A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs: gênero ...
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22 Apocalíptica e <strong>as</strong> Origens Cristãs<br />
gelhos sinóticos preservam tradições de camponeses, mesmo quando são “secun<strong>da</strong>riamente<br />
reescrit<strong>as</strong>” por “escrib<strong>as</strong>”, tais como Mateus, ou escritores<br />
cultos como Luc<strong>as</strong>.<br />
Horsley acredita que, especialmente Q, a fonte hipotética dos ditos incorpora<strong>da</strong><br />
nos evangelhos de Mateus e de Luc<strong>as</strong>, era “o documento de um movimento”<br />
(315). Ele apela a Luc<strong>as</strong> 9,57-10,16, uma p<strong>as</strong>sagem de Q, para apoiar<br />
esta opinião. Além do mais, a linguagem mais <strong>apocalíptica</strong> de Q é encontra<strong>da</strong><br />
em Luc<strong>as</strong> (Q) 10,21-24 (com reflexos joaninos), onde “Jesus dá graç<strong>as</strong> ao Pai<br />
que ‘revelou’ (apekalyps<strong>as</strong>) to<strong>da</strong>s est<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> às ‘crianç<strong>as</strong>’, ou seja, ao povo<br />
simples, e de fato <strong>as</strong> escondeu <strong>da</strong> elite sapiencial, a elite de escrib<strong>as</strong> e sábios<br />
profissionais que cultivavam e recebiam ‘revelações’. Para Horsley, esta p<strong>as</strong>sagem<br />
“indica explicitamente que os discursos de Q eram o produto de um movimento<br />
popular oposto à elite política e cultural de governantes e seus representantes,<br />
os escrib<strong>as</strong>. A literatura <strong>apocalíptica</strong>, tal como seções de 1Enoque, era<br />
produzi<strong>da</strong> por círculos de escrib<strong>as</strong> dissidentes que também se opunham ao<br />
sumo-sacerdócio <strong>da</strong> Judéia. Q, no entanto, era ‘revelação’ especificamente para<br />
um movimento popular de renovação, conscientemente posicionado contra os<br />
escrib<strong>as</strong> <strong>as</strong>sim como contra os governantes”. Ele acrescenta: “não deveríamos<br />
esperar nestes discursos um tipo linguagem de escriba e de reflexão e especulação<br />
que encontramos na literatura <strong>apocalíptica</strong>”. 20<br />
A versão de Q <strong>da</strong> oração do Pai Nosso, ain<strong>da</strong> preserva<strong>da</strong> em Luc<strong>as</strong> 11,2-<br />
4, é muito concreta quando compara<strong>da</strong> com a versão encontra<strong>da</strong> em Mateus<br />
6,9-13 que foi edita<strong>da</strong> profun<strong>da</strong>mente pelo autor do evangelho mateano. A<br />
versão de Q reflete o fato que os camponeses galileus defrontavam-se com<br />
uma fome crônica e com um grave endivi<strong>da</strong>mento (impostos, necessi<strong>da</strong>de de<br />
alimentar a família). “Na oração pelo reino, Jesus ensinou ao povo a pedir ao<br />
Pai celeste pelo pão <strong>da</strong> <strong>sobre</strong>vivência e pelo cancelamento de dívi<strong>da</strong>s”. 21<br />
Horsley compara a comuni<strong>da</strong>de de Q com a comuni<strong>da</strong>de de Qumran, que<br />
é o mais claro exemplo de um movimento apocalíptico no ju<strong>da</strong>ísmo do primeiro<br />
século. “Assim como a comuni<strong>da</strong>de de escrib<strong>as</strong> e sacerdotes em Qumran,<br />
o movimento camponês que produziu os ditos de Q estava engajado na renovação<br />
de Israel. O movimento de Q ... no entanto, não se retirou do resto <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de, seja como comuni<strong>da</strong>de monástica no deserto, seja como um grupo<br />
20. The Kingdom of God ..., p. 315-316.<br />
21. The Kingdom of God ..., p. 316.