07.05.2013 Views

cooperativismo de gênero - Ministério da Agricultura, Pecuária e ...

cooperativismo de gênero - Ministério da Agricultura, Pecuária e ...

cooperativismo de gênero - Ministério da Agricultura, Pecuária e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

foi visto e consi<strong>de</strong>rado como uma extensão do trabalho do produtor rural, ou seja: aquilo<br />

que elas plantam, produzem e processam é avaliado como uma “aju<strong>da</strong>” ao marido, ao<br />

pai, ao irmão. Dificilmente essas mulheres são percebi<strong>da</strong>s como protagonistas <strong>da</strong>queles<br />

processos, muitas vezes, nem por elas mesmas, o que é pior. Neste contexto, on<strong>de</strong> os espaços<br />

<strong>da</strong> reprodução e do cui<strong>da</strong>do (no âmbito doméstico) e <strong>da</strong> produção guar<strong>da</strong>m uma estreita<br />

relação, acabam prevalecendo os códigos e referências <strong>da</strong> divisão sexual do trabalho, entre<br />

os integrantes <strong>da</strong> família, homens e mulheres, adultos e crianças, assumindo ca<strong>da</strong> um o<br />

seu “lugar”, segundo a norma estabeleci<strong>da</strong>. Torna-se difícil, por exemplo, i<strong>de</strong>ntificar, na<br />

produção <strong>de</strong> subsistência, o mesmo ”valor” atribuído àquela parte <strong>da</strong> produção <strong>de</strong>stina<strong>da</strong><br />

ao mercado, o que leva à <strong>de</strong>scaracterização <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva <strong>da</strong>s mulheres, explicita<strong>da</strong><br />

no trato com os pequenos animais, no cultivo <strong>da</strong>s hortaliças, na confecção <strong>de</strong> roupas<br />

e em outros tipos <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que garantem boa parte <strong>da</strong> alimentação, do conforto e <strong>da</strong><br />

sobrevivência <strong>da</strong> família.<br />

Segundo a pesquisadora Cristina Bruschini 1 , estudos realizados nas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

70-80 já revelavam que a invisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do trabalho produtivo <strong>da</strong>s mulheres rurais <strong>de</strong>via-se<br />

à própria metodologia adota<strong>da</strong> no levantamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos oficiais, resultando em estatísticas<br />

“ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s para medir a real contribuição <strong>da</strong>s mulheres à socie<strong>da</strong><strong>de</strong>”. provocando<br />

a sub-representação do seu trabalho. Isto porque as categorias adota<strong>da</strong>s referiam-se aos<br />

países <strong>de</strong>senvolvidos, sendo pouco próprias para captar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> América Latina e<br />

dos <strong>de</strong>mais países em <strong>de</strong>senvolvimento, on<strong>de</strong> o capitalismo “convive com outras formas<br />

<strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica”. Assim sendo, os censos latino-americanos acabavam “escon<strong>de</strong>ndo<br />

o contexto doméstico, a pequena produção mercantil ou o trabalho familiar não remunerado,<br />

especialmente válido para as mulheres. O trabalho a domicílio <strong>de</strong>stinado à produção<br />

<strong>de</strong> alimentos ou <strong>de</strong> roupas, por exemplo, escon<strong>de</strong>-se nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s domésticas, sendo omitido.<br />

(...) O período <strong>de</strong> tempo usado como referência para saber se a pessoa é ou não economicamente<br />

ativa afeta o volume <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> encontrado. Quanto mais amplo o período, maior<br />

será o componente rural feminino, pois este contingente exerce muita ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> sazonal”.<br />

Hoje, por influência <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>ssa natureza, sabemos que as mulheres brasileiras<br />

são muito mais que coadjuvantes: elas não apenas aju<strong>da</strong>m, mas são responsáveis por<br />

parte consi<strong>de</strong>rável <strong>da</strong> produção, sobretudo na agricultura familiar.<br />

Por outro lado, muitas mulheres têm <strong>de</strong>spontado como lí<strong>de</strong>res importantes no<br />

agronegócio brasileiro e os empreendimentos conduzidos por mulheres são aqueles que<br />

têm maior sobrevi<strong>da</strong> e menor taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecimento ao longo dos anos.<br />

1 Bruschini, Cristina - Trabalho Doméstico: inativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica ou trabalho não-remunerado? Texto apresentado no Seminário<br />

Internacional Mercado <strong>de</strong> Trabalho e Gênero – Comparação Brasil-França, realizado em 2007, na USP – Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo (09 e 10 <strong>de</strong> abril) e na UFRJ – Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (11 e 12 e abril). Colaboraram com a autora: Arlene<br />

Ricoldi e Cristiano M. Mercado, assistentes <strong>de</strong> pesquisa <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Carlos Chagas – SP e Míriam Bizzochi, estatística <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção<br />

Carlos Chagas – SP.<br />

19

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!