Da universidade à educação básica: alguns fatores intervenientes
Da universidade à educação básica: alguns fatores intervenientes
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O professor Gremski 6 (2003, p. 12) destaca, ainda, a preocupação do<br />
governo atual com a formação para o magistério e com a falta de professores no<br />
ensino médio, principalmente para as Ciências da Natureza (Física, Química e<br />
Biologia) e Matemática, informando que, nessa área de conhecimento, “os cursos<br />
são difíceis e caros e neste aspecto as <strong>universidade</strong>s públicas teriam que<br />
repensar suas ações, porque os cursos de Física, Matemática e Biologia são<br />
cursos ministrados para formar físicos, biólogos e matemáticos e não professores.<br />
Não há este pensamento no Brasil”. (Grifos do autor).<br />
Guardadas as devidas proporções, o ensino de Arte, na <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>,<br />
também padece desse tipo de “descuido” do poder público com a formação do<br />
seu educador e desse tipo de pensamento vigente que ainda ignora e desqualifica<br />
o magistério profissional. Nesse sentido, a origem dos problemas que circunscrevem<br />
esse ensino está, inicialmente, no processo de formação desse educador,<br />
ou na constituição do quadro dos seus formadores. Esse quadro institucional de<br />
formadores, por sua vez, enfrenta uma certa crise que não decorre do alegado<br />
conflito “artista contra professor”. Este conflito é falso, mas a crise de identidade<br />
profissional é verdadeira e informa problemas de ordem epistemológica, a<br />
partir dos seguintes pressupostos:<br />
a) arte é atividade fundamental de qualquer ser humano, e não um<br />
privilégio ou dom de “seres diferenciados”, ou de “iluminados” que<br />
almejam somente a exposição pública de suas figuras e a mitificação de<br />
seus nomes;<br />
b) qualquer ser humano desenvolve atividades, imprime um fim ao seu<br />
fazer profissional, consome e, assim, entra em contato consigo mesmo,<br />
com os outros e com o mundo; e<br />
c) qualquer ser humano faz, conhece e se expressa através do seu fazer<br />
articular/profissional, ou seja, da sua arte de fazer algo, de formar e<br />
trans-formar.<br />
Em Bosi (1995, p. 14), essa crise nada mais é do que uma derivação <strong>à</strong>s<br />
avessas daquela velha oposição entre o ócio e o labor, entre trabalho intelectual<br />
e trabalho manual. No passado, os dirigentes da sociedade, ao mesmo tempo,<br />
usavam e desprezavam o produtor/trabalhador e o seu trabalho. Nos setores da<br />
sociedade ainda marcados por relações antigas, esse preconceito parece que<br />
tomou outra forma: o trabalho manual/artesanal (a improvisação e o<br />
espontaneismo) parece desprezar o estudo metódico, o conhecimento científico/intelectual.<br />
Esta visão dificulta as relações pedagógicas quando se faz presente<br />
no interior de um curso de formação do educador da <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>,<br />
muitas vezes confundido com bacharelado.<br />
Para determinadas ocupações artísticas, a direção e o significado do seu<br />
trabalho se resumem <strong>à</strong> exposição pública de seus nomes. Entretanto, a rede de<br />
ensino regular (estatal e privada) é basicamente o único mercado de trabalho<br />
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<strong>Da</strong> <strong>universidade</strong> <strong>à</strong> <strong>educação</strong> <strong>básica</strong>