade, vontades e expectativas com o que se<br />

pretende alcançar no futuro". Porém, o verdadeiro diferencial, em relação ao antigo<br />

modelo, consiste, em nossa opinião, no reconhecimento de que, na busca do<br />

desenvolvimento almejado para o Nordeste por todos os brasileiros, a dimensão<br />

econômica terá que conviver com 3 aspectos importantes da realidade regional, que<br />

são: as dimensões ambiental, social e cultural do desenvolvimento.<br />

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Questão importante inserida logo no início do documento elaborado pelo<br />

Ministério da Integração Nacional, através do grupo de trabalho interministerial (GTI)<br />

sob coordenação da economista Tânia Bacelar, diz respeito ao modelo institucional<br />

proposto para a nova SUDENE. A idéia é que o órgão venha a praticar o<br />

planejamento sobre novas bases, abrindo mão da postura rigidamente burocrática<br />

do passado. Fala-se em "planejamento participativo", entendido como um "processo<br />

em rede", no qual as decisões passam a ser negociadas e compartilhadas pelos<br />

governos e pelas diferentes instituições e classes sociais. Isso deverá levar a<br />

instituição a optar, no plano regional, por novas formas de gestão do<br />

desenvolvimento com base naquilo que o documento ministerial define como<br />

"co-responsabilidade entre a administração pública, nos seus diversos níveis, e o<br />

setor empresarial, os representantes dos trabalhadores e da sociedade em geral".<br />

A política regional que se quer implantar no Nordeste, a partir da nova<br />

SUDENE, terá, portanto, como meta, a construção do desenvolvimento sustentável<br />

na região. A chamada "eficácia social" funcionará, por seu turno, como referencial e<br />

critério "valorativo" da eficiência econômica, que é vista como condição para se<br />

promover a inserção da base produtiva da região nos mercados nacional e<br />

internacional.<br />

Aqui é bom ressaltar, Sras. e Srs. Deputados, que, ao invés de simplesmente<br />

optar por perseguir taxas crescentes de crescimento da produção, como ocorreu no<br />

passado, o modelo de desenvolvimento para o Nordeste que se pretende adotar a<br />

partir da nova SUDENE dará prioridade à geração, para milhões de nordestinos — e<br />

aqui reproduzimos, textualmente, as palavras do documento oficial do Ministério da<br />

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Integração Nacional — "de oportunidades de inserção digna na vida produtiva,<br />

social, cultural e política do País".<br />

Enfatizamos esse aspecto da proposta, Sr. Presidente, porque, ao longo dos<br />

séculos, é exatamente a possibilidade de inserção na vida social, cultural e política<br />

do País que tem sido sistematicamente negada à imensa maioria dos nordestinos,<br />

por parte tanto dos governos, como das instituições já criadas e recriadas com o<br />

objetivo de mudar o destino do Nordeste.<br />

O Ministério da Integração Nacional reconhece, ao absorver a proposta do<br />

grupo de trabalho para a recriação da SUDENE, a gravidade do problema da<br />

exclusão social, que atinge o País como um todo, mas que vem assumindo uma<br />

conotação cada vez mais dramática e cruel, ao longo dos séculos, para o povo<br />

nordestino. O Ministério entende, ao mesmo tempo, que o fato de o mundo haver<br />

passado por mudanças radicais, nos últimos 30 anos, em conseqüência do processo<br />

de globalização, contribui para tornar ainda mais complexa a tarefa do Governo<br />

Federal na busca de uma nova estratégia de desenvolvimento para o Nordeste.<br />

Com efeito, sabe-se que as características desse novo paradigma do<br />

desenvolvimento pressupõem mudanças não só nas condições de competitividade<br />

das nações, no cenário mundial, como nos espaços internos destinados a cada uma<br />

delas. E, como já enfatizava e alertava, há mais de 4 décadas, o eminente geógrafo<br />

baiano Milton Santos, falecido há pouco tempo e reconhecido internacionalmente<br />

como um dos maiores teóricos da Geografia Humana da atualidade, quanto menor a<br />

escala do lugar, mais complexas são as variáveis que incidem sobre o processo de<br />

organização do espaço, tanto do ponto de vista humano, como do econômico e do<br />

social.<br />

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Isso quer dizer, Sras. e Srs. Deputados, que não é apenas em nível nacional,<br />

estadual ou regional que o espaço geográfico sofre os impactos do processo de<br />

globalização da economia mundial. Esses impactos fazem-se sentir, mais que tudo,<br />

no nível dos microespaços nacionais, em especial daqueles ainda não preparados<br />

para competir e assimilar as novas transformações provocadas pelas mudanças<br />

inerentes à globalização.<br />

O documento-base para a discussão do formato da nova SUDENE<br />

reconhece, com acerto, a importância das variáveis locais na formatação de um<br />

novo modelo de desenvolvimento regional para o País. Tanto que ressalta, dentro do<br />

novo paradigma capitalista representado pela globalização, as condições de<br />

competitividade das nações e dos lugares (entendidos, nesse caso, como os<br />

diversos espaços econômicos internos das nações), que passam a depender, cada<br />

vez mais, das vantagens em conhecimento e informação, da tecnologia e dos<br />

recursos humanos, da capacidade de inovação e da qualidade e excelência do<br />

produto ou serviço que se pode oferecer ao mercado.<br />

A essa lista de requisitos para inserção no novo mercado globalizado o<br />

documento ministerial agrega ainda fatores como a "sustentabilidade ambiental" e o<br />

chamado "capital social", este último tido como uma das "dimensões" e um dos<br />

"fatores intangíveis da produção", ao lado da tecnologia, do conhecimento, das<br />

instituições, da organização e da cooperação.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ao analisar as questões colocadas<br />

pelo Ministério da Integração Nacional na discussão do formato da nova SUDENE,<br />

torna-se impossível não refletir sobre a situação do Nordeste e as suas reais<br />

chances de competição e inserção no mundo globalizado. O texto admite que a<br />

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propagação do novo padrão de desenvolvimento no espaço mundial, a partir da<br />

globalização, "depende das condições estruturais de cada país ou região". Disso vai<br />

depender também a configuração que vai assumir a nova divisão do trabalho em<br />

cada lugar atingido. Nesse caso, regiões com maior nível educacional e melhor<br />

qualificação dos recursos humanos tendem a ser mais favorecidas.<br />

O documento em questão reconhece ainda que, como a densidade de<br />

conhecimento e qualificação técnico-profissional distribui-se de forma desigual no<br />

território brasileiro, o processo de globalização apresenta a tendência de reforçar a<br />

concentração econômica em determinados espaços, que seriam, no caso, aqueles<br />

mais bem preparados e equipados, em termos de recursos materiais, humanos e<br />

institucionais, para oferecer respostas mais rápidas a cada nova solicitação dos<br />

mercados, tanto em nível nacional como no mundial.<br />

Sabemos que, no Brasil, o conhecimento e a qualificação técnico-profissional<br />

e, conseqüentemente, os investimentos ainda se encontram distribuídos de forma<br />

desigual no território. A tendência natural do processo de globalização é, portanto,<br />

reforçar a concentração econômica, de recursos e de condições favoráveis à<br />

produção nos locais onde o grau de desenvolvimento humano, tecnológico e social<br />

lhe são mais favoráveis. Isso acaba por gerar círculos viciosos de investimentos,<br />

concentração de fatores de produção e riqueza, que diferenciam as regiões e os<br />

lugares, tornando-os mais competitivos e, portanto, mais atrativos e dinâmicos, do<br />

ponto de vista econômico. Quebrar esses círculos viciosos constitui, em nossa<br />

opinião, o maior desafio a ser enfrentado pela nova SUDENE.<br />

O modelo de desenvolvimento regional que se quer traçar para o Brasil, a<br />

partir da criação da nova SUDENE, pode sim, Sr. Presidente, acabar de uma vez por<br />

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todas com a sensação de "continuísmo" que sempre acabou permeando cada nova<br />

tentativa de mudar os rumos do planejamento regional no Brasil. O espaço<br />

nordestino, a despeito dos seus problemas seculares, tem lugares fortemente<br />

interligados às dinâmicas nacional e mundial. O problema é que a essas frações do<br />

todo subsistem, paralelamente, alguns pontos específicos com dificuldades de<br />

inserção. À nova SUDENE caberá, portanto, o desafio de promover a adequada<br />

articulação do espaço nordestino, como um todo, com o espaço nacional e<br />

internacional, em novas bases, para a promoção efetiva de seu desenvolvimento<br />

sustentável.<br />

No que respeita à globalização, tida muitas vezes como um fenômeno de<br />

caráter concentrador e excludente, sabe-se que, convenientemente assimilada, ela<br />

pode contribuir para ativar e estimular projetos de desenvolvimento em escala<br />

regional. De acordo com o documento elaborado pelo grupo de trabalho<br />

interministerial citado, o que se precisa ter em mente, para tanto, é que as<br />

possibilidades de cada região são muito diferenciadas e desiguais tanto interna<br />

como externamente. Daí a importância de conhecer e explorar, convenientemente,<br />

os aspectos positivos da diversidade nordestina, dela tirando o maior proveito<br />

possível, em favor da população que ali vive.<br />

Aqui, cabe-nos ressaltar que essa percepção clara das possibilidades da<br />

região frente às recentes transformações na economia e na sociedade nordestina só<br />

foi possível devido ao processo democrático, participativo e extremamente<br />

competente da construção do documento do GTI coordenado pela economista Tânia<br />

Bacelar.<br />

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A importância da SUDENE para o Nordeste, nos últimos 40 anos, é<br />

incontestável. Sem ela, grandes projetos que expandiram e modernizaram a<br />

agricultura e a indústria regional não teriam sido realizados com sucesso. Mas as<br />

conquistas obtidas até agora ainda não foram capazes de reduzir as imensas<br />

barreiras que continuam separando o setor produtivo nordestino da sua realidade<br />

social. De antemão, cabe-nos registrar que a história tem demonstrado que o<br />

principal obstáculo ao pleno desenvolvimento das estruturas produtivas do Nordeste<br />

foi a apropriação, por parte das elites dominantes e das oligarquias rurais e urbanas,<br />

dos instrumentos e mecanismos institucionais criados para a superação dos<br />

problemas regionais, inclusive a SUDENE<br />

Daí a importância da decisão do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de<br />

reinstituir, sobre novas bases, um sistema de planejamento regional para o<br />

Nordeste.<br />

No cumprimento dessa tarefa, a concentração da terra e da renda funcionam<br />

como uma barreira que, necessariamente, terá de ser transposta. A disseminação<br />

do desenvolvimento tecnológico também ainda é pontual, e os índices de pobreza<br />

continuam sendo os mais altos do País, assim como é baixa a produtividade no<br />

trabalho. No semi-árido, que representa 53% do território regional e abriga 43% da<br />

população nordestina, a seca e a estiagem continuam assumindo conotações<br />

dramáticas. O Nordeste do Brasil possui a região semi-árida de maior densidade<br />

populacional do planeta dentre as regiões semi-áridas residentes. Em conseqüência,<br />

a baixa produtividade da agricultura só consegue garantir, quando muito, a<br />

subsistência da população local. Tudo isso representa, portanto, imensos desafios a<br />

serem enfrentados pela nova SUDENE.<br />

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Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

A reforma tributária em curso prevê a criação de um fundo regional. É<br />

importante que esse fundo seja efetivamente utilizado como suporte financeiro para<br />

o desenvolvimento local, vedando-se a possibilidade de fraudes, como as verificadas<br />

no passado da instituição, quando denúncias até hoje nunca totalmente apuradas e<br />

esclarecidas apontavam inclusive para o uso, no financiamento de campanhas<br />

eleitorais, de verbas oficialmente liberadas para a implementação de projetos.<br />

Para atingir de fato sua real finalidade, o projeto da nova SUDENE não pode<br />

prescindir, portanto, de um modelo de distribuição de recursos em que a moralidade<br />

seja o principal imperativo. É necessário que se criem instrumentos de blindagem<br />

contra a corrupção, que, no passado, representou a verdadeira desgraça da<br />

instituição. Há que repensar, também, os critérios de análise e avaliação de projetos,<br />

de forma que a decisão final sobre sua aprovação possa ser tomada por câmaras<br />

setoriais representativas de diversos setores da sociedade, nas quais a ação de<br />

grupos de interesse políticos e empresariais não possa encontrar ambiente para<br />

atuar como no passado recente da autarquia. As decisões sobre o destino dos<br />

recursos públicos devem ser descentralizadas e discutidas de forma o mais<br />

transparente possível, no âmbito intra-regional, onde as oligarquias ainda teimam<br />

em persistir, para que não tenhamos novamente, Sr. Presidente, a concentração de<br />

recursos naqueles Estados que mais articuladamente buscam a apropriação de<br />

maiores fatias dos recursos públicos.<br />

É importante lembrar que, a despeito do inegável peso que representam as<br />

questões de natureza econômica e financeira na proposta de criação da nova<br />

SUDENE, a sustentabilidade dessa proposta só estará plenamente garantida se<br />

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atentar para um aspecto da maior importância no contexto social nordestino: as<br />

desigualdades de raça e gênero que ainda predominam, com muita força, na região.<br />

Ouço, com prazer, o aparte do nobre Deputado João Magno.<br />

O Sr. João Magno - Deputado Luiz Alberto, estou feliz por V.Exa. ter<br />

escolhido tema de tamanha relevância não só para o Nordeste, como para todo o<br />

País, tendo em vista a degeneração de conduta dos governos anteriores, de modo<br />

tristemente particular o de Fernando Henrique Cardoso, que agiu de maneira<br />

inteiramente inadequada em relação àquele órgão histórico de tamanha importância<br />

para o Brasil: tentando de alguma maneira ludibriar a opinião pública, mudou o nome<br />

da instituição para ADENE, como se, ao fazê-lo, pudesse livrar-se das denúncias de<br />

descompromisso, descuido e corrupção, comprovadas diante de toda a sociedade e<br />

fartamente publicadas pela imprensa brasileira. V.Exa. traz à memória este triste<br />

quadro. E, naturalmente, aponta para o Governo Lula a responsabilidade de recriar a<br />

SUDENE. Eu confio nesta nova SUDENE, especialmente porque trabalho<br />

diretamente com 2 regiões de Minas Gerais que têm o menor índice de<br />

desenvolvimento humano do Brasil, o Vale do Jequitinhonha e o Vale do Mucuri. A<br />

SUDENE tem dado frutos muito positivos para o povo dessa região e certamente, no<br />

Governo Lula, continuará a fazê-lo. Por isso, parabenizo V.Exa. pela distinta e<br />

positiva maneira como vem trabalhando o assunto, visando não só dar apoio ao<br />

Presidente Lula e aos Ministros afins para que façam uma SUDENE<br />

verdadeiramente comprometida com projetos e programas para o Nordeste, mas<br />

também fazer com que todos saibam que esta Casa, inclusive V.Exa., está vigilante<br />

para que nenhum descaminho venha acontecer neste projeto tão importante para o<br />

Brasil: a realização de uma nova SUDENE.<br />

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O SR. LUIZ ALBERTO - Agradeço a V.Exa., companheiro João Magno, a<br />

contribuição que me oferece nesta análise que faço acerca da criação da nova<br />

SUDENE. O Presidente Lula, em sendo nordestino e comprometido com as causas<br />

populares do Brasil, com certeza entende a importância da recriação desse órgão.<br />

Continuo, Sr. Presidente. Se fizermos um recorte dos indicadores sociais a<br />

partir de critérios de raça e gênero, vamos ver que as mulheres e os<br />

afro-descendentes estão em flagrante situação de desvantagem, numa ordem de<br />

prioridades que não é diferente do que ocorria na África do Sul do apartheid. Em<br />

primeiro lugar na escala de acessos a oportunidades vem o homem branco; em<br />

segundo lugar, a mulher branca; depois o homem negro e, por último, a mulher<br />

negra. É assim a realidade do Nordeste do Brasil.<br />

O Nordeste é a região que concentra cerca de 70% da população negra do<br />

Brasil. Aos instrumentos de promoção do seu desenvolvimento é preciso incorporar,<br />

portanto, além dos mecanismos institucionais formais destinados a combater as<br />

desigualdades sociais e econômicas locais, sob um ponto de vista geral, propostas<br />

específicas de combate às desigualdades de raça e gênero. Não há possibilidade da<br />

implementação de políticas públicas eficazes e efetivas no Brasil, em particular na<br />

Região Nordeste, sem um tratamento adequado e um recorte bem definido das<br />

relações de raça e de gênero. Nesse sentido, a Secretaria de Promoção de<br />

Igualdade Racial e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres devem ser<br />

membros permanentes — sugestão que estamos encaminhando ao Governo<br />

Federal — do conselho deliberativo da nova SUDENE.<br />

A idéia de sustentabilidade defendida pelo Ministério da Integração Nacional,<br />

na formatação da nova SUDENE, está, a rigor, bastante correta. As intenções são<br />

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as melhores possíveis. Mas poderá ser melhorada e ampliada se ultrapassar o<br />

marco das questões de natureza puramente econômica e ambiental, atingindo<br />

também aspectos da sustentabilidade política, social e institucional.<br />

Sr. Presidente, encerro reafirmando a importância, para o cenário nacional,<br />

doe ato político do Presidente Lula de resgatar o Nordeste. Esta Casa, com certeza<br />

absoluta, saberá contribuir com o projeto de lei complementar que tramita na<br />

Comissão Especial a que me referi no início, apresentando propostas que avancem<br />

mais ainda e levem à compreensão de que o Nordeste não é um problema para o<br />

Brasil, mas pode transformar-se numa solução para os problemas que enfrentamos.<br />

Muito obrigado.<br />

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O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Concedo a palavra ao Sr. Deputado<br />

João Magno, que dispõe de 25 minutos para o seu pronunciamento.<br />

O SR. JOÃO MAGNO (PT-MG. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, no Brasil de hoje, marcado por profundas<br />

desigualdades sociais e econômicas e também por maneiras distintas de se<br />

conceber um futuro diferente do nosso passado histórico, podemos dizer que existe<br />

um consenso: é chegada a hora de encararmos de frente o problema da fome e da<br />

exclusão social do nosso povo.<br />

Não se trata de tarefa fácil e com resultados instantâneos, mesmo tendo o<br />

Presidente Lula lançado esta bandeira como sendo o grande legado de seu<br />

Governo. Mas este é um projeto apresentado à Nação durante a campanha e que<br />

vem se transformando em um programa de participação solidária da sociedade<br />

brasileira como nunca se viu na nossa história.<br />

Por seu significado verdadeiramente revolucionário, esse processo de<br />

transformação requer de todos nós muita reflexão, persistência e determinação.<br />

A luta contra a fome possibilita atingir o núcleo da exclusão social brasileira.<br />

Não são meras políticas assistencialistas que apenas vão minimizar o problema. Ao<br />

contrário, no seu conteúdo mais íntimo e abrangente, vai possibilitar o ataque a uma<br />

realidade crônica e infeliz.<br />

O Fome Zero busca uma solução combinada para a fome e a exclusão social<br />

e, ao mesmo tempo, para a agricultura familiar e o abastecimento; para a reforma<br />

agrária e o desenvolvimento das cidades e do campo; para a alfabetização do povo<br />

e a cidadania; para a sede de água e de justiça social.<br />

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Quem não entende e não compreende isso diz que o Fome Zero é uma<br />

jogada de marketing e que está fadado à demagogia. Mas esse alguém não<br />

conhece ou não quer conhecer o Brasil.<br />

Sou Deputado majoritário de uma das regiões com os piores índices de<br />

desenvolvimento humano no Brasil, a região dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha,<br />

em Minas Gerais. Pois bem, para quem não sabe, o Fome Zero já chegou para mais<br />

de <strong>10</strong>8 mil famílias de 162 Municípios daquela área, beneficiando cerca de 5<strong>10</strong> mil<br />

pessoas diretamente.<br />

É confortante, Sr. Presidente, chegar hoje no Vale do Jequitinhonha e ver o<br />

que já ocorre com as famílias, as crianças, os velhos, as mães, chamadas de viúvas<br />

de maridos vivos, porque a maior parte do homens vai para São Paulo ou outras<br />

regiões de Minas Gerais, onde tem colheita do café, por exemplo, visando buscar<br />

uma condição de vida melhor — e normalmente esses maridos não voltam mais.<br />

alcançar.<br />

Essa é apenas uma faceta do Jequitinhonha que esse programa vem<br />

Todos os Municípios com população inferior a 75 mil habitantes estão<br />

contemplados com o Cartão-Alimentação e já constituíram Comitês Gestores, que<br />

irão implementar as políticas de transferência direta de renda para as famílias com<br />

renda per capita inferior a meio salário mínimo.<br />

A grande mídia não diz, mas em Itinga, por exemplo, para onde o Presidente<br />

Lula fez questão de levar os seus Ministros, a fim de conhecerem de perto a<br />

realidade daquela população carente, as pessoas nas ruas, no comércio e nas<br />

casas usufruem do Cartão-Alimentação. A ponte sobre o Rio Jequitinhonha, ligando<br />

a cidade à BR-367 — reivindicação histórica da comunidade —, cuja construção foi<br />

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anunciada pelo Presidente Lula em janeiro, já começa a ser erguida com mão-de-<br />

obra local, representando novos empregos e renda na própria região.<br />

Quantas vezes o Presidente Lula atravessou de canoa o Rio Jequitinhonha?<br />

Nunca nenhum governante, seja Governador de Estado, seja Presidente da<br />

República, teve a sensibilidade de chegar lá e dizer: “Aqui, nós edificaremos uma<br />

ponte, porque Itinga e outras cidades circunvizinhas não podem ficar isoladas de<br />

qualquer assistência, de qualquer tipo de projeto que possa servir ao<br />

desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha”.<br />

A ponte já é uma realidade, Sr. Presidente. Não se trata de fazer menção à<br />

herança maldita de governos passados, mas, sim, de reconhecer que nenhum outro<br />

governante máximo deste País demonstrou, com tanta ênfase e em tão pouco<br />

tempo, a vontade política e o compromisso que são confirmados pelo Presidente<br />

Lula em suas principais ações na área social. Em pouco mais de 9 meses, o<br />

Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome já está<br />

beneficiando mais de 1,2 milhões de famílias com o Cartão-Alimentação em 1.227<br />

Municípios brasileiros.<br />

A Oposição costuma vir à tribuna para atacar o Fome Zero tachando-o de<br />

programa eleitoreiro, dizendo que ele ainda não aconteceu. São críticas totalmente<br />

desprovidas de fundamento. O campeão dessas bobagens é o PFL, que ainda não<br />

se colocou no lugar de oposição. Portanto, temos de vir a esta tribuna para falar de<br />

projetos de tamanha relevância para o País, como o programa Fome Zero.<br />

Sr. Presidente, entre as famílias beneficiadas com o Cartão-Alimentação<br />

incluem-se aquelas que estão em acampamentos de sem-terra, comunidades<br />

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indígenas e quilombolas, que também são vistos com prioridade agora, mas nunca<br />

foram tratados como tal ao longo da nossa história.<br />

É importante que se diga que o Fome Zero e o Cartão-Alimentação não<br />

representam apenas doação de toneladas de alimentos, pois estas ações de<br />

solidariedade visam ao atendimento emergencial da população mais necessitada no<br />

momento presente e abandonadas pelos Governos anteriores.<br />

Cabe aqui fazer um parêntese para elogiar a conduta do Ministro José<br />

Graziano à frente do Fome Zero. Mesmo recebendo forte resistência por parte da<br />

grande imprensa, o Ministro vem demonstrando ter a confiança do Presidente Lula<br />

para levar o programa a todas as regiões do País sem discriminações. A<br />

constituição dos alicerces de sustentação do Fome Zero, mobilizando os diversos<br />

setores sociais, os Estados e Municípios, é obra valiosa do Ministro Graziano,<br />

visando conferir legitimidade ao programa e impedir a sua utilização de forma<br />

politiqueira.<br />

Esta semana o Governo avançou ainda mais com o lançamento do<br />

Bolsa-Família, que unifica os programas de complementação de renda para a<br />

população, como o próprio Cartão-Alimentação, o Bolsa-Escola, o<br />

Bolsa-Alimentação e o Auxílio-Gás. O Bolsa-Família fortalece a agenda do Fome<br />

Zero, na medida em que amplia o acesso à alimentação e cria portas de saída para<br />

a situação de exclusão.<br />

Como o próprio nome diz, o Bolsa-Família garante proteção integral a todo<br />

grupo familiar, e não apenas a alguns dos seus membros. O valor dos benefícios<br />

pagos a cada família jamais irá diminuir, mas, sim, triplicar nos próximos meses.<br />

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Além disso, a integração com outros programas sociais desenvolvidos por Estados e<br />

Municípios irá criar mecanismos de sustentação social.<br />

Ainda em outubro, 1,2 milhões de famílias estarão integradas ao novo<br />

programa e até dezembro serão 3,6 milhões de famílias. A meta é atingir em 2006<br />

mais de 11 milhões de famílias, ou cerca de 50 milhões de pessoas, que poderão<br />

caminhar para uma vida digna e independente.<br />

Até 2006, Sr. Presidente, com certeza, o fantasma da fome será eliminado do<br />

conjunto da população brasileira basicamente por esse projeto humanista,<br />

inteligente, sensível, que só poderia vir de um Presidente que também teve esses<br />

tristes momentos pelos quais milhões de brasileiros passam hoje. S.Exa. teve fome<br />

em alguns momentos de sua vida e teve que sair do Nordeste junto com sua família<br />

para tentar viver melhor em São Paulo. Ele mesmo confessa essa sua experiência<br />

de vida.<br />

Somente pela sensibilidade e determinação do eleitorado brasileiro, o Brasil<br />

tem um Presidente capaz de enfrentar este monstro chamado fome, num País de<br />

tantas riquezas, onde tudo que se planta, colhe-se, num País privilegiado pela<br />

natureza.<br />

O Fome Zero vem com essa perspectiva, que posso chamar de humanitária e<br />

missionária, no bom sentido da palavra, de tirar milhões de irmãos brasileiros da<br />

situação de fome. E vem com uma boa concepção, com seriedade, retirando a<br />

perspectiva eleitoreira de suas ações, envolvendo toda a sociedade.<br />

Estamos convictos de que esse programa já está enraizado e vai combater de<br />

frente um dos maiores problemas das últimas décadas, que é a fome.<br />

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O Governo também vai duplicar o volume de recursos destinados aos<br />

programas atuais de transferência de renda devido ao aumento do número de<br />

famílias beneficiadas e do próprio valor que cada família passará a receber. No ano<br />

passado esse montante foi de 2,6 bilhões de reais. Este ano já são 4,3 bilhões de<br />

reais, um aumento de 65% em investimento. Em 2004, a previsão é de que o valor<br />

chegue a 5,3 bilhões de reais.<br />

Como diz o Presidente Lula, o Bolsa-Família aumenta os benefícios, mas<br />

aumenta também o compromisso e a responsabilidade das famílias atendidas com<br />

seu próprio futuro. Para receber ajuda do Governo, a família terá de manter em dia a<br />

caderneta de vacinação dos filhos, comprovar sua presença na escola, freqüentar os<br />

postos de saúde da rede pública e também participar das atividades de orientação<br />

alimentar, dos programas de alfabetização, dos cursos profissionalizantes e de<br />

outros a serem oferecidos pelo Governo.<br />

Por outro lado, a garantia de tais direitos sociais aumenta também a<br />

responsabilidade do Estado, pois as redes públicas de saúde e educação vão ser<br />

muito mais solicitadas e terão de ser cada vez mais fortalecidas e ampliadas.<br />

Em outras palavras, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, não há<br />

paternalismo do Governo Federal, mas, sim, o firme compromisso de envolver toda a<br />

sociedade civil — nos Estados e Municípios — em busca da superação de<br />

problemas crônicos do nosso povo.<br />

O Presidente Lula também tem dito que o sucesso do Fome Zero está<br />

estreitamente ligado ao grau de participação da sociedade nas diversas ações do<br />

programa. Vale ressaltar a grande contribuição da Justiça ao instituir o Juizado<br />

Especial Federal Itinerante.<br />

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Assim, quando o Líder de um país dá exemplo de solidariedade, de<br />

sensibilidade e de compromisso com as causas maiores do povo, gera em seu País<br />

energias positivas. O que fez Lula recentemente no Brasil foi levantar a auto-estima<br />

do povo brasileiro, dar uma sacudidela nas instituições e nas outras instâncias de<br />

poder deste nosso País. O Judiciário, que há tanto tempo vem penando devido ao<br />

desgaste de sua imagem, resolve, por meio da Justiça Federal, acompanhar, em<br />

fina sintonia, o movimento do Presidente Lula e já prepara seus juizados itinerantes<br />

— isso significa Justiça para pobre. O programa é totalmente voltado para os<br />

excluídos da sociedade, os cidadãos mais pobres, os idosos e idosas, os<br />

aposentados e aposentadas. O Juizado Itinerante amplia o atendimento almejado<br />

pela Lei nº <strong>10</strong>.259, de 2001, que criou o Juizado Especial Federal, abrindo ainda<br />

mais as portas da Justiça para aquelas pessoas que mais necessitam de justiça.<br />

O lançamento do Juizado Itinerante em Minas Gerais, promovido pelo<br />

Tribunal Regional Federal da 1ª Região, foi um grande acontecimento para a<br />

comunidade. Seja em Ipatinga, região metalúrgica, seja em Araçuaí, no Vale do<br />

Jequitinhonha, seja em Montes Claros, no norte de Minas, a população tem sido<br />

atendida com extrema agilidade, e têm sido solucionadas pendências antigas com<br />

simplicidade, objetividade e absoluta transparência, especialmente no que se refere<br />

a INSS, pensão, aposentadoria, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Os pobres<br />

tinham sempre de se deslocar para a Capital, e hoje vão 2 carretas até eles. Foi o<br />

que ocorreu em Ipatinga: foram até o lugar e por 5 dias fizeram audiências,<br />

levantaram os casos de aposentadoria difíceis, pendentes, os casos de pessoas<br />

enfermas e atenderam a 4 mil pessoas. A iniciativa é inédita no Brasil. Trata-se de<br />

sintonia entre as instâncias de Poder: o Judiciário, o Executivo, o Legislativo e a<br />

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Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

imprensa brasileira, que também é um poder — tomara que ela se sensibilize para a<br />

realidade hoje constatada no Fome Zero. Portanto, são os bons ventos que sopram<br />

no Brasil, levantando a auto-estima do povo, em razão da experiência, do exemplo e<br />

do compromisso do Presidente Lula.<br />

O programa do Juizado Especial Federal Itinerante é um braço fundamental<br />

para consagrar os avanços sociais almejados pelo Fome Zero, merecendo todo o<br />

apoio do Congresso Nacional, do Governo Federal e da sociedade, pois o problema<br />

da fome e pobreza no Brasil não pode ser entendido como fenômeno estatístico,<br />

biológico ou dogmático. Trata-se, na verdade, da conseqüência estrutural de um<br />

modelo perverso de desenvolvimento, que gera privilégios e desigualdades imensas.<br />

Seu enfrentamento requer, além de políticas governamentais sérias e corretas, a<br />

participação popular, para impedir que o projeto seja contaminado pelo vírus da<br />

corrupção e do favorecimento político.<br />

Nesse sentido, a atuação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e<br />

Nutricional — CONSEA é muito importante para mobilizar a sociedade e estimular a<br />

criação de conselhos estaduais e municipais de segurança alimentar, pré-requisito<br />

básico para a implantação bem-sucedida e confiável do Fome Zero.<br />

No caso da região do Mucuri e do Jequitinhonha, está em formação um<br />

consórcio de segurança alimentar e desenvolvimento local, que, reunindo 21<br />

Municípios, passarão a atuar de forma integrada para favorecer a geração de novas<br />

oportunidades de trabalho e geração de renda. A integração, que se dará inclusive<br />

por meio de uma rede informatizada, vai garantir o suporte necessário às atividades<br />

produtivas, elemento indispensável para o sucesso do programa na região.<br />

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Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Os bons resultados obtidos pelo Fome Zero em tão pouco tempo estão<br />

relacionados a 2 fatores em especial: a forte adesão da sociedade à luta e a gestão<br />

participativa do programa.<br />

Pesquisas recentes apontam que a fome é hoje a segunda maior<br />

preocupação dos brasileiros e brasileiras, o que comprova a legitimidade das ações<br />

que estão sendo implementadas. Mais de 60% da população confiam no Fome Zero<br />

e mais de 70% já contribuíram de alguma maneira ou pretendem contribuir com o<br />

programa. Em 8 meses, as doações financeiras ao Fome Zero ultrapassam 6<br />

milhões de reais, fruto do apoio das 83 empresas que se somaram em parceria com<br />

o Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar.<br />

Nas andanças que faço pelas cidades do Vale do Mucuri e do Vale do<br />

Jequitinhonha, constato, nos olhos de adultos, jovens, idosos e crianças, um novo<br />

brilho de esperança. Nos Governos passados, jamais essas pessoas foram<br />

contempladas com o mínimo de dignidade, atenção e respeito.<br />

Mas ainda há muitos obstáculos a serem superados. A começar pelo<br />

preconceito e a ignorância de Prefeitos, que, por sofrerem oposição local do PT e de<br />

partidos de esquerda, não são capazes de enxergar um palmo à frente de seus<br />

mesquinhos interesses particulares e passam a boicotar o programa. Com isso,<br />

quem agüenta as conseqüências é o povo sofrido, que continua marginalizado e<br />

desinformado.<br />

Se o Governo Federal necessita dos Estados para desenvolver as parcerias<br />

institucionais necessárias à implementação do Fome Zero, é fundamental que<br />

também os Municípios se engajem na causa.<br />

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Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Neste momento, Sr. Presidente, quero dizer que, diante da cegueira de<br />

Prefeitos de alguns Municípios, especialmente nos Vales do Mucuri e Jequitinhonha<br />

e em alguns Estados do Nordeste, que tentam negar essa realidade, é preciso que a<br />

população esteja cada vez mais presente, denunciando e cobrando a omissão de<br />

seus Prefeitos, porque eles têm o dever de se incorporar ao programa, que é sério,<br />

já está funcionando e apresentando resultados no sentido da superação do<br />

problema da fome.<br />

Portanto, a população precisa movimentar-se, mobilizar-se, exigir e<br />

denunciar, até aos Parlamentares desta Casa, para que Prefeitos, em alguns<br />

lugares, por visão e conduta mesquinhas de oposição, não venham a boicotar um<br />

programa dessa grandeza.<br />

O Brasil tem hoje cerca de 60 milhões de crianças, sendo que <strong>10</strong>% delas<br />

vivem em absoluta pobreza, de acordo com pesquisa do UNICEF, o Fundo das<br />

Nações Unidas para a Infância. O estudo mostra que essas 6 milhões de crianças<br />

carentes vivem em estado de grave degradação das condições humanas básicas,<br />

incluídos os itens alimentação, água, condições sanitárias, saúde, habitação,<br />

educação e informação.<br />

O Fome Zero vem justamente para modificar esse quadro dramático, na<br />

medida em que ataca emergencialmente as condições degradantes e fomenta<br />

soluções mais eficazes e permanentes.<br />

Não é por acaso que o Presidente Lula ganhou destaque internacional ao<br />

propor que os países ricos contribuam para um fundo que vise a combater a fome<br />

em todo o mundo — o Presidente Lula está na Espanha recebendo o Prêmio<br />

Príncipe das Astúrias, pelo importante papel que historicamente vem assumindo no<br />

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Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Brasil. Essa ousadia de um líder popular terceiro-mundista teve o respaldo do<br />

Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, que está conclamando os países<br />

membros da ONU a participar da aliança.<br />

O exemplo pragmático e consistente do Fome Zero no Brasil, tenho certeza,<br />

haverá de marcar a consciência da humanidade, para que em futuro breve<br />

possamos entoar em uma só voz para todo o mundo: “A nossa guerra é para salvar<br />

vidas humanas, para gerar prosperidade e esperança, para construir novas<br />

realidades com justiça social”.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

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Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Dando seqüência ao Grande<br />

Expediente, concedo a palavra ao nobre Deputado Francisco Rodrigues, do PFL de<br />

Roraima. S.Exa. dispõe de até 25 minutos.<br />

O SR. FRANCISCO RODRIGUES (PFL-RR. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, no último dia 5 de outubro, o Estado de Roraima<br />

comemorou 15 anos de sua criação.<br />

A Constituição Federal em vigor, promulgada no dia 5 de outubro de 1988, no<br />

seu art. 14, §§ 1°, 2° e 3° das Disposições Transitórias, transformou os Territórios<br />

Federais de Roraima e do Amapá em Estados, mantendo-se os limites geográficos<br />

de então.<br />

Muitas mudanças aconteceram desde aquela época, inclusive a implantação<br />

de eleição direta em todos os níveis, pois os governantes dos extintos Territórios<br />

Federais eram nomeados pelo Presidente da República. Roraima realizou sua<br />

primeira eleição governamental estadual em 1990, sagrando-se vencedor o<br />

ex-Governador do extinto Território Ottomar de Souza Pinto, que tomou posse no<br />

cargo no dia 1º de janeiro de 1991.<br />

Além disso, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, foram criados 3 cargos<br />

senatoriais, dentro do que também determina o art. 46, § 1º, da Constituição<br />

Federal.<br />

Como se percebe, longo caminho vem sendo percorrido por Roraima nesses<br />

15 anos de vida. Caminho de muitas dificuldades, com um sem-número de<br />

obstáculos a transpor, além de outras barreiras levantadas naturalmente, na<br />

dinâmica da existência diária.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O Estado de Roraima, localizado no extremo norte do País, faz fronteira com<br />

a Venezuela e a República Cooperativa da Guiana. É lá que se encontra o ponto<br />

mais setentrional do Brasil: o Monte Caburaí. Região de vastos recursos naturais e<br />

de enorme potencial turístico, possui a maior parte de seu território no Hemisfério<br />

Norte. Seu clima é equatorial, quente e úmido, com mais de 60% de sua área<br />

coberta pela floresta amazônica.<br />

Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo Estado, Sr. Presidente, Sras.<br />

e Srs. Deputados, diz respeito à questão indígena. A cobiça internacional,<br />

instrumentalizada através de organizações não-governamentais e “missões<br />

religiosas” — entre aspas —, tenta criar clima de confronto e radicalização,<br />

buscando sedimentar espaços territoriais na disputa por suas riquezas.<br />

Durante o segundo Governo de Carlos Andrés Pérez, na Presidência da<br />

Venezuela, alguns acontecimentos, classificados como estranhos, tiveram grande<br />

influência nos 2 países. O mais sério deles foi a criação de uma nação ianomâmi<br />

pelo então Presidente do Brasil, Fernando Collor de Mello, destinando a cerca de<br />

2.500 índios daquela etnia uma área maior do que a de Portugal. Na Venezuela, o<br />

Presidente Pérez doou a 4 mil índios ianomâmis uma área correspondente ao<br />

tamanho da Itália, declarando-a Patrimônio da Humanidade. Dessa forma, aquele<br />

território, apesar de compor o mapa venezuelano, nem mesmo pertence mais ao<br />

vizinho país.<br />

Uma outra enorme coincidência, dentro de todo esse imbróglio, é que os 2<br />

Presidentes foram afastados do cargo por impeachment, em seus países de origem.<br />

Tanto Carlos Andrés Pérez quanto Fernando Collor de Mello terminaram por ser<br />

removidos de seus postos.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Tenho denunciado constantemente desta mesma tribuna, Sr. Presidente,<br />

Sras. e Srs. Deputados, inclusive com a exibição de mapas, a tentativa de<br />

inviabilização do Estado de Roraima. Essa pressão, exercida por grandes potências<br />

mundiais, que já não conseguem mais disfarçar a desvairada cobiça, precisa ser<br />

combatida pelas forças nacionais. Isso só poderá ser feito através da<br />

conscientização de nossa população e pelo fortalecimento e emprego de nossas<br />

Forças Armadas, as legítimas guardiãs do território brasileiro.<br />

A administração petista do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pressionada<br />

por diversas organizações ditas indígenas, assinou a homologação de mais de 604<br />

mil hectares de terras para diversas etnias, o que praticamente inviabilizou Roraima.<br />

O Governo do Presidente Lula, em junho deste ano, atingiu a marca de <strong>24</strong> reservas<br />

homologadas, somando 1 milhão, 170 mil e 25 hectares de terras nacionais.<br />

Estamos agora, toda a Nação brasileira, aguardando importantíssima decisão a<br />

respeito da Reserva Raposa/Serra do Sol, justamente aquela área fronteiriça com a<br />

Venezuela e com a Guiana, uma das regiões minerais mais ricas do planeta.<br />

Não é possível que, em vez de promover a integração do índio, como<br />

preconizava o saudoso Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, o Brasil abra<br />

mão de seus legítimos direitos e interesses, curvando-se a pressões exercidas por<br />

multinacionais e ONGs desconhecidas. Isso significa, Sr. Presidente, Sras. e Srs.<br />

Deputados, a entrega de nosso território, o abandono de nossos vastos recursos<br />

minerais.<br />

Cabe também, nesta hora, lembrar o desempenho de outro grande patriota, o<br />

Barão do Rio Branco, brasileiro inesquecível que, através de negociações e batalhas<br />

jurídicas, garantiu o contorno que hoje exibe o mapa do Brasil.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Todas essas ONGs e missões ditas religiosas estão a serviço de interesses<br />

escusos dos que querem despojar o País de suas terras e de seus recursos<br />

naturais. Querem tapar o sol com a peneira, com argumentos pífios: esconder o<br />

massacre dos indígenas promovido em outras nações, como política deliberada,<br />

enquanto exigem do nosso País um comportamento que jamais tiveram. A única<br />

coisa que de fato importa a esses aventureiros são os nossos recursos, nossa<br />

biodiversidade, nossos minerais, nossa água doce abundante.<br />

Roraima, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, tem como se viabilizar. Sua<br />

vizinhança com as nações que formam o Caribe projeta inesgotável manancial de<br />

oportunidades. É preciso que se estabeleça uma política de boa vizinhança e de<br />

interesses comuns com nações como a Venezuela, quarta maior produtora de<br />

petróleo do planeta, cujo excedente de energia elétrica, produzida em Guri, já<br />

abastece o nosso Estado de Roraima. Com a República Cooperativa da Guiana,<br />

temos mantido o melhor relacionamento, seja no plano político, seja no plano<br />

diplomático.<br />

O Presidente daquele país, Bharrat Jagdeo, visitou nosso Estado<br />

recentemente, discutindo diversos assuntos de parceria e cooperação com o<br />

Governador Flamarion Portela. O Chefe do Executivo guianense tem demonstrado a<br />

maior receptividade possível no estabelecimento de ações e medidas que estimulem<br />

e favoreçam o desenvolvimento econômico da região.<br />

No dia <strong>10</strong> de agosto de 2000, o Diário Oficial da União publicou o Decreto<br />

Legislativo n° 164, aprovado pelo Congresso Nacional, que trata do "Acordo, por<br />

troca de Notas, de Isenção de Vistos em Passaportes Diplomático, Oficial/Serviço,<br />

Especial e Oficial de Ambos os Países, entre o Governo da República Federativa do<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Brasil e o Governo da República Cooperativista da Guiana, celebrado em Brasília,<br />

em 20 de maio de 1999".<br />

Temos também a Mensagem n° 267, da qual tive a honra de ser Relator,<br />

submetendo à consideração do Congresso Nacional o texto do Acordo de<br />

Transporte Rodoviário Internacional de Passageiros e Cargas entre os Governos da<br />

República Federativa do Brasil e da República Cooperativista da Guiana. Esse<br />

acordo foi celebrado em Brasília, no último dia 7 de fevereiro, e deverá muito em<br />

breve ser votado no plenário do Congresso Nacional.<br />

Como se depreende, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, abre-se aqui<br />

amplíssimo leque em várias áreas. Tenho a convicção de que o setor turístico será<br />

um dos maiores beneficiados, pois Roraima é porta de entrada para o Caribe e<br />

também para a região amazônica.<br />

A importância de Roraima na geopolítica do Brasil, em relação à Região<br />

Norte, tem propiciado a abertura de novos e importantes mercados. Quando de sua<br />

visita, o Presidente guianense acompanhou projetos agropecuários desenvolvidos<br />

em Roraima e analisou as possibilidades de relação econômica. Contatos como<br />

esse estendem passagem a novos horizontes econômicos; acenam com a<br />

possibilidade de uma saída para o Atlântico, via Georgetown, capital da Guiana,<br />

estreitando os laços entre os 2 países. Com a energia farta que vem de Guri, na<br />

Venezuela, dispomos de todos os elementos indispensáveis para a implantação de<br />

indústrias em nosso Estado, estimulando a criação de empregos e criando pólo<br />

exportador.<br />

No Município de Cantá, por meio de protocolo de intenções e obrigações,<br />

assinado pelo então Governador Neudo Campos, e a empresa Brancocel, estão<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

sendo investidos recursos financeiros da ordem de 250 milhões de reais. É prevista<br />

a criação de cerca de 6 mil empregos diretos e indiretos, oferecendo-se, ainda, a<br />

oportunidade de especialização profissional. A Brancocel, que inicialmente pretendia<br />

se instalar na Malásia ou na Indonésia, é uma indústria de celulose que irá produzir<br />

um volume de exportações calculado em torno de <strong>10</strong>0 milhões de dólares anuais.<br />

Sua base de produção é a acacia mangium, madeira que vem sendo produzida<br />

desde 1998 em milhares de hectares do solo roraimense.<br />

O atual Governador de Roraima, Flamarion Portela, tem colocado a educação<br />

básica escolar como uma das principais metas de sua administração. S.Exa. sabe<br />

da importância de se formarem jovens profissionalizados e que estejam aptos a<br />

enfrentar os desafios apresentados pelo mundo moderno.<br />

O nosso Estado, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, já viveu 3 momentos<br />

bem distintos no seu ciclo econômico, e tem procurado se adaptar e se adequar aos<br />

desdobramentos que a existência apresenta.<br />

O primeiro desses ciclos, o da produção de diamantes, criou a figura-símbolo<br />

do garimpeiro, cuja estátua colocada na Praça do Centro Cívico, em frente ao<br />

Palácio Governamental Senador Hélio Campos, presta uma justa homenagem<br />

àquele pioneiro e desbravador.<br />

O segundo ciclo, o da pecuária, é responsável pela fixação do homem no<br />

território, emprestando nova paisagem à própria topografia.<br />

Já o terceiro ciclo, propiciando a implantação da monocultura do arroz irrigado<br />

e de outras culturas agrícolas, vai criando um sistema de relacionamento e troca que<br />

impulsiona de forma definitiva a nossa economia.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Temos, por exemplo, o Município de Normandia, onde registramos a<br />

presença de quase uma centena de produtores de melancia. Essa atividade agrícola<br />

é tão importante que cerca de 85% de sua produção é encaminhada para a cidade<br />

de Manaus, Capital do vizinho Estado do Amazonas. Os produtores trabalham em<br />

sistema de associação, desenvolvendo novas técnicas cultivando o solo e se fixando<br />

à terra.<br />

Sr. Presidente, tudo isso é fruto de trabalho árduo produzido pela Empresa<br />

Brasileira de Pesquisa Agropecuária — EMBRAPA. A grande leva de importantes<br />

agricultores brasileiros tem mostrado, nos nossos campos, que somos hoje a última<br />

fronteira agrícola deste País. Os campos lavrados de Roraima representam mais de<br />

4 milhões de hectares, algo nada desprezível para aqueles países que<br />

eventualmente utilizam suas ONGs como instrumento de pressão para esterilizar o<br />

nosso desenvolvimento.<br />

A economia de Roraima está sendo também impulsionada pela pecuária,<br />

ainda em estágio inicial. Afinal, temos de considerar a condição de Estado<br />

praticamente recém-nascido, que conta, segundo o último censo de 2000, com uma<br />

população de apenas 3<strong>24</strong>. 397 habitantes.<br />

Daí, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a importância da presença da<br />

estrutura administrativa de Estado, construindo e pavimentando estradas,<br />

oferecendo assistência à população e retribuindo em serviços os impostos<br />

arrecadados.<br />

Temos, nas nossas fronteiras, a presença tranqüilizadora do Exército<br />

Brasileiro e da Força Aérea Brasileira, guardiães do território nacional, ocupando os<br />

mais longínquos rincões, assim como a Primeira Brigada de Infantaria de Selva,<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

cujas atividades profissionais transmitem segurança à população e estimulam a<br />

integração.<br />

Roraima, apesar de contabilizar o menor número de habitantes dentre todas<br />

as Unidades federativas, poderia utilizar, sem a menor margem de erro, o slogan O<br />

futuro é aqui.<br />

Precisamos apenas ter consciência do papel estratégico que ocupamos,<br />

acreditar no nosso potencial e defender nossos limites, para que possamos<br />

desenvolver, em planejamento que contemple necessidades ambientais, o Estado<br />

mais setentrional do nosso Brasil, assim como a paz e o progresso do seu povo.<br />

Sr. Presidente, não poderia deixar de falar da EMBRAPA, conforme<br />

mencionei anteriormente. Essa empresa, instalada em meu Estado há mais de 20<br />

anos, tem produzido resultados excepcionais no sentido da viabilização das<br />

atividades agropastoris dos campos lavrados, que na verdade são campos cerrados,<br />

conhecidos em todo o País.<br />

Roraima, apesar das dificuldades, das denúncias de crises apresentadas pela<br />

imprensa à população brasileira e de vários outros problemas que parecem, à<br />

primeira vista, diminuir o potencial do Estado, tem capacidade de recuperação e fé<br />

no futuro bem maiores que essas denúncias, que o tempo se encarregará de<br />

apagar.<br />

Nosso Estado tem as melhores várzeas e a maior produtividade de arroz<br />

irrigado do Brasil, com 150.000 hectares aptos para esse tipo de produção.<br />

Exportamos mel para grandes indústrias de medicamentos da Alemanha. Cem por<br />

cento do couro produzido no nosso Estado é exportado para a Itália, por sua<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

qualidade, sua uniformidade e, acima de tudo, pela ausência de bernes nos animais,<br />

o que normalmente diminui o preço e a qualidade do produto.<br />

Estamos recebendo dezenas de grandes empresários rurais à procura de<br />

terras, já que nossas posições geopolítica e geoestratégica são privilegiadas no<br />

cenário nacional. Estamos a 600 quilômetros da saída para o Atlântico via Porto de<br />

Georgetown, enquanto a produção de soja do Centro-Oeste viaja mais de 4.000<br />

quilômetros para chegar ao nível paralelo ao Equador, de onde saímos para o<br />

Atlântico com destino à Europa e ao mercado americano.<br />

Hoje, exportamos praticamente 85% da nossa produção de soja para a<br />

Comunidade Econômica Européia, com produtividade invejável no País.<br />

Esta semana participamos de evento em Boa Vista. Um dos maiores Ministros<br />

da Agricultura que o País já teve, Alysson Paulinelli, disse o que repeti ainda há<br />

pouco: “O futuro está aqui”.<br />

Estamos conseguindo solucionar as dificuldades, que eventualmente<br />

acontecem, com o trabalho do homem que foi para aquele Estado, juntando-se aos<br />

filhos da terra para desenvolver o Estado mais setentrional do País.<br />

Há problemas seriíssimos, como a demarcação das áreas indígenas. A cobiça<br />

é permanente, e justificável, porque estamos sobre um solo rico em biodiversidade,<br />

em água e em minérios estratégicos, como ouro, prata, nióbio, cassiterita e outros.<br />

Mas queremos que as autoridades brasileiras enxerguem a posição geopolítica que<br />

ocupamos no Norte do Brasil, para que possamos desenvolver e proteger nossas<br />

fronteiras.<br />

No último domingo, o Presidente da República da Guiana, Bharrat Jagdeo,<br />

com quem tenho mantido contatos permanentes em Georgetown, a fim de aproximar<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

o meu País daquela saída estratégica para o resto do mundo, disse para mim e para<br />

o Governador Flamarion Portela: “Cedo 1 milhão de hectares de minhas terras<br />

guianenses para plantio de grãos e reflorestamento”. Ora, a visão do Presidente da<br />

Guiana é temporal e faz com que acreditemos na integração e que tenhamos ainda<br />

mais fé no desenvolvimento e no potencial do nosso Estado.<br />

Este momento é extremamente propício para que o Presidente Luiz Inácio<br />

Lula da Silva focalize seu Governo naquela região tão esquecida do País.<br />

Pouquíssimos brasileiros e Parlamentares conhecem a Capital do nosso Estado,<br />

Boa Vista, confundindo-a sempre com Porto Velho. Raros conhecem o seu potencial<br />

e sua importância. Num único Estado, cravado na Região Norte do País, há 1.9<strong>10</strong><br />

quilômetros de fronteira com 2 países irmãos: ao nordeste, com a República<br />

Cooperativa da Guiana, e ao norte e noroeste, com a Venezuela. A estratégia é<br />

importante para o País, que pode servir de vetor para a saída dos manufaturados<br />

produzidos na Zona Franca de Manaus. O nosso companheiro Humberto Michiles,<br />

que assiste atentamente ao nosso debate, tem essa consciência.<br />

Quase 500 indústrias precisam diminuir custos, inclusive com transporte, e o<br />

fizemos ao reduzir em praticamente 3 mil quilômetros a distância para a<br />

Comunidade Econômica Européia, para a América do Norte e para a América<br />

Central.<br />

Sr. Presidente, nossa insistência, nossa volta permanente à tribuna, nossa<br />

cobrança às instituições públicas deste País — BNDES, Banco do Brasil, Caixa<br />

Econômica, vários Ministérios e Presidência da República — justifica-se, afinal,<br />

como patriotas, acreditamos que a inserção daquela região na comunhão nacional é<br />

importante para manter, garantir e fortalecer nossa soberania.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Milhares de estrangeiros, em nome de ações “missionárias” — entre aspas<br />

—, com uma Bíblia na mão e um medidor Geiger, que mede a incidência de<br />

minerais, ali se instalam e pesquisam, diante dos olhos abertos das nossas<br />

autoridades, que não tomam providências. Esta não é uma preocupação apenas do<br />

Parlamentar que representa aquele Estado no seu quarto mandato, mas que está<br />

latente em cada um daqueles que são tangidos pelas autoridades, porque não<br />

podem garimpar em terras brasileiras. Pescadores não podem jogar o seu malhador,<br />

porque as leis são duras para com os brasileiros, mas brandas ou inexistentes com<br />

estrangeiros que ali pescam peixes ornamentais e os vendem no exterior por valores<br />

milionários. Um colono, um agricultor muitas vezes é surpreendido pela pressão das<br />

autoridades, porque não pode ter uma simples espingarda para procurar na floresta<br />

a caça, o alimento abundante que satisfaça as necessidades de sua família.<br />

Queremos um Estado forte, um país que seja, acima de tudo, soberano e não<br />

se submeta às pressões internacionais, como tem acontecido em Roraima, onde há<br />

milhares de toneladas de cassiterita, mas o brasileiro não pode colocar a mão na<br />

terra para trabalhar e prover o sustento de sua família.<br />

A posição geoestratégica que Roraima encerra em relação à Amazônia e a<br />

posição geopolítica frente aos países que fazem limite — Guianas, Venezuela,<br />

Bolívia, Colômbia e Peru — são extremamente importantes. Desejamos que as<br />

nossas autoridades e o Presidente da República proporcionem o fortalecimento e a<br />

proteção do eixo de desenvolvimento norte, que ele seja garantido, para que<br />

possamos manter nossa soberania e oferecer melhores condições de<br />

desenvolvimento para o Estado, especialmente para manter a comunhão nacional.<br />

Muito obrigado.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Concedo a palavra ao nobre<br />

Deputado Marcondes Gadelha, para uma Comunicação de Liderança, pelo PTB.<br />

O SR. MARCONDES GADELHA (PTB-PB. Como Líder. Sem revisão do<br />

orador.) - Sr. Presidente, nobres Srs. Deputados, o dia de ontem há de ser marcado<br />

no calendário como uma data muito especial para todos quantos sonham com um<br />

instante de paz, uma trégua nesta guerra civil, nesta carnificina, neste inferno em<br />

que se transformou a convivência social neste País.<br />

O Estatuto do Desarmamento, aprovado ontem, é mais do que um código<br />

repressivo. Trata-se de uma atitude da sociedade, de uma tomada de posição.<br />

É claro, ninguém tem a ilusão de que esse documento venha a ser uma<br />

panacéia capaz de resolver o problema da criminalidade, ou sequer possa abolir<br />

completamente o porte ilegal de armas no Brasil. Ainda vamos ter de esperar muito<br />

até o dia em que a comercialização de armas seja sumariamente proibida no Brasil e<br />

a lei sobre o porte de armas não permita nem admita interpretações dúbias, e com<br />

linguagem clara, direta e incisiva, não abrigue outra hipótese que não estas: quem<br />

usa armas ou é polícia, ou é bandido.<br />

Entretanto, Sr. Presidente, não há como negar que o Estatuto é um relevante<br />

e significativo avanço, principalmente porque representa a determinação do Poder<br />

institucional de mais cedo ou mais tarde quebrar a espinha dorsal do crime.<br />

Não nos comovem as objeções aqui apresentadas, a exortação de que o<br />

cidadão de bem deve permanecer armado para se defender e enfrentar a sanha do<br />

bandido. Ora, a experiência brasileira é rica, e os números não nos deixam mentir. É<br />

impossível qualquer atitude de defesa, pelo menos do ponto de vista estatístico, que<br />

venha a ser efetiva contra o bandido que age de forma insidiosa e covarde,<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

valendo-se quase sempre do fator surpresa. A possibilidade de um resultado positivo<br />

nessa luta é virtualmente próxima de zero.<br />

Também não nos comove o argumento de que esse Estatuto pode resultar na<br />

perda de alguns empregos, talvez de milhares de empregos nas fábricas de armas<br />

neste País. Esse argumento é tão estúpido quanto aquele no sentido de que não<br />

devemos tapar os buracos nas estradas porque eles garantem o emprego dos<br />

borracheiros, ou que não devemos combater a droga porque impediremos que<br />

ganhem seu “rico dinheirinho” aqueles que participam do tráfico e das sujas<br />

negociatas em todos os rincões brasileiros.<br />

Sr. Presidente, a esse argumento se responde com um ditado antigo dos<br />

romanos: para o rebanho o pastor é um libertador, mas para o lobo ele é um algoz.<br />

Não há a menor possibilidade de que aqueles que lucram com o negócio do crime<br />

venham a aceitar o desarmamento geral da população, como neste momento<br />

propomos. Mas essa iniciativa absolutamente indispensável tem de ser seguida de<br />

outras; tem de haver acompanhamento, requalificação das polícias, ações no âmbito<br />

da política penitenciária, mudanças na lei das execuções penais; há todo um campo<br />

aberto para medidas nesse sentido, principalmente para se marcar a data de<br />

realização do referendo sobre a proibição de comercialização de armas neste País.<br />

A Câmara dos Deputados foi sábia ao deixar a decisão para o árbitro<br />

supremo das nossas ações, que é o povo. Nós instituiremos uma prática de<br />

democracia direta ao ouvirmos, em referendo, o povo brasileiro. Mas enquanto essa<br />

data aprazada não chega, o Estatuto serve de instrumento de mobilização e<br />

vigilância permanente por parte da sociedade. Marcada uma data para o referendo,<br />

a sociedade acompanhará o desempenho dos diversos agentes sociais no combate<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

à criminalidade, a fim de que tenhamos um processo completo, com resultados<br />

auferidos, para alívio da sociedade brasileira.<br />

Sr. Presidente, estamos conscientes de que combater o crime é uma luta<br />

renhida, é uma marcha muito longa. No entanto queremos que a Nação brasileira<br />

saiba que ontem, neste plenário, demos o primeiro passo nessa longa marcha.<br />

Muito obrigado.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Dando seqüência ao período do<br />

Grande Expediente, concedo a palavra ao Deputado Humberto Michiles, do PL do<br />

Amazonas. S.Exa. disporá de 25 minutos.<br />

O SR. HUMBERTO MICHILES (Bloco/PL-AM. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, desejo inicialmente cumprimentar o Deputado<br />

Marcondes Gadelha pelas palavras favoráveis ao Estatuto do Desarmamento. O<br />

Deputado Gadelha, homem público de vasta experiência, engrandece, sem sombra<br />

de dúvida, o cenário da vida pública, e já prestou inúmeros serviços a este País,<br />

sobretudo ao seu Estado. Temos a esperança de que o Estatuto do Desarmamento<br />

venha a diminuir aquilo que o Deputado reconheceu ser uma verdadeira carnificina,<br />

a guerra civil que assola este País.<br />

Todavia, a atitude tomada por esta Casa que representa o povo necessita do<br />

respaldo e do empenho de toda a Nação. Para que o Estatuto aprovado ontem sob<br />

os aplausos de todos os Deputados não venha a se transformar em mais uma<br />

decepção para a sociedade, é preciso agir com muito firmeza contra policiais que se<br />

tornam cúmplices dos criminosos, muitas vezes possibilitando aos bandidos não só<br />

o uso de armas autorizadas apenas às forças militares como também a revenda, o<br />

repasse dessas armas. Portanto, louvo o Deputado Marcondes Gadelha, que<br />

acredita na medida adotada, como todos nós temos o dever de acreditar, e não<br />

podemos perder o entusiasmo. Temos o dever, como já disse, de cobrar da<br />

sociedade, dos Secretários de Segurança, dos Governadores de Estado e do<br />

Presidente da República rigorosos aparelhos policiais e sobretudo o rigor da Justiça<br />

na condenação de policiais que porventura venham a compactuar com esse tipo de<br />

prática.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Ouço, com muito prazer, o aparte do Deputado Marcondes Gadelha.<br />

O Sr. Marcondes Gadelha - Colega Deputado, louvo a ponderação muito<br />

apropriada, justa e oportuna de V.Exa. Não basta aprovar o Estatuto, que, como eu<br />

disse, representa uma tomada de atitude pela sociedade, pela Câmara dos<br />

Deputados e pelo Poder institucional, mas não pode ficar solto, sem seqüência, sem<br />

um conjunto de iniciativas outras que venham dar conseqüência a essa<br />

manifestação de vontade expressa pela sociedade. Ficamos numa situação em que<br />

entregamos à polícia, de uma vez por todas, a responsabilidade pela nossa<br />

segurança. O cidadão de bem, como dizem os opositores do projeto, desarma-se.<br />

De alguma forma, o bandido vai encontrar meios de continuar armado; por isso, é<br />

preciso que todo o aparato do Estado seja mobilizado, no sentido de termos uma<br />

repressão efetiva. É preciso disseminar o uso de detectores de metais em todos os<br />

locais públicos. É importante estimularmos efetivamente o cidadão a denunciar o<br />

porte ilegal de armas, e é imprescindível que os agentes da ordem ajam com<br />

eficácia, senão poderemos até colher um resultado perverso, o contrário daquilo que<br />

esperamos. Essa tomada de atitude também é uma demonstração da confiança da<br />

sociedade nos agentes da ordem. Esperamos que a polícia venha a qualificar-se e<br />

aparelhar-se, que o Poder Judiciário venha a agir com a necessária celeridade e que<br />

também o Poder Executivo crie meios para combater o crime, para que o esforço<br />

que se iniciou com a atitude concreta tomada ontem ao aprovarmos o Estatuto do<br />

Desarmamento seja eficaz e apresente imediatos resultados. Os resultados, repito,<br />

têm de ser imediatos, porque na seqüência vamos aprovar o referendo sobre a<br />

proibição da comercialização de armas, e a iniciativa poderá ser um fiasco se o<br />

Estatuto não alcançar os resultados esperados. Em última análise, nobre Deputado,<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

estamos postulando que o Estado brasileiro exerça de fato o papel que aponta Max<br />

Weber em sua clássica definição de Estado, proposta ainda nos anos 20, ou seja,<br />

um ente de dominação que detém legitimamente o monopólio da violência.<br />

Queremos que o monopólio da violência fique com o Estado e que ele o exerça em<br />

favor do bem, e tudo mais seja afastado, seja evitado, sempre em favor da<br />

sociedade. Isso é o que esperamos. Contudo, é preciso que o Estado assuma de<br />

fato esse seu papel, para que esse Estatuto que gera tantas esperanças não se<br />

torne mais um motivo de frustração para o povo brasileiro. Muito obrigado a V.Exa.<br />

O SR. HUMBERTO MICHILES - Deputado Marcondes Gadelha, agradeço a<br />

V.Exa. o aparte e repito as bem ditas palavras de V.Exa., afirmando que o Estatuto<br />

do Desarmamento é realmente a demonstração de uma tomada de atitude por este<br />

Parlamento, que não poderia de forma alguma ficar omisso, deixando de dar uma<br />

resposta, uma solução à gravíssima situação que assola o País e preocupa a todos<br />

nós. Efetivamente, Deputado, como V.Exa. também disse, e muito bem, se as<br />

Polícias, os Estados, o Governo Federal, o Executivo, enfim, não tomar para si essa<br />

responsabilidade, o referendo popular será um verdadeiro fiasco.<br />

Imagine V.Exa. se — que Deus nos livre! — voltarem a se repetir crimes<br />

como o que lamentavelmente ocorreu na Capital do meu Estado, Manaus, minha<br />

querida cidade, que, aliás, aniversaria hoje, e sobre ela pretendo pronunciar-me na<br />

próxima quarta-feira. Uma lancha foi abordada a poucos minutos do Porto de<br />

Manaus por um bote com motor de popa conduzido por 3 ou 4 bandidos, que<br />

assaltaram e mataram barbaramente 3 dos passageiros, entre os quais um jovem de<br />

18 ou 20 anos. E trago ainda a lembrança da imagem do desespero do pai desse<br />

garoto, que se perguntava: “Como podemos entender que se faça mal a uma pessoa<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

que nunca fez mal a ninguém?” É muito difícil, Deputado Marcondes Gadelha,<br />

vivermos uma situação dessas. O cidadão sai para um passeio de lancha à noite e<br />

acaba, indefeso, sem portar arma, expondo sua família, seus filhos, à sanha desses<br />

bandidos, desses criminosos!<br />

É uma enorme responsabilidade a que esta Casa passa ao Poder Executivo,<br />

sobretudo aos aparelhos policiais, que têm de atuar direta e intransigentemente, não<br />

permitindo que o cidadão de bem que anda desarmado entregue ainda mais a sua<br />

sorte à ação dos criminosos.<br />

Sr. Presidente, antes de entrar no assunto que me trouxe à tribuna, saúdo o<br />

Deputado Francisco Rodrigues pelo pronunciamento completo que fez em relação<br />

ao seu Estado, e permita-me até manifestar uma certa angústia, própria das<br />

pessoas do Norte ou do Nordeste conhecedoras da sua Região, das pessoas que<br />

têm a responsabilidade, como V.Exa., de, representando uma região distante,<br />

fazerem-se ouvir. É importante transmitir à Nação que temos lá um imenso potencial<br />

de riqueza, que precisa ser explorado e aproveitado pelos brasileiros; do contrário,<br />

certamente será aproveitado e explorado pelos estrangeiros.<br />

Muitas vezes somos vítimas do desconhecimento, somos vítimas dessa<br />

distância que nos separa dos grandes centros em que se tomam as grandes<br />

decisões. Hoje somos vítimas da distância da grande imprensa, do poderio<br />

econômico. Muitas vezes as decisões são tomadas para o Brasil desenvolvido, para<br />

o Brasil central, desconhecendo-se as regiões mais distantes, como no caso do<br />

Estado de Roraima e também do nosso Estado do Amazonas.<br />

Mas, Sr. Presidente, Srs. Deputados, vou reportar-me hoje à publicação<br />

divulgada pelo IBGE no início deste mês, com informações quantitativas e<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

qualitativas sobre o País ao longo de todo o século XX. O retrato formado não deixa<br />

dúvidas de que o Brasil conseguiu proezas admiráveis nesses <strong>10</strong>0 anos, mas não<br />

logrou reduzir o abismo da desigualdade social.<br />

Deputado Marcondes Gadelha, vamos agora adentrar nas causas dessa<br />

violência de que estivemos falando. Aliás, o Presidente Lula, em seu discurso na<br />

ONU, declarou que o verdadeiro nome da paz é justiça. E como podemos facilmente<br />

constatar, o Brasil, que tanto se desenvolveu nesses últimos <strong>10</strong>0 anos, ainda é um<br />

país profundamente injusto. Cresceu, industrializou-se, multiplicou por <strong>10</strong> sua<br />

população; aumentou 1<strong>10</strong> vezes seu Produto Interno Bruto e multiplicou por 12 sua<br />

renda per capita. Extensas faixas da população, no entanto, foram mantidas à<br />

margem do processo de desenvolvimento.<br />

O Brasil foi o país que mais cresceu no século XX e o que mais concentrou<br />

renda no mesmo período. Em 1960, o rendimento recebido pelos <strong>10</strong>% mais ricos era<br />

equivalente a 34 vezes o obtido pelos <strong>10</strong>% mais pobres; em 1990, essa diferença<br />

chegou a 60 vezes, e em 2001 recuou para 47 vezes.<br />

Em 1999, 1% da população em idade ativa e com rendimento concentrava<br />

13% da renda nacional — quase o mesmo que os 50% mais pobres, com 13,9% da<br />

renda nacional. Segundo o Relatório de 20<strong>03</strong> do Programa das Nações Unidas para<br />

o Desenvolvimento — PNUD, o Brasil encerrou o século XX com a sexta pior<br />

distribuição de renda do mundo, perdendo apenas para Namíbia, Botsuana, Serra<br />

Leoa, República Centro-Africana e Suazilândia. Muitos de nós Deputados sequer já<br />

ouvimos falar de alguns desses países. Pois saibam que o Brasil, repito, ficou com a<br />

sexta pior distribuição de renda do mundo, perdendo apenas para esses 5 países<br />

que acabei de citar.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

A publicação do IBGE revela também que a concentração de renda entre nós<br />

cresce mesmo em períodos recessivos, o que tem efeitos sociais desastrosos. Esse<br />

é um problema grave e urgente, e creio que ninguém discorda da necessidade de<br />

buscarmos medidas que levem a uma eficaz redução das desigualdades sociais no<br />

Brasil; para tanto, porém, é preciso entendermos primeiro como chegamos a tal<br />

patamar de concentração de renda.<br />

Nosso modelo econômico tem peculiaridades que explicam por que há<br />

aumento da desigualdade tanto em épocas de crescimento rápido quanto nas fases<br />

recessivas da economia. O crescimento brasileiro não se traduziu em diminuição da<br />

desigualdade. Ao contrário, como vimos, ampliou-se a desigualdade. Nosso<br />

crescimento foi impulsionado por indústrias que vendiam produtos de maior valor<br />

agregado, como a automobilística e a de construção. Para comprar esses produtos<br />

era necessária uma classe com alto poder aquisitivo, ainda que essa classe fosse<br />

extremamente reduzida em relação ao total da população.<br />

O economista Celso Furtado, que participou da elaboração do trabalho<br />

Estatísticas do Século XX, do IBGE, aponta a necessidade de expansão do mercado<br />

de consumo interno como um dos principais desafios a serem vencidos pelo Brasil<br />

neste novo século se quisermos maior justiça social. Essa é, segundo Furtado, uma<br />

luta que articula as questões do mercado interno e da desconcentração de renda.<br />

A par da importância do mercado interno para a desconcentração de renda,<br />

gostaria de apontar um outro fator que julgo fundamental na busca por uma maior<br />

justiça social: a universalização de uma escola pública de qualidade. Segundo o<br />

IBGE, o analfabetismo caiu 5 vezes em 80 anos. Em 1920, 65% da população de 15<br />

anos ou mais não sabiam ler nem escrever. Em 2000, esse índice era de 13%. É<br />

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Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

inegável que hoje a absoluta maioria da população tem acesso à escola pública e<br />

gratuita, e isso representa, sem dúvida alguma, um avanço. Lamentavelmente,<br />

porém, a escola pública, ao expandir-se, não manteve a mesma qualidade que tinha<br />

no início do século. Naquela época, as escolas públicas eram conhecidas pela sua<br />

qualidade. Os professores tinham excelente formação e eram prestigiados e<br />

valorizados pela sociedade. Hoje, são obrigados a lutar contra toda espécie de<br />

adversidade. Ganham mal, dão aulas em diversas escolas para complementar o<br />

orçamento e muitas vezes não têm sequer condições de estudar a fundo os<br />

conteúdos que lecionam.<br />

O principal problema da educação no Brasil, Sr. Presidente, nobres colegas, é<br />

o fato de que nossas elites sempre desprezaram os serviços públicos universais.<br />

Como muito bem observou recentemente o Ministro da Educação, Cristovam<br />

Buarque, a escola pública só era boa porque era para poucos, para os amigos do<br />

rei. Quando a universalização da escola pública se tornou uma medida inevitável, as<br />

elites transferiram seus filhos para a escola particular e deixaram uma escola ruim<br />

para o restante da população.<br />

Sr. Presidente, se não começarmos a lutar determinadamente contra esse<br />

tipo de mentalidade, o Brasil jamais se tornará o país próspero, justo e pacífico com<br />

que todos sonhamos. Poderá tornar-se ainda mais rico do que é, mas seu tecido<br />

social permanecerá sendo esgarçado por índices cruéis de desigualdade.<br />

Educação pública e gratuita de qualidade é o caminho mais eficiente para o<br />

País diminuir o fosso das desigualdades sociais. Prova disso é o que aconteceu<br />

entre os anos de 1970 e 1980. Nesse período, a proporção de pobres caiu de 67%<br />

para 39%. O milagre, no entanto, foi apenas econômico, porque não se investiu nas<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

pessoas. Na década seguinte, a proporção de pobres voltou a aumentar, de 39%<br />

para 45%. Caso tivéssemos investido em educação, poderíamos estar em situação<br />

semelhante à da Coréia do Sul no que diz respeito à justiça social. Países que<br />

acompanharam o Brasil na lista dos que mais aumentaram o seu PIB per capita no<br />

século XX — Japão, Finlândia, Coréia e Noruega — investiram em educação e<br />

estão muito mais bem colocados do que nós no cenário internacional. O problema é<br />

que investimos pouco e mal em educação.<br />

O Censo 2000 revelou que os <strong>10</strong>% mais ricos da população ficaram com 47%<br />

das vagas das universidades públicas. Esse é um dos mecanismos perversos de<br />

perpetuação das desigualdades sociais do Brasil, pois destina dinheiro público para<br />

financiar a educação das faixas mais abastadas da população.<br />

O acesso à saúde no nosso País também é marcado pela mazela da<br />

desigualdade social. A classe média já desistiu há muito do sistema público,<br />

recorrendo sempre à rede privada, por meio dos planos de saúde. Os que não<br />

podem pagar por medicina privada, ou seja, a absoluta maioria da população, são<br />

obrigados a conformar-se com um sistema caótico e ineficiente, porque a demanda<br />

por atendimento é muito maior do que a oferta.<br />

Aliás, Sr. Presidente, aproveito para manifestar minha discordância em<br />

relação à proposta apresentada pelo Governo de destinar para saneamento e para o<br />

Programa Fome Zero recursos da Saúde.<br />

O risco de doenças também é maior na população de baixa renda, que se<br />

alimenta mal e quase nunca conta com sistema de saneamento urbano em seu<br />

domicílio. Obras de tratamento de água e de esgoto não têm visibilidade, e por isso<br />

raramente são tratadas como prioritárias por nossos administradores públicos.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O trabalho do IBGE revela que, apesar dos avanços em algumas áreas,<br />

doenças comuns do início do século passado no Brasil, como tuberculose e malária,<br />

convivem com outras típicas de uma sociedade industrializada, como a hipertensão<br />

e o câncer.<br />

É triste saber que, por ineficácia das políticas públicas de saúde, os casos de<br />

malária, que somaram <strong>10</strong> mil em 1946, saltaram para 60 mil em 1989. E hoje,<br />

Deputado Francisco Rodrigues, registram-se mais de 50 mil casos apenas no<br />

Estado do Amazonas. E o mosquito Aedes aegypti, transmissor da febre amarela e<br />

da dengue, praticamente extinto no Brasil em 1970, encontra-se fora de controle em<br />

diversas regiões do País.<br />

Mas, se por um lado as estatísticas do século XX compiladas pelo IBGE nos<br />

mostraram o quadro desolador de uma desigualdade social renitente ao longo das<br />

décadas, há também elementos que nos permitem otimismo em relação ao futuro do<br />

Brasil. Não se pode esquecer de que os anos 80 e 90 foram marcados por notáveis<br />

progressos institucionais, que resultaram num grande amadurecimento da<br />

sociedade. Tivemos, nesse período, o fim de um regime autoritário, a promulgação<br />

de uma nova Constituição e o surgimento de uma sociedade mais consciente de<br />

seus direitos e deveres de cidadania.<br />

Deputado?<br />

O Sr. Francisco Rodrigues - V.Exa. concede-me um aparte, nobre<br />

O SR. HUMBERTO MICHILES - Concedo, com muito prazer, o aparte a<br />

V.Exa., Deputado Francisco Rodrigues.<br />

O Sr. Francisco Rodrigues - Nobre Deputado Humberto Michiles, estou<br />

ouvindo atentamente a manifestação de V.Exa. nesta manhã de sexta-feira e verifico<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

que o tema tratado por V.Exa., além de extremamente abrangente, mostra que não<br />

apenas o atual como todos os últimos Governos do País não deram a devida<br />

atenção ao problema das desigualdades sociais. Estarreceu-nos sobretudo o dado a<br />

que V.Exa. acabou de se referir, relativo à incidência da malária na região<br />

amazônica. Obviamente, em função da redução dos recursos, da diminuição do<br />

número de técnicos e de equipamentos, essa doença vem espalhando-se na<br />

Amazônia, afetando, conseqüentemente, a capacidade de produção do caboclo. Em<br />

meu Estado não é diferente: quase duplicaram, nos últimos 3 anos, os registros da<br />

incidência de malária. Nessa curva matricial, todos os pontos vão contra o brasileiro,<br />

contra o nosso povo. V.Exa. comentou inclusive um dado importantíssimo, a ser<br />

analisado pelos planejadores deste País para enfrentamento dessa questão: os<br />

estudos mostram que estamos entre os 6 países mais desiguais do mundo!<br />

Portanto, parabenizo V.Exa. pela atualidade do tema e acima de tudo pela forma<br />

clara e didática como apresenta essas questões.<br />

O SR. HUMBERTO MICHILES - Deputado Francisco Rodrigues, agradeço a<br />

V.Exa. o aparte.<br />

Como eu dizia, se temos índices negativos, temos também motivos para<br />

otimismo, e acreditamos no Brasil.<br />

Hoje a sociedade é mais capaz de exigir, de apoiar e de construir políticas<br />

públicas que promovam uma profunda, real e verdadeira mudança para não vermos<br />

agravar-se ainda mais uma situação que já é dramática, injusta, indigna, desumana,<br />

inaceitável, e que não comporta soluções paliativas ou superficiais.<br />

Esse abismo social profundo, como nos mostra o IBGE, nada mais é do que o<br />

retrato do fosso educacional que nos divide entre os poucos que tiveram a<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

oportunidade de freqüentar as escolas com qualidade e os muitos que freqüentam<br />

escolas apenas para compor estatísticas, entre incluídos e excluídos, entre os que<br />

têm oportunidades e os que já nascem condenados ao abandono à própria sorte.<br />

O que fazer, Sr. Presidente, para mudar esse quadro?<br />

Vejamos o que aconteceu nos chamados países desenvolvidos. Nesses<br />

países, a idéia de que todos deviam ser educados começou a ser difundida no<br />

século XIX. Na segunda metade desse século, o Japão e vários países europeus<br />

aprovaram leis sobre educação compulsória. Em 1872, o Japão promulgou a Lei da<br />

Educação, cujo propósito fundamental era proporcionar educação para todos,<br />

independentemente de status e gênero, de forma que toda a população pudesse<br />

gozar igualmente de felicidade e prosperidade.<br />

A lei declarava: “Aprender é a chave para o sucesso da vida, e ninguém pode<br />

negligenciá-la (...). Todos devem subordinar os outros assuntos à educação dos<br />

seus filhos (...). Doravante, no país inteiro, sem distinção de classe ou de sexo, em<br />

nenhuma vila deverá haver uma só casa sem educação, e em nenhuma casa uma<br />

só pessoa ignorante”.<br />

Sr. Presidente, essa Lei da Educação no Japão é, repito, de 1872.<br />

Nos Estados Unidos, a primeira lei instituindo a escola obrigatória foi<br />

promulgada em 1852 em Massachusetts. No entanto, esse Estado já tinha legislado<br />

sobre educação 200 anos antes.<br />

Na Europa, a educação compulsória foi estabelecida na Inglaterra em 1880, e<br />

a educação gratuita na França em 1881.<br />

Evidentemente, a legislação é só o primeiro passo. Nos chamados países<br />

desenvolvidos, a extensão e a qualidade da educação têm sido uma permanente<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

preocupação política. Como exemplo, cito a Inglaterra, onde educação ainda era<br />

proclamada como a principal prioridade do Governo Blair.<br />

É inegável que educação com qualidade e para todos está no centro da luta<br />

contra a desigualdade, a exclusão e a pobreza. Todos concordam que a educação é<br />

a chave para o desenvolvimento sustentável.<br />

Na Alemanha, em 1798, o Rei Frederico Guilherme III da Prússia ordenou a<br />

criação de um sistema governamental de escola para todos, concedendo um<br />

subsídio anual do seu bolso para esse projeto ambicioso.<br />

No princípio do seu reinado, o Rei Frederico Guilherme III viu seu país ser<br />

invadido por Napoleão. Normalmente os conflitos amortecem o entusiasmo dos<br />

Governos pela reforma educacional, mas não foi o que aconteceu nesse caso.<br />

Mesmo confrontado com a derrota militar, o rei determinou que fosse feito um<br />

esforço para ampliar a educação. Reproduzo aqui suas palavras: “Sacrificamos<br />

muito ao longo das nossas terras. Nosso Estado perdeu muito em poder e esplendor<br />

externos, mas essa é mais uma razão para dirigirmos a nossa atenção para dar-lhe<br />

poder e esplendor internos. É meu desejo formal que se dê atenção mais minuciosa<br />

à educação do Povo”.<br />

Isso aconteceu há mais de 200 anos. No campo educacional, a tradição leva<br />

tempo para se desenvolver. Hoje a Alemanha desenvolveu uma tradição de<br />

educação técnica e profissional que se tornou modelo para o resto do mundo.<br />

Vemos os frutos das sementes plantadas por Frederico Guilherme III no princípio do<br />

século XIX.<br />

Não tenho dúvida de que as pressões sociais que enfrenta o Presidente Lula<br />

são quase as de uma verdadeira guerra. Mas Lula não é um Presidente qualquer. É<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

o Presidente que, como nenhum outro em nossa história, encarnou a esperança e a<br />

confiança dos injustiçados, dos excluídos e de todos os brasileiros de promover as<br />

profundas mudanças de que o País precisa para diminuir a tragédia social em que<br />

vivemos.<br />

Tomo conhecimento, através da imprensa, de que no Dia do Professor, no<br />

Palácio do Planalto, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que não<br />

conseguiu fazer ainda <strong>10</strong>% daquilo que sonhou para a Educação no País.<br />

Conclamo, pois, o Presidente a não se afastar do seu sonho, a usar o seu<br />

talento, o seu carisma, a sua coragem para promover um verdadeiro pacto nacional,<br />

a fim de que a Educação seja a verdadeira prioridade desta Nação, que chega a<br />

uma encruzilhada no seu destino: ou investe agora os recursos de que a Educação<br />

necessita, ou veremos passar o trem da História.<br />

Que o Presidente Lula fortaleça seu compromisso e possa, dentro em breve,<br />

dizer aos professores e à Nação que realizou esse sonho que é tão seu quanto<br />

nosso, no que diz respeito à Educação e à paz do Brasil.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. PRESIDENTE (Washington Luiz) - Concedo a palavra ao nobre<br />

Deputado Paes Landim, do PFL do Piauí, que disporá de 25 minutos.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

DISCURSO DO SR. DEPUTADO PAES LANDIM QUE, ENTREGUE À<br />

REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O Sr. Washington Luiz, § 2º do art. 18 do<br />

Regimento Interno, deixa a cadeira da presidência, que é<br />

ocupada pelo Sr. Elimar Máximo Damasceno, § 2º do art.<br />

18 do Regimento Interno.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. DR. EVILÁSIO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.<br />

O SR. PRESIDENTE (Elimar Máximo Damasceno) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. DR. EVILÁSIO (PSB-SP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, ontem, com a presença de S.Exa. o Sr. Presidente da República Luiz<br />

Inácio Lula da Silva, ocorreu a abertura da 1ª Conferência das Cidades organizada<br />

pelo Ministério das Cidades. Até então já haviam sido organizadas e realizadas pela<br />

Comissão de Desenvolvimento e Urbano Interior desta Casa 4 conferências.<br />

É importante dizer que esse evento, em curso hoje no Minas Brasília Tênis<br />

Clube, começou a ser esboçado em abril, com 350 delegados indicados por todos os<br />

Municípios. Depois, os Estados indicaram seus delegados para a Conferência;<br />

atualmente, 2.5<strong>10</strong> delegados representam todas as Unidades da Federação.<br />

Os participantes debaterão os problemas mais sérios e graves que afetam a<br />

população das grandes cidades, como saúde, violência, transporte, saneamento e<br />

habitação.<br />

Desejo que essa Conferência alcance grande êxito.<br />

Era o registro que tinha a fazer.<br />

Muito obrigado.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. PRESIDENTE (Elimar Máximo Damasceno) - Concedo a palavra à Sra.<br />

Deputada Fátima Bezerra, para uma Comunicação de Liderança, pelo PT.<br />

A SRA. FÁTIMA BEZERRA (PT-RN. Como Líder. Sem revisão da oradora.) -<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, inicialmente, quero comentar as críticas<br />

muito duras e negativas do empresário paulista Antonio Ermírio de Moraes ao<br />

Programa Fome Zero, qualificado por ele como uma esmola e um programa<br />

equivocado.<br />

Essas críticas só poderiam partir de uma pessoa que não sabe o que é a<br />

barriga roncar de fome, que nunca sentiu na pele o que é a necessidade de se<br />

alimentar.<br />

Por outro lado, o pensamento do Sr. Antonio Ermírio de Moraes é isolado,<br />

porque não traduz o sentimento da população brasileira. Para se ter idéia, Sr.<br />

Presidente, o Programa Fome Zero está se tornando cada vez mais popular. De<br />

acordo com a última pesquisa realizada pela CNT/Sensus, divulgada esta semana,<br />

em março, 53% dos entrevistados conheciam esse programa prioritário do Governo<br />

Lula. Esse percentual hoje é de 61,2%, o que demonstra que o Programa Fome<br />

Zero, na verdade, é a principal vitrine da política social do Governo Lula.<br />

O mais importante é que, dos 61,2% que disseram que conhecem o<br />

programa, 60,3% o aprovam. Em outubro, cerca de 5,5 milhões de pessoas serão<br />

beneficiadas com os 50 reais pagos pelo Cartão-Alimentação, o que significa um<br />

crescimento de 47% em relação ao mês anterior.<br />

É importante ressaltar que o programa só vem obtendo esse sucesso, esse<br />

impacto positivo junto à população, por causa do engajamento decisivo da<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

sociedade civil, das empresas privadas e, evidentemente, das organizações<br />

não-governamentais.<br />

Sr. Presidente, também quero lembrar a todo o Brasil que amanhã, dia 25 de<br />

outubro, será celebrado o Dia Nacional de Mobilização pelo Registro de Nascimento.<br />

Nessa data, cerca de 6 mil cartórios de todo o País abrirão suas portas para a<br />

emissão gratuita do registro de nascimento.<br />

A prioridade dessa campanha é atingir os Municípios atendidos pelo<br />

Programa Fome Zero e as periferias das capitais.<br />

É uma iniciativa conjunta do MESA — Ministério Extraordinário de Segurança<br />

Alimentar e Combate à Fome, da Secretária Nacional de Direitos Humanos, da<br />

Associação Nacional dos Registros de Pessoas Naturais, do Poder Judiciário, além<br />

dos Governos Estaduais e Municipais, da sociedade civil e dos organismos<br />

internacionais, e a meta é acabar com o sub-registro até 2006, por meio de ações<br />

permanentes como essa. Espera-se a realização ainda este ano de 300 mil registros<br />

de nascimento.<br />

Mais uma vez, repudio as declarações infelizes do empresário Antonio Ermírio<br />

de Moraes. Sabe ele que o programa Fome Zero não é apenas o<br />

Cartão-Alimentação. Este é emergencial, até porque, como dizia o saudoso Betinho,<br />

a fome tem pressa, não pode esperar. Eu, que sou do Estado do Rio Grande do<br />

Norte, sei muito bem o quanto é dura essa realidade. Trago-a no meu corpo. Fui<br />

vítima também de toda essa situação de exclusão social e miséria.<br />

O Sr. Antonio Ermírio de Moraes sabe que o Fome Zero é um programa de<br />

inclusão social, de segurança alimentar, que ele tem ações de caráter estruturantes,<br />

como a geração de emprego e de capacitação e políticas públicas direcionadas à<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

alfabetização, ao incentivo à agricultura familiar e à recuperação dos assentamentos<br />

da reforma agrária. Portanto, não dá para desqualificar um programa dessa<br />

natureza.<br />

Mas repito que é um pensamento isolado, porque a maioria do povo aprova o<br />

Fome Zero, reconhece que se trata de uma política séria e consistente de combate à<br />

fome e à exclusão social.<br />

Sr. Presidente, quero ressaltar aqui a importância da Primeira Conferência<br />

Nacional das Cidades, que teve início no dia de ontem e é um sucesso! Estou<br />

representando a Câmara Federal como delegada. Participam dela mais de 2.500<br />

pessoas, entre delegados, gestores municipais e estaduais, representantes de<br />

instituições de ensino, do setor produtivo e dos trabalhadores.<br />

O mais bonito é a vitalidade que percebemos nessa Conferência. O<br />

Presidente Lula lá esteve ontem e chamou a atenção para a necessidade de<br />

unificação dos programas habitacionais do Governo Federal com os dos Estados e<br />

Municípios. Lembrou também a necessidade de aprovação, por esta Casa, de<br />

projeto de lei que tramita há muito tempo, que institui o Fundo Nacional de Moradia,<br />

sem dúvida alguma, uma iniciativa por demais importante para um País com quase 7<br />

milhões de pessoas sem um teto para se abrigar.<br />

O Presidente João Paulo Cunha também esteve na abertura da Conferência e<br />

ouviu essa convocação do Presidente da República. Portanto, a Câmara Federal<br />

deverá mobilizar os Srs. Deputados para, até o final do ano, darmos essa importante<br />

contribuição à política nacional de desenvolvimento urbano, dotando o Brasil de uma<br />

legislação como o Fundo Nacional de Moradia.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

A Conferência termina domingo — vou participar até o final representando a<br />

Câmara dos Deputados —, quando haverá a criação do Conselho Nacional das<br />

Cidades.<br />

Sr. Presidente, mais uma vez, em nome da bancada do Partido dos<br />

Trabalhadores, quero saudar os funcionários do Banco do Brasil e da Caixa<br />

Econômica, os quais recentemente fizeram greve como justo e legítimo direito para<br />

buscar uma negociação, que terminou acontecendo.<br />

É bem verdade que a negociação não foi capaz de atender a todas às<br />

reivindicações dessas categorias tão importantes para o País, mas, inegavelmente,<br />

a postura do Governo Lula frente à luta das 2 categorias bancárias foi<br />

completamente diferente de tudo o que se viu nesses últimos 8 anos.<br />

O Governo Fernando Henrique Cardoso, além do arrojo salarial cruel que<br />

impôs aos trabalhadores brasileiros, inclusive à categoria dos bancários, cometeu a<br />

maldade de usar indiscriminadamente a terceirização, o que trouxe insegurança e a<br />

chamada precarização do trabalho para categorias que, na verdade, têm alto nível<br />

de escolarização, politização e de dedicação às empresas.<br />

Portanto, fico muito feliz ao ver que no Governo do Presidente Lula esses<br />

trabalhadores estão tendo um tratamento diferente.<br />

Os bancários foram à greve, e têm que ir mesmo, porque ela é o caminho<br />

para se chegar à negociação. Portanto, quero saudá-los por isso.<br />

Sr. Presidente, também quero me solidarizar com os petroleiros pela sua luta,<br />

pedindo ao Presidente da PETROBRAS, José Eduardo Dutra, que agilize o<br />

processo de negociação com a categoria. Os entendimentos já começaram, mas é<br />

importante que se agilize o processo de negociação com os petroleiros, que, a<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

exemplo dos demais trabalhadores brasileiros, durante os 8 anos do Governo<br />

Fernando Henrique foram duramente atacados. Até hoje está na nossa memória<br />

aquela greve histórica dos petroleiros e a forma como o Governo Fernando Henrique<br />

os tratou.<br />

Sr. Presidente, essa categoria tem sido vítima também do uso indiscriminado<br />

da terceirização, que trouxe insegurança no trabalho.<br />

Mais uma vez, em nome da bancada do Partido dos Trabalhadores, expresso<br />

minha solidariedade aos petroleiros e, ao mesmo tempo, reitero o apelo ao<br />

ex-Senador José Eduardo Dutra, que hoje tão bem conduz os destinos daquela<br />

empresa, para que agilize o processo de negociação, a fim de as justas<br />

reivindicações dos petroleiros de todo o País sejam atendidas.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

VI - PROPOSIÇÕES<br />

O SR. PRESIDENTE (Elimar Máximo Damasceno) - Os Srs. Deputados que<br />

tenham proposições a apresentar queiram fazê-lo.<br />

APRESENTAM PROPOSIÇÕES OS SRS.:<br />

501


de<br />

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Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. PRESIDENTE (Elimar Máximo Damasceno) - Vai-se passar ao horário<br />

VII - COMUNICAÇÕES PARLAMENTARES<br />

Tem a palavra o Sr. Deputado Francisco Rodrigues, pelo PFL.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. FRANCISCO RODRIGUES (PFL-RR. Sem revisão do orador.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho hoje tratar de um tema da maior<br />

relevância. No entanto, não posso deixar de me referir ao pronunciamento da nobre<br />

Deputada Fátima Bezerra, do PT do Rio Grande do Norte. S.Exa. teceu uma crítica<br />

velada ao Sr. Antonio Ermírio de Moraes, o maior empresário do País, pelos<br />

comentários que fez ontem sobre o Programa Fome Zero. Considero injusta a<br />

manifestação da nobre Deputada Fátima Bezerra, diante do que demonstram o<br />

passado e o presente desse que é o maior empresário do País.<br />

Assisti ontem, nos noticiários da imprensa, à manifestação do empresário,<br />

que é também a nossa, e inclusive a daquele que, conforme afirmou a Deputada,<br />

com muita propriedade, está sendo tangido pela fome e obviamente precisa do<br />

benefício que o Presidente Lula tão sabiamente lhe estendeu com o Fome Zero. O<br />

programa, no meu entender, é utópico, mas não deixa de amenizar de alguma forma<br />

a necessidade daqueles que, conforme dizia Betinho, têm fome e<br />

conseqüentemente têm pressa.<br />

No meu entendimento, a manifestação do Sr. Antonio Ermírio de Moraes<br />

deu-se tão-somente no sentido de que nenhum pai de família, nenhum cidadão tem<br />

prazer em entrar numa fila para receber um cartão, ou uma cesta básica, ou um<br />

vale-alimentação, porque isso “coisifica” o ser humano, deixa-o quase alucinado,<br />

pelo fato de que para sobreviver e sustentar sua família tenha de receber esmola. A<br />

esmola, na verdade, tira do ser humano os valores que são próprios da sua<br />

natureza: alegria, felicidade, fé, crença no futuro.<br />

Eu gostaria de ratificar uma outra posição em relação ao tema. Entendo que o<br />

Presidente Lula não tem, em absoluto, culpa de todas as mazelas que encontrou no<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

País — e outros vão continuar a encontrá-las —, mas realmente deixo este reparo<br />

por tudo aquilo que o empresário Antonio Ermírio de Moraes representa para a<br />

Nação brasileira. Que me perdoe a franqueza a Deputada Fátima Bezerra, mas, no<br />

meu entendimento, S.Exa. foi injusta em suas críticas ao empresário, que alimenta<br />

milhões de pessoas, direta ou indiretamente, com o trabalho que realiza de sol a sol.<br />

Agora, Sr. Presidente, quero referir-me a certa matéria publicada na edição de<br />

hoje do jornal Correio Braziliense, um trabalho, sério, competente e responsável,<br />

que dá esperanças ao povo brasileiro e cobra atitudes do Governo. Afinal de contas,<br />

nosso Governo hoje é do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não é mais de<br />

Fernando Henrique Cardoso, de Itamar Franco ou outros que por aqui passaram.<br />

Refiro-me à situação das rodovias em nosso País. Perigo no caminho é um dos<br />

subtítulos dessa matéria que, com muita propriedade, informa que 82,8% das<br />

estradas brasileiras estão em situação péssima, ruim ou deficiente.<br />

Sr. Presidente, sei que no Estado de V.Exa, assim como no meu, Roraima,<br />

onde há aproximadamente 1.350 quilômetros de rodovias federais, a situação das<br />

estradas é péssima. E veja que tangenciamos a Venezuela e a República<br />

Cooperativista da Guiana. Há uma desatenção por parte do Ministério dos<br />

Transportes, e por isso faltam recursos para a recuperação de vários trechos, muitos<br />

dos quais totalmente danificados.<br />

Só para se ter idéia, a partir do trabalho realizado pela Confederação<br />

Nacional dos Transportes e divulgado por seu Presidente, Dr. Clésio Andrade,<br />

também Vice-Governador do Estado de Minas Gerais, constatou-se que do ano<br />

passado para cá aumentaram de 59,2% para 82,8% as estradas em situação ruim,<br />

péssima ou deficiente.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

É lógico, o problema ocorre em escala exponencial. Quanto mais as estradas<br />

se apresentem esburacadas e sem recuperação, mais, obviamente, piora a situação.<br />

Uma carreta com 30 toneladas de peso que passe num buraco hoje vai fazer com<br />

que ele cresça <strong>10</strong>%, 20%, 30%, aumentando o desconforto de quem vai amanhã<br />

transitar na estrada.<br />

Um dos programas propostos pelo Governo, até como forma política de<br />

agregar, compor, promover a participação popular coletiva, de toda a sociedade, nos<br />

investimentos, é a Parceria Público-Privada, que na verdade tem alguns vieses. Eu<br />

diria que o viés mais importante diz respeito exatamente à parceria em trechos<br />

rentáveis. A CNT mostra, por exemplo, que os <strong>10</strong> piores trechos das estradas<br />

brasileiras estão sob administração pública, e os <strong>10</strong> melhores trechos estão sob<br />

administração privada. Isso é compreensível, porque as empresas privadas não<br />

assumem trechos que não lhes dêem retorno. Concordo plenamente. Entretanto, a<br />

Parceria Público-Privada, no meu sentimento, tem limites. Dos praticamente 50 mil<br />

quilômetros que estão em má situação, obviamente apenas 4 mil ou 5 mil<br />

quilômetros as empresas privadas vão querer assumir. O restante terá de ficar sob a<br />

proteção do Governo.<br />

Não podemos tapar o sol com a peneira. As estradas brasileiras estão em<br />

situação de verdadeiro caos, e infelizmente o Ministério dos Transportes está inerte,<br />

apático, sem reação.<br />

Sou do PFL, mas reconheço a visão geopolítica, geoestratégica e pragmática<br />

do Presidente da República. No entanto, S.Exa. tem de dar uma sacudida nos<br />

Ministérios e fazer com que os recursos apareçam, senão daqui a algum tempo a<br />

recuperação de 1 quilômetro de estrada, que poderia ser feita hoje com R$ 50 mil,<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

R$ 60 mil, exigirá amanhã mais de R$ 150 mil, o que inviabilizará totalmente nossas<br />

rodovias.<br />

A produção agrícola está aumentando. O dado é positivo. Já ultrapassamos<br />

os <strong>10</strong>0 milhões de toneladas, dos quais 85% serão transportados por rodovias.<br />

Portanto, ou o Governo se debruça sobre a questão e imediatamente inicia o<br />

processo de recuperação das estradas, ou afundaremos no caos.<br />

Dizia Washington Luís que governar é abrir estradas; em meu entendimento,<br />

governar é mantê-las.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

O Sr. Elimar Máximo Damasceno, § 2º do art. 18<br />

do Regimento interno, deixa a cadeira da presidência, que<br />

é ocupada pela Sra. Fátima Bezerra, § 2º do art. 18 do<br />

Regimento Interno.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

A SRA. PRESIDENTA (Fátima Bezerra) - Concedo a palavra ao nobre<br />

Deputado Elimar Máximo Damasceno, pelo PRONA. S.Exa. disporá de 5 minutos na<br />

tribuna.<br />

O SR. ELIMAR MÁXIMO <strong>DA</strong>MASCENO (PRONA-SP. Pronuncia o seguinte<br />

discurso.) - Sra. Presidenta, Sras. e Srs. Deputados, o Projeto de Lei nº 2.279, de<br />

20<strong>03</strong>, que torna contravenção penal o beijo lascivo entre pessoas do mesmo sexo,<br />

em público, teve origem após o lançamento da Frente Parlamentar pela Livre<br />

Expressão Sexual, no dia 8 de outubro do corrente ano. Nesse triste evento,<br />

realizado dentro desta Casa de leis, os homossexuais trocaram beijos lascivos,<br />

desmoralizando todos os Parlamentares.<br />

Jamais poderemos permitir tal acinte. Não ao hedonismo, ao permissivismo e<br />

à promiscuidade.<br />

O Brasil é país cuja maioria da população é constituída por pessoas de<br />

formação cristã. Assim sendo, ensinamos aos nossos filhos, em nossas casas,<br />

igrejas, algumas escolas e outros lugares, os preceitos de Deus, que condenam a<br />

prática do homossexualismo.<br />

Sendo os homossexuais minoria da população, e mesmo que fossem maioria<br />

não se justificaria, não é justo que pratiquem atos libidinosos diante de nossos filhos,<br />

contra nossos costumes. A grande maioria das pessoas, ou seja, milhões de<br />

famílias, desaprova tais atos. É preciso que uma voz se levante e que algo seja feito.<br />

Precisamos respeitar os homossexuais, mas o respeito deve ser recíproco.<br />

Os nudistas separam seus recantos e procuram respeitar outros locais. Os<br />

fumantes separam seus ambientes e respeitam os não-fumantes. Por que os<br />

homossexuais querem ser diferentes?<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Queremos deixar bem claro que não somos contra os homossexuais, mas<br />

contra a prática do homossexualismo, que é uma ofensa a Deus.<br />

Dentro desse contexto, nada mais justo que um projeto da natureza do<br />

mencionado, que se fundamenta nos preceitos de Deus, nos quais está alicerçado o<br />

PRONA, partido de reedificação, no caso, reedificação da família, célula da<br />

sociedade.<br />

Estamos vendo a inversão dos nossos valores morais, situação em que o<br />

aluno não respeita o professor, o bandido persegue o policial, o filho não obedece ao<br />

pai. Do mesmo modo têm agido os homossexuais, cujas práticas ferem a natureza<br />

humana. Não podemos aceitar isso e cruzar os braços.<br />

Aproveitamos a oportunidade para conclamar todos os cristãos deste País<br />

para uma grande tomada de posição diante da obra de Deus. Vamos começar pelo<br />

Congresso Nacional, unindo Deputados e Senadores católicos, evangélicos e<br />

simpatizantes. Possivelmente formaremos uma forte frente parlamentar em favor da<br />

família.<br />

Convocamos para a luta a Igreja Católica, as Assembléias de Deus, as Igrejas<br />

batistas, presbiterianas, metodistas, maranatas, Sara Nossa Terra, etc. e os líderes<br />

religiosos, tais como o Bispo Marcelo Crivella, os Padres Jonas Abib, Marcelo Rossi,<br />

Zezinho e Antônio Maria, os Pastores Caio Fábio, Marcos Correia, RR Soares, Silas<br />

Malafaia, Guilhermino Cunha. Enfim, precisamos da união de todos os cristãos e<br />

simpatizantes.<br />

Hoje, somos todos tratados pelo sistema como manada de búfalos diante do<br />

consumismo, do hedonismo, do materialismo e do esoterismo e só vemos crescer a<br />

degradação dos nossos valores morais.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Na condição de cristãos, precisamos reagir e mostrar que temos voz.<br />

Precisamos, em clima de paz, ir às emissoras de televisão, nem que seja de joelhos<br />

(num gesto de humildade), clamar, implorar, para que parem com tantas cenas de<br />

homossexualismo, sexo explícito, violência e diversos tipos de agressão moral aos<br />

nossos semelhantes.<br />

Nesta nação cristã, muitas pessoas estão voltando as costas para o Criador.<br />

A imprensa brasileira não poderá ser cúmplice. Ela deverá ser a grande<br />

ferramenta a ser utilizada para que nosso povo se coloque de joelhos diante do<br />

Senhor Jesus, o Cristo.<br />

Levantamos nossas vozes para erguer essa bandeira em favor das famílias,<br />

que não estão suportando as imagens agressivas veiculadas como “fatos normais”.<br />

Temos recebido muitos e-mails de aprovação ao projeto e solidariedade<br />

conosco. Outros, que não são favoráveis, nós os lemos com toda a compreensão<br />

possível.<br />

É dever cristão amar ao próximo, mas isso não significa que tenhamos de ser<br />

coniventes com todas as suas práticas, principalmente quando elas agridem a moral.<br />

Também é dever cristão alertar, orientar e denunciar situações que agridam a<br />

natureza humana e não agradam a Deus.<br />

Afirmamos que não se trata de guerra. É preciso oferecer equilíbrio, amor e<br />

proteção às nossas crianças, aos nossos adolescentes e jovens e especialmente às<br />

famílias.<br />

É necessário ajudar nossos irmãos homossexuais, que já estão mergulhados<br />

nessa opção de vida condenada por Deus. O homossexualismo é antinatural. É<br />

melhor viver em harmonia com a natureza e dentro dos preceitos do Criador.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Sras. e Srs. Deputados, aqui eles vieram nos afrontar. Que desta Casa de leis<br />

da Nação brasileira comece o agir de Deus.<br />

Quero terminar, Sra. Presidenta, pedindo desculpas às emissoras de<br />

televisão, rádios e jornais. Foram numerosos os pedidos de entrevista a que<br />

deixamos de atender. Entendemos que o momento não é oportuno, pois poderíamos<br />

parecer sensacionalistas.<br />

É conveniente lembrar as referência bíblicas sobre o assunto: Gênesis, 1:27;<br />

Levítico, 18:22; Romanos, 1 e 2, e Apocalipse, 21:8.<br />

Que Deus abençoe as famílias brasileiras.<br />

Muito obrigado, Sra. Presidenta.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. BABÁ - Sra. Presidenta, peço a palavra pela ordem.<br />

A SRA. PRESIDENTA (Fátima Bezerra) - Tem V.Exa. a palavra.<br />

O SR. BABÁ (PT-PA. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sra. Presidenta,<br />

Sras. e Srs. Deputados, companheiros trabalhadores, ontem li no jornal a notícia de<br />

que o Relator do Orçamento, o Deputado Jorge Bittar, havia encontrado uma<br />

fórmula para repor o dinheiro constitucionalmente assegurado à Saúde, os R$ 3,5<br />

bilhões retirados da proposta encaminhada pelo Governo, que tanta polêmica<br />

causaram. O Deputado Jorge Bittar disse que viajaria até a Espanha para informar<br />

ao Presidente da República que já havia encontrado uma solução para o problema:<br />

remanejaria verbas de investimentos e recomporia os recursos da Saúde.<br />

Ora, neste primeiro ano de Governo, as verbas para investimentos foram<br />

muito parcas, e até agora ainda não foram totalmente liberadas. Nossas estradas<br />

estão abandonadas, a hidrelétrica de Tucuruí até agora inconclusa, os R$ 56 bilhões<br />

que deveriam ser destinados às eclusas ainda não saíram, e o ano já está no fim.<br />

Mas o Deputado Jorge Bittar acha mais salutar tirar dinheiro dos investimentos. As<br />

verbas destinadas ao pagamento de juros da dívida não serão afetadas. Bem, eu até<br />

sugeriria que retirassem mais dinheiro dos bancos internacionais. Além dos R$ 3,5<br />

bilhões da Saúde, a verba para a reforma agrária e para os programas sociais do<br />

Governo, para investimento global no País.<br />

Nossas universidades estão à míngua, e a Saúde deveria até ser<br />

contemplada com mais recursos, mas só se preocupam com a saúde do capital<br />

financeiro. Ora, essa está preservada.<br />

Sra. Presidenta, se este Governo não enfrentar a política do Fundo Monetário<br />

Internacional, se não declarar a moratória, vai repetir-se no próximo ano o que<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

aconteceu em 20<strong>03</strong>. Até agosto, <strong>10</strong>2 bilhões de reais foram destinados ao<br />

pagamento de juros, enquanto nada foi liberado para investimento e quase nada<br />

para a reforma agrária.<br />

Companheiros trabalhadores, nós, Deputados, que vamos votar o Orçamento<br />

para 2004, não podemos aceitar mais uma vez que o dinheiro que deveria aplacar<br />

as necessidades do País sirva para garantir o superávit primário e bancar os juros<br />

abusivos a que nos submetem. É contra esses banqueiros que esperávamos que o<br />

Governo Lula reagisse.<br />

Só mesmo a força da mobilização popular poderá pressionar o Governo a<br />

romper com os banqueiros, ou pagaremos um preço muito alto para que o Ministro<br />

Antonio Palocci e o Sr. Henrique Meirelles tenham dinheiro para enriquecer ainda<br />

mais o sistema financeiro internacional, em detrimento da população brasileira.<br />

Muito obrigado.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

A SRA. PRESIDENTA (Fátima Bezerra) - Antes de encerrar os trabalhos,<br />

esta Presidência quer fazer um registro.<br />

Ontem, numa sessão histórica, esta Casa aprovou o Projeto de Lei nº 1.555,<br />

que trata do Estatuto do Desarmamento. Quero mais uma vez parabenizar esta<br />

Casa, os Parlamentares, em especial o Deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, Relator<br />

da matéria, que fez um brilhante trabalho, bem como o Presidente da Casa, o<br />

Deputado João Paulo Cunha, pelo empenho, pelo esforço pessoal no sentido de que<br />

a tramitação e a votação da matéria pudessem ocorrer.<br />

Não tenho nenhuma dúvida de que esta Casa, ao aprovar esse projeto de lei,<br />

conhecido como Estatuto do Desarmamento, que agora vai para o Senado Federal,<br />

está dando um passo muito importante no sentido do combate à violência no País.<br />

É evidente que o Estatuto do Desarmamento, por si só, não é suficiente para<br />

resolver os graves problemas de violência existentes no mundo e aqui no País, mas<br />

é um passo importante para reduzir a criminalidade, para combater o crime<br />

organizado e acabar com a farra das armas.<br />

Não tenho dúvida de que essa legislação vem na direção de substituir a<br />

violência pela cultura da solidariedade, pela cultura da paz, pela cultura da tolerância<br />

entre homens e mulheres.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

VIII - ENCERRAMENTO<br />

A SRA. PRESIDENTA (Fátima Bezerra) - Nada mais havendo a tratar, vou<br />

encerrar a sessão.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

A SRA. PRESIDENTA (Fátima Bezerra) - Encerro a sessão, designando para<br />

terça-feira, dia 28 de outubro, às 14h, a seguinte<br />

ORDEM DO DIA<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

(Encerra-se a sessão às 13 horas e 20 minutos.)<br />

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. DEPUTADO PAES LANDIM NA <strong>SESSÃO</strong><br />

SOLENE <strong>DA</strong> CÂMARA DOS DEPUTADOS Nº 215, REALIZA<strong>DA</strong> EM 8 DE<br />

OUTUBRO DE 20<strong>03</strong> — RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO:<br />

O SR. PAES LANDIM (PFL-PI.) - Sr. Presidente; Sr. Senador Jarbas<br />

Passarinho; autoridades presentes; colegas Constituintes; Sras. e Srs. Deputados;<br />

minhas senhoras e meus senhores, eu não poderia iniciar essas palavras sem<br />

homenagear a figura do Dr. Ulysses Guimarães — que presidiu a Assembléia<br />

Nacional Constituinte de 1988, cujos inumeráveis méritos já foram aqui ressaltados<br />

pelos oradores que me antecederam — e à figura do grande Líder do PMDB de<br />

então, Senador Mário Covas, que, formado pela Escola Politécnica da Universidade<br />

de São Paulo, construiu uma bela história no Parlamento brasileiro e foi o grande<br />

comandante político da Constituinte. Ele, de certa maneira, imprimiu-lhe os rumos,<br />

diante das circunstâncias históricas que vivíamos naquele momento.<br />

Não poderia deixar também de homenagear meus colegas de posição na<br />

Constituinte, as saudosas figuras de Roberto Campos, Luis Eduardo Magalhães,<br />

Roberto Cardoso Alves e vários outros. Inclusive, no dia da promulgação da nova<br />

Carta, assinamos aqui e entregamos à Mesa da Constituinte, declaração à parte —<br />

éramos cerca de 13 Parlamentares Constituintes — dizendo dos nossos receios a<br />

respeito da aplicabilidade e operacionalidade do texto constitucional que se<br />

promulgava naquela data histórica.<br />

Sr. Presidente, a Constituição de 1988, nasceu num momento conturbado da<br />

vida nacional. Acabáramos de sair de um longo período autoritário. Havia grandes<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

exacerbações ideológicas no mundo inteiro, e foi uma pena que ela tenha sido<br />

discutida e promulgada antes da queda do Muro de Berlim, porque várias ilusões<br />

estatizantes e ideológicas desapareceram quando a Alemanha deu esse exemplo de<br />

maturidade política, dentro das suas grandes tradições históricas. Por sinal, dá<br />

exemplo ainda hoje. Enquanto alguns acreditam que nossa Constituição melhorou<br />

muito, diante das circunstâncias dramáticas do processo autoritário que se iniciou<br />

em 1964, agravadas a partir de 1968, a Alemanha fez sua Constituição, em 1949,<br />

pensando no futuro. Tanto é assim que sua Constituição previa ser subscrita pelos<br />

que naquele momento compunham a República Federal alemã e para aqueles que,<br />

no futuro, poderiam também se incorporar ao espírito da Constituição, como<br />

aconteceu a partir de sua reunificação.<br />

Mas, Sr. Presidente, essa Constituição teve fatos de suma importância na<br />

história constitucional no Brasil. Basta destacar a ênfase que ela deu ao setor<br />

educacional, ao setor do meio ambiente, que precisa ser cada vez mais radicalizado<br />

em termos do que a Constituição se propôs, sobretudo o papel relevantíssimo dado<br />

ao Ministério Público, na preservação do meio ambiente, de uma política ambiental<br />

sadia, indispensável à vida em nossa sociedade, além de outras importantes<br />

atribuições que reservou ao Ministério Público na preservação do interesse e da<br />

moralidade pública.<br />

O grande Prof. José Afonso da Silva, seu intérprete mais fidedigno, grande<br />

conselheiro e grande auxiliar do Senador Mário Covas, de quem foi procurador — foi<br />

sua figura principal na Prefeitura de São Paulo e, depois, no Governo do Estado —,<br />

ressalta, entre outros dispositivos vitais, o do meio ambiente e o da educação, em<br />

particular, a ênfase posta na autonomia da Universidade, autonomia que, segundo<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

ele, não é "apenas a independência da instituição universitária, mas a do próprio<br />

saber humano", na lição do grande Anísio Teixeira, por ele lembrado.<br />

Sr. Presidente, quanto à controvérsia surgida na imprensa a respeito de artigos da<br />

Constituição, quero dizer que houve algum equívoco, porque a emenda a respeito<br />

dos Poderes da União, foi por mim subscrita e aprovada em plenário, por<br />

unanimidade, uma vez que a Comissão de Sistematização falava em Poderes do<br />

Estado. Poderes são do Estado quando este é unitário. A velha Alemanha nos deu a<br />

lição de que o Estado Federal é o melhor controle contra a arbitrariedade, a melhor<br />

armadura para proteger a democracia, porque no Estado Federal os Poderes<br />

pertencem à União, e seus Estados-membros também têm seus Poderes<br />

devidamente constituídos.<br />

Mas é de chamar a atenção a grave observação do Prof. José Afonso da<br />

Silva, que, como disse, foi o melhor intérprete da Constituição, porque acompanhou<br />

pari passu sua formulação e foi o grande assessor intelectual de Mário Covas. Ele,<br />

com muita gravidade — e talvez a Nação não se tenha apercebido disso,<br />

especialmente os estudiosos do Direito —, escreveu, logo após a Constituição, e<br />

manteve sua assertiva na décima edição de seu livro:<br />

“As medidas provisórias não constavam da<br />

enumeração do art. 59, como objeto de processo<br />

legislativo, e não tinham mesmo que constar, porque sua<br />

formação não se dá por processo legislativo. São<br />

simplesmente editadas pelo Presidente da República. A<br />

redação final da Constituição não as trazia nessa<br />

enumeração. Um gênio qualquer, de mau gosto,<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

ignorante, e abusado, introduziu-as aí, indevidamente,<br />

entre a aprovação e o texto final (portanto depois do dia<br />

22 de setembro de 1988) e a promulgação — publicação<br />

da Constituição no dia 5 de outubro de 1988”.<br />

Essa realmente é uma observação muito séria de um homem da<br />

responsabilidade do Prof. José Afonso da Silva, o que me leva a fazer aqui este<br />

registro, para que fique nos Anais desta Casa, a fim de se dirimir dúvidas como as<br />

suscitadas recentemente pela imprensa brasileira.<br />

Sr. Presidente, várias tendências no País falam da revisão da Constituição,<br />

sem embargo da grande contribuição que deu sobretudo aos direitos sociais, que<br />

me fazem lembrar exatamente a contribuição dos partidos ligados aos sindicatos no<br />

Brasil, sobretudo o Partido dos Trabalhadores. E citaria aqui uma expressão do<br />

conhecido professor francês, de História, René Rémond. Ele diz:<br />

"A eclosão do movimento operário nas sociedades<br />

industrializadas da Europa suscita o surgimento de<br />

partidos operários que mobilizam as massas populares.<br />

O advento dos partidos modernos inaugura o tempo dos<br />

militantes, políticos ou sindicais. Integrando-se à<br />

democracia, eles a reforçam pelo enriquecimento do<br />

conteúdo da idéia e pela mudança de sua orientação;<br />

completam a democracia política com a democracia<br />

social".<br />

Seria hora, realmente, de se pensar na sua revisão, num texto definitivo para<br />

o século XXI, e qualquer mudança a partir daí, seria submetida ao referendo do povo<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

brasileiro. Até porque, aproveitando o mote da expressão do nosso eminente e<br />

querido Presidente Deputado João Paulo Cunha, ao invés de a Constituição ser um<br />

mero edifício, de quando em quando reformado, ela deveria ser a Constituição do<br />

século XXI, como essas grandes catedrais góticas, com a sua imponência<br />

atravessando os tempos e se projetando sempre em direção ao futuro.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)<br />

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. DEPUTADO PAES LANDIM NA <strong>SESSÃO</strong><br />

SOLENE <strong>DA</strong> CÂMARA DOS DEPUTADOS Nº 226, REALIZA<strong>DA</strong> EM 15 DE<br />

OUTUBRO DE 20<strong>03</strong> — RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO:<br />

O SR. PAES LANDIM (PFL-PI.) - Sra. Presidenta; Sr. Representante da<br />

UNESCO, cuja presença muito nos honra; Sras. e Srs. Deputados; minhas senhoras<br />

e meus senhores; caros professores, há cerca de 3 anos assisti no Palácio do<br />

Planalto a uma solenidade em que o Presidente da República conferia a Fernanda<br />

Montenegro, pelo êxito do filme Central do Brasil, a mais importante distinção da<br />

República, a Ordem Nacional do Mérito, que tem sido concedida com muita<br />

parcimônia pelos nossos governantes.<br />

Na oportunidade, Fernanda Montenegro fez um discurso muito emocionante,<br />

que vale a pena, nesta data, ser lembrado. Contou que sua professora primária era<br />

tão dedicada, que passava tarefas para os alunos fazerem durante as férias.<br />

Recordou-se de que, aos 8 anos, sua professora obrigou-a a recitar, na volta das<br />

férias, entre outras poesias, Meus Oito Anos, de Casimiro de Abreu: “Oh! Que<br />

saudades que tenho/Da aurora da minha vida...” Disse ainda que, aos 15 anos, no<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

ginásio, sabia falar fluentemente o francês e um pouco do inglês e que aos 17 anos<br />

já era a primeira mulher concursada do Rádio Ministério da Educação.<br />

Vejam o que era a escola naquela época! E disse ela: “Presidente da<br />

República, veja agora, no Central do Brasil, a Profa. Dorinha, sofrida, mal paga, com<br />

salário baixo, desmotivada, sem satisfação pessoal. Faço um apelo ao Sr.<br />

Presidente para que retornemos ao ensino do meu tempo”. O Presidente, numa<br />

conversa informal, após a solenidade, teria comentado que Fernanda Montenegro<br />

desconhecia o trabalho do Ministro Paulo Renato, a revolução educacional, o Fundo<br />

da Educação, etc.<br />

Mas o problema não é esse. O problema é criar realmente a mística do<br />

orgulho da professora ou do professor, aqueles que cuidam da criança, da formação<br />

do cidadão do futuro. Essa a grande filosofia do maior pensador do Brasil da<br />

educação do século XX, Anísio Teixeira, cujas idéias precisam ser resgatadas<br />

urgentemente neste País.<br />

A grande ação do Governo brasileiro em matéria de educação, nos últimos<br />

anos, foi exatamente o chamado Fundo da Educação, cuja idéia foi também de<br />

Anísio Teixeira. Em 1952, ele defendia, em conferências e artigos, a criação de um<br />

mecanismo para que Estados, Municípios e União se articulassem para favorecer o<br />

salário dos professores e melhorar as condições de educação em nosso País. Tanto<br />

é assim que, em determinados momentos, defendia, inclusive, que a União Federal<br />

complementasse o salário do professor primário para valorizar e dignificar sua<br />

função.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Dizia ele, em 1953, exatamente há 50 anos, pensamento que, de certa<br />

maneira, foi imitado pelo Governo passado ao criar o Fundo da Educação e que<br />

merecia ser chamado de Fundo Anísio Teixeira:<br />

“Um fundo federal constituiria a verba global<br />

mínima ou irredutível do Ministério da Educação e<br />

Cultura, que deveria transformar sua estrutura para poder<br />

atingir seus objetivos com a flexibilidade e a autonomia<br />

necessárias. Os Estados e Municípios passariam a<br />

administrar seus recursos, transformariam os respectivos<br />

órgãos de educação em órgãos autônomos, com<br />

orçamentos próprios, mínima organização técnica<br />

adequada e autonomia administrativa. Duas idéias<br />

estariam contidas nessa sugestão de fundos da educação<br />

ou fundos escolares: a da integração dos recursos de<br />

origem federal, estadual e municipal em uma só obra<br />

conjunta de educação e a do ajustamento das escolas às<br />

condições econômicas locais, separando-se as verbas de<br />

investimento das verbas de custeio”.<br />

Esse grande pensador acreditava que este País só seria uma grande nação<br />

no dia em que as crianças ficassem na escola o dia inteiro.<br />

A grande idéia de Anísio era que o Instituto Nacional de Estudos<br />

Pedagógicos, hoje chamado de Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas<br />

Educacionais Anísio Teixeira, com a aposição do seu nome tendo se dado através<br />

de projeto de lei de nossa autoria, cuidasse de valorizar o professor, especialmente<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

o do ensino primário, que corresponderia hoje ao 1º grau, e de dignificar-lhe a<br />

função, para que ele fosse o protagonista do crescimento da Nação, da formação<br />

dos cidadãos. Seguiríamos, assim dizia Anísio Teixeira, o exemplo dos franceses,<br />

que chamam os professores de instituidores, pois são eles que ajudam a compor o<br />

destino da nação.<br />

Encerro meu pronunciamento lembrando-me do grande Prof. Milton Santos,<br />

que, se houvesse o Prêmio Nobel de Geografia Humana, tê-lo-ia recebido. Menino<br />

pobre de uma região miserável da Bahia, Milton Santos deve toda a sua formação a<br />

uma idéia de Anísio Teixeira, que, no Governo de Otávio Mangabeira, criou bolsas<br />

para aproveitar os grandes talentos deste País. Precisamos resgatar esses vários<br />

Miltons Santos espalhados pelo País sem oportunidade de estudo.<br />

Por iniciativa da Profa. Maria José Rocha Lima, hoje assessora especial do<br />

Ministro Cristovam Buarque e à época vibrante Deputada Estadual, em 1998, a<br />

Assembléia Legislativa da Bahia realizou sessão especial em homenagem ao Dia do<br />

Professor, na qual o saudoso Milton Santos disse, com a sua grande autoridade<br />

moral, cívica e intelectual:<br />

“Não basta fazer reuniões como esta,<br />

mesmo sendo sensível à atitude da deputada, mas<br />

é insuficiente nos reunir, porque é indispensável<br />

que o Poder Público seja chamado à sua<br />

responsabilidade, que é histórica, da condução do<br />

presente, da produção do futuro. Coisa que não se<br />

faz se o ensino não é levado a sério por esses<br />

governantes. E as responsabilidades são divididas:<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Executivo e Legislativo, ambos são igualmente<br />

responsáveis pela situação de penúria, quase<br />

miséria, de abandono quase total, situação na qual<br />

se encontra o professorado no país como um<br />

todo... Tive a sorte de nascer na Bahia e tive a<br />

sorte, talvez maior ainda, de nascer na Bahia<br />

quando a cultura era um grande fanal, quando a<br />

cultura era o grande orgulho da população deste<br />

Estado em todos os seus níveis, quando a cultura<br />

presidia as relações humanas e, de alguma<br />

maneira, também as relações sociais, quando a<br />

cultura premiava aqueles que se mostravam de<br />

uma forma ou de outra mais evidentes”.<br />

Essas palavras são uma lição de vida, de grandeza humana, dessas lições<br />

eternas que deveriam servir de paradigma para todos quantos lidam com a<br />

educação em nosso País.<br />

Parabenizo Maria José Rocha Lima pela oportunidade de conhecermos essa<br />

lição de Milton Santos e a ela faço um apelo para que em nome do Ministro<br />

Cristovam Buarque recupere o texto do discurso de Fernanda Montenegro, porque<br />

infelizmente não tive condições de fazê-lo.<br />

Nesta oportunidade, estes nomes simbolizaram minha modesta homenagem<br />

ao Dia do Professor: Fernanda Montenegro, Milton Santos e Anísio Teixeira.<br />

5<strong>24</strong>


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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Encerrarei com o discurso pronunciado por Anísio Teixeira, o sacerdote da<br />

educação pública do Brasil, em 1967, na condição de padrinho do curso de Filosofia<br />

e Letras da Universidade Federal da Bahia:<br />

Muito obrigado. (Palmas.)<br />

“E dessa imensa tarefa somos nós, educadores, as<br />

testemunhas mais vigilantes e, ouso dizer, os colaborares<br />

mais próximos. A velha metáfora salta-me à pena: o sal<br />

de toda a terra. A nação francesa, tão profundamente<br />

ligada ao início dessa longa revolução, que está ainda em<br />

curso e que vive agora entre nós a sua hora de partida<br />

para o desenvolvimento, deu aos seus professores<br />

primários a designação instituteurs, instituidores. Gostaria<br />

de ver o nome estendido a todos os professores, de todos<br />

os níveis. Profundamente agradecido à honra que me<br />

destes, fazendo-me paraninfo de vossa formatura,<br />

permiti-me que vos saúde com este nome... Sois, como<br />

educadores, os instituidores do Brasil”.<br />

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. DEPUTADO JOSÉ THOMAZ NONÔ NO<br />

PERÍODO DESTINADO AO GRANDE EXPEDIENTE <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong> ORDINÁRIA <strong>DA</strong><br />

CÂMARA DOS DEPUTADOS Nº 227, REALIZA<strong>DA</strong> EM 15 DE OUTUBRO DE 20<strong>03</strong><br />

— RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO:<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. JOSÉ THOMAZ NONÔ (PFL-AL.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs.<br />

Deputados, vou falar nesta sessão sobre a visão que deve ter o homem comum<br />

daquilo que é o Governo Lula até a presente data.<br />

Quero aqui fugir um pouco dos números — dos números dos eruditos, do<br />

debate dos intelectuais, da discussão que a mídia apresenta — e procurar repor a<br />

avaliação de Governo sob a visão daquele que, em última análise, recebe os<br />

benefícios ou os malefícios da ação governamental.<br />

Quero deixar claro de plano que não nos move aqui qualquer postura<br />

maquiavélica de distorcer realidades ou a postura ressentida de opositor<br />

encanecido. Nada disso, quero apenas procurar, no exame acurado de realidades<br />

orçamentárias, sobretudo de realidades de execução orçamentária no ano de 20<strong>03</strong>,<br />

ver o que fez o Governo Luiz Inácio Lula da Silva pelos Estados, pelos Municípios e,<br />

sobretudo, pelo bravo e sofrido cidadão brasileiro.<br />

O Governo incorreu num equívoco fundamental e daí surgem todas as<br />

conseqüências nefastas que iremos discorrer com mais acuidade no decorrer deste<br />

pronunciamento.<br />

Talvez o Governo Lula tenha ficado atemorizado com a herança financeira<br />

deixada pelo Governo Fernando Henrique Cardoso e, sem ter o conhecimento<br />

técnico necessário dessa realidade, se submeteu ao Fundo Monetário Internacional<br />

e, mais do que isso, ofereceu a este uma meta de superávit primário de médio prazo<br />

de 4,25% do PIB, o que significa que 13,7 bilhões de reais estão sendo esterilizados<br />

neste exato momento. Ou seja: morreu o Governo Lula para o ano de 20<strong>03</strong>.<br />

Todos os recursos arduamente conquistados pelo Governo, mediante<br />

exercício de política fiscal implacável, vão ser esterilizados no sacrossanto altar do<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

serviço da dívida, para alegria do Fundo, que recebeu alguns bilhões a mais do que<br />

ele próprio pediu.<br />

Não é por coincidência que o Orçamento é contingenciado em 14 bilhões e<br />

<strong>10</strong>0 milhões de reais. O contingenciamento corresponde matemática e<br />

financeiramente ao superávit oferecido e reiterado.<br />

O assunto a que acabei de me referir faz parte da carta dirigida ao Sr. Horst<br />

Köhler, Diretor do Fundo Monetário Internacional, subscrita em 28 de maio pelo<br />

Ministro Antonio Palocci Filho e pelo Presidente do Banco Central do Brasil,<br />

Henrique de Campos Meireles.<br />

Quando fizemos essa opção — e digo nós porque a decisão do Governo<br />

obriga a todos os cidadãos brasileiros —, nesse mesmo dia sacrificou-se o<br />

crescimento do País, foi esquecido o progresso e se esvaíram quaisquer<br />

possibilidades de criação de empregos e empresas. Nesse mesmo dia sumiu<br />

qualquer remota possibilidade de assistirmos ao espetáculo de crescimento do País.<br />

É conveniente notar que o Governo exerce diferentes papéis: ora ele é indutor<br />

do desenvolvimento, ora ele é agente regulador, ora ele é o próprio agente promotor<br />

do desenvolvimento. Por isso temos de analisar neste breve discurso o que<br />

acontece nas devidas áreas.<br />

Começo evidentemente pelas áreas mais candentes, pela área mais sensível<br />

ao próprio Governo que é, ou pelo menos deveria ser, a social.<br />

O que acontece com o Ministro da Educação, Cristovam Buarque? S.Exa., um<br />

ícone das esquerdas, um líder do PT, brilhante ex-Reitor da UnB e Governador do<br />

Distrito Federal, se queixa todo santo dia que não tem dinheiro para manter a<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

universidade, para estimular o ensino médio, que não há verbas para pesquisa e<br />

que os índices da educação involuem ao invés de avançar.<br />

O Ministro Cristovam Buarque faz críticas publicamente enquanto o Ministro<br />

da Saúde, Humberto Costa, faz críticas internas. Numa postura política mais hábil, e<br />

talvez mais adequada à disciplina partidária, não grita para fora, mas grita para<br />

dentro, e seus lamentos e lamúrias chegam até esta Casa.<br />

E é de pasmar, Sr. Presidente — V.Exa. também é médico —, que este<br />

Governo repita o mesmo contorcionismo maléfico de alteração das disposições<br />

orçamentárias, subtraindo da área da Saúde os recursos que lhes são legais e<br />

legitimamente destinados.<br />

Não é sem razão que esta semana um grupo de Parlamentares, inclusive<br />

Parlamentares da base do Governo, ameaçam entrar com Ação Direta de<br />

Inconstitucionalidade ou medida similar para fazer com que os recursos da Saúde<br />

sejam da Saúde.<br />

Sr. Presidente, a maior evidência desse absurdo seria a recente reforma<br />

tributária que acabamos de aprovar, em que o item capital da vontade do Governo<br />

se explicitou na DRU. E o que é a DRU, a desvinculação da receita orçamentária? É<br />

subtrair desses Ministérios aquilo que foi fruto de longa e penosa batalha, a de<br />

vincular recursos orçamentários para a Educação e Saúde.<br />

No meu primeiro mandato me associei ao Senador João Calmon na luta para<br />

vincular, na época, salvo engano, <strong>10</strong>% dos recursos para a Educação. Ora, se os<br />

problemas da Educação e da Saúde, no dizer dos seus titulares, Ministros Cristovam<br />

e Humberto, se agravam, como o Governo quer desvincular recursos? E quem quer<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

desvincular, Sr. Presidente, Srs. Deputados, quer aplicar menos. Quem quer aplicar<br />

mais mantém a vinculação.<br />

Avelino.<br />

O Sr. Pauderney Avelino - V.Exa. me permite um aparte?<br />

O SR. JOSÉ THOMAZ NONÔ - Com muita honra, Deputado Pauderney<br />

O Sr. Pauderney Avelino - Deputado José Thomaz Nonô, traz V.Exa. um<br />

tema que também abordei na semana passada: a questão orçamentária e a<br />

não-execução do Orçamento por parte do Governo. Enfoca V.Exa. problema que<br />

toma conta não apenas desta Casa, mas do País: o mascaramento do Orçamento<br />

relativo à Saúde. Se fosse só isso, daríamos um jeito, porque um grupo de<br />

Parlamentares já ingressou com uma ADIN no Supremo Tribunal Federal; mas há<br />

outras questões. Antes de votar o parecer preliminar, o Governo ainda pode pedir,<br />

para consertar, essa peça malfeita e mal-acabada e mandá-la de volta, para que<br />

nós, do Congresso Nacional, possamos apreciá-la. Mas, se a consertarmos e<br />

votarmos, de nada adiantará — é apenas uma formalidade —, porque o Governo<br />

não a executa. Até 30 de setembro deste ano, o Governo pagou exatos 769 milhões<br />

dos 14 bilhões que nós, do Congresso Nacional, autorizamos. Portanto V.Exa. há de<br />

entender, como todo o Brasil, que a máquina administrativa está parando. Não há<br />

investimentos e, portanto, o País também está parando. Está de parabéns V.Exa.<br />

O SR. JOSÉ THOMAZ NONÔ - Agradeço a V.Exa. o aparte, Deputado<br />

Pauderney Avelino, íntimo conhecedor dessas realidades. E aduzo que não é só a<br />

máquina administrativa, mas o País que, na esteira da máquina, está parando.<br />

No Ministério dos Transportes — e este País é um buraco só; o buraco não é<br />

somente financeiro, mas físico, em cada estrada da União —, o Ministro Anderson<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Adauto, aliás, nosso colega, Deputado Federal, todo dia é vítima de cobiça<br />

ministerial. Não sei bem por que se briga tanto por esse Ministério, pois todo o<br />

dinheiro recebido pelo Ministro Anderson Adauto até a presente data é exatamente a<br />

metade da dotação orçamentária para a recuperação da malha viária. Ou seja: todo<br />

o dinheiro do Ministério dos Transportes é apenas metade do "tapa-buraco", em<br />

linguagem vulgar. Por isso, o Ministro já desistiu das ferrovias, nem fala do assunto;<br />

do transporte aquaviário, não quer nem saber dessa conversa. E agora se segura no<br />

Ministério como pode; é atingido, isso sim, pelos exocets contumazes daqueles que<br />

ambicionam a Pasta.<br />

O que deseja a população? Estrada boa, que escorra sua produção. A<br />

produção do Centro-Oeste é algo fantástico, que esbarra exatamente nessa malha<br />

esburacada.<br />

Nosso Ministro da Integração Nacional — de quem falo com especial carinho;<br />

é cearense, nordestino como eu e o Deputado Maurício Quintella Lessa; é sofredor,<br />

como eu e o Deputado José Carlos Aleluia; em quem votei para Presidente da<br />

República — só tem 390 milhões e já foi avisado para ficar quietinho. É isso e<br />

acabou. Deu para concluir o Castanhão, o açude do Ceará foi resolvido, porque<br />

todos os bichos são iguais, mas, como dizia George Orwell, alguns são mais iguais<br />

dos que outros. E o resto? E as centenas e milhares de açudes deste País? E os<br />

outros?<br />

A SUDENE foi reaberta orçamentariamente nua. Não adianta SUDENE, nem<br />

ADENE, nem nada que tenha esse apelido se não há mecanismo de captação de<br />

recursos, e se ela não pode agir em nossa região.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Chamo a atenção para a área do Ministério do Interior, porque em Alagoas —<br />

agora falo como Deputado de Alagoas — vamos ter a maior seca da história. Não há<br />

um saco de milho ou feijão colhido, e ainda estamos a 4 meses do período de cume<br />

da seca. Será a maior fome já vista neste País.<br />

As Prefeituras estão quebradas, o Governador é omisso, e o Governo Federal<br />

não acena para nada. O pessoal vai se queixar a quem? Ao bispo?<br />

Vejo que nobre Deputado Maurício Quintella Lessa já se levanta para<br />

defender S.Exa. — e recebo a defesa com muita satisfação. Mas para fazer<br />

qualquer coisa é preciso dinheiro, dinheiro do qual não dispõe. Nem de recursos<br />

próprios, nem de recursos transferidos pelo Governo Federal. Esse é o quadro do<br />

Ministério da Integração Nacional.<br />

Vamos pular daí para outro recanto do Governo. Vejamos o Ministério das<br />

Relações Exteriores, por exemplo. Sou membro da Comissão de Relações<br />

Exteriores e de Defesa Nacional — inclusive, em passado remoto, fiz a fusão das<br />

duas Comissões; eu a conheço bem, pois sou seu fundador.<br />

O Ministro Celso Amorim passa vexame, quando aqui discute ALCA,<br />

Conselho de Segurança, temas da maior grandeza. O Ministro das Relações<br />

Exteriores não tem dinheiro para pagar Internet, telefone, secretária, aluguel das<br />

embaixadas. Seus recursos para este exercício foram reduzidos em 26%, mas,<br />

como 85% dos recursos do Ministério são dolarizados — e o dólar do Orçamento<br />

passado era de 2 reais e 43 centavos e o dólar real deste Governo é de 3 reais —,<br />

sua redução foi de 51%.<br />

Estou voltando de Genebra. Nossos embaixadores na Organização Mundial<br />

do Comércio, nesses fóruns, têm que economizar na gasolina, têm que telefonar<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

pouco e não podem usar a Internet, porque não têm dinheiro para pagar a conta. O<br />

Brasil está devendo a dezenas de organismos internacionais.<br />

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, convido todos à reflexão. É risível a<br />

pretensão de se ter uma assento no Conselho de Segurança. As pessoas não<br />

sabem direito o que é isso. Quem se senta no Conselho de Segurança da ONU tem<br />

ônus e bônus, a glória, o peso político-econômico de ser membro dele, mas tem que<br />

enviar tropa, tem que arcar com o custo.<br />

Um país que não paga fax, telex, aluguel de embaixada, como pode manter<br />

exércitos ou parcela de forças internacionais em países estrangeiros? Essa é a<br />

realidade nua e crua do Governo Lula, nas relações exteriores.<br />

O Sr. Maurício Quintella Lessa - Deputado José Thomaz Nonô, o pinote que<br />

dei não foi para defender o Governador do Estado de Alagoas, até porque S.Exa.<br />

não precisa de representante nesta Casa. O maior preposto que S.Exa. tem é o<br />

povo alagoano, que o reelegeu para seu segundo mandato. Venho aliar-me ao<br />

discurso de V.Exa. no que tange à inércia do Governo Federal, ou da demora, pelo<br />

menos, em tomar providências para amenizar o sofrimento da população alagoana.<br />

Tenho usado várias vezes a tribuna para tentar fazer desta Casa uma caixa de<br />

ressonância e passar um pouco do que acontece no sertão não só de Alagoas, mas<br />

também de Sergipe e de outros Estados. Alagoas vive — e já está registrado —<br />

talvez a pior seca dos últimos 50 anos. Há Municípios, no alto sertão de Alagoas, em<br />

que choveu menos de 1<strong>10</strong> milímetros. Perderam-se safras de feijão, arroz e<br />

algodão. O sertanejo não tem o que comer. Como disse V.Exa., ainda não chegou o<br />

verão e, no período de inverno, não choveu. Deputado José Thomaz Nonô, o<br />

Governador do Estado de Alagoas, há <strong>10</strong> dias, reuniu sua bancada — V.Exa. não<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

pôde estar presente — para pedir apoio da bancada federal, a fim de que os<br />

recursos prometidos que seriam destinados aos Municípios alagoanos, que estão<br />

em estado de emergência, chegassem o mais rápido possível. Faço parte da base<br />

do Governo, mas venho também reclamar, porque nosso Estado, até o presente<br />

momento, recebeu míseros 300 mil reais para enfrentar os inúmeros problemas que<br />

atingem o sertão alagoano. Não deu sequer para contratar os carros-pipas<br />

necessários para fazer o transporte da água, quanto mais para fazer obras de<br />

infra-estrutura, os açudes e as barragens! Talvez o dinheiro esteja realmente lá, no<br />

Ceará. Se V.Exa. pegar o orçamento do DNOCS, do Ceará e de Alagoas, verá a<br />

diferença em relação ao que foi aplicado neste ano. Estamos aqui para parabenizar<br />

V.Exa. pelo discurso que faz. Não vou tomar mais o tempo de V.Exa., pois acho que<br />

já falei por 3 ou 4 minutos para solidarizar-me com seu discurso. A bancada de<br />

Alagoas e a bancada do Nordeste têm que pedir a este Governo, pelo compromisso<br />

que tem com o povo do Nordeste e com o sertanejo, que tome providências, porque<br />

a situação é realmente muito difícil. Muito obrigado.<br />

O SR. JOSÉ THOMAZ NONÔ - Agradeço a V.Exa. a contribuição.<br />

Sinto-me confortável na Oposição. Essa é uma das razões pelas quais nós<br />

fustigamos o Governo, mas não no sentido de lhe cobrar coisas impossíveis.<br />

Resolveria o problema de Alagoas, por exemplo, um centésimo da renúncia fiscal<br />

para o setor automotivo.<br />

Não vou entrar na briga entre Ceará e Bahia. Aquilo do que nós abrimos mão<br />

para multinacionais de São Paulo, 1 hora disso, já resolveria o problema de Alagoas.<br />

Sr. Presidente, já que falamos do Conselho de Segurança, aí existe um<br />

espetáculo que não é de crescimento, mas de tristeza. Na Comissão, os<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica choram. Soberania e<br />

independência são questões cruciais para a Nação.<br />

Hoje, o Deputado Fernando Gabeira apresentou requerimento de convocação<br />

do Ministro das Relações Exteriores para falar da pobreza. Eu digo que não<br />

queremos mais ouvir esses Ministros que choram; queremos ouvir o Ministro Antonio<br />

Palocci, o Ministro “cebola”, o Ministro que faz os outros chorarem. É esse que<br />

queremos ouvir, para que S.Exa. explique por que é tão cruel com seus colegas de<br />

Ministério. É esse o Ministro que quero ouvir, com aquela voz mansa, com aquela<br />

língua docemente presa, para explicar por que sofremos tanto e por que temos que<br />

sofrer.<br />

O Exército já cancelou expedientes e só funciona durante um horário, não<br />

convoca mais ninguém, está dispensando quase todo mundo e raciona balas para<br />

exercícios de tiro. A Aeronáutica já declarou publicamente que está com dificuldades<br />

para manter o SIVAM. Logo, logo, o controle do espaço aéreo brasileiro, tão<br />

importante para nossa segurança e para a afirmação da nossa soberania, inclusive<br />

para a fiscalização das armas e drogas que ingressam neste País, acabará, pois não<br />

há mais dinheiro. A Marinha, pobrezinha, tem a vanguarda do desenvolvimento<br />

tecnológico do setor nuclear e está cancelando todos os seus programas.<br />

E o pior, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, estamos perdendo<br />

mão-de-obra altamente qualificada. Vou citar um pequeno exemplo: no mercado, um<br />

soldador de submarino recebe salário de 7 mil reais; na Marinha, ele ganha mil reais;<br />

e não podemos manter nem esses mil. Estamos jogando fora, na rua da amargura,<br />

todo esse pessoal, no qual investimos anos e fortuna.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Desculpem-me, mas aqui ainda se fala em buscar assento no Conselho de<br />

Segurança Nacional. Para quê? Para não ter dinheiro para pagar o soldado?<br />

Ouço, com muito prazer e muita satisfação, meu Líder, o valoroso Deputado<br />

nordestino, José Carlos Aleluia.<br />

O Sr. José Carlos Aleluia - Deputado José Thomaz Nonô, vim ao plenário<br />

para ter o privilégio de ouvi-lo fazer essa abordagem dos problemas correntes da<br />

vida nacional. V.Exa., que será o Presidente da Comissão da ALCA, terá a<br />

espinhosa missão de fazer com que o País negocie unido. Mesmo na Oposição,<br />

temos o dever de dar nosso apoio, para que o Estado brasileiro tenha uma única<br />

posição em defesa do interesse nacional, sobretudo do interesse comercial nacional<br />

da agricultura brasileira na relação com o grande parceiro, os Estados Unidos. Veja<br />

V.Exa. como este Governo está desorientado, desestruturado. Indago-lhe — e<br />

minha indagação não é só dirigida a V.Exa., mas também à Casa Civil, à base e ao<br />

Líder do Governo: pelo amor de Deus, o que o Sr. Marco Aurélio Garcia está<br />

fazendo em Washington? Está negociando paralelamente a ALCA para atrapalhar a<br />

diplomacia brasileira? Esta é uma resposta que precisamos ter. O que esse senhor<br />

está fazendo, se nós, da Oposição, estamos querendo apoiar o Governo, para que<br />

ele negocie — e bem — a defesa do direito nacional? A ALCA não nos interessa, se<br />

não derem um tratamento digno aos nossos produtos. Infra-estrutura não temos.<br />

V.Exa. acaba de reconhecer que nossa infra-estrutura está escangalhada. Temos<br />

algumas vantagens competitivas que são compensadas pela falta dela. Se não<br />

resolvermos o problema do aço, da laranja e da soja e continuarmos permitindo que<br />

sobretudo o Governo americano — o canadense também — subsidie de forma tão<br />

vergonhosa a sua agricultura, não há como avançarmos na ALCA. Mas o Governo<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

tem tratado esse assunto, como V.Exa. disse, de forma aleatória, imprópria e, o pior,<br />

desunida. Nós, da Oposição, Presidente Inocêncio Oliveira, temo-nos preservado<br />

para não parecer que o Brasil está desunido. Mas briga do Ministro das Relações<br />

Exteriores com o da Agricultura e o do Desenvolvimento, e agora com o assessor do<br />

Presidente para assuntos internacionais, que vai a Washington à revelia do<br />

Itamaraty, não dá para permitir. V.Exa. realmente está prestando um grande serviço<br />

ao Brasil trazendo temas tão atuais e importantes para a vida nacional. Parabenizo-o<br />

por isso.<br />

O SR. JOSÉ THOMAZ NONÔ - Agradeço ao meu caro Líder.<br />

Nem tratei da ALCA. Vou deixar esse assunto para outro pronunciamento,<br />

inclusive depois do seminário que a Câmara vai produzir e quando a Comissão<br />

começar a funcionar.<br />

Mas, rapidamente, gostaria de mencionar que o orçamento do Ministério do<br />

Esporte — quem o administra é outro colega nosso, o Ministro Agnelo Queiroz, do<br />

PCdoB, base do Governo —, sofreu redução este ano de 88,33%. Restaram 11%. O<br />

que faz um Ministro com 11% de dotação? Nada, senão pedir demissão. Não existe<br />

ato heróico além desse.<br />

Toco agora, Sr. Presidente, na questão mais cara ao Governo, vamos dizer, à<br />

linha mais hard core do Governo: o PT dos assentamentos. Discordo de João Pedro<br />

Stédile em gênero, número e grau, mas em um ponto, em um único ponto, ele tem<br />

razão: o dinheiro para os assentamentos minguou 53%. Até nisso que foi o<br />

carro-chefe da campanha do PT. Não concordo com isso; acho que essa questão<br />

está completamente equivocada, porque estamos discutindo só com números,<br />

irretorquíveis, irrefutáveis.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

E o nosso Fome Zero? Não posso fazer discurso sobre o Governo sem falar<br />

no Fome Zero.<br />

O Sr. Fernando de Fabinho - Deputado José Thomaz Nonô, concede-me<br />

V.Exa. um aparte?<br />

O SR. JOSÉ THOMAZ NONÔ - Deixe-me só falar um pouquinho do Fome<br />

Zero, Deputado Fernando de Fabinho, porque adoro falar do que não existe.<br />

Reparem bem: eu fiz uma exposição, sexta-feira, no Município de Piranhas,<br />

Alagoas, e tive a curiosidade de ir ao SIAFI fazer um alentado trabalho sobre o que<br />

acontece com os recursos do Fome Zero.<br />

Saibam os senhores que a cada realzinho, esse mísero real, dos 50 reais<br />

dados a um miserável qualquer, escolhido ninguém sabe como, dentro de um<br />

universo de miseráveis de um Município miserável de um Estado miserável,<br />

destinados a um “beneficiário”, entre aspas, do Programa Fome Zero, o Ministro<br />

Graziano e seu Ministério gastam 67 centavos na atividade meio: passagem, diária,<br />

cartilha, secretária bonita, carro feio, todas essas coisas. São 67 centavos para cada<br />

real que vai para o morto de fome. Isso é o Fome Zero, que só sacia a fome<br />

daqueles que se locupletam do programa. O miserável, este está cada dia mais<br />

miserável!<br />

Ouço, com prazer, o nobre Deputado Fernando de Fabinho.<br />

O Sr. Fernando de Fabinho - Querido amigo, Deputado José Thomaz Nonô,<br />

primeiro, quero parabenizá-lo por todas as suas manifestações na tribuna, alertando<br />

a população brasileira para a administração do Governo que aí está e que até agora<br />

não atendeu às expectativas daqueles que elegeram o Presidente da República.<br />

Quero chamar a atenção para um fato relacionado com o Ministro dos Transportes.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Para tanto, vou citar exemplo do meu Estado, que conheço mais de perto.<br />

Conseguimos colocar no Orçamento para este ano 130 milhões de reais. O Ministro<br />

visitou a Bahia, declarou à imprensa terem sido liberados em torno de 50 milhões,<br />

mas até agora foi pago 1 milhão de reais. As estradas estão aí, esburacadas.<br />

Infra-estrutura nacional não existe. Segundo o próprio DNIT, 50% das estradas<br />

brasileiras estão sucateadas e inacabadas. Em compensação, o Rio de Janeiro<br />

recebeu 600 milhões de reais para construir o anel rodoviário que liga o Porto de<br />

Sepetiba a Duque de Caxias. Para um lado não há dinheiro, para outro há. É preciso<br />

que o Governo mostre por que razão o Ministério está passando dificuldade; porque<br />

há dinheiro para uns, mas não há para outros. Era esse o teor do meu aparte.<br />

O SR. JOSÉ THOMAZ NONÔ - Agradeço a V.Exa. o aparte, que muito<br />

enriquece o meu discurso.<br />

Tenho pouco tempo. Vou tentar resumir, embora espere que o Presidente me<br />

conceda alguma tolerância. Quero dizer apenas, sobre os vetores fundamentais que<br />

induzem ao crescimento — do salário mínimo nem vou falar aqui, até porque tive<br />

oportunidade de pronunciar-me a respeito na ocasião propícia: o salário mínimo<br />

ficou em <strong>24</strong>0 reais, o reajuste do servidor em míseros 1%. Tudo isso atrasa a<br />

economia. Porém, os juros continuam altos — uma obscenidade. Eu morro de rir —<br />

de rir, não de chorar — quando ouço dizer na televisão que o Banco Central vai<br />

reduzi-los em dois pontos. Dois pontos, e nós continuamos pagando juros mais altos<br />

do que a Turquia; juros obscenos, imorais, que evidentemente impedem o<br />

desenvolvimento do País.<br />

Chamo a atenção para a ilusão das reformas. Acabamos de votar na Casa as<br />

reformas previdenciária e tributária. A posteridade de curto prazo vai demonstrar que<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

isso não muda nada. Os problemas conjunturais da Previdência continuam. Os<br />

problemas da reforma tributária não foram vulnerados de forma alguma. E as nossas<br />

dificuldades continuam exatamente as mesmas.<br />

Faço este discurso sem nenhum ranço de oposição, mesmo porque não<br />

coloquei as coisas sob esse viés. Contudo, sinto-me na obrigação de fazer esse<br />

alerta, porque nós, Deputados, ouvimos o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em<br />

suas declarações, dizer que as vacas magras passaram. S.Exa., envolto no roupão<br />

de linho egípcio, tomando uísque de boa marca e ouvindo seu áulico preferido —<br />

porque puxa-saco para Presidente aqui não falta —, pensa que está bom mesmo,<br />

que as vacas magras já passaram. Eu prefiro ficar com o Ministro José Dirceu, que<br />

diz serem ainda grandes as dificuldades. O negócio ainda está preto, e está mesmo.<br />

Mas o Presidente da República não é José Dirceu; é Lula, ou, pelo menos, parece<br />

ser.<br />

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizia à sociedade brasileira que os<br />

sacrifícios acabaram. Acabaram coisa nenhuma. Tanto é assim que não há<br />

crescimento. Estamos em recessão, os salários encontram-se arrochados, não há<br />

novas empresas e há muita dificuldade.<br />

Não serei injusto nem farisaico de dizer que tudo isso é fruto do Governo do<br />

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Longe disso. O problema é que ele foi eleito<br />

para enfrentar essas adversidades, mas até agora não se tem mostrado à altura<br />

desse desafio.<br />

O pior perigo para um governante é iludir-se com o canto de sereia daqueles<br />

que, na intimidade do Palácio, lhe dizem que tudo vai bem, quando muito vai mal.<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

A Oposição aqui, em meu nome e no do meu partido, faz o alerta. É<br />

necessário que alguém fique de pé, que nem todos fiquem de joelhos, de rodillas,<br />

como dizem os espanhóis quando vêm nos visitar, para agradar ao Chefe, nem que<br />

ele seja o Presidente da biografia bonita, como é Lula; nem que nos encha de<br />

orgulho, como alguém que, vindo da camada mais desassistida da população, tenha<br />

chegado à mais alta magistratura do País.<br />

Não podemos sacrificar nossa dignidade, nosso dever político e parlamentar<br />

no altar das vaidades presidenciais.<br />

Sr. Presidente, encerro meu discurso com uma frase que, sem dúvida<br />

alguma, deve ter sido muito do agrado daquilo que um dia foi a esquerda brasileira<br />

— digo “um dia” porque não existe mais. A esquerda transgênica é algo que ainda<br />

não tem lugar na definição do moderno espectro ideológico desta República. É<br />

tarefa para os sociólogos, não para um modesto servidor público das Alagoas.<br />

Falo como falava Dolores Ibárruri Gómez, La Pasionaria, que, com sua alma,<br />

seu sentimento de dignidade, ainda nos anos 30 do século passado, dizia: “Melhor<br />

morrer de pé do que viver de joelhos”. A Oposição, flagrantemente derrotada nos<br />

últimos combates, vive de pé, e o homem comum, o homem simples, aquele em<br />

nome de quem falei agora, só deseja uma coisa: viver. Este Governo, no entanto,<br />

está lhe tirando as condições de vida, quando lhe mata a esperança, quando lhe<br />

nega o salário, quando lhe subtrai o emprego e, sobretudo, quando faz aflorar no<br />

seu coração um imenso sentimento de desgosto por haver sido enganado no último<br />

pleito eleitoral. (Palmas.)<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. DEPUTADO <strong>DA</strong>NIEL ALMEI<strong>DA</strong> NO<br />

PERÍODO DESTINADO AO GRANDE EXPEDIENTE <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong> ORDINÁRIA <strong>DA</strong><br />

CÂMARA DOS DEPUTADOS Nº 227, REALIZA<strong>DA</strong> EM 15 DE OUTUBRO DE 20<strong>03</strong><br />

— RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO:<br />

O SR. <strong>DA</strong>NIEL ALMEI<strong>DA</strong> (PCdoB-BA. Pela ordem.) - Sr. Presidente, registro<br />

que hoje o jornal A Tarde, do Estado da Bahia, um dos mais importantes órgãos de<br />

comunicação das Regiões Norte e Nordeste, completa 91 anos de fundação. Na sua<br />

trajetória, esse jornal tem marcado sua atuação pelo exercício da atividade<br />

jornalística independente, buscando valorizar a cidadania, tratando dos problemas<br />

mais sensíveis da nossa população e renovando-se.<br />

Veículo de comunicação impressa mais lido do Norte e Nordeste do País, o<br />

jornal A Tarde tem papel relevante na construção e na sedimentação dos alicerces<br />

da democracia na Bahia e no Brasil.<br />

Na segunda metade dos anos 50, ao lançar uma reforma gráfica no jornal,<br />

Ernesto Simões Filho, seu fundador, sentenciou que "A Tarde está de roupa nova e<br />

com o velho espírito baiano". Em setembro de 2002, sob o comando do jornalista<br />

Ricardo Noblat, o veículo começou uma profunda reforma editorial,<br />

modernizando-se, mas sem perder o seu espírito baiano e a sintonia com o nosso<br />

Estado, onde os leitores o consagraram como o jornal de toda a Bahia, devido à sua<br />

credibilidade.<br />

Ao completar 91 anos, o jornal A Tarde está sendo agraciado com honrarias<br />

como o Prêmio Embratel de Jornalismo Tim Lopes, pela série de reportagens sobre<br />

o grampo telefônico. Tal deferência demonstra o jornalismo de excelente qualidade<br />

praticado na redação desse prestigiado veículo de comunicação. À diretoria, à<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

equipe de jornalismo e aos demais setores da empresa minhas congratulações pela<br />

passagem do aniversário de fundação do jornal A Tarde.<br />

Era o que tinha a dizer.<br />

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. DEPUTADO BISMARCK MAIA NA <strong>SESSÃO</strong><br />

SOLENE <strong>DA</strong> CÂMARA DOS DEPUTADOS Nº 229, REALIZA<strong>DA</strong> EM 16 DE<br />

OUTUBRO DE 20<strong>03</strong> — RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO:<br />

O SR. BISMARCK MAIA (PSDB-CE.) - Sr. Presidente, amigo João Paulo<br />

Cunha; Sras. e Srs. Deputados; Sr. Presidente da CNEC, grande amigo e<br />

companheiro, Deputado Alexandre Santos; senhoras e senhores presentes, a data<br />

de hoje é, sem sombra de dúvida, extremamente significativa para todos nós,<br />

brasileiros. Nesta quinta-feira, esta Casa homenageia os 60 anos de êxito da<br />

Campanha Nacional de Escolas da Comunidade — CNEC.<br />

Apesar de sua importância, a CNEC não é, como deveria, de pleno<br />

conhecimento da sociedade nacional — e gostaríamos que fosse muito mais.<br />

Foi a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade implantada em 1943,<br />

ainda na vigência do Estado Novo.<br />

Nasceu, assim, a CNEC, patrocinada por um regime que cultivava os<br />

princípios do nacionalismo e ambicionava viabilizar a integração nacional.<br />

Empenhara-se Getúlio Vargas, Chefe de Estado e de Governo, no desenvolvimento<br />

das indústrias e da policultura, para apoiar o setor de exportação e, assim, espantar<br />

o fantasma da depressão que ameaçava a economia brasileira.<br />

Em virtude dessa orientação política, desencadeou-se no Brasil o primeiro<br />

efetivo ciclo de expansão dos centros industriais e comerciais. Com isso, ocorreu o<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

fenômeno dos grandes afluxos urbanos, com uma conseqüente onda de<br />

aperfeiçoamento técnico e mobilização social, gerando, assim, uma nova realidade<br />

em termos de condições de vida.<br />

Essa transformações econômico-sociais deram à luz uma inédita política<br />

educacional, caracterizada acima de tudo pela crença inabalável no papel<br />

transformador da escola e da sua gente, tarefa cujo objetivo maior era atender as<br />

circunstâncias imediatas de um processo de industrialização e, ao mesmo tempo, de<br />

instalação de um estado autoritário.<br />

No entanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a promoção daquelas<br />

reformas educacionais não geraram benefícios para todos os segmentos sociais do<br />

País. Pelo contrário, as diferenças sociais não foram minimizadas, pois apenas<br />

poucos foram contemplados pela nova política educacional.<br />

Ainda assim, não há como negar que instalara-se no Brasil uma dinâmica<br />

que, de certa forma, propiciou oportunidades crescentes de acesso aos bens da<br />

educação.<br />

A verdade, contudo, é que, na década de 40, quando da fundação da CNEC,<br />

o ensino no Brasil não foi de fato universalizado.<br />

Em face do estado de pobreza da população, e em decorrência da<br />

predominância das escolas particulares sobre as públicas, os segmentos<br />

populacionais de baixo poder aquisitivo prosseguiram excluídos da escola, fosse ela<br />

profissionalizante ou acadêmica, pois o ensino particular não era, como ainda não é,<br />

um bem ao alcance de todos.<br />

Ouço, com prazer, o nobre Deputado Wilson Santos.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O Sr. Wilson Santos - Deputado Bismarck Maia, parabenizo todos os<br />

Deputados, particularmente o Deputado Alexandre Santos, que tem envolvimento<br />

especial com as escolas da CNEC no Brasil inteiro. Quero citar só um exemplo da<br />

importância da CNEC em meu Estado, Mato Grosso, Estado da Deputada Celcita<br />

Pinheiro, que acabou de fazer uma justa homenagem à CNEC. Lá, na Chapada dos<br />

Guimarães, santuário ecológico do Brasil, existia uma escola da CNEC, na COHAB<br />

Véu de Noiva. Por inúmeras razões econômico-financeiras por que passam todas as<br />

instituições no País, havia a perspectiva de fechamento daquele estabelecimento. A<br />

comunidade não admitia perder a qualidade de ensino que a escola da CNEC<br />

oferecia aos seus estudantes. Então, o Prefeito fez um movimento financeiro,<br />

comprou a escola e assumiu todos os custos. Ao longo dos seus quase 4 anos de<br />

mandato, foi o gesto mais positivo que toda a comunidade da Chapada dos<br />

Guimarães viu na gestão do Prefeito: o desejo de manter a qualidade das escolas da<br />

CNEC em Mato Grosso. Parabéns, Deputado Alexandre Santos, e todos os<br />

Deputados que, com unhas e dentes, lutam para levar recursos para a CNEC. Essa<br />

é, sem dúvida, uma das mais belas experiências comunitárias que o Brasil vive,<br />

digna até de exportação para todo o mundo. Obrigado pelo espaço, Deputado<br />

Bismarck Maia. (Palmas.)<br />

O SR. BISMARCK MAIA - Deputado Wilson Santos, agradeço a V.Exa. o<br />

aparte e o incorporo ao meu discurso.<br />

Prossigo. Nesse cenário singular do nosso processo de formação social, um<br />

grupo de estudantes de Pernambuco, liderado pelo conterrâneo nordestino Felipe<br />

Tiago Gomes, influenciado pelo ideário excludente do Estado Novo, compreendeu a<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

profundidade do problema, convencendo-se de que a solução passaria, necessária e<br />

obrigatoriamente, por uma atitude colaborativa.<br />

Aquele grupo de idealistas aspirou, à época, criar algo novo, diferente. Algo<br />

que significasse ou que fosse a conjugação de esforços do povo e do Estado para<br />

promover a educação ampla, geral e irrestrita.<br />

Foram, assim, plantadas as raízes da CNEC, instituição que viria a enfrentar o<br />

enorme desafio de ir ao encontro daqueles que “passavam fome para fazer um<br />

curso ginasial”; daqueles que “não tinham dinheiro fácil para estudar”; daqueles que<br />

“sequer tinham um par de sapatos, a não ser quando velhos”.<br />

Essa é a gênese, Sr. Presidente, da CNEC. Campanha que atualmente<br />

desempenha estratégico papel em todo País e no meu Estado, onde é presidida,<br />

com entusiasmo — neste momento tenho o prazer de olhar para ele —, por aquele<br />

que há 23 anos, homem de Deus nesta terra, presidiu, com muita honra para mim, a<br />

celebração da Santa Missa do meu casamento e com suas bênçãos me deu a<br />

alegria maior que um homem pode ter, que é a alegria do lar, o Monsenhor André<br />

Viana Camurça. (Palmas.) Homenageando o Monsenhor, homenageio todos os<br />

cenecistas do Ceará, também na pessoa do Coronel Cunha e do Superintendente<br />

Washington, nosso amigo. (Palmas.)<br />

No Ceará, a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade beneficia, em<br />

38 escolas disseminadas na Capital e no interior, quase 16 mil alunos, matriculados<br />

na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio, que são assistidos<br />

por 895 professores e 348 funcionários de apoio.<br />

Apesar da importância, da relevância, do pionerismo do trabalho que a CNEC<br />

realiza, é lamentável que, ainda hoje, incontáveis jovens, que ambicionam alcançar<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

patamares culturais mais elevados, estejam ainda condenados a não atingi-los<br />

tão-somente por falta de recursos e por inexistência de solidariedade e de iniciativas<br />

como a da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade.<br />

Sr. Presidente, homenageio a CNEC em nome do meu partido, o PSDB, que<br />

faz absoluta questão de celebrar os 60 anos dessa entidade. Também faço questão<br />

de citar um companheiro de partido, amigo do Presidente da CNEC, que teve<br />

oportunidade, ainda nos anos 50, de fundar a CNEC no Estado de Minas Gerais, o<br />

Deputado Bonifácio de Andrada.<br />

Obrigado, CNEC, por oferecer reais e concretas oportunidades aos nossos<br />

jovens mais necessitados, por ser útil à nossa mocidade, por bem servir aqueles que<br />

a procuram, e, acima de tudo, por compreender que somente por intermédio da<br />

cultura, pelo acesso aos bens da educação, conseguiremos fazer do nosso País<br />

uma grande Nação.<br />

Viva a CNEC! Viva o Brasil!<br />

Muito obrigado. (Palmas.)<br />

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. ANTONIO CARLOS MENDES THAME NO<br />

PERÍODO DESTINADO ÀS COMUNICAÇÕES PARLAMENTARES <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong><br />

ORDINÁRIA <strong>DA</strong> CÂMARA DOS DEPUTADOS Nº 231, REALIZA<strong>DA</strong> EM 16 DE<br />

OUTUBRO DE 20<strong>03</strong> — RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO<br />

O SR. ANTONIO CARLOS MENDES THAME (PSDB-SP.) - Sra. Presidenta,<br />

Sras. e Srs. Deputados, em 16 de outubro de 1978, o primeiro Papa eslavo, o<br />

polonês Karol Wojtila, assumiu o Trono de Pedro. Viveu ele em um país oprimido,<br />

ocupado e agredido em sua liberdade por 2 regimes totalitários: o nazismo e o<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

comunismo. A Polônia foi invadida por alemães em 1939. Acabada a guerra e<br />

derrotada a Alemanha, sucumbiu à ocupação comunista, que persistiu até 1989.<br />

Como quase todo o povo polonês, a família de Karol Wojtila viveu grande miséria.<br />

Foi nesse ambiente de guerras e perseguições, que se forjaram a<br />

personalidade, o caráter e as convicções daquele que viria a ser o Papa da paz e da<br />

justiça. Com certeza, o fato de ter vivido em meio a tanta violência e injustiça o<br />

levou, paradoxalmente, a lutar tanto contra tudo isso. Também foi em ambiente de<br />

fortes restrições e de condenação a atos religiosos que Karol Wojtila descobriu um<br />

grupo secreto de orações dedicado a Maria. E nesse agrupamento, em meio a<br />

escombros, fortaleceu sua convicção religiosa.<br />

Sr. Presidente, preparei algumas linhas para falar sobre o exercício do seu<br />

pontificado, enfatizando suas permanentes críticas à globalização da economia (“o<br />

que precisamos é da globalização da solidariedade”), sua permanente defesa da paz<br />

(“alcançar a paz é o coroamento de todas as nossas aspirações”) e sua incansável<br />

indagação: “Em que linguagem os valores evangélicos poderão ser articulados em<br />

um mundo onde o mal (mistério da iniqüidade) não está mais encarnado em um<br />

sistema político, mas disperso nas pessoas?” Deixei de lado, porém, o texto<br />

preparado quando li hoje no jornal Folha de S.Paulo, página 3, artigo mais profundo<br />

e mais completo.<br />

O artigo é de autoria do Ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, juiz<br />

que, por “dever de ofício”, precisa ministrar justiça. Vivendo seu ofício de corpo e<br />

alma, transformou o dever em “satisfação de ofício”, em “prazer de ofício”.<br />

Em seu primoroso artigo, o ministro Marco Aurélio Mello enfatiza o quanto,<br />

“Em tão laborioso mister, o supremo sacerdote pregou o perdão como bálsamo<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

maior, a aliviar as persistentes chagas que dilaceram a civilização humana”. Daí por<br />

que só se restabelece a ordem violada conjugando a justiça e o perdão.<br />

Cita o Papa: “Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão”. E observa<br />

que o Papa esclarece que o perdão se opõe ao rancor e à vingança, nunca à justiça.<br />

Acrescenta ainda, referindo-se a palavras do Papa, que comungar dos<br />

princípios cristãos significa, acima de tudo, recomendar a tolerância, considerar que<br />

a verdade uma vez alcançada jamais pode ser imposta, porquanto “o respeito à<br />

consciência alheia permite apenas propor a verdade ao outro”.<br />

O artigo do Ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello mostra que o<br />

caminho nós conhecemos, o caminho nós vimos, nós assistimos a ele durante todos<br />

esses anos. Por isso, vale a pena registrar nos Anais desta Casa, que na verdade<br />

acabam se transformando em arquivo histórico da civilização brasileira, o artigo<br />

completo, intitulado O mensageiro da paz e escrito com tanta sensibilidade humana.<br />

Muito obrigado.<br />

ARTIGO A QUE SE REFERE O ORADOR<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

(INSERIR DOCUMENTO DETAQ DE PÁGINAS 549 A 549-A)<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES NO<br />

PERÍODO DESTINADO AO GRANDE EXPEDIENTE <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong> ORDINÁRIA <strong>DA</strong><br />

CÂMARA DOS DEPUTADOS Nº 232, REALIZA<strong>DA</strong> EM 17 DE OUTUBRO DE 20<strong>03</strong><br />

— RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO:<br />

O SR. MAURO BENEVIDES (PMDB-CE.) - Sra. Presidenta, Deputada<br />

Zelinda Novaes, que nesta Casa encarna admiravelmente a garra, a coerência e a<br />

determinação da mulher brasileira; Sras. e Srs. Deputados, como co-autores do<br />

requerimento do qual se originou a magna sessão, os Deputados Luiz Carlos Hauly,<br />

Geddel Vieira Lima e eu propusemos a realização de solenidade neste plenário para<br />

assinalar o transcurso dos 15 anos de nossa Constituição, ensejando a realização<br />

de expressivas comemorações que objetivam realçar o significado do Documento, o<br />

qual possibilitou ao País seu reencontro com o Estado Democrático de Direito, após<br />

tantos anos de autoritarismo, interrompido com a transição do modelar Governo de<br />

José Sarney, através de cujo descortino surgiu a Assembléia Nacional Constituinte,<br />

convocada por imposição da própria sociedade civil organizada.<br />

Entre <strong>10</strong> e 12 de junho, em Fortaleza, principiaram-se as festividades cívicas<br />

com um concorrido Congresso Jurídico, durante o qual proferi conferência sobre a<br />

relevância da Carta Cidadã, focalizando, de maneira particular, a figura<br />

extraordinária de Ulysses Guimarães, a quem cognominei ícone da democracia em<br />

nosso País.<br />

Naquele evento, discorri sobre a fase que antecedeu a convocação da<br />

Assembléia Nacional Constituinte — ANC, mencionando explicitamente a grande<br />

concentração do Vale do Anhangabaú, em São Paulo, com a presença de Ulysses<br />

Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, Teotônio Vilela, José Sarney e tantos<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

outros, que abordaram, como temas básicos, a anistia, a eleição direta para<br />

Prefeitos de Capitais e Governadores de Estados, bem assim a convocação da<br />

Assembléia, anseio latente entre todos os nossos segmentos sociais.<br />

Ao jurista Paulo Bonavides coube a percuciente análise das constantes<br />

inovações de nossa Lei Maior, em meio a sua autoridade de emérito<br />

constitucionalista, com projeção internacional, a ponto de haver relançado o livro<br />

História das Constituições Brasileiras, de sua autoria, em vários países, inclusive em<br />

Portugal, num acontecimento programado para ocorrer em novembro vindouro, com<br />

o patrocínio do ex-Presidente desta Casa, hoje Embaixador, Paes de Andrade,<br />

co-autor da consagrada obra.<br />

Neste plenário, no último dia 8, o 15º aniversário de nossa Lei Fundamental<br />

foi objeto de sessão solene, quando, dentre outros ilustres colegas, destaquei a<br />

passagem do grande acontecimento, na condição que fui de 1º Vice-Presidente da<br />

Assembléia e eventual substituto do “Senhor Diretas”, cuja obstinada atuação<br />

garantiu, em tempo razoável, a promulgação da Carta Cidadã, naquela memorável<br />

tarde de 5 de outubro de 1988.<br />

Também aqui se pronunciaram, naquele instante, os autores do requerimento<br />

de convocação — os Deputados Luiz Carlos Hauly e Geddel Vieira Lima —, bem<br />

assim os representantes de cada bancada, obedecendo-se, desse modo, à tradição<br />

regimental, sempre inflexivelmente seguida pela Mesa Diretora, na ocasião presidida<br />

pelo Deputado João Paulo Cunha, que também fez um discurso alusivo ao<br />

expressivo evento.<br />

Agora, na seqüência de todas essas iniciativas, o Senado Federal, dirigido<br />

sapientemente pelo Senador José Sarney, deliberou promover Seminário sobre os<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

15 anos da nossa Constituição nos dias 4, 5 e 6 de novembro, no Auditório Petrônio<br />

Portela, com abertura pelo próprio Presidente da Casa.<br />

Coube-me a honrosa e desvanecedora tarefa de funcionar como moderador<br />

dos debates, acompanhando a exposição de que se incumbirão personalidades de<br />

marcante relevo nos nossos círculos jurídicos, legislativos, políticos e jornalísticos,<br />

justificando a preeminência que o Senado busca oferecer ao oportuno cometimento<br />

para o qual se prognosticou uma grande repercussão, em razão do apoio anunciado<br />

de entidades culturais, e muitas delas representativas das esferas universitárias,<br />

desejosas de conhecer os pontos de vista a serem expendidos pelos palestrantes.<br />

A magna exposição, Sra. Presidenta, caberá ao ex-Senador Bernardo Cabral,<br />

Relator-Geral da Carta, que naturalmente abordará a processualística que orientou o<br />

trabalho de elaboração de nossa Lei Fundamental, a começar do próprio Regimento<br />

Interno, de que se incumbiu o então Senador Fernando Henrique Cardoso,<br />

posteriormente alçado, por 2 mandatos, à Presidência da República.<br />

O seminário realizar-se-á sob a coordenação do Instituto Legislativo<br />

Brasileiro, conforme me relatava, há pouco, o coordenador do seminário, Guido<br />

Faria de Carvalho, que já exerceu, com proficiência e brilho incomparáveis, a<br />

Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal.<br />

O Senado convidou, para conferencistas, nos dias 4, 5 e 6 de novembro<br />

vindouro, as seguintes personalidades: Ministro Paulo Brossard de Souza Pinto,<br />

ex-Senador da República, ex-Líder do MDB e, posteriormente, alçado à condição de<br />

Ministro do Supremo Tribunal Federal; Geraldo Campos, que exerceu aqui a função<br />

de Constituinte e era decidido defensor das aspirações dos servidores públicos do<br />

País; Paulo Kramer; David Fleisher; Senador Marco Maciel, que exerceu, até bem<br />

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pouco, a Vice-Presidência da República e hoje, tendo retornado à cadeira de<br />

Senador da República, pontifica na outra Casa do Congresso, aspirando, com<br />

redobradas e justificadas razões, à imortalidade literária, ao postular cadeira na<br />

Academia Brasileira de Letras; Ministro Nelson Jobim, que foi Deputado nesta Casa,<br />

integrou a Comissão de Constituição e Justiça, sendo Relator do processo revisional<br />

de 1993, e agora integra, como Vice-Presidente, a Suprema Corte do País — aliás,<br />

S.Exa. é um jurista sempre requisitado para opinar sobre matérias de natureza<br />

complexa, especialmente quando exercia, com muito brilho e conhecimento de<br />

causa, a Presidência do Tribunal Superior Eleitoral; empresário Horácio Lafer Piva,<br />

que dirige a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, onde há a maior<br />

concentração do PIB nacional — é de supor que a palestra do Presidente da FIESP<br />

enfoque o aspecto tributário da Carta brasileira, mormente agora quando o<br />

Congresso se apresta para reformular o capítulo respectivo da nossa Lei Maior, em<br />

meio a controvérsias, com origem em manifestações justas, oportunas ou não, dos<br />

Governadores de Estado, que reivindicam melhor aquinhoamento por parte da União<br />

na distribuição do bolo da arrecadação federal; João Paulo dos Reis Velloso, que<br />

exerceu o Ministério do Planejamento e é renomado economista, com várias obras<br />

publicadas; Stéphane Monclair; Rubens Approbato, que dirige, com muito aprumo e<br />

inquestionável prestígio, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;<br />

Senadora Lúcia Vânia, que há bem pouco cumpria nesta Casa o mandato de<br />

Deputada Federal e, pela soberana manifestação do povo goiano, se transferiu para<br />

o Senado, onde cumpre, exemplarmente, seu mandato na defesa dos interesses<br />

maiores de Goiás e do País; e, enfim, ex-Senador José Fogaça — durante o tempo<br />

em que S.Exa. cumpriu seu mandato de representante do povo gaúcho naquela<br />

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Casa, sempre foi respeitado por seu talento, suas opiniões formavam escola no<br />

plenário e nas Comissões do Senado Federal.<br />

São esses, Sras. e Srs. Deputados, os convidados especiais que deverão<br />

proferir palestras durante o seminário que o Instituto Legislativo Brasileiro resolveu,<br />

com o integral, decidido e ostensivo prestígio do Presidente José Sarney, levar a<br />

efeito, repito, nos próximos dias 4, 5 e 6 de novembro, no Auditório Petrônio Portela,<br />

Distinguiu-me aquele Instituto e o próprio Presidente do Congresso Nacional com a<br />

incumbência de funcionar na condição de Moderador dos debates. Esperamos<br />

alcançar seus nobres objetivos, oferecendo todos os esclarecimentos, interpretações<br />

e exegeses que estão sendo reclamados, para dispositivos que, aplicados ou não,<br />

merecem o estudo e a apreciação dos círculos jurídicos e de quantos se devem<br />

orientar pela chamada Carta Cidadã, assim cognominada por Ulysses Guimarães à<br />

época de sua elaboração, por consubstanciar tudo aquilo que possa representar as<br />

justas e legítimas aspirações do povo brasileiro.<br />

Ao registrar esse auspicioso acontecimento, sinto-me no dever de apelar para<br />

o Presidente João Paulo Cunha no sentido de que possibilite a presença dos<br />

Parlamentares, nos dias 4, 5 e 6 de novembro, bem como dos funcionários desta<br />

Casa, ao grande debate, que se transformaria numa grande homenagem de nosso<br />

Parlamento à Carta Cidadã e, por via de conseqüência, a todos quantos<br />

contribuíram — Senadores e Deputados — para que sua elaboração, durante os<br />

anos de 1987 e 1988, revitalizasse o nosso processo democrático.<br />

Não poderia deixar, Sra. Presidenta, de destacar a íntegra do convite, que<br />

tanto me sensibilizou, assinado pelo próprio Presidente José Sarney, a cujo Governo<br />

servi como Presidente do Banco do Nordeste. Anos depois, tivemos o privilégio de<br />

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Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

juntar forças: eu, como seu companheiro; ele, com sua experiência de ex-Chefe da<br />

Nação, oferecendo contribuição inestimável para a solução de grandes problemas<br />

do País que reclamava dos nossos homens públicos uma diretriz que pudesse<br />

conduzir a melhores dias o Brasil e todas as suas unidades federadas.<br />

Diz o Presidente José Sarney no ofício que me enviou, Sra. Presidenta:<br />

“Excelentíssimo Senhor,<br />

Tenho a honra de convidá-lo para participar, na<br />

qualidade de Moderador, do ‘Seminário: 15 anos da<br />

Constituição Brasileira’, organizado pelo Instituto<br />

Legislativo Brasileiro — ILB, a ser realizado nos dias 4, 5<br />

e 6 de novembro deste ano, no Auditório Petrônio Portela,<br />

no Senado Federal, em Brasília.<br />

Sua presença reveste-se de significativa<br />

importância, sobretudo por Vossa Excelência ter ocupado,<br />

na Assembléia Nacional Constituinte, o importante cargo<br />

de 1º Vice-Presidente e participado efetivamente na<br />

elaboração desta Carta Política.<br />

O objetivo do Seminário é analisar criticamente os<br />

reflexos e conseqüências do texto constitucional e<br />

respectivas modificações nas sociedades brasileira e<br />

internacional nos últimos 15 anos.<br />

Anexo programa do evento.<br />

Atenciosamente,<br />

Senador José Sarney<br />

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Presidente do Senado Federal”.<br />

Não há dúvida de que este convite, Sra. Presidenta, Sras. e Srs. Deputados,<br />

sensibilizou-me e comoveu-me, mas me faz também dimensionar suas imensas<br />

responsabilidades.<br />

Na condição de Moderador, conduzindo os debates a que se submeterão os<br />

ilustres palestrantes, terei, na minha vida pública, mais esse item de extrema<br />

significação, que me projeta não apenas diante dos meus pares — excessivamente<br />

generosos comigo na Câmara —, mas também no Senado Federal. Nos idos de<br />

1991 e 1992, dirigi aquela Casa num delicado instante de vida político-institucional,<br />

quando fomos compelidos a decretar o impeachment de um Presidente da<br />

República.<br />

Concedo, com imenso prazer, aparte ao Deputado Sebastião Madeira.<br />

O Sr. Sebastião Madeira - Deputado Mauro Benevides, quero aqui fazer o<br />

registro da nossa admiração pelo trabalho que V.Exa. faz nesta Casa. V.Exa. é um<br />

homem público de densa história no Brasil e serve de exemplo a todos nós que<br />

também participamos da vida pública. Votei em V.Exa., quando ainda era estudante<br />

do curso de Medicina na Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza. V.Exa. tem<br />

pontificado, durante todos os dias da semana, sua experiência para o Brasil e seu<br />

amor à democracia. O convite que V.Exa. recebe é mais do que justo e é adequado<br />

à estatura de V.Exa, exemplo para todos nós, repito. Temos procurado, cada um em<br />

sua dimensão, também contribuir com a história da democracia brasileira, com a<br />

política deste País, na busca de soluções para problemas tão dramáticos de um país<br />

tão grande, rico e, ao mesmo tempo, tão desigual e injusto com os seus habitantes.<br />

Era este o registro que queria fazer a V.Exa. nesta sexta-feira, quando mais uma vez<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

V.Exa., sem se importar com quantos haverá neste plenário, vem falar para os 170<br />

milhões de brasileiros.<br />

O SR. MAURO BENEVIDES - Muito obrigado, nobre colega Sebastião<br />

Madeira, que nesta Casa tem tido atuação extremamente dinâmica, cuidando não<br />

apenas dos problemas do Maranhão, mas também, com amplo conhecimento de<br />

causa, das relevantes questões que interessam ao Brasil como um todo.<br />

Recentemente, V.Exa. defendia desta tribuna alguns aspectos extremamente<br />

importantes e condenava políticas que ainda não foram postas em prática pelo atual<br />

Governo Federal. V.Exa., certamente falando com sua responsabilidade de membro<br />

de uma bancada que se posiciona contra o Governo, aponta, sem passionalismo<br />

exagerado, mas com fidelidade, os fatos relatados. V.Exa. cobrava do Governo<br />

todos aqueles compromissos que, ao longo da campanha eleitoral, foram<br />

mencionados pelo Presidente da República, inclusive o crescimento econômico, que<br />

ainda não ocorreu, a ponto de estarmos vivenciando momentos extremamente<br />

difíceis, com elevados índices de desemprego.<br />

Inclusive ontem, no programa gratuito da Justiça Eleitoral de sua facção<br />

política, essas críticas explodiram de forma pedagógica e irreparável, reclamando<br />

sobretudo o item que pode vir a ser o calcanhar-de-aquiles do atual Governo: a falta<br />

de cumprimento da promessa, enfatizada seguidas vezes, de que <strong>10</strong> milhões de<br />

empregos poderiam absorver a mão-de-obra trabalhadora em todo o País.<br />

V.Exa., nobre Deputado Sebastião Madeira, é, sem dúvida, um grande<br />

representante que o Maranhão mandou para esta Casa. V.Exa. saiu de sua<br />

Imperatriz com votação consagradora e, nesta Casa, ao usar a palavra, sabe fazê-lo<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

com dignidade, com autoridade e, sobretudo, revestido do prestígio que os seus<br />

coestaduanos lhe garantiram através da manifestação soberana das urnas.<br />

Quero, portanto, Sr. Presidente, Professor Irapuan Teixeira, dizer a V.Exa. e à<br />

Casa que nos dias 4, 5 e 6 de novembro estaremos no Auditório Petrônio Portela,<br />

com as 800 cadeiras disponíveis, para ouvir todas essas figuras notáveis da vida<br />

pública brasileira.<br />

Vamos ouvir Ministros e ex-Ministros, ex-Senadores, empresários, o atual<br />

Presidente do Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil, enfim, figuras notáveis<br />

que haverão de trazer mais luzes e esclarecimentos para este debate extremamente<br />

importante: o de aplaudirmos a Carta Cidadã. Na tarde de 5 de outubro de 1988,<br />

quando Ulysses Guimarães empalmava, não este exemplar do nosso discurso, mas<br />

a própria Carta com os autógrafos de todos os colegas Senadores e Deputados, foi<br />

um momento inapagável da nossa história. Vamos rememorar tudo isso com o<br />

patrocínio do Senado Federal e fazê-lo com as vistas voltadas para nossa Lei<br />

Fundamental. Que nesses 15 anos ela se avigore e se revitalize. E os seus<br />

objetivos, que são os de garantir os direitos dos cidadãos brasileiros, tudo isso<br />

venhamos a conseguir num trabalho de conscientização, que merece a nossa<br />

adesão e os nossos aplausos.<br />

Muito obrigado.<br />

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. DEPUTADO JOSÉ THOMAZ NONÔ NO<br />

PERÍODO DESTINADO AO PEQUENO EXPEDIENTE <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong> ORDINÁRIA<br />

<strong>DA</strong> CÂMARA DOS DEPUTADOS Nº 234, REALIZA<strong>DA</strong> EM 21 DE OUTUBRO DE<br />

20<strong>03</strong> — RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO:<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

O SR. JOSÉ THOMAZ NONÔ (PFL-AL.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs.<br />

Deputados, hoje é um dia particularmente feliz para a Câmara dos Deputados.<br />

Primeiro, porque é o dia do aniversário de V.Exa., Deputado Inocêncio Oliveira,<br />

exemplo de Parlamentar atuante e longevo. Segundo, porque, sob a iniciativa do<br />

PARLATINO, mas com o apoio expressivo e específico do Senado Federal e da<br />

Câmara dos Deputados, estamos realizando o Encontro Parlamentar sobre a Área<br />

de Livre Comércio das Américas, em que se debaterá o papel dos legisladores na<br />

ALCA.<br />

Ontem, na abertura dos trabalhos, tivemos a presença honrosa do Presidente<br />

da República, Luiz Inácio Lula da Silva. E hoje tivemos debates do mais alto nível,<br />

com a participação do ex-Presidente Raúl Alfonsín, da ex-Presidenta da Câmara<br />

Mexicana, Beatriz Paredes, do ex-Ministro do Comércio do Canadá e outros. Todos<br />

nos honraram com uma visão muito interessante.<br />

Para quem vai trabalhar com essa questão da ALCA e para mim, que vou<br />

presidir a Comissão de Acompanhamento no âmbito da Câmara dos Deputados, é<br />

fundamental ter essa visão global, saber não apenas o que queremos, mas o que<br />

querem venezuelanos, chilenos, uruguaios, peruanos, bolivianos, costa-riquenhos,<br />

enfim, todos os países envolvidos.<br />

Mas, lamentavelmente, Sr. Presidente, não é sobre coisas boas e aprazíveis<br />

que desejo falar hoje.<br />

O meu Estado de Alagoas, que tenho a honra de representar há tantos anos<br />

nesta Casa, vivencia uma crise sem tamanho.<br />

Recente comunicação enviada, no dia 9 do corrente mês, ao Presidente Luiz<br />

Inácio Lula da Silva, recebida no dia 16, subscrita pelo Governador Ronaldo Lessa e<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

por todos os Parlamentares — e, note V.Exa., sou um Parlamentar de oposição ao<br />

Governo Federal e ao Governo Estadual, mas não sou opositor do meu Estado e<br />

nem do meu País — clamava a atenção do Governo Federal para solução de<br />

problemas de urgência notória. Nesse ofício está expresso também — até para que<br />

os outros Parlamentares desta Casa, os do Sul particularmente, vejam a gravidade<br />

da seca — que nos primeiros 6 meses, no sertão de Alagoas, registrou-se uma<br />

precipitação de apenas 157 milímetros. Isso é o que chove num dia generoso, num<br />

único dia, na Amazônia, ou o que chove numa semana normal no Paraná, do<br />

Deputado Luiz Carlos Hauly, ou em Santa Catarina. Veja bem, 157 milímetros dá<br />

uma média de 25 milímetro por mês.<br />

Sr. Presidente, a minha preocupação é a mesma de todos os alagoanos. O<br />

Governo Estadual já disse claramente nesse documento que não tem como<br />

enfrentar a questão. As Prefeituras estão notoriamente quebradas com as<br />

sucessivas quedas nas transferências federais, queda no Fundo de Participação,<br />

dificuldade locais. As Prefeituras, que são os entes federados que naturalmente<br />

enfrentam a questão, não têm este ano nenhuma possibilidade de fazê-lo, e o<br />

Governo Federal continua absolutamente ausente, sem oferecer nenhuma solução<br />

para o problema.<br />

Queremos os carros-pipas, o abastecimento de água, e que sejam tomadas<br />

providências em termos de alimentos para a população, sob pena de, em novembro,<br />

dezembro e janeiro, assistirmos mais uma vez aos deploráveis episódios de saque,<br />

invasão de supermercados e de estabelecimentos que tenham alimentos.<br />

Enfim, Alagoas, poucos sabem, é a terceira densidade demográfica do País e<br />

a maior do Nordeste. Temos mais de 1<strong>10</strong> habitantes por quilômetro quadrado, e com<br />

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Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

a precipitação de 25 milímetros por mês não é necessário ser sábio nem estar à<br />

frente do Fome Zero, nem de canto nenhum, para saber que há uma calamidade<br />

iminente; uma enorme crise pode acontecer nos próximos meses.<br />

Então, Sr. Presidente, a nossa população se ressente da ausência do<br />

Governo Federal. Essa ausência nos mais diversos campos de atuação — não<br />

apenas em Alagoas, que é pequena — talvez explique a queda de popularidade do<br />

Governo Lula, que, segundo a pesquisa de hoje da CNT/Sensus, cai quase 7% do<br />

mês de agosto para setembro. Dizem as vozes inspiradas aqui atrás que deve cair<br />

mais. Sem dúvida alguma vai cair mais, porque a omissão é exatamente a mesma, a<br />

incompetência é a mesma, a ausência é a mesma. As pessoas, Sr. Presidente,<br />

estão começando a ficar fartas só do discurso, só da metáfora futebolística, só do<br />

Ministro do Fome Zero, que não mata a fome de ninguém. Desse Ministério e desse<br />

programa só ficam o zero como resultado de todas as suas ações.<br />

Portanto, Sr. Presidente, faço um apelo ao Presidente Luiz Inácio Lula da<br />

Silva — apelo este que não é meu, mas do Governador, dos Senadores, dos<br />

Deputados, do povo de Alagoas — para que faça alguma coisa antes que lá<br />

tenhamos graves incidentes, com risco de vida e insubordinação civil. Se não for<br />

pelo respeito à ordem, que seja por piedade.<br />

Sr. Presidente, tenha pena dos nordestinos que estão tão próximos da terra<br />

onde V.Exa. nasceu, que estão morrendo de fome e à míngua de qualquer cautela<br />

do Governo.<br />

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. ANTONIO CARLOS MENDES THAME NO<br />

PERÍODO DESTINADO AO GRANDE EXPEDIENTE <strong>DA</strong> <strong>SESSÃO</strong> ORDINÁRIA <strong>DA</strong><br />

CÂMARA DOS DEPUTADOS Nº 234, REALIZA<strong>DA</strong> EM 21 DE OUTUBRO DE 20<strong>03</strong><br />

— RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO:<br />

O SR. ANTONIO CARLOS MENDES THAME (PSDB-SP. Pela ordem.) - Sr.<br />

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o Financial Times publicou hoje uma<br />

reportagem sobre o lançamento do Programa Bolsa-Família pelo Presidente Luiz<br />

Inácio Lula da Silva. Segundo o respeitado diário financeiro britânico, a<br />

determinação do Governo de combinar a ortodoxia econômica com políticas sociais<br />

progressistas despertou esperanças em toda a América Latina por um novo modelo<br />

econômico mais igualitário. No entanto, até agora só houve frustração. O principal<br />

programa social do Governo, o Fome Zero, frustrou as esperanças e foi pobremente<br />

organizado. “Agora”, observa o jornal, “o Presidente Lula está determinado a mostrar<br />

que os obstáculos iniciais foram superados.”<br />

Em vista disso, surgem 3 observações. Primeiro, a de que o Poder Executivo<br />

não seguiu a recomendação de Zilda Arns, feita em janeiro deste ano, no sentido de<br />

não criar nada novo, mas melhorar o muito que já tinha sido feito e aumentar os<br />

recursos para os inúmeros programas sociais em curso, iniciados no Governo<br />

anterior. A vaidade foi maior. Preferiram acabar com todos esses programas e iniciar<br />

um novo, o Bolsa-Família.<br />

Gastou-se uma fortuna em marketing no Programa Fome Zero. Alguns dizem<br />

até que esse programa em termos de combate a fome é zero, mas em termos de<br />

marketing é <strong>10</strong>0. E agora vão gastar outra fortuna em marketing no Programa Bolsa-<br />

Família.<br />

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ RE<strong>DA</strong>ÇÃO FINAL<br />

Número Sessão: <strong>24</strong>0.1.52.O Tipo: <strong>Ordinária</strong> - CD<br />

Data: <strong>24</strong>/<strong>10</strong>/<strong>03</strong> Montagem: 4176<br />

Para o Fome Zero contrataram a UNESCO, passando um atestado de<br />

incompetência para todos os técnicos brasileiros da área social. Para o Programa<br />

Bolsa-Família vão também contratar a UNESCO, ou a OMC, ou a FAO? Que órgão<br />

será contratado no exterior?<br />

Esqueceram-se de colocar no Orçamento de 2004 recursos para o Bolsa-<br />

Família. O Ministro do Planejamento afirmou que não há recursos; levou uma bronca<br />

do Presidente da República e então retratou-se, dizendo que os recursos vão<br />

aparecer.<br />

Por último, a justificativa dada para retirar recursos da saúde e transferi-los<br />

para o Fome Zero foi a de que “matar a fome faz bem à saúde”. Ora, construir casas<br />

com saneamento básico para quem mora em favelas também é bom para a saúde.<br />

Gerar empregos também é bom para a saúde. Assim sendo, devemos retirar<br />

recursos dessa área para criar empregos e estabelecer políticas setoriais? Devemos<br />

retirar recursos da saúde para destiná-los à habitação?<br />

Estamos assistindo um assalto aos recursos do setor de saúde, num<br />

verdadeiro descalabro. Não poderíamos imaginar que este Governo, em lugar de<br />

aumentar generosa, sustentada e permanentemente os recursos para a área social,<br />

criando estruturas que ano a ano se solidifiquem e atendam melhor à população,<br />

fizesse o contrário: o desmonte da saúde do País.<br />

O PT faz mal à saúde. (Muito bem! Palmas.)<br />

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