A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs: gênero ...
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16 Apocalíptica e <strong>as</strong> Origens Cristãs<br />
As obr<strong>as</strong> chama<strong>da</strong>s de <strong>apocalíptica</strong>s antes do final do primeiro século ou do<br />
começo do segundo, conforme Collins, “ain<strong>da</strong> não tinham adotado uma autoconsciência<br />
geral”, como é evidente em obr<strong>as</strong> tardi<strong>as</strong> e, portanto, “têm afini<strong>da</strong>des<br />
com mais de um <strong>gênero</strong>”. 8 Ele chega então a afirmar que não podemos<br />
de fato falar de apocalipse como um <strong>gênero</strong> específico até o começo do segundo<br />
século d.C.<br />
(d) A definição de Collins, apresenta<strong>da</strong> acima, parece ser uma definição<br />
do que pode ser chamado uma ‘visão’, ou melhor, um relato escrito, na forma<br />
de narrativa, de uma visão (do futuro, de reali<strong>da</strong>des celestiais, de Deus, de<br />
reali<strong>da</strong>des presentes ou p<strong>as</strong>sa<strong>da</strong>s).Tal enti<strong>da</strong>de literária não é um Gattung literário<br />
por si mesmo (Gattung = um livro autônomo), m<strong>as</strong> um elemento menor<br />
(uma forma, como na história <strong>da</strong>s form<strong>as</strong>) de um todo literário mais amplo,<br />
semelhante a uma parábola, um hino ou uma narrativa de milagre. Assim,<br />
“apocalipses” seriam o que se pode chamar de um “sub-<strong>gênero</strong>” de literatura,<br />
pequen<strong>as</strong> “form<strong>as</strong>” literári<strong>as</strong> conti<strong>da</strong>s em obr<strong>as</strong> literári<strong>as</strong> maiores (como Daniel<br />
ou 2 Baruque), <strong>as</strong> quais, enquanto complexos literários (obr<strong>as</strong>), não são<br />
apocalipses em si mesmos, no sentido estrito. 9 Esta pressuposição também é<br />
confirma<strong>da</strong> por J. VanderKam, o qual observa que “os únicos apocalipses de<br />
que não se pode duvi<strong>da</strong>r [note o plural] na Bíblia Hebraica são <strong>as</strong> diferentes<br />
visões revela<strong>da</strong>s a Daniel em capítulos 7-12”. 10<br />
Livros como Daniel e 4 Esdr<strong>as</strong> contêm não apen<strong>as</strong> apocalipses, m<strong>as</strong><br />
também outr<strong>as</strong> form<strong>as</strong> literári<strong>as</strong>, como reconhecem Collins e Hanson.<br />
(e) O Apocalipse de João, mencionado acima, é o único livro do Novo<br />
Testamento considerado um apocalipse. Este é, de fato, o paradigma do <strong>gênero</strong>.<br />
M<strong>as</strong>, no entanto, como já dissemos acima, a abertura do livro (“Apocalipse<br />
de Jesus Cristo”) poderia não descrever o <strong>gênero</strong> do livro, m<strong>as</strong> seus conteúdos,<br />
ou simplesmente aquele que é mostrado pelo conteúdo, ou seja, Jesus Cristo.<br />
Além do mais, à parte do prefácio de abertura (1,1-3), que pode ter sido até<br />
um acréscimo posterior, o restante do livro tem a estrutura formal de uma<br />
carta antiga, como mostra uma comparação com <strong>as</strong> cart<strong>as</strong> paulin<strong>as</strong>:<br />
8. The Apocalyptic Imagination, p. 3.<br />
9. Ver meus comentários em The Defeat of Death. Apocalyptic Eschatology in 1 Corinthians<br />
15 and Romans 5. Sheffield, 1988, p. 197, n.4.<br />
10. Messianism and Apocalypticism, in: J. J. Collins, (ed.) The Encyclopedia of Apocalypticism,<br />
p.196 (itálico meu). Ver também p. 200.