Apostila de Filosofia da Linguagem - CIRCAPE
Apostila de Filosofia da Linguagem - CIRCAPE
Apostila de Filosofia da Linguagem - CIRCAPE
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
4<br />
A linguagem humana goza <strong>de</strong> universali<strong>da</strong><strong>de</strong> semântica, ou seja, po<strong>de</strong> referir-se a tudo, é<br />
infinitamente produtiva, sujeita à mu<strong>da</strong>nças:<br />
O homem tem capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> metalingüística, ou seja, reflexibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> tal modo que po<strong>de</strong> usar <strong>da</strong><br />
linguagem para falar <strong>da</strong> mesma linguagem.<br />
Por tudo isto po<strong>de</strong>mos concluir que a linguagem compete própria e unicamente ao homem. Quando se<br />
fala <strong>de</strong> linguagem animal, somente se usa tal termo num sentido analógico, pois o que realmente existe no<br />
mundo dos irracionais é comunicação, não linguagem.<br />
Capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> simbólica humana<br />
Designa-se o ser humano como homo sapiens sapiens. Justamente o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> linguagem resi<strong>de</strong> no caráter racional dos seres humanos. O homem não fala porque tem língua, mas<br />
sim inteligência. O homem se manifesta como um ser que fala precisamente por que tem inteligência e<br />
conhece. Mas não basta com a racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> para expressar o específico do homem. Com o termo razão<br />
não basta para abarcar to<strong>da</strong> a riqueza <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cultural do homem. O que distingue também o homem dos<br />
animais irracionais é sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> converter em signo tudo o que toca, sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> simbólica: o<br />
homem é um animal symbolicum. O homem a diferença dos animais não está obrigado instintivamente a<br />
respon<strong>de</strong>r ao mundo <strong>da</strong> natureza. Seu mundo é muito mais amplo e rico que o mundo animal. Graças à<br />
linguagem, a religião e ciência, os seres humanos construíram um universo simbólico que lhes permite<br />
enten<strong>de</strong>r e interpretar, articular e organizar, sintetizar e universalizar sua experiência. Na linguagem o<br />
homem <strong>de</strong>scobre seu po<strong>de</strong>r inusitado, a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> construíram mundo simbólico.<br />
É notável a importância <strong>de</strong>ssas reflexões, pelas quais se recupera o mundo propriamente humano<br />
diante <strong>da</strong> tirania do saber que se constitui pelas ciências experimentais. A filosofia clássica expressava<br />
algo parecido ao que afirmava Cassirer quando explica que a linguagem é continuatio naturae. O ser<br />
humano é mais que natureza por isso está chamado a continuar-la e realizar-la por meio <strong>da</strong> linguagem, a<br />
arte, o direito, ou seja, o mundo <strong>da</strong>s construções humanas. Ao transcen<strong>de</strong>r pelo espírito o mundo natural, o<br />
homem se abre mais além do natural ao mundo ao mundo simbólico. O homem é mais que natureza e por<br />
continua construindo um mundo não natural, o mundo dos símbolos. O ser humano está no mundo<br />
cultivando-o e ao fazê-lo continua o mundo.<br />
<strong>Linguagem</strong> e cultura<br />
A linguagem é um fenômeno cultural. Entre uma e outra se <strong>da</strong> uma relação <strong>de</strong> intercâmbio<br />
recíproco. Por uma parte a linguagem é um produto cultural, mas por outro, a linguagem é condição <strong>da</strong><br />
cultura e contribui a criar-la. A cultura é condição <strong>da</strong> linguagem, mas a linguagem também o é em relação à<br />
cultura.<br />
A linguagem, como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> livre do homem, e também como produto <strong>de</strong>ssa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, constitui um<br />
fenômeno cultural. A linguagem também é manifestação <strong>da</strong> cultura, pois ca<strong>da</strong> língua contém os saberes,<br />
idéias e crenças acerca <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que é comparti<strong>da</strong> por uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Também, enquanto é um<br />
saber transmissível, a linguagem é um fato cultural. A<strong>de</strong>mais <strong>de</strong> ser cultura, é condição <strong>de</strong> sua existência,<br />
pois a linguagem fun<strong>da</strong>menta a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, na qual se baseia to<strong>da</strong> cultura. To<strong>da</strong> pessoa, to<strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
intelectual e social se estancam e ficam num estado embrionário quando a linguagem está ausente. Dizia<br />
Hannah Arendt que “a linguagem é o que faz do homem um animal político”.<br />
A linguagem aparece ao final como:<br />
Instrumento <strong>de</strong> interação: pois com ela os homens se relacionam entre si;