Apostila de Filosofia da Linguagem - CIRCAPE
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A um nível elementar, se enten<strong>de</strong> por círculo o fato <strong>de</strong> que a leitura <strong>da</strong>s partes <strong>de</strong> um texto iluminam a<br />
compreensão do todo assim como a visão do todo contribui a que conheçamos melhor as partes.<br />
Mas como sublinhou Hei<strong>de</strong>gger, o conceito <strong>de</strong> círculo hermenêutico tem um caráter mais amplo.<br />
Indica também a dialética que se dá entre precompreensão e compreensão. Quando buscamos conhecer<br />
um texto o fazemos com uma precompreensão que não está fecha<strong>da</strong>, mas aberta a novos conteúdos. Ela<br />
se modifica ao longo do processo cognitivo. O leitor entra no texto com seu mundo, seu horizonte, o qual<br />
condiciona sua compreensão particular do texto. Assim no processo <strong>de</strong> compreensão os conceitos vão<br />
sendo pouco a pouco substituídos por outros mais a<strong>de</strong>quados.<br />
3. A compreensão tem um caráter dialógico. Não é possível a compreensão <strong>de</strong> uma pessoa a não ser pelo<br />
diálogo. Devemos abrir-nos ao ouro para enten<strong>de</strong>r o sentido <strong>de</strong> suas palavras. A mesma coisa vale, por<br />
analogia, para a compreensão dos textos. Somos chamados a dialogar com ele, a contribuir com nossas<br />
perguntas, respostas e reações para que ele nos comunique to<strong>da</strong> sua riqueza.<br />
4. A compreensão implica e inclui a explicação. Entre explicação e compreensão se dá uma<br />
complementari<strong>da</strong><strong>de</strong> e uma reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>. São dois estágios do único trabalho hermenêutico. O texto se<br />
apresenta ao leitor com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser explicado. A explicação é mediação necessária para alcançar<br />
uma melhor compreensão. Como dizia Ricoeur “explicar mais é compreen<strong>de</strong>r melhor”, e ain<strong>da</strong> “explicar é<br />
<strong>de</strong>semaranhar a estrutura, ou seja, as relações internas <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência que constitui estático do texto;<br />
interpretar é tomar o caminho do pensamento aberto pelo texto, colocar-se em caminho até o horizonte do<br />
texto’.<br />
5. Na tarefa hermenêutica não se po<strong>de</strong> prescindir <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Uma tentação grave <strong>da</strong> tarefa hermenêutica<br />
é o relativismo. Multiplicam-se as interpretações que conduzem a novas interpretações sem que se admita<br />
que exista uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong> em si, não sujeita ao processo histórico.<br />
É preciso elaborar uma hermenêutica metafísica, que se preocupe do problema <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. O fim buscado pela interpretação –como o fim <strong>de</strong> todo conhecimento humano- é alcançar a<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em todo conhecer, falar e atuar humanos se tem lugar a antecipação <strong>de</strong> lago último,<br />
incondicionado e absoluto. To<strong>da</strong> busca <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> pressupõe sempre a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
fun<strong>da</strong>mentais. De tal modo que sempre nos ilumina a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, resplan<strong>de</strong>ce para nós como evidência<br />
objetiva em nossa razão e na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> mesma.<br />
A questão <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> na hermenêutica se situa em três níveis, relaciona dois entre si, mas<br />
distintos: em relação com o texto (correspondência entre a interpretação e o que o texto quer dizer: é a<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> interpretação), em relação com a coisa mesma (correspondência entre o que o texto diz e a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> que fala: é a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> do texto), e em relação com a evidência atual (correspondência entre o<br />
que o texto quer dizer e a manifestação atual verídica do significado e do sentido: é a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> coisa<br />
mesma).<br />
Ain<strong>da</strong> que as condições <strong>de</strong> conhecimento sejam contingentes, não passa isso com a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que<br />
se alcança. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, por sua mesma essência, somente po<strong>de</strong> ser a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> uma, e por isso, universal.<br />
Po<strong>de</strong> haver, por tanto, uma interpretação ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira e <strong>de</strong>finitiva, pois correspon<strong>de</strong> à ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s coisas.