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FOLHA 378 CAPA-ANÚNCIOS PG_01-04-10-15 ... - Folha - Uniban

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Mané Paraíba, um dos fundadores da comunidade, posa para foto na<br />

Praça 11, coração da favela Nova Jaguaré.<br />

dência para que possam, posteriormente,<br />

receber atendimento<br />

habitacional.<br />

Na oportunidade de nossa visita,<br />

Elias comentou que os moradores<br />

que foram retirados do<br />

trecho conhecido como Rocinha,<br />

e localizado no caminho das<br />

obras, receberam uma indenização<br />

de aproximadamente cinco mil<br />

reais. Segundo ele, “muitos pegaram<br />

o dinheiro e montaram novos<br />

barracos do outro lado da comunidade”.<br />

A SEHAB não se manifestou<br />

sobre esta questão.<br />

Café com Mané<br />

Paraíba na Praça 11<br />

Deixamos o local para irmos<br />

direto ao coração da comunidade,<br />

a Praça 11. Nela se concentram<br />

os comércios e projetos sociais,<br />

tanto da Prefeitura como de<br />

entidades privadas e ligadas às<br />

religiões católica e evangélica.<br />

Durante o trajeto, somos apre-<br />

sentados a Mané Paraíba, figura<br />

lendária da Favela Nova Jaguaré.<br />

Somos convidados para um café,<br />

motivo para que muitas histórias<br />

fossem contadas.<br />

Nosso anfitrião comenta que,<br />

nos primórdios do bairro, ele encorajava<br />

seus conterrâneos a fixarem<br />

residência por lá. “Tinha<br />

época que se você gritasse ‘pega<br />

aquele Paraíba’ não ficava um no<br />

caminho”, comenta com um sorriso<br />

no rosto, para deleite dos que<br />

estavam à sua volta. Quando perguntado<br />

sobre as obras que acontecem<br />

na comunidade que ajudou<br />

a criar, ele demonstra um entusiasmo<br />

contido, cautela digna de<br />

quem já ouviu muitas promessas<br />

de melhora para a região.<br />

Descemos a favela, rumo ao<br />

canteiro de obras. Durante o trajeto<br />

temos a real noção do tamanho<br />

da comunidade. Ao chegarmos<br />

à base do morro, nos deparamos<br />

com um trecho em que fica<br />

clara a divisão física entre os pré-<br />

A dir., limite entre os novos prédios e os antigos imóveis. O conjunto<br />

residencial está em fase de finalização e alguns moradores já ocupam<br />

os apartamentos.<br />

dios que foram erguidos e os imóveis<br />

que teimam em ficar no caminho.<br />

Elias comenta que muitos<br />

moradores não querem sair de<br />

suas casas. “Também, depois que<br />

eles construíram com sacrifício<br />

uma casa com dois, três dormitórios,<br />

sala, cozinha e um espaço<br />

para comércio, eles vão se conformar<br />

de derrubar tudo e ir para<br />

um apartamento de dois dormitórios<br />

com toda a família?”, questiona<br />

o jovem.<br />

Este é o argumento de muitos<br />

dos moradores que estão no caminho<br />

das obras. No entanto, há<br />

aqueles que estão satisfeitos com<br />

a mudança. É o caso da moradora<br />

Maria José da Silva, que na<br />

época de nossa reportagem estava<br />

em sua primeira semana no<br />

apartamento de dois quartos. Ela<br />

nos convida a entrar e pede desculpa<br />

pela bagunça. Demonstrando<br />

entusiasmo, comenta que irá<br />

pagá-lo em 25 anos. “Para quem<br />

morava num barraco, não tem<br />

nem comparação”, afirma.<br />

09<br />

Conclusões e<br />

pontos em comum<br />

Projetos de urbanização e<br />

verticalização de favelas são comuns<br />

em São Paulo desde a administração<br />

da então prefeita<br />

Luiza Erundina (1989-1993),<br />

como o que foi feito na Favela<br />

de Heliópolis. De lá pra cá, todos<br />

os prefeitos realizaram obras<br />

neste sentido. É o que comenta<br />

a professora de Arquitetura e Urbanismo<br />

da UNIBAN, Margareth<br />

Matiko Uemura.<br />

Num bate-papo, foi apresentado<br />

a ela um resumo sobre as<br />

questões em comum entre as<br />

três comunidades abordadas<br />

nesta série. Curiosamente, todas<br />

elas se destacam pela “falta” de<br />

algum item. Ou é a falta de presença<br />

do Poder Público depois<br />

da entrega das obras, ou é a falta<br />

de uma par ticipação mais ativa<br />

por par te dos próprios moradores,<br />

principalmente quanto à<br />

administração do condomínio e<br />

à preservação do próprio espaço.<br />

Para ela, a vida em condomínio<br />

não é fácil para ninguém,<br />

mesmo entre pessoas de classe<br />

média com reuniões de condomínios<br />

que mais se assemelham<br />

a ferrenhos combates. “Normalmente,<br />

o morador de favela está<br />

habituado a viver coletivamente,<br />

é solidário e divide espaço. Mas,<br />

neste caso, as relações sociais<br />

não envolvem recursos financeiros<br />

e sim a solidariedade. Quando<br />

a favela é verticalizada e se<br />

coloca o morador no apartamento,<br />

se não houver um trabalho de<br />

conscientização, não tem como<br />

dar certo, pois além do condomínio<br />

ele tem que arcar com a<br />

prestação do imóvel”, comenta<br />

a arquiteta.<br />

Ela cita projetos de habitação<br />

populares feitos na França, onde<br />

há o acompanhamento social, e<br />

não assistencial. “Neste caso, há<br />

uma ajuda financeira àquela pessoa<br />

até onde sua situação financeira<br />

não cobre. Mas, a partir daí,<br />

a responsabilidade é dela. Dessa<br />

forma, o Estado não tutela o<br />

que não é necessário e ainda<br />

pune qualquer irregularidade”,<br />

comenta Uemura.<br />

Apesar de apontar as responsabilidades<br />

dos próprios moradores,<br />

ela não exime a parcela<br />

de culpa do Poder Público quanto<br />

ao abandono dessas comunidades<br />

depois da entrega das<br />

chaves dos apartamentos. Segundo<br />

ela, “a principal crítica aos<br />

conjuntos habitacionais populares<br />

é que eles não são integrados<br />

na cidade. Falta infra-estr utura<br />

na maioria deles, o que reafirma<br />

a exclusão dessa parcela<br />

da população”.

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