A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs: gênero ...
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A <strong>influência</strong> <strong>da</strong> <strong>apocalíptica</strong> ju<strong>da</strong>ica <strong>sobre</strong> <strong>as</strong> <strong>origens</strong> <strong>cristãs</strong> 13<br />
mun<strong>da</strong>n<strong>as</strong> (terren<strong>as</strong>)”. Esta perspectiva, ou cosmovisão, pode ser abraça<strong>da</strong><br />
por diferentes grupos sociais, em diferentes níveis, em tempos diferentes.<br />
Nesta perspectiva, a ação salvífica de Deus é concebi<strong>da</strong> como uma realização<br />
para fora <strong>da</strong> ordem presente, em direção a uma nova e transforma<strong>da</strong><br />
ordem <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de (cf. Is. 65,17: “Eis que eu crio novos céus e nova terra;<br />
e não haverá lembrança <strong>da</strong>s cous<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sa<strong>da</strong>s, já não haverá memória del<strong>as</strong>.”).<br />
A nova ordem ou reali<strong>da</strong>de não é uma reabilitação <strong>da</strong> ordem presente<br />
(como na escatologia dos profet<strong>as</strong> do Antigo Testamento), m<strong>as</strong> o seu<br />
fim e destruição. A reali<strong>da</strong>de é, portanto, dividi<strong>da</strong> em dois eons, esta era<br />
(má) e a era vindoura (de justiça, retidão e paz, cf. 4 Esdr<strong>as</strong> 7,50: “o<br />
Altíssimo não fez uma era, m<strong>as</strong> du<strong>as</strong>”). As du<strong>as</strong> er<strong>as</strong> não são apen<strong>as</strong> époc<strong>as</strong><br />
temporais, m<strong>as</strong> du<strong>as</strong> ordens ou reali<strong>da</strong>des cósmic<strong>as</strong> distint<strong>as</strong>. A<br />
escatologia <strong>apocalíptica</strong> não está preocupa<strong>da</strong> apen<strong>as</strong> com a expectativa do<br />
futuro (a era vindoura), m<strong>as</strong> também com a interpretação do p<strong>as</strong>sado e <strong>da</strong><br />
situação presente (a era presente é a ordem ou reali<strong>da</strong>de do mal). A<br />
escatologia <strong>apocalíptica</strong> não é limita<strong>da</strong> aos apocalipses, m<strong>as</strong> acha também<br />
expressão em outros <strong>gênero</strong>s de literatura.<br />
Apocalipsismo. Este termo designa “o universo simbólico dentro do<br />
qual um movimento apocalíptico codifica sua identi<strong>da</strong>de e interpretação <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong>de. Tal universo simbólico cristaliza-se em torno <strong>da</strong> perspectiva de<br />
escatologia <strong>apocalíptica</strong> [ver acima] que o movimento adota”. Além disso,<br />
“o universo típico apocalíptico é desenvolvido como um protesto <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />
<strong>apocalíptica</strong> contra a socie<strong>da</strong>de dominante”. O contexto social do<br />
apocalipsismo é então “a experiência grupal de alienação” frente às estrutur<strong>as</strong><br />
dominantes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de (polític<strong>as</strong>, econômic<strong>as</strong>, culturais) e de um<br />
decorrente senso de “impotência”. A resposta a esta situação é, então, a<br />
criação de “um novo universo simbólico” que deve substituir a velha ordem,<br />
a qual é a responsável pela alienação. Em um movimento<br />
apocalíptico o grupo refugia-se na escatologia <strong>apocalíptica</strong> para construir<br />
este universo simbólico alternativo. “A escatologia <strong>apocalíptica</strong> permite a<br />
uma comuni<strong>da</strong>de manter um senso de identi<strong>da</strong>de e uma visão de sua<br />
vindicação última em face <strong>da</strong>s estrutur<strong>as</strong> sociais e dos eventos históricos<br />
que negam, ao mesmo tempo, a identi<strong>da</strong>de e a plausibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> visão”.<br />
Acredita-se que o universo simbólico é mais “real” que o vivenciado no<br />
dia a dia. Assim, de acordo com Hanson, os apocalipsist<strong>as</strong> judeus antigos<br />
criaram um novo “universo simbólico” em resposta à sua experiência de