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uma falta sensorial. A terrível sensação desse lugar que representa uma<<strong>br</strong> />
arena <strong>para</strong> os surdos pode ser capturada em um fragmento da peça<<strong>br</strong> />
Third Eye (1973), encenada no Teatro Nacional dos Surdos de Nova<<strong>br</strong> />
Iorque e reproduzida por Padden e Humphries (1996). O diálogo, em<<strong>br</strong> />
língua de sinais, da mãe com o filho surdo, no momento em que se<<strong>br</strong> />
dirigem à escola, de acordo com os autores, torna-se uma<<strong>br</strong> />
representação da vasta distância entre o espaço da casa e o espaço dos<<strong>br</strong> />
outros:<<strong>br</strong> />
Perguntei novamente onde estávamos indo, mas ela não<<strong>br</strong> />
deu nenhuma resposta. Pela primeira vez passei a ter uma<<strong>br</strong> />
sensação de medo e proibição. Olhei, meio furtivamente,<<strong>br</strong> />
de relance, sua face, mas estava imóvel e seus olhos<<strong>br</strong> />
estavam fixos em um lugar desconhecido e voltados <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
frente. Nós rodamos durante um longo tempo, então<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong>mos em frente a um prédio enorme... Entramos, e lá<<strong>br</strong> />
dentro, fiquei impressionado com o odor medicinal da<<strong>br</strong> />
instituição. Não parecia um hospital, ou alguma instituição<<strong>br</strong> />
que eu tinha visto antes. Minha mãe inclinou-se, voltoume<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> ela, e disse: “Este é o lugar onde você terá sua<<strong>br</strong> />
educação. Você ficará <strong>aqui</strong> por enquanto. Não se preocupe<<strong>br</strong> />
eu o verei mais tarde”. Depois ela parecia não conseguir<<strong>br</strong> />
dizer mais nada, a<strong>br</strong>açou-me rapidamente, deu-me um<<strong>br</strong> />
beijo, e então, inexplicavelmente, saiu. (Padden e<<strong>br</strong> />
Humphries, 1996, p.19; versão da autora).<<strong>br</strong> />
Padden e Humphries descrevem como o projetor de luz escureceu<<strong>br</strong> />
o ambiente e o menino desapareceu na multidão após o ato. A fronteira<<strong>br</strong> />
colonial estabelecida pelo som é um passo no escuro, que faz divisas<<strong>br</strong> />
entre os dois mundos. Fronteiras que tem a ver com a posição dos<<strong>br</strong> />
enunciadores do discurso. Quem enuncia a diferença? Os surdos? Os<<strong>br</strong> />
lugares da enunciação são geografias que adquirem uma dimensão<<strong>br</strong> />
política arbitrária. Os surdos podem assumir suas culturas e sua língua<<strong>br</strong> />
no espaço materno, mas em outros espaços a sua posição discursiva<<strong>br</strong> />
muda. A pertinência de sua língua e seu discurso depende da conjuntura<<strong>br</strong> />
e das circunstâncias político-espaço-temporais em que são produzidas.<<strong>br</strong> />
Mas, a língua, “segunda pele que carregamos, um chez-soi móvel”, que<<strong>br</strong> />
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