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Homo eloquens homo politicus. A retórica e a construção da cidade ...

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enAscimentos dA Arte retóricA e GlobAlizAção<br />

Se a <strong>retórica</strong>, com a revolução romântica, entrou<br />

em descrédito, rejeita<strong>da</strong> em nome de uma pretensa<br />

espontanei<strong>da</strong>de e sinceri<strong>da</strong>de poéticas, se os estudos<br />

retóricos foram, depois, perdendo importância,<br />

sobretudo nas escolas <strong>da</strong> Europa continental, tal<br />

facto não significou, como muitos pensaram e alguns<br />

desejaram, a morte de uma arte transmiti<strong>da</strong> ao longo<br />

de mais de vinte e cinco séculos, nem a sua exclusão,<br />

pelas forças criadoras do génio, para o limbo <strong>da</strong>s coisas<br />

inúteis 1 . Exemplo paradigmático é o caso de Henri‑Irénée<br />

1 Na Literatura Portuguesa uma <strong>da</strong>s vozes que se ergueram<br />

contra o normativismo estéril <strong>da</strong> «Arte infeliz, rhetorica chama<strong>da</strong>»<br />

foi Nicolau Tolentino, poeta que a contragosto se viu «mestre de<br />

meninos»; <strong>da</strong> <strong>retórica</strong> escreve: «Ensino as tuas leis, mas não as<br />

creio:/ Ou nunca ergueste fogo em peito alheio, / Ou tu já hoje<br />

estás degenera<strong>da</strong>». Em sentido contrário, porém, se pronunciou<br />

Camilo: «o extermínio <strong>da</strong> Retórica foi uma calami<strong>da</strong>de para os<br />

que pretendem comover. A gente, <strong>da</strong>ntes, conhecia umas figuras<br />

de eloquência que puxavam aritmeticamente um certo número<br />

de lágrimas <strong>da</strong>s coisas, lacrimae rerum, aos olhos <strong>da</strong>s pessoas. Se a<br />

glândula do líquido sentimento não se abria ao toque <strong>da</strong> metáfora,<br />

era seguro fender‑se golpea<strong>da</strong> pela penetrante hipérbole. Hoje em<br />

dia já se não chora senão com uma oftalmia» (Camilo 1903, 2ª<br />

ed.: 54‑55). Em boa ver<strong>da</strong>de, a generalização <strong>da</strong>s proclamações<br />

anti‑<strong>retórica</strong>s é anterior ao romantismo pois é possível documentá‑la<br />

desde finais do séc. XVI. Como observou Fumaroli, os clássicos<br />

franceses, de Montaigne a La Fontaine, parecem unânimes no<br />

desprezo por la rhétorique (vejam‑se os ensaios de Montaigne<br />

«Sur la vanité des paroles», «Contre Cicéron», ou a fábula de La<br />

Fontaine «Le charlatan»). No entanto, hoje, estu<strong>da</strong>‑se com afinco<br />

a <strong>retórica</strong> destes autores, pois La Fontaine, por exemplo, não só<br />

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