Sem título-5 - Nucleo de Humanidades
Sem título-5 - Nucleo de Humanidades
Sem título-5 - Nucleo de Humanidades
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
5. Conclusão<br />
A <strong>título</strong> <strong>de</strong> conclusão, a escolha <strong>de</strong> “O incesto”, como uma das obras do<br />
principiante Sá-Carneiro digna <strong>de</strong> análise e aprofundamento, baseou-se na sua<br />
“capacida<strong>de</strong> anunciadora” do que seria, futuramente, a prosa poética do seu autor.<br />
Vimos, no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste trabalho, motivos que atestam essa sua caracterização<br />
com o afloramento do subconsciente e a poetização excêntrica da prosa;<br />
presentes, sobretudo, em A confissão <strong>de</strong> Lúcio. Procurando, pois, manter um elo<br />
<strong>de</strong> comparação entre o criminoso (“O incesto”) e um dos seus cúmplices (A<br />
confissão <strong>de</strong> Lúcio), chegou-se à conclusão <strong>de</strong> que um outro motivo, talvez o<br />
mais importante, tenha sido legado a esta última narrativa: o <strong>de</strong>sdobramento da<br />
pessoa em personae.<br />
Em “O incesto”, verificamos que houve a necessida<strong>de</strong> da criação <strong>de</strong> uma<br />
ponte para que o eu e o outro se encontrassem. Magda não passou, portanto, <strong>de</strong><br />
um <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> Leonor. Outro cúmplice <strong>de</strong>sse ciúme é o último “conto”<br />
<strong>de</strong> Céu em fogo: “Ressurreição”, em que Inácio <strong>de</strong> Gouveia vai encontrar, na<br />
união com um dos amantes <strong>de</strong> Paulette, a ressurreição <strong>de</strong>ssa antiga companheira<br />
morta. Entretanto, é, em A confissão <strong>de</strong> Lúcio, que o uso <strong>de</strong>sse subterfúgio mais<br />
se assemelha ao utilizado em “O incesto”. Ricardo <strong>de</strong>sdobra-se em Marta para<br />
atingir o outro lado da ponte: Lúcio; porém, precisa anulá-la para que se estabeleça<br />
novamente o status quo. Anulando-a, anula-se a si próprio. Logo, alia-se a<br />
Luís <strong>de</strong> Monforte pelo suicídio. Ambos necessitam <strong>de</strong> um terceiro para a<br />
viabilização do objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo e ambos, impossibilitados <strong>de</strong> permanecerem<br />
com ele, aniquilam-se.<br />
Cúmplice, portanto, <strong>de</strong> “O incesto”, A confissão <strong>de</strong> Lúcio não procurou<br />
se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r; antes seguiu seus passos até que pô<strong>de</strong> ultrapassá-la e configurar-se<br />
na obra-prima <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Sá-Carneiro.<br />
Referências:<br />
GALHOZ, Maria Aliete. Mário <strong>de</strong> Sá-Carneiro. Lisboa: Editorial Presença,<br />
1963.<br />
PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. Trad. Maria Helena Nery Garcez.<br />
São Paulo: Martins Fontes, 1984.<br />
SÁ-CARNEIRO, Mário <strong>de</strong>. A confissão <strong>de</strong> Lúcio. Lisboa: Publicações Europa-<br />
América, s/d.<br />
_________. Céu em fogo. Lisboa: Publicações Europa-América, s/d.<br />
_________. O incesto. Lisboa: Edições Rolim,1984.<br />
186<br />
O incesto, <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Sá-Carneiro