A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs: gênero ...
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20 Apocalíptica e <strong>as</strong> Origens Cristãs<br />
(c) O que dizer <strong>sobre</strong> o livro do Apocalipse? Elisabeth Schüssler<br />
Fiorenza, especialista neste livro e teóloga feminista, escreveu: “é difícil<br />
decidir se uma perseguição severa é uma reali<strong>da</strong>de atual ou um perigo iminente,<br />
ou se apen<strong>as</strong> parte <strong>da</strong> experiência do autor que tenta demover cristãos<br />
prósperos sob [o imperador] Domiciano de uma postura complacente e que<br />
tendem a esquecer a perseguição de Nero [o imperador, nos anos 60]” 14 .<br />
Aqui temos uma questão central para a interpretação deste livro: ele emerge<br />
de uma situação de crise (perseguição)? Ou busca provocar crise entre seus<br />
leitores (cristãos)?<br />
Na primeira possibili<strong>da</strong>de, a escatologia <strong>apocalíptica</strong> do livro do Apocalipse<br />
é uma resposta para a crise de cristãos que vivem sob perseguição, sendo<br />
portanto um livro de consolo para estes perseguidos, incluindo os mártires.<br />
Estes cristãos seriam os pobres e marginalizados na socie<strong>da</strong>de greco-romana<br />
<strong>da</strong> Ásia Menor.<br />
De acordo com a segun<strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de, a escatologia <strong>apocalíptica</strong> de<br />
João é uma arma por meio <strong>da</strong> qual o autor tenta sacudir seus leitores cristãos<br />
de sua postura benevolente, despertá-los de seus compromissos e de sua <strong>as</strong>similação<br />
com a ordem presente e má. Os leitores seriam pesso<strong>as</strong> relativamente<br />
ab<strong>as</strong>ta<strong>da</strong>s que estariam integra<strong>da</strong>s na cultura, política e economia do Império<br />
Romano.<br />
Adela Yarbro Collins é mais direta: “alguns intérpretes do Apocalipse o<br />
vêem como um livro de consolo de cristãos que sofrem perseguição ordena<strong>da</strong><br />
por Domiciano. Outros argumentam que a perseguição incluía tentativ<strong>as</strong> de<br />
forçar cristãos a adorarem o imperador... amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> conclusões são fals<strong>as</strong>”. O<br />
propósito de João era, antes, “provocar uma crise” que ele podia perceber, m<strong>as</strong><br />
não seus leitores. 15<br />
Em minha opinião a escatologia <strong>apocalíptica</strong> do livro é usa<strong>da</strong> para despertar<br />
cristãos de sua postura positiva e de compromisso com a ordem política,<br />
econômica e cultural romana (ver especialmente os capítulos 2-3, 13). M<strong>as</strong><br />
deixa ilusões <strong>sobre</strong> <strong>as</strong> prováveis conseqüênci<strong>as</strong>. O tempo de Nero mostrou<br />
quão perigos<strong>as</strong> e hostis <strong>as</strong> autori<strong>da</strong>des roman<strong>as</strong> podiam ser para os cristãos.<br />
O livro, portanto, não apen<strong>as</strong> procura despertar os leitores cristãos para sua<br />
ver<strong>da</strong>deira identi<strong>da</strong>de e responsabili<strong>da</strong>des, m<strong>as</strong> também os consola por ante-<br />
14. The Book of Revelation. Justice and Judgement. Philadelphia, 1985, p. 20.<br />
15. Crisis and Catharsis, p. 77.