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A influência da apocalíptica judaica sobre as origens cristãs: gênero ...

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A <strong>influência</strong> <strong>da</strong> <strong>apocalíptica</strong> ju<strong>da</strong>ica <strong>sobre</strong> <strong>as</strong> <strong>origens</strong> <strong>cristãs</strong> 23<br />

de ‘peregrinos carismáticos’, m<strong>as</strong> priorizou a renovação de comuni<strong>da</strong>des campones<strong>as</strong>,<br />

a forma social fun<strong>da</strong>mental na qual Israel estava constituí<strong>da</strong>”. 22<br />

Segundo Horsley, Q não era um apocalipse, m<strong>as</strong> mesmo <strong>as</strong>sim compartilha<br />

<strong>as</strong> três principais preocupações <strong>da</strong> literatura <strong>apocalíptica</strong> ju<strong>da</strong>ica: julgamento<br />

dos governantes opressores, restauração do povo de Israel e vingança<br />

dos mártires. 23 As imagens com <strong>as</strong> quais est<strong>as</strong> questões são trata<strong>da</strong>s são mais<br />

pobremente elabora<strong>da</strong>s que na literatura ju<strong>da</strong>ica do período, incluindo a de<br />

Qumran. O movimento de Jesus representado em Q tem seus pés <strong>sobre</strong> no<br />

chão. Não se permitiu especulações misterios<strong>as</strong> ou bizarr<strong>as</strong>. A comuni<strong>da</strong>de de<br />

Q viu na vin<strong>da</strong> e no ministério de Jesus o começo <strong>da</strong> renovação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

Desta forma Horsley esvazia de sentido concreto os tem<strong>as</strong> apocalípticos <strong>da</strong><br />

ressurreição dos mortos, que também é encontra<strong>da</strong> em Q, 24 e <strong>da</strong> expectativa<br />

de um julgamento escatológico dos governantes maus. A expectativa de uma<br />

ressurreição futura e de julgamento escatológico, bem como a aceitação <strong>da</strong><br />

existência de Satanás e de demônios no presente, são considerados por<br />

Horsley como característic<strong>as</strong> do “sistema simbólico-cultural ou do universo<br />

simbólico pressuposto por Q”. 25 Não há “reflexão sistemática” <strong>sobre</strong> est<strong>as</strong><br />

questões em Q, segundo Horsley, como há na literatura <strong>apocalíptica</strong> ju<strong>da</strong>ica<br />

(de escrib<strong>as</strong>). Criticando Horsley, podemos dizer que a falta de “reflexão sistemática”<br />

<strong>sobre</strong> est<strong>as</strong> questões não significa que a comuni<strong>da</strong>de de Q não adere<br />

a uma cosmovisão de fato <strong>apocalíptica</strong>, que aguar<strong>da</strong> que Deus estabeleça uma<br />

nova era em escala cósmica no futuro próximo. Movimentos apocalípticos não<br />

precisam escrever apocalipses cheios de “estilo de apocalíptico de escrib<strong>as</strong>”.<br />

Eles apen<strong>as</strong> necessitam ter uma compreensão apocalíptico-escatológica <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de. M<strong>as</strong> estes comentários apen<strong>as</strong> levantam a questão <strong>sobre</strong> a definição<br />

de escatologia <strong>apocalíptica</strong>, à qual quero retornar no próximo ensaio.<br />

(e) Como conclusão, gostaria de enfatizar que, em minha opinião, a<br />

adoção de uma escatologia <strong>apocalíptica</strong> como uma perspectiva <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de,<br />

não é limita<strong>da</strong> a grupos em crise, nem necessita emergir destes grupos. Deixando<br />

Q de lado, os evangelhos sinóticos, em sua forma atual, mostram que<br />

tem<strong>as</strong> e tradições <strong>apocalíptica</strong>s podem ser adotados e usados por gente de<br />

22. The Kingdom of God ..., p. 321.<br />

23. The Kingdom of God ..., p. 322.<br />

24. Ver Luc<strong>as</strong> 6,23; 7,35; 11,49-51; 12,2-12, listados por Horsley em The Kingdom of God ... p. 323).<br />

25. The Kingdom of God ..., p. 323.

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