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Da universidade à educação básica: alguns fatores intervenientes

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<strong>Da</strong> <strong>universidade</strong> <strong>à</strong> <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>:<br />

<strong>alguns</strong> <strong>fatores</strong> <strong>intervenientes</strong> na formação do educador<br />

William Gonçalves dos Reis 1<br />

Resumo: Registros de uma experiência extensionista, com alunos e professores da rede<br />

pública de ensino, na perspectiva de compreender os principais <strong>fatores</strong> <strong>intervenientes</strong><br />

na formação de um educador da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>.<br />

Palavras-chave: Ensino. Arte. Extensão universitária. Formação do educador.<br />

Abstract: Registrations of an experience with students and teachers of public schools<br />

system, in the perspective of understanding the principal intervening factors in the<br />

educator’s basic education formation.<br />

Keywords: Teaching. Art. University Extension. The educator’s formation.<br />

1 Mestre em Educação, Professor Adjunto lotado no Centro de Ciências Humanas da<br />

Universidade Federal do Maranhão.<br />

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 89


1. Introdução<br />

Este texto é decorrente de uma experiência educativa e dos principais<br />

<strong>fatores</strong> <strong>intervenientes</strong> que emergiram ao longo da execução do projeto “Repassando<br />

os conteúdos básicos de arte no ensino médio da escola pública: uma<br />

atividade de extensão e aperfeiçoamento pedagógico”, iniciado em abril de 1999<br />

e concluído em fevereiro de 2004 (Resolução n.º 155/2000-CONSEPE/UFMA).<br />

Tais <strong>fatores</strong> serviram como referências para a compreensão dos limites e possibilidades<br />

de um curso de formação do educador para a <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>, através<br />

do ensino de Arte.<br />

No período de sua vigência, o referido projeto reuniu graduandos e graduados<br />

em torno de <strong>alguns</strong> eventos, <strong>alguns</strong> com a perspectiva de contribuir para<br />

o acesso dos alunos do ensino médio da rede estadual de São Luís aos cursos<br />

superiores, através dos diferentes “concursos públicos” (incluindo os vestibulares).<br />

2. A experiência educativa: visão geral<br />

Nessa experiência, todos os agentes educativos (estudantes de ensino<br />

médio, graduandos, graduados e demais educadores da rede de ensino) estiveram<br />

envolvidos com o estudo e a socialização não somente dos conhecimentos<br />

de formação específica sobre arte, mas com aqueles de fundamentação legal e<br />

de formação geral e pedagógica. Assim, entre 1999 e 2004, as ações de extensão<br />

e aperfeiçoamento pedagógico caminharam em três direções.<br />

A primeira, voltada para o desenvolvimento da uma conduta docenteprofissional<br />

do graduando, enfatizou a relação teoria-prática que se estabelece<br />

no âmbito escolar para validar, negar, retificar, ou ampliar o conhecimento adquirido<br />

ao longo do seu processo de formação acadêmica. Efetivou-se ao longo<br />

de 10 semestres letivos, através da disciplina Prática de Ensino, incluindo, além<br />

dos graduandos regularmente matriculados no Curso de Educação Artística<br />

(EDA/UFMA), os graduados em outras licenciaturas como participantes em<br />

estágio extracurricular.<br />

A segunda, voltada para o aluno do ensino médio, tentou suprir uma<br />

defasagem entre o que é cobrado nos diferentes “concursos públicos” e o que<br />

estava (ou ainda está) sendo oferecido em matéria de ensino de Arte, tanto nas<br />

escolas públicas e privadas quanto nas instâncias de formação do educador.<br />

Foram oferecidos 13 cursos de extensão sobre os conteúdos educativos do ensino<br />

de Arte, que deveriam ser ministrados nas 3 (três) séries desse nível da <strong>educação</strong><br />

<strong>básica</strong> e que são “cobrados” nos vestibulares. A socialização desses con-<br />

90<br />

<strong>Da</strong> <strong>universidade</strong> <strong>à</strong> <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>


teúdos ocorreu nas escolas que serviram de base para o projeto 1 , integrando-se<br />

no processo ensino-aprendizagem suas 4 (quatro) unidades constitutivas (conhecimentos<br />

sobre artes visuais; conhecimentos sobre teatro; conhecimentos<br />

sobre música; e conhecimentos sobre dança).<br />

A terceira comprometeu os graduados com a socialização dos conhecimentos<br />

sobre a Lei de Diretrizes e Bases da <strong>educação</strong> nacional (LDB, Lei n.<br />

9.394/96) e Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Através de parcerias,<br />

foram promovidos 8 (oito) eventos de extensão para os graduandos e professores<br />

da rede de ensino. Além da LDB e dos PCN, os participantes estudaram<br />

também outros temas 2 normalmente exigidos nos concursos públicos para provimento<br />

dos postos do magistério.<br />

Os participantes do projeto validaram suas ações extensionistas porque<br />

elas foram organizadas e executadas dentro dos princípios da<br />

interdisciplinaridade, cabendo elucidar que o ensino de Arte, na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>,<br />

só tem alguma significação para o estudante se esta arte for compreendida a<br />

partir da integração de seus conteúdos educativos (ou unidades constitutivas),<br />

devidamente fundamentada nos conhecimentos de Filosofia, Antropologia, Sociologia,<br />

Língua Portuguesa/Literatura, Geografia e História Geral, do Brasil e<br />

do Maranhão etc. Os graduandos e graduados destacaram como aspecto relevante<br />

a oportunidade que tiveram para estudar (ou rever) os principais temas de<br />

fundamentação legal, de formação geral e pedagógica e de formação específica<br />

sobre arte (na área “Linguagens, Códigos e suas Tecnologias”).<br />

Pela primeira vez, na UFMA, através desse projeto, uma disciplina<br />

curricular (a Prática de Ensino, com estágio curricular) foi aberta <strong>à</strong> comunidade<br />

na forma de curso de extensão (com estágio extracurricular). Contudo, o principal<br />

objetivo deste texto é, com base nessa experiência desenvolvida e na história<br />

particular de uma licenciatura, compreender <strong>alguns</strong> <strong>fatores</strong> <strong>intervenientes</strong> na<br />

formação de um educador para a <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>.<br />

3. Formação acadêmica e ensino de arte<br />

Entre 1999 e 2004, muitos graduandos cursaram a disciplina Prática de<br />

Ensino através de projeto de extensão, cujo propósito foi socializar os conteúdos<br />

educativos do ensino de Arte para os alunos das 3 (três) séries do ensino<br />

médio da escola pública.<br />

Nessa proposta pedagógica, por um lado, o graduando jamais foi visto<br />

como “professor substituto”, ou como “professor eventual” nas escolas de aplicação.<br />

Por outro lado, para todos os agentes educativos envolvidos também não<br />

interessava trabalhar somente uma unidade isolada do ensino de Arte, porque<br />

nos concursos públicos para a <strong>educação</strong> <strong>básica</strong> o licenciado só se inscreve na-<br />

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 91


quela área de conhecimento/disciplina que tiver correspondência direta com a<br />

sua licenciatura de graduação plena.<br />

Sabia-se, naquela ocasião, que a visão parcial e fragmentada sobre o<br />

ensino de Arte era decorrente da influência de corporações isoladas em torno de<br />

somente uma ou outra ocupação artística autônoma. Sabe-se, atualmente, que<br />

essas corporações clamam por “licenciaturas separadas” para cada unidade<br />

constitutiva do ensino de Arte, dadas as dificuldades dessas ocupações nos mercados<br />

de trabalho de determinadas regiões.<br />

Independentemente destes <strong>fatores</strong>, o fato é que para mudar a realidade<br />

atual do ensino de Arte, na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>, seria preciso que o Congresso Nacional<br />

mudasse, antes, o texto da nova LDB. Só assim seria possível criar quatro<br />

licenciaturas independentes e de correspondência direta com quatro novas áreas<br />

de conhecimento (da <strong>educação</strong> infantil, até a 8.ª série do ensino fundamental) e,<br />

também, com quatro novas disciplinas (nas três séries do ensino médio).<br />

O fato é que a visão corporativa por ocupações, ofícios e preferências<br />

artísticas particulares, deseja “licenciaturas separadas” para formar “professores<br />

separados” para cada “unidade separada” do ensino de Arte. Assim, fragmentando-se<br />

suas unidades constitutivas, o atual ensino de Arte desapareceria<br />

e, no seu lugar, apareceriam quatro novas áreas de conhecimento e mais quatro<br />

novas disciplinas, distintas e autônomas na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>. Dessa forma, a<br />

<strong>educação</strong> <strong>básica</strong> deixaria de ser a instância de formação geral do cidadão para se<br />

transformar em “oficinas separadas” de reprodução de técnicas de linguagens<br />

da arte.<br />

Esta compreensão enviesada sobre o ensino de Arte, na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>,<br />

é um dos <strong>fatores</strong> que dificultam para o encaminhamento de qualquer projeto<br />

pedagógico de formação deste educador. É, também, exemplo de um “pensamento<br />

mágico” que ignora o significado da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong> para todo cidadão,<br />

especialmente para o trabalhador brasileiro submetido <strong>à</strong>s determinações da atual<br />

conjuntura internacional capitalista. Este “pensamento mágico”, ao hipertrofiar a<br />

arte pela arte, confunde o ensino de Arte, na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>, com o “fazer<br />

arte”, próprio dos centros culturais e artesanais (urbanos ou rurais). Esquece<br />

que, no primeiro caso, a “produção artística” do aluno representa apenas um<br />

meio facilitador da aprendizagem sobre a arte, enquanto que, no segundo caso,<br />

essa produção é somente um fim em si mesma.<br />

Se “os limites da minha linguagem mostram os limites do meu mundo”<br />

(ALVES, 2003), então, em relação ao educador para o ensino de Arte, não seria<br />

nada coerente reduzir ainda mais a sua formação acadêmica e, conseqüentemente,<br />

o seu campo de atuação profissional (e a sua competitividade) a uma<br />

única unidade desse ensino, através de “licenciaturas separadas”. Mesmo assim,<br />

esse reducionismo já ocorre na formação acadêmica e na capacidade de<br />

trabalho desse educador só por causa das habilitações defasadas que algumas<br />

licenciaturas ainda conservam. 3<br />

92<br />

<strong>Da</strong> <strong>universidade</strong> <strong>à</strong> <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>


A visão corporativa por ocupações, ofícios ou preferências artísticas<br />

particulares jamais deveria direcionar, por muitas razões, a formação do educador<br />

e a <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>. Por um lado, as quatro ou mais unidades educativas<br />

(conteúdos, blocos, linguagens, expressões etc.) que constituem os programas<br />

da área/disciplina ensino de Arte, em todos os níveis da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>, nunca<br />

foram “cobradas” separadamente nos concursos públicos para provimento de<br />

cargos do magistério. Por outro lado, na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>, o ensino de Arte não<br />

se reduz a transformar o aluno em “artista de uma arte só”. Esse tipo de prática<br />

só tem alguma razão de ser nos “cursinhos informais” de algum ateliê particular,<br />

ou dos centros sociais e artesanais.<br />

De fato, uma dificuldade de entendimento epistemológica paira sobre o<br />

ensino de Arte da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>. As artes visuais, o teatro, a música e a dança<br />

nunca foram áreas de conhecimento e nem disciplinas autônomas na <strong>educação</strong><br />

<strong>básica</strong>. Estas dimensões da existência humana, ou os conhecimentos sobre as<br />

artes visuais, teatro, música, dança etc., são apenas unidades educativas que<br />

constituem os programas de ensino de Arte, em todas os níveis da <strong>educação</strong><br />

<strong>básica</strong>. Na realidade, as dificuldades enfrentadas por esse educador estão na sua<br />

incapacidade para realizar a integração dessas unidades, através de experiências<br />

de aprendizagem significativas para os seus alunos. Essas dificuldades decorrem<br />

principalmente de sua fragmentada formação acadêmica, o que reduz<br />

sua capacidade de trabalho e o inferioriza frente aos demais educadores. Essas<br />

constatações talvez expliquem o clamor por “licenciaturas separadas” como uma<br />

forma de defesa daqueles indivíduos limitados pelas circunstâncias locais/regionais<br />

de certas ocupações autônomas/artísticas isoladas.<br />

Apesar de tudo, depois da LDB e dos PCN, a realidade do ensino de<br />

Arte melhorou um pouco mais na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>. Alguns educadores já não se<br />

sentem tão discriminados frente aos seus outros colegas, mesmo reduzidos a<br />

uma ou outra unidade constitutiva dos programas desse ensino, por causa das<br />

habilitações defasadas em algumas licenciaturas. Outros já demonstram mais<br />

competência para trabalhar com todo o programa, ou seja, para ministrar os<br />

conteúdos das suas 4 (quatro) unidades constitutivas ou blocos de conhecimentos.<br />

Mesmo assim, os conteúdos sobre as artes visuais continuam prevalecendo<br />

sobre os demais, naquelas escolas públicas e particulares que já oferecem alguma<br />

“porção” do ensino de Arte, em alguma série da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>. De fato,<br />

são poucos os conteúdos de suas 4 (quatro) unidades constitutivas, em todos os<br />

níveis ou séries da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>, se comparados com o volume de conteúdos<br />

das outras áreas de conhecimento/disciplinas. Basta perceber que, para o ensino<br />

de Arte, normalmente é destinada somente uma hora-aula pedagógica por semana<br />

(de 40 a 50 minutos).<br />

Para além da visão fragmentada, cabe reforçar que os setores mais dinâmicos<br />

da sociedade já sabem, há muito tempo, que a banalização do conheci-<br />

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 93


mento (facilidade de acesso) tornou o saber específico de uma disciplina escolar<br />

menos importante diante da necessidade urgente de organização de novos processos<br />

de aprendizagem que possibilitem trabalhar as (e com as) múltiplas linguagens<br />

na sala de aula (que tornem o aluno um aprendiz de verdade). Portanto,<br />

a linguagem em uma aula deixou de ser única e específica, o que implica trabalho<br />

sistemático não só para incorporar saberes, mas para mobilizá-los, estimulando e<br />

integrando múltiplas habilidades (polivalência), úteis para o cotidiano de vida e<br />

trabalho, tanto dos professores quanto dos seus alunos. Assim, distanciado dessa<br />

nova visão e do conhecimento sobre os mecanismos da aprendizagem, de fato o<br />

ensino de Arte fica caracterizado como área/disciplina de menor importância no<br />

conjunto das demais (ou como recurso audiovisual auxiliar, oficina de manipulação,<br />

ateliê de artista, ou performance).<br />

4. Ensino, educador e educando<br />

O ensino de Arte ainda nem chegou em todas as escolas do Estado do<br />

Maranhão. Na capital, São Luís, nem mesmo a rede estatal oferece esse ensino<br />

em todas as séries de todos os níveis da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>. No ensino médio, por<br />

exemplo, ele não é oferecido na 3.ª série porque a avaliação do conhecimento<br />

em arte, no Programa de Seleção Gradual (PSG/UFMA), foi introduzida somente<br />

para os estudantes das 1.ª e 2.ª séries. No rastro desse equívoco, muitas<br />

escolas não oferecem o ensino de Arte na 3.ª série. Privou-se o aluno desse<br />

ensino e fechou-se o mercado de trabalho para o professor, na 3.ª série do ensino<br />

médio. Esse equívoco ainda induz o vestibulando a acreditar que já existem<br />

bacharelados em música e teatro, na UFMA, uma vez que obriga o aluno a<br />

escolher ou a “porção música”, ou a “porção teatro”, ou a “porção artes plásticas”<br />

para fazer a “prova de arte” do PSG. No “vestibular tradicional” este mesmo<br />

equívoco se repete quando o vestibulando continua sendo avaliado em somente<br />

uma das unidades do “programa de artes”.<br />

O sentido maior do ensino de Arte na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong> é estimular, sensibilizar<br />

o aluno para os conteúdos de arte e não transformá-lo em artista, do<br />

tipo artesão, imitador, representador, dançador, cantador, tocador, desenhista<br />

etc., o que não seria correto com o aluno pobre da escola pública, frente <strong>à</strong><br />

inexistência de demanda por essas ocupações no Maranhão. As atividades artísticas<br />

em sala de aula têm somente o papel de integração e estimulação <strong>à</strong> imagem,<br />

ao som e aos movimentos.<br />

O ensino de Arte (e qualquer outro), na formação geral da <strong>educação</strong><br />

<strong>básica</strong>, não deve ser segmentado, fragmentado, “especializado” e fomentador<br />

de corporações isoladas. Por isso é que, oficialmente, aparece somente com o<br />

94<br />

<strong>Da</strong> <strong>universidade</strong> <strong>à</strong> <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>


nome de ensino de Arte. Dessa forma, o mais importante na avaliação do aluno<br />

é o seu envolvimento com o processo ensino-aprendizagem, e não os seus “produtos<br />

materiais”, muitas vezes utilizados para justificar uma suposta aprendizagem<br />

perante as famílias, como as “lembrancinhas” (fabricadas normalmente<br />

pelos professores da <strong>educação</strong> infantil e de 1.ª a 4.ª séries do ensino fundamental),<br />

os “espetáculos”, as “exposições” e as “oficinas integradas”, no ensino<br />

médio e nas licenciaturas.<br />

Esta compreensão vale, também, para a formação do educador da <strong>educação</strong><br />

<strong>básica</strong>. Uma licenciatura de graduação plena, fragmentada por “habilitações”,<br />

além de ser uma contradição, limita as possibilidades profissionais do<br />

educador, uma vez que sua formação deve contemplar os planos cognitivo-instrumental,<br />

prático-moral e estético-expressivo, necessários para bem transitar<br />

em um mundo complexo. O tratamento interdisciplinar dos problemas atuais<br />

exige, portanto, uma visão mais ampla e para além da abordagem linear. Por<br />

isso,<br />

[...] A graduação não deve restringir-se <strong>à</strong> perspectiva de uma profissionalização<br />

estrita, especializada. Há que propiciar a ‘aquisição de competências de longo<br />

prazo’, o domínio de métodos analíticos, de múltiplos códigos e linguagens,<br />

enfim, uma qualificação intelectual de natureza suficientemente ampla e abstrata<br />

para construir, por sua vez, base sólida para a aquisição contínua e eficiente de<br />

conhecimentos específicos. (FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE<br />

GRADUAÇÃO DAS UNIVERSIDADES, 1999, p. 13).<br />

Claro que determinados setores da sociedade ainda continuam muito<br />

distanciados desse entendimento sobre a formação do educador com as competências<br />

necessárias para interligar os conhecimentos, na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>. Essa<br />

tarefa, na contemporaneidade, difere radicalmente daquela visão maniqueísta<br />

sobre ensino de Arte e, principalmente, sobre arte. 4 Diante destas considerações,<br />

tomando-se como referência a experiência vivenciada com diferentes agentes<br />

educativos universitários e da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>, cabe registrar que o mais<br />

importante nessa tarefa pedagógica é:<br />

a) a valorização do cidadão, que tem direito a um ensino sério e<br />

organizado por um educador profissional;<br />

b) a valorização do graduando, portador dos conhecimentos necessários<br />

para ser respeitado no exercício do magistério por todos os agentes<br />

educativos (pais, alunos, outros profissionais da <strong>educação</strong> etc.);<br />

c) a socialização do conhecimento de forma metodologicamente<br />

competente para que o aluno possa fazer bom uso nos “concursos<br />

públicos” e em outras circunstâncias de suas vidas; e<br />

d) o respeito pelo graduado, em todos os níveis da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>,<br />

como um profissional inteiro (não mais um “repetidor de técnicas”).<br />

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 95


Essa visão mais contemporânea sobre a formação universitária do futuro<br />

educador não coincide como a prática de segmentos, ocupações, ou preferências<br />

artísticas particulares.<br />

Em quase todos os cursos de formação do educador da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>,<br />

a prática pedagógica inclui a prática de estudar como “força de obrigação do<br />

ofício”. Na visão corporativa, entretanto, o conceito de prática parece ser aquilo<br />

que decorre de um suposto “saber inato”, de caráter espontâneo e amadorístico<br />

(palpável, manipulatório, artesanal, imitativo). Sem dúvida, os meios acabam<br />

virando fins quando a formação superior desse educador se reduz <strong>à</strong>s práticas de<br />

manipulação, representação, ou reprodução, através de linguagens artísticas. É<br />

dessa forma que algumas licenciaturas, na prática, deixam de ser cursos de formação<br />

do formador (que irá atuar na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>) e se transformam em<br />

“bacharelados de artes.”<br />

5. Currículo por “habilitações”<br />

Criticar a formação do educador para o ensino de Arte significa enxergar<br />

a raiz de suas fragilidades, ou seja, que o seu problema epistemológico decorre<br />

do seu processo de formação. Por exemplo, muitos educadores sabem que<br />

“habilitações”, em quaisquer licenciaturas, são perfeitamente desnecessárias,<br />

não significam mais nada atualmente, já perderam qualquer importância em<br />

nível de graduação e até já desapareceram em muitos cursos superiores.<br />

Por um lado, esta problemática deverá ser enfrentada em breve, uma<br />

vez que todas as licenciaturas existentes no Brasil deverão ser ajustadas <strong>à</strong> nova<br />

LDB por determinação federal (BRASIL, Decreto n.º 3276, 1999; BRASIL,<br />

CNE, Resolução CP n.º 1, 1999; BRASIL, CNE, Resolução CP n.º 1, 2002;<br />

BRASIL, CNE, Resolução CP n.º 2, 2002; e FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE<br />

GRADUAÇÃO DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS, 1999, p. 13-22.).<br />

Por outro lado, ela denuncia os “formadores de formadores” como os<br />

responsáveis mais diretos pelas dificuldades enfrentadas por muitos graduados<br />

e graduandos na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>. Os descompassos informam um currículo<br />

defasado, o que é suficiente para se deduzir que algumas licenciaturas não conformam,<br />

na prática, um curso de magistério superior para a formação do educador,<br />

principalmente quando se mostram de costas voltadas para as questões educacionais<br />

da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>. É grande o desentendimento sobre o papel da<br />

<strong>educação</strong> <strong>básica</strong> (e do ensino de Arte) na formação geral do cidadão, cabendo<br />

relembrar que uma “habilitação” direciona o educador somente para aquela “porção”<br />

da sua licenciatura que deveria, de fato, ser plena/integral.<br />

Assim, <strong>alguns</strong> equívocos acerca do ensino de Arte e da formação do<br />

seu educador nasceram nos próprios cursos de sua formação. Por exemplo, é<br />

96<br />

<strong>Da</strong> <strong>universidade</strong> <strong>à</strong> <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>


ingenuidade de <strong>alguns</strong> formadores pensar que o vestibular, ao fragmentar o conhecimento<br />

em arte em provas separadas e eletivas, forçaria a criação de disciplinas<br />

separadas sobre arte na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>. Os vestibulares são apenas<br />

concursos públicos que avaliam o conhecimento do estudante, aprendido através<br />

das disciplinas oficiais do ensino médio, portanto, nada têm a ver com as “habilitações”<br />

de uma licenciatura. Depois, vale considerar que o conhecimento sobre<br />

arte nem deveria ser avaliado pelos vestibulares, no Maranhão, porque se a<br />

escola pública ainda nem chegou em todos os municípios maranhenses quanto<br />

mais o ensino de Arte. 5 Nestes termos, os vestibulares são, de fato, excludentes<br />

em relação ao aluno pobre, da escola pública, que concorre em desvantagem<br />

com os aluno mais abastado, da escola privada, que ainda estuda arte, filosofia,<br />

sociologia, antropologia e política.<br />

Ao lado desse fato, os vestibulares para algumas licenciaturas também<br />

representam um caminho mais fácil para alguém entrar e, posteriormente, tentar<br />

uma “transferência fácil” para outros cursos mais concorridos em uma <strong>universidade</strong>.<br />

A impossibilidade dessa “transferência fácil” é confirmada pelo grande<br />

índice de abandono em <strong>alguns</strong> cursos e pelo número, cada vez menor, de<br />

graduandos que conseguem defender uma monografia e colar grau (UNIVER-<br />

SIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, 1999, p. 47).<br />

6. Limites e possibilidades<br />

A experiência extensionista com a Prática de Ensino (PE), através do<br />

ensino de Arte, também apontou indícios de uma nova consciência que já enxerga<br />

esse ensino como magistério profissional sério, que pede um profissional da<br />

<strong>educação</strong>, diferenciado de recreador, decorador, tocador, ator, pintor, escultor,<br />

ou reprodutor de técnicas de arte.<br />

Viu-se, anteriormente, que os propósitos do ensino de Arte, na <strong>educação</strong><br />

<strong>básica</strong>, são outros e diferentes dos propósitos do ensino informal de arte em<br />

“escolinhas” dos centros sociais e artesanais, urbanos ou rurais. Desse novo<br />

educador pede-se competências e consciência social. Na experiência vivenciada<br />

ficou a certeza de que qualquer ensino não pode ser mais dependente somente<br />

da manipulação de materiais, ou da repetição mecânica de técnicas.<br />

Contudo, aqueles que trabalham com o ensino de Arte continuam carentes<br />

de conhecimentos sobre Arte, de formação pedagógica mais sólida e de<br />

referências mais ricas sobre outros setores da sociedade e de sua cultura. Essas<br />

constatações aparecem nos relatórios dos graduandos quando tratam, por exemplo,<br />

de suas dificuldades para preparar e ministrar uma boa aula:<br />

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 97


98<br />

[...] Devo considerar que foram muitas as dificuldades encontradas durante o<br />

processo, desde a elaboração do cronograma das aulas até a sua realização.<br />

Essas dificuldades estão relacionadas a vários <strong>fatores</strong>, dentre os quais estão a<br />

pouca experiência, o domínio de conteúdo que necessitaria ser maior e<br />

consistente, requerendo para tanto mais leituras, mais atividade, segurança e<br />

clareza na forma de explorar o conteúdo, saber utilizar as terminologias<br />

adequadas, relacionar pontos de vista dos autores, enfim, possuir todas essas<br />

potencialidades que são <strong>básica</strong>s e eficazes para a formação do docente (LIMA,<br />

2003, p. 2).<br />

Quando se referem ao ensino de Arte e aos professores da <strong>educação</strong><br />

<strong>básica</strong>, os graduandos utilizam as palavras desvalorização, preconceito,<br />

marginalização, conforme mostra Silva (2003, p. 2):<br />

[...] Pudemos notar que a desvalorização da disciplina ensino de Arte é expressa<br />

por certo preconceito, acarretando marginalização do professor e, este, muitas<br />

vezes é visto pelos dirigentes da escola com a função de apenas enfeitar e<br />

decorar a instituição nos períodos de festas. Além disso, esses dirigentes não se<br />

interessam em verificar se os professores de EA seguem os conteúdos propostos<br />

pelos PCN [...] o professor é visto por seus colegas de outras disciplinas como<br />

alguém abaixo do seu nível, como um não profissional. Isso, muitas vezes,<br />

acontece por falta de clareza deste próprio professor sobre a função da arte na<br />

<strong>educação</strong> [...] Frisamos, ainda, que essa desvalorização e descaso com o ensino<br />

de Arte não são manifestados somente por <strong>alguns</strong> dirigentes, colegas de<br />

profissão, mas pela maioria dos alunos.<br />

Sobre os conteúdos ministrados, para Ribeiro (2003, p. 2), estes “são<br />

organizados a partir da pesquisa em diversos livros didáticos que as editoras<br />

distribuem [...] e, quase sempre, versam sobre as artes visuais”. Esta graduanda<br />

trabalhou com o programa de uma escola de ensino fundamental e, com base no<br />

seu relato, ela ministrou os mesmos temas de artes plásticas que estavam sendo<br />

ministrados, também, nas escolas de ensino médio.<br />

As reações dos alunos das escolas de <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>, frente ao ensino<br />

de Arte, modificam-se nos diversos níveis de escolaridade. Mesmo assim, permanece<br />

o estigma de que esse ensino tem “pouca valia” para a vida. Para os<br />

graduandos, são os diretores e os próprios professores que acabam induzindo os<br />

alunos a se inscreverem no PSG somente em uma unidade do “programa de<br />

arte”, achando, com isso, que aprovarão maior número de estudantes de sua<br />

escola. Entretanto, para Bezerra (2003, p. 3), o fato do ensino de Arte ser<br />

direcionado pelo PSG vem dificultando a integração de suas unidades<br />

constitutivas porque o professor fica restrito somente <strong>à</strong>queles temas que serão<br />

cobrados nesse concurso, “o que contribui para o aluno desvalorizar o processo<br />

educativo que a arte pode favorecer”. Para ele, essa desvalorização pelo aluno<br />

“pode ser também um reflexo da falta de planejamento pedagógico da escola.”<br />

<strong>Da</strong> <strong>universidade</strong> <strong>à</strong> <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>


De modo geral, estes graduandos também mostraram as mesmas dificuldades.<br />

Entretanto, os relatórios, apresentados de forma mais narrativa, além<br />

das mesmas queixas sobre a vida acadêmica anterior, esboçaram alguma capacidade<br />

de análise, discussão e confronto de percepções sobre os fatos vivenciados.<br />

Respeito mútuo e solidariedade foram os aspectos de maior destaque ao longo<br />

do processo. Como a avaliação de cada um deles levava em conta o trabalho<br />

grupal, devem-se ressaltar os diferentes tipos de contribuição que uns acabaram<br />

tendo de prestar aos outros, o que, sem dúvida, favoreceu o andamento de um<br />

trabalho pedagógico mais coletivo, consciente e menos improvisado. As avaliações<br />

apontaram para um tipo de “crescimento” que foi construído com dificuldades<br />

de diferentes ordens, inclusive de referências decorrentes de princípios,<br />

valores e conceitos de procedências diversas. Dois textos foram publicados no<br />

período e, agora, estão disponibilizados:<br />

a) Prática de Ensino e extensão universitária: <strong>fatores</strong> propulsores,<br />

características e resultados de uma experiência desenvolvida com<br />

estudantes de Educação Artística (Revista Educação e Emancipação,<br />

São Luís, v. 1, n. 2, p. 132-149, 2002); e<br />

b) Prática de ensino e ensino de Arte: reflexões sobre a formação<br />

acadêmica para o exercício da profissão de educador. (Revista Educação<br />

e Emancipação, São Luís, v. 2, n. 1, p. 183-207, 2003).<br />

7. Considerações finais<br />

Causa estranheza um docente esquecer que toda licenciatura é somente<br />

um curso de formação do educador da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong> e muitos universitários<br />

só descobrirem a natureza da sua licenciatura no final da vida acadêmica.<br />

Contudo, a abordagem desses “descuidos” pede, antes, o entendimento<br />

de uma questão de ordem maior. Para Gremski (2003, p. 12), nos últimos anos<br />

[...] acabou se dedicando muito mais atenção <strong>à</strong>s áreas de engenharia, saúde e a<br />

formação do professor ficou relegada ao segundo plano [...] Como os<br />

profissionais das áreas de pesquisa e atividades afins são mais valorizados e os<br />

profissionais de ensino têm um salário médio mais baixo, tanto no ensino<br />

fundamental como no médio, a demanda acaba caindo e isto acaba se<br />

transformando em um círculo vicioso [...] o ensino público (Educação Superior)<br />

não teve uma expansão correspondente <strong>à</strong> demanda, o que expandiu foi o ensino<br />

privado e ele se dedicou basicamente <strong>à</strong>s áreas que exigem menos investimentos,<br />

como as áreas humanas e sociais aplicadas, como direito, administração e as<br />

licenciaturas. A conseqüência disto foi uma enorme concentração da formação<br />

dos professores nas <strong>universidade</strong>s privadas. (Grifos do autor)<br />

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 99


O professor Gremski 6 (2003, p. 12) destaca, ainda, a preocupação do<br />

governo atual com a formação para o magistério e com a falta de professores no<br />

ensino médio, principalmente para as Ciências da Natureza (Física, Química e<br />

Biologia) e Matemática, informando que, nessa área de conhecimento, “os cursos<br />

são difíceis e caros e neste aspecto as <strong>universidade</strong>s públicas teriam que<br />

repensar suas ações, porque os cursos de Física, Matemática e Biologia são<br />

cursos ministrados para formar físicos, biólogos e matemáticos e não professores.<br />

Não há este pensamento no Brasil”. (Grifos do autor).<br />

Guardadas as devidas proporções, o ensino de Arte, na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>,<br />

também padece desse tipo de “descuido” do poder público com a formação do<br />

seu educador e desse tipo de pensamento vigente que ainda ignora e desqualifica<br />

o magistério profissional. Nesse sentido, a origem dos problemas que circunscrevem<br />

esse ensino está, inicialmente, no processo de formação desse educador,<br />

ou na constituição do quadro dos seus formadores. Esse quadro institucional de<br />

formadores, por sua vez, enfrenta uma certa crise que não decorre do alegado<br />

conflito “artista contra professor”. Este conflito é falso, mas a crise de identidade<br />

profissional é verdadeira e informa problemas de ordem epistemológica, a<br />

partir dos seguintes pressupostos:<br />

a) arte é atividade fundamental de qualquer ser humano, e não um<br />

privilégio ou dom de “seres diferenciados”, ou de “iluminados” que<br />

almejam somente a exposição pública de suas figuras e a mitificação de<br />

seus nomes;<br />

b) qualquer ser humano desenvolve atividades, imprime um fim ao seu<br />

fazer profissional, consome e, assim, entra em contato consigo mesmo,<br />

com os outros e com o mundo; e<br />

c) qualquer ser humano faz, conhece e se expressa através do seu fazer<br />

articular/profissional, ou seja, da sua arte de fazer algo, de formar e<br />

trans-formar.<br />

Em Bosi (1995, p. 14), essa crise nada mais é do que uma derivação <strong>à</strong>s<br />

avessas daquela velha oposição entre o ócio e o labor, entre trabalho intelectual<br />

e trabalho manual. No passado, os dirigentes da sociedade, ao mesmo tempo,<br />

usavam e desprezavam o produtor/trabalhador e o seu trabalho. Nos setores da<br />

sociedade ainda marcados por relações antigas, esse preconceito parece que<br />

tomou outra forma: o trabalho manual/artesanal (a improvisação e o<br />

espontaneismo) parece desprezar o estudo metódico, o conhecimento científico/intelectual.<br />

Esta visão dificulta as relações pedagógicas quando se faz presente<br />

no interior de um curso de formação do educador da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>,<br />

muitas vezes confundido com bacharelado.<br />

Para determinadas ocupações artísticas, a direção e o significado do seu<br />

trabalho se resumem <strong>à</strong> exposição pública de seus nomes. Entretanto, a rede de<br />

ensino regular (estatal e privada) é basicamente o único mercado de trabalho<br />

100<br />

<strong>Da</strong> <strong>universidade</strong> <strong>à</strong> <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>


para o profissional da <strong>educação</strong>, através do ensino de Arte. E a única entidade<br />

jurídica capaz de responder por suas questões trabalhistas é o sindicato dos<br />

professores. Tudo o mais é fantasia.<br />

De fato, há uma grande defasagem no curso de formação desse educador,<br />

depois do advento da LDB, Lei n.º 9.394/96. Assim, uma licenciatura, transfigurada<br />

em algo parecido com bacharelado, não qualifica nem o educador para<br />

a <strong>educação</strong> <strong>básica</strong> e nem os profissionais autônomos para outras ocupações da<br />

arte.<br />

A escola estatal ainda nem chegou para todos e os ensinos de Biologia,<br />

Física, Química, Filosofia, Antropologia/Sociologia/Política e Arte ainda nem<br />

chegaram em todas as escolas. Mesmo assim, todas as licenciaturas que formam<br />

professores para a <strong>educação</strong> <strong>básica</strong> já existem no Maranhão. E o trabalho de<br />

formação do educador, daquele que irá trabalhar com crianças e jovens, é algo<br />

maior. Com relação <strong>à</strong> sala de aula, que a palavra final fique com Duarte (1983,<br />

p. 14), ao descrever a única certeza que tranqüiliza e alimenta a paz de um<br />

educador, no seu “teste derradeiro”: “[...] Aqui estou, arquiteto da utopia. Deste-me,<br />

para transformar o mundo, as quatro paredes de uma sala de aula. Achei<br />

estreito o espaço no começo, mas depois me espantei com o poder que recebi.<br />

Nada trouxe comigo, mas o mundo é diferente porque eu passei por ele”.<br />

Notas:<br />

1 As escolas que atuaram em parceria foram: Colégio Universitário; Escola Técnica<br />

Estadual Dr. Bacelar Portela; Complexos de Ensino Fundamental e Médio Cidade de<br />

São Luís, Manoel Beckman e Maria Mônica Vale; Centros de Ensino Médio São<br />

Cristóvão, Paulo Freire e Margarida Leal, incluindo-se, também, a Galeria de Arte do<br />

Serviço Social do Comércio/SESC.<br />

2 Outros temas: Educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; A formação e a<br />

profissão de educador; Política e planejamento educacional; Mudanças no mundo do<br />

trabalho; A arte na <strong>educação</strong> para todos; Fundamentos da <strong>educação</strong> através da arte; A<br />

arte e o processo de construção da cidadania; As mutações do conceito e da prática de<br />

arte no processo de ensino-aprendizagem; Metodologias do ensino de Arte; Integração<br />

das diversas “linguagens” artísticas no ensino de Arte; Estética: conceitos e contextos;<br />

Cultura popular brasileira: formação histórica, multiculturalismo; A arte da pré-história<br />

brasileira; As artes visuais no Brasil: do barroco colonial brasileiro aos dias atuais;<br />

As artes audiovisuais: tv, cinema, multimídia (novos recursos/novas linguagens); A<br />

música no Brasil: do período colonial a nossos dias; O teatro no Brasil: história e<br />

movimentos; A dança no Brasil: dramática e folclórica, popular e erudita; Movimentos<br />

artísticos do século XX no Brasil etc.<br />

3 No Curso de Educação Artística-Licenciatura Plena, da UFMA, as habilitações que<br />

ainda permanecem são: Artes Plásticas, Desenho e Artes Cênicas.<br />

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 101


4 Para além de uma visão simplista sobre arte, vale destacar a obra de Meredith Monk,<br />

constituída de vários trabalhos que exigiram “desempenho interdisciplinar”, através<br />

da interseção de música, movimento, imagem, objeto, luz, som etc. Toda a sua obra<br />

tem os propósitos de “tecer” novos modos de percepção e de ampliar os limites de<br />

composição musical (MONK, 2003).<br />

5 Segundo informações do setor de Normas e Organização do Ensino Médio da Secretaria<br />

de Estado da Educação, em setembro de 2003, o Maranhão contava com 344<br />

estabelecimentos de ensino médio. Destes, 56 estabelecimentos (incluindo anexos)<br />

estão localizados nos municípios de São Luís, Paço do Lumiar, Raposa, São José de<br />

Ribamar e Alcântara, contudo, ainda carecem de muitos professores, em função das<br />

novas exigências da LDB. Dos 217 municípios maranhenses, 6 (seis) ainda dependem<br />

de estabelecimentos para o possível funcionamento de escolas de ensino médio<br />

(Milagres, Paulino Neves, Sucupira do Riachão, São Benedito do Rio Preto, Brejo e<br />

Santana do Maranhão).<br />

6 O professor Waldemiro Gremski foi diretor do Departamento de Projetos Especiais<br />

de Modernização e Qualificação do Ensino Superior (DEPEM), da Secretaria de<br />

Ensino Superior/MEC.<br />

Referências:<br />

ALVES, Rubem. Entrevista do Programa “Roda Viva” na TV<br />

Educativa. Rio de Janeiro, Fundação Roquete Pinto, set. 2003.<br />

BEZERRA, Valmir Cruz. Relatório de Prática de Ensino. São Luís,<br />

2003. 6f. Relatório final (Curso de Educação Artística-Licenciatura Plena)<br />

– Centro de Ciências Humanas, Universidade Federal do Maranhão, 2003.<br />

BOSI, Alfredo. Reflexão sobre a arte. 5. ed. São Paulo: Ática, 1995.<br />

(Série fundamentos).<br />

BRASIL. Decreto n.º 3.276, de 06 de dezembro de 1999. Dispõe sobre a<br />

formação em nível superior de professores para atuar na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>,<br />

e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 9 abr. 2000.<br />

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CP N.º 1, de 30 de<br />

setembro de 1999. Dispõe sobre os Institutos Superiores de Educação,<br />

considerados os Art. 62 e 63 da Lei 9.394/96 e o Art. 9, § 2.º, alíneas “c”<br />

e “h” da Lei 4.024/61, com correção dada pela Lei 9.131/95. Diário Oficial<br />

[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, dia de mês de 1999,<br />

seção 1, p. 50.<br />

102<br />

<strong>Da</strong> <strong>universidade</strong> <strong>à</strong> <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>


BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação<br />

Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio.<br />

Brasília, DF: MEC/SEMT, 1999. 364p.<br />

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CP N.º 1, de 18 de<br />

fevereiro de 2002. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a<br />

Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso<br />

de licenciatura, de grau plena. Diário Oficial [da] República Federativa<br />

do Brasil, Brasília, DF, n.º 42, 4 mar. 2002a. Seção 1, p. 8/9.<br />

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CP N.º 2, de 19 de<br />

fevereiro de 2002. Institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura,<br />

de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica, em nível<br />

superior. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,<br />

n.º 42, 4 mar. 2002b. Seção 1, p. 9.<br />

DUARTE, Newton. Sociedade do conhecimento ou sociedade das ilusões?:<br />

quatro ensaios crítico-diléticos em filosofia da <strong>educação</strong>. Campinas, SP: Autores<br />

Associados, 2003.<br />

DUARTE, Sebastião Moreira. Oração do paraninfo. São Luís: Editora Augusta,<br />

1983.<br />

FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE GRADUAÇÃO DAS UNIVERSIDADES<br />

BRASILEIRAS, 12, 1999, Ilhéus, Bahia. Plano Nacional de Graduação: um<br />

projeto em construção. Ilhéus, Bahia: ForGRAD (impresso pela gráfica da<br />

UNICAMP), 1999. 38p. Disponível em: .<br />

Acesso em: 09 nov. 2000.<br />

GREMSKI, Waldemiro. Universidade do professor. Revista do ensino médio.<br />

Brasília,DF (Secretaria de Educação Média e Tecnológica-Ministério da<br />

Educação), ano 1, n. 2, p. 12-13, out./nov. 2003.<br />

LIMA, Célia Pacheco. Relatório de Prática de Ensino. São Luís, 2003. 3f.<br />

Relatório final (Curso de Educação Artística-Licenciatura Plena) – Centro de<br />

Ciências Humanas, Universidade Federal do Maranhão, 2003.<br />

MONK, Meredith. Interdisciplinary. Disponível em: . Acesso em: 27 jan. 2003.<br />

MÚSICA com formação superior. O Estado do Maranhão. São Luís, MA, 14<br />

fev. 2002. Caderno Alternativo, p. 1.<br />

RIBEIRO, Geysa Soares Moares. Relatório de Prática de Ensino. São Luís,<br />

2003. 4f. Relatório final (Curso de Educação Artística-Licenciatura Plena) –<br />

Centro de Ciências Humanas, Universidade Federal do Maranhão, 2003.<br />

SILVA, Waldery Lemos Ribeiro da. Relatório de Prática de Ensino. São<br />

Luís, 2003. 6f. Relatório final (Curso de Educação Artística-Licenciatura Plena)<br />

– Centro de Ciências Humanas, Universidade Federal do Maranhão, 2003.<br />

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 103


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Pró-Reitoria de Graduação<br />

/ Divisão de Acompanhamento e Avaliação. Retenção: 95; 97. São Luís, MA,<br />

1999. 47p.<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Departamento de Artes. Ata<br />

da Assembléia Departamental, de 05 de junho de 2000. São Luís, 2000. 2f.<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Coordenação do Curso de<br />

Educação Artística. Ofício encaminhando “Projeto Pedagógico de Criação do<br />

Curso de Teatro” ao Chefe do Departamento de Artes, em 2002. São Luís, 2002.<br />

1f.<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Departamento de Artes. Ata<br />

da Assembléia Departamental, de 18 de junho de 2003. São Luís, 2003. 2f.<br />

104<br />

<strong>Da</strong> <strong>universidade</strong> <strong>à</strong> <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>

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