FOLHA 378 CAPA-ANÚNCIOS PG_01-04-10-15 ... - Folha - Uniban
FOLHA 378 CAPA-ANÚNCIOS PG_01-04-10-15 ... - Folha - Uniban
FOLHA 378 CAPA-ANÚNCIOS PG_01-04-10-15 ... - Folha - Uniban
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
16 ENTREVISTA<br />
Por Manuel Marques<br />
A atriz e diretora de teatro<br />
Eloisa Vitz não se define como<br />
pensadora ou ensaísta, mas<br />
apreciar suas reflexões sobre a<br />
arte inventada pelos velhos gregos<br />
nos faz ter a certeza de que o<br />
teatro transforma o homem. Ela<br />
costuma dizer que o teatro faz<br />
com que as pessoas se libertem<br />
de preconceitos, as capacita a<br />
questionar a sociedade em que<br />
vivem e as torna seres mais reflexivos.<br />
Ouvir Eloisa Vitz tem este<br />
mesmo efeito. Talvez porque ela e<br />
a arte que consagrou nomes<br />
como Paulo Autran Antunes Filho<br />
e tantos outros se confundam.<br />
Numa entrevista que nos concedeu<br />
há alguns anos, ela destacou:<br />
“o teatro é incrível porque invade<br />
todos os sentidos, toma você de<br />
corpo inteiro, toma sua respiração,<br />
sua alma. Ele resume tudo que o<br />
ser humano tem de mais pleno,<br />
mais miserável. É, enfim, todas as<br />
coisas grandiosas e potenciais de<br />
belo que o homem pode ter”. Essa<br />
paixão pelo mundo do espetáculo<br />
começou cedo. Relembrando esse<br />
impacto inicial, ela relata: “Eu lembro<br />
que a primeira vez que fui ao<br />
teatro eu tinha 5 anos e foi meu<br />
pai quem me levou, pra assistir a<br />
Gata Borralheira. E aquilo me impressionou<br />
muito. Lembro que<br />
eram uns atores enormes, umas<br />
atrizes com um figurino muito<br />
grande e falavam muito alto. Senti<br />
uma espécie de encanto e medo.<br />
Recordo que na época eu já tinha<br />
um “q” de diretora porque eu perguntei:<br />
‘mas como pode, a bruxa<br />
é mais bonita que a gata<br />
borralheira?’. Esse foi meu primeiro<br />
contato com o teatro”. Formada<br />
pela Escola de Artes<br />
Dramáticas (EAD) da Universidade<br />
de São Paulo, Eloisa<br />
acumula quase duas décadas<br />
de experiência como<br />
atriz, tendo trabalhado muito<br />
tempo no Grupo Tapa,<br />
companhia de teatro reconhecida<br />
em todo o território<br />
nacional. Atualmente, ela<br />
dirige o grupo GATU. Na direção,<br />
abordou peças que<br />
tratam tanto do universo infantil<br />
quanto o adulto. Seu último<br />
trabalho, juntamente com<br />
o GATU, foi o sucesso Auto da<br />
Barca do Inferno, que permaneceu<br />
em cartaz no teatro Gil<br />
Vicente até o dia 30 último. Ela<br />
recebeu a reportagem da<br />
<strong>Folha</strong> Universitária e deu a<br />
seguinte entrevista:<br />
Paixão pelo ser humano<br />
Com nova montagem prevista para estrear em outubro, a diretora de teatro Eloisa Vitz<br />
revela-se mais que humanista e reafirma seu amor pelo palco, a “arte coletiva”<br />
“O teatro é<br />
como<br />
lapidar uma<br />
jóia, em que<br />
o ourives<br />
gasta<br />
muitas<br />
horas pra<br />
fabricar<br />
uma peça<br />
perfeita,<br />
pra tirar<br />
o melhor<br />
brilho do<br />
diamante.”<br />
Amana Salles<br />
<strong>Folha</strong> Universitária - Seu último<br />
trabalho na direção foi justamente<br />
uma peça do português<br />
Gil Vicente. Dentre tantos autores<br />
que você aprecia, porque<br />
justamente o nome dele para<br />
batizar o antigo teatro UNIBAN?<br />
Eloisa Vitz - Porque ele foi a origem<br />
do nosso teatro, o primeiro<br />
dramaturgo português, um pioneiro.<br />
Não existia até agora um teatro<br />
Gil Vicente em São Paulo. Agora<br />
tem.<br />
F. U. – Das expressões artísticas,<br />
o teatro é a que lhe causa<br />
mais encantamento? É a sua<br />
grande paixão?<br />
E. V. – Minha grande paixão<br />
é o ser humano, sou mesmo<br />
apaixonada pelas pessoas<br />
(rindo). Creio que sou<br />
a última humanista. As<br />
pessoas normalmente se<br />
encantam com as coisas<br />
virtuais. Eu não. Acho<br />
tudo isso muito chato. Me<br />
encanto com gente de<br />
verdade, de olhar no olho,<br />
de conversar olhando no<br />
olho, de sentir cheiro, de<br />
tocar. Acho que é por isso<br />
que faço teatro. Mas eu<br />
posso dizer<br />
que o teatro<br />
é a<br />
expressão<br />
de<br />
Silvana Ribeiro<br />
Divulgação<br />
Com o elenco<br />
da montagem<br />
de Viúva,<br />
porém<br />
Honesta,<br />
baseada na<br />
obra de<br />
Nelson<br />
Rodrigues.<br />
arte que mais me completa. Ele<br />
une a música, a dança, as artes<br />
plásticas. Quando descobri o teatro<br />
disse a mim mesma: é isso que<br />
eu quero fazer pelo resto de minha<br />
vida. E é uma paixão que não<br />
passa. (...) E é maravilhoso porque<br />
não existe teatro sozinho, ele<br />
é uma arte coletiva.<br />
F. U. – Um leigo, que ainda não<br />
foi apresentado ao teatro, pode<br />
começar vendo que tipo de<br />
peça?<br />
E. V. – Se a pessoa quer começar<br />
pelas comédias, ela pode ter uma<br />
experiência legal. Se quer ver algo<br />
mais instigante, menos convencional,<br />
mais inovadora, pode escolher<br />
um espetáculo experimental.<br />
O que eu acho é que o bom espetáculo<br />
é sempre apreciado. Quem<br />
presta um desserviço ao teatro<br />
são as peças mal feitas, com atores<br />
despreparados. Quando isso<br />
acontece, quem viu o espetáculo<br />
fica mais uns três anos sem ir ao<br />
teatro. Quem tem uma experiência<br />
ruim, às vezes, nunca mais volta.<br />
Se for uma experiência bacana,<br />
as pessoas vão querer repetir.<br />
É como ir ao cinema.<br />
F. U. – E o que credencia uma<br />
encenação para se transformar<br />
num sucesso ou fracasso?<br />
E. V. – Eu creio que toda vez que<br />
um diretor opta por um espetáculo,<br />
ele dá a visão dele para aquela<br />
obra. (...) Eu acho que a diferença<br />
está entre um trabalho realmente<br />
sério, de pesquisa e entendimento<br />
da obra. O teatro é como<br />
lapidar uma jóia, em que o ourives<br />
gasta muitas horas pra fabricar<br />
uma peça perfeita, pra tirar o<br />
melhor brilho do diamante. O teatro<br />
também é assim, um trabalho