A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs: gênero ...
A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs: gênero ...
A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs: gênero ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
14 Apocalíptica e <strong>as</strong> Origens Cristãs<br />
“alienação”, “opressão” ou “isolamento <strong>da</strong> comunicação” que sofrem n<strong>as</strong><br />
mãos <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des polític<strong>as</strong> e religios<strong>as</strong> dominantes. 4<br />
Segundo Hanson, os movimentos apocalípticos podem ser de dois tipos:<br />
(1) um grupo marginalizado ou oprimido dentro de uma socie<strong>da</strong>de, ou (2) uma<br />
socie<strong>da</strong>de ou nação inteira sob o jugo de um poder estrangeiro. A matriz do<br />
apocalipsismo é a alienação (exclusão e opressão), e a resposta a esta situação<br />
é a adoção <strong>da</strong> perspectiva <strong>da</strong> escatologia <strong>apocalíptica</strong>. Tipicamente falando,<br />
a experiência grupal de alienação e a função política que resulta do universo<br />
simbólico conduzem a uma clara distinção entre os eleitos e os maus” (cf. 1º<br />
Enoque 5,6-7)”.<br />
Podemos usar a tríplice distinção de Hanson entre <strong>gênero</strong>, cosmovisão e<br />
movimento social para compreender melhor a <strong>influência</strong> <strong>da</strong> <strong>apocalíptica</strong> ju<strong>da</strong>ica<br />
<strong>sobre</strong> <strong>as</strong> <strong>origens</strong> <strong>cristãs</strong> e, conseqüentemente, <strong>sobre</strong> os documentos do Novo<br />
Testamento, os quais representam a documentação primária para <strong>as</strong> <strong>origens</strong><br />
<strong>cristãs</strong>. A palavra “<strong>apocalíptica</strong>” será usa<strong>da</strong> neste ensaio para referir-se aos três.<br />
No entanto, neste ensaio eu me concentrarei na primeira e na terceira<br />
categori<strong>as</strong> de Hanson, <strong>apocalíptica</strong> como <strong>gênero</strong> literário e como movimento<br />
social, prestando particular atenção na relevância dest<strong>as</strong> du<strong>as</strong> categori<strong>as</strong> para<br />
o Novo Testamento, e <strong>as</strong>sim para <strong>as</strong> <strong>origens</strong> <strong>cristãs</strong>. Guar<strong>da</strong>rei a segun<strong>da</strong><br />
categoria, <strong>apocalíptica</strong> como cosmovisão, para o segundo ensaio. Deve-se<br />
esclarecer que a <strong>apocalíptica</strong>, como forma de escatologia, teve <strong>influência</strong><br />
considerável <strong>sobre</strong> <strong>as</strong> <strong>origens</strong> <strong>cristãs</strong> e <strong>sobre</strong> o Novo Testamento. Isto merece<br />
um tratamento especial. Quanto às outr<strong>as</strong> du<strong>as</strong> categori<strong>as</strong> – <strong>gênero</strong> literário e<br />
movimento social – não está claro se são relevantes para o Novo Testamento<br />
e para <strong>as</strong> <strong>origens</strong> <strong>cristãs</strong>, como se supôs em outros tempos.<br />
II. Apocalipse: o <strong>gênero</strong> literário no Novo Testamento<br />
Um exemplo clássico de um apocalipse é o livro neotestamentário do<br />
Apocalipse de João, o qual deu nome ao <strong>gênero</strong>. Por razões compreensíveis,<br />
a <strong>apocalíptica</strong> foi <strong>as</strong>socia<strong>da</strong> com livros de <strong>gênero</strong> semelhante ao Apocalipse<br />
de João, compartilhando, até certo grau, <strong>da</strong>s característic<strong>as</strong> gerais deste. Os<br />
apocalipses ju<strong>da</strong>icos de Daniel, 1 Enoque, 4 Esdr<strong>as</strong> e 2 Baruque são os exem-<br />
4. Hanson, Paul D. The Dawn of Apocalyptic. The Historical and Sociological Roots of Jewish<br />
Apocalyptic Eschatology. Philadelphia, 1979 (2nd ed.), p. 432,440; cf. também “Apocalypse,<br />
Genre” and “Apocalypsism” ..., p. 30.