Crônicas Agudas Coelho de Moraes - Página de Idéias
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<strong>Crônicas</strong> <strong>Agudas</strong><br />
isso. Há inúmeros manuais para se sentir a alma e perceber as vibrações e a<strong>de</strong>ntrar o<br />
mundo da espiritualida<strong>de</strong>.<br />
Já ouviu falar em motel especial para mentes e almas? Ninguém ouviu. E que dizer<br />
quando se discute o problema da química entre amantes...? O que será que acontece no<br />
momento em que se conhece alguém? Não existe nada <strong>de</strong> espantoso nisso tudo... Mas,<br />
também, ninguém sabe <strong>de</strong> nada... As pessoas preferem a complicação ao invés do que é<br />
mais simples. Quando encontramos a pessoa o que vemos é seu corpo e seu rosto e suas<br />
características humanas. A pessoa olha você e você a olha e surge o interesse. Chamam<br />
isso <strong>de</strong> química. Falta é palavra a<strong>de</strong>quada, na verda<strong>de</strong>. Daí o surgimento da poesia... por<br />
pura falta da palavra a<strong>de</strong>quada. Po<strong>de</strong> ser que a imagem fotográfica do i<strong>de</strong>al que alguém<br />
tem na cabeça combina com a imagem que vê naquele momento. Nada mais do que<br />
programação. Depois, com os anos, tudo muda, é claro, mas, naquele momento que<br />
chamaremos <strong>de</strong> mágico, é fatal: Amor à primeira vista. Amor, por falta <strong>de</strong> palavra melhor.<br />
O inexplicável.<br />
Será que o fenômeno da observação da alma ocorre imediatamente? É como o Allen<br />
Palito em sua prova <strong>de</strong> metafísica, expulso que foi da sala por que o pegaram colando...<br />
ele olhava para a alma da aluna que se sentava ao lado. E na falta <strong>de</strong> uma alma ao<br />
lado?<br />
Provavelmente não passa <strong>de</strong> resposta imediata da biologia e o clamor da manutenção das<br />
espécies. Sim! Nada <strong>de</strong> amor. Apenas clamor. Em primeiro lugar, mandam os ditames<br />
biológicos: temos que preservar a espécie da extinção que se aproxima. Amor é<br />
construção cultural. Assim como o romantismo e o cavaleiro andante e a idéia <strong>de</strong> que a<br />
Terra é centro do Universo. Amor é para todos e com todos: ágape i<strong>de</strong>al. Amor e sexo<br />
são coisas diferentes. É, claro, que as pessoas buscam aliança entre iguais, ou ainda,<br />
buscam compromisso para manter o estado <strong>de</strong> equilíbrio – na melhor das hipóteses – cá<br />
entre nós há quem procure o par que lhe bata na cara ou o sove com ancinho -, que é<br />
prática comum nas socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas e a cultura manda, mas, nada disso tem a ver<br />
com amor. O assunto é bem outro.<br />
No clamor da carne o que se quer é coito. Alguém quer ser coitado.<br />
De preferência com alguém que responda aos seus valores estéticos, pois isso estimula a<br />
obtenção <strong>de</strong> prazer. Se houver coincidência nos gostos certamente rolará algo. Abre-se o<br />
clima. Ilumina-se a cena com valores <strong>de</strong>r romantismo quixotesco e exotismos. Se não<br />
houver coincidência alguma, que é o que ocorre na maioria das vezes; nada rola e parte-<br />
se para outra, que é o que ocorre na maioria das vezes.<br />
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