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assim, observando atentamente a morfologia de algumas peças, nomeadamente a tendência<br />

<strong>para</strong> a obliquidade dos pés e a proporção destes face à dimensão do corpo da<br />

peça (anel de reduzido diâmetro face <strong>ao</strong> diâmetro do bordo), atrev<strong>em</strong>o-nos a pensar que<br />

a produção de alguns destes objectos poderá ter tido lugar na 2.ª metade do século XI<br />

e até mesmo atravessado a primeira metade do século XII.<br />

Em termos morfológicos e tecnológicos, a maioria dos ex<strong>em</strong>plares de Silves é muito<br />

s<strong>em</strong>elhante <strong>ao</strong>s conhecidos ataifores de Danyia – El Forti (Gisbert et alii, 1992: 119; Gisbert,<br />

2003: 75); Maiorca – Almundayna (Rosselló-Bordoy, 1985: 196); Mértola – Criptopórtico<br />

(Torres, 1987: 79; Gómez, 1994a: 782; Gómez, 1994b: 124; Torres e Gómez,<br />

1995: 102; Gómez, 1998: 100; Gómez, 2003: 654) e a alguns dos Bacini das igrejas de<br />

Pisa (Berti e Mannoni, 1987: 169; Berti, 1995: 435-436; Berti, 1997: 436), particularmente<br />

<strong>ao</strong>s números 2 e 22, muito <strong>em</strong>bora nenhum dos ex<strong>em</strong>plares seja exactamente<br />

igual. Verificam-se s<strong>em</strong>pre diferenças, ainda que ligeiras, no ângulo de abertura das<br />

peças, nas dimensões, nos bordos e sobretudo na orientação dos pés.<br />

Relativamente <strong>ao</strong> estilo decorativo, <strong>para</strong> além das s<strong>em</strong>elhanças com os objectos já<br />

referidos, há fortes similitudes com alguns dos ex<strong>em</strong>plares tunisinos de período fatimida,<br />

provenientes da região de Kairouan (D<strong>ao</strong>ulatli, 1979: 38 a 41; D<strong>ao</strong>ulatli, 1995: 84<br />

a 85). No que à t<strong>em</strong>ática decorativa diz respeito, este tipo de utensílios mostra grande<br />

diversidade, muito <strong>em</strong>bora haja tendência <strong>para</strong> o figurativo, materializada no barco de<br />

Denia, nas figuras humanas de Sabra e Maiorca, ou ainda, nos animais estilizados de<br />

Pisa, Kairouan, Mértola e Silves.<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Parece-nos evidente que este tipo de cerâmicas decoradas com óxidos de manganês<br />

e cobre, sobre base estanífera, constitu<strong>em</strong> um tipo específico dentre as cerâmicas<br />

«verde e manganês», marcado pelo seu estilo decorativo, consubstanciado <strong>em</strong> pinceladas<br />

negras <strong>para</strong>lelas, produzidas <strong>em</strong> diferentes direcções. Parece haver também uma<br />

certa uniformidade na morfologia das peças que receb<strong>em</strong> esta decoração, contudo, este<br />

pressuposto não é muito rígido, dado que a observamos noutros suportes formais,<br />

designadamente nos pratos com barcos produzidos <strong>em</strong> Maiorca durante o século XI<br />

(Azuar Ruiz, 2005: 191), também <strong>em</strong> Dénia (Gisbert, 2003: 76), <strong>em</strong> Tunis, Qal’a Banu<br />

Hammad, Vascos, Sicília, Ibiza (Gómez, 2004: 362) e agora, também <strong>em</strong> Silves (ex<strong>em</strong>plar<br />

n.º 6).<br />

A grande discussão sobre estas peças, gira <strong>em</strong> torno de duas probl<strong>em</strong>áticas: a questão<br />

da cronologia e a dificuldade de definição do(s) seu(s) centro(s) produtor(es). Relativamente<br />

<strong>ao</strong> probl<strong>em</strong>a da cronologia, os ex<strong>em</strong>plares de Silves pouco ou nada poderão<br />

acrescentar à discussão, dado que provêm s<strong>em</strong>pre de con<strong>texto</strong>s não fiáveis – entulhos,<br />

lixeiras ou utilizados como matéria-prima na construção de estruturas, muito <strong>em</strong>bora as<br />

suas características morfológicas apont<strong>em</strong> <strong>para</strong> a 2.ª metade do século XI ou mesmo<br />

<strong>para</strong> a 1.ª metade do século XII.<br />

O probl<strong>em</strong>a da proveniência destes materiais t<strong>em</strong> mobilizado a comunidade cientí-<br />

fica e dividido os investigadores. Graziela Berti<br />

<strong>em</strong> Itália, <strong>ao</strong> longo dos cerca de 30 anos de<br />

estudo, teve oportunidade de promover, com<br />

equipa pluridisciplinar, diversos trabalhos,<br />

nomeadamente análises mineralógicas sobre as<br />

pastas de diversos ex<strong>em</strong>plares colocados nas<br />

paredes das igrejas italianas e t<strong>em</strong> defendido uma<br />

proveniência da região de Málaga (Berti e Mannoni,<br />

1997: 435). Azuar Ruiz, por seu turno, t<strong>em</strong><br />

contestado essa proveniência, dado que <strong>em</strong><br />

Málaga nunca foram encontradas cerâmicas<br />

s<strong>em</strong>elhantes (Azuar, 2005: 186). Outros investigadores,<br />

como Rosselló-Bordoy (1985: 193-194)<br />

e os portugueses Cláudio Torres e Susana<br />

Gómez-Martínez (Gómez, 1994a: 124; Gómez,<br />

1994b: 782; Torres e Gómez, 1995: 100; Gómez,<br />

1998: 100; Gómez, 2004: 361-362), parec<strong>em</strong><br />

partir da pr<strong>em</strong>issa de que se trata de cerâmicas<br />

produzidas no Norte de África, nomeadamente na<br />

região de Kairouan na Tunísia (D<strong>ao</strong>ulatli, 1979:<br />

39-40), com base nas s<strong>em</strong>elhanças decorativas<br />

com outros pratos produzidos naquela região nos<br />

séculos X e XI. Por outro lado, os investigadores<br />

de Dénia levantam a hipótese de se tratar de produção<br />

de Dénia, com base no facto de provir<br />

daquele sítio um dos ex<strong>em</strong>plares mais completos,<br />

<strong>para</strong> além de outros 11 ex<strong>em</strong>plares fragmentários,<br />

entretanto descobertos (Gisbert, 2003:<br />

76), hipótese que Azuar Ruiz julga não ser de<br />

desprezar (Azuar, 2005: 187). Recent<strong>em</strong>ente,<br />

Graziela Berti (2006: 164), revê <strong>para</strong> os Bacini n.º<br />

22 de San Piero a Grado e n.º 2 de San Zeno, dos<br />

mais aproximados morfológica e estilisticamente<br />

<strong>ao</strong>s restantes ex<strong>em</strong>plares, a precedência de<br />

Málaga, com base <strong>em</strong> argumentos que mantém<br />

inéditos, deixando <strong>em</strong> aberto a proveniência<br />

destes objectos.<br />

Os ex<strong>em</strong>plares de Silves, pela descrição das<br />

pastas que observamos <strong>para</strong> os restantes, parec<strong>em</strong>-nos,<br />

à partida, ter<strong>em</strong> com eles grandes afinidades,<br />

contudo, este tipo decorativo necessitava<br />

de pastas claras e ricas <strong>em</strong> calcário (Picon,<br />

Thiriot et Vallauri, 1995: 47), <strong>para</strong> que pudesse<br />

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