03.06.2013 Views

Clique aqui para realizar o download - Ronice.cce.prof.ufsc.br - UFSC

Clique aqui para realizar o download - Ronice.cce.prof.ufsc.br - UFSC

Clique aqui para realizar o download - Ronice.cce.prof.ufsc.br - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

conhecimento. Alguém não apenas “ouve” um trovão, mas<<strong>br</strong> />

também deve assimilar seu lugar na relação a outras<<strong>br</strong> />

atividades do mundo, como reagir a isso, como falar disso,<<strong>br</strong> />

como conhecer a sua relação com outros sons (Padden e<<strong>br</strong> />

Humphries, 1996, p.23; versão da autora).<<strong>br</strong> />

Os conflitos são instaurados, especialmente, quando são criadas<<strong>br</strong> />

as fronteiras discriminatórias e hierarquizantes que balizam o padrão<<strong>br</strong> />

uniforme a ser seguido socialmente em relação som e à voz. A<<strong>br</strong> />

dinâmica da exclusão dos surdos gira em torno da atribuição de valor<<strong>br</strong> />

imperativo ao que é produzido pelas cordas vocais; uma vocalização que<<strong>br</strong> />

se inscreve em fronteiras coloniais.<<strong>br</strong> />

O fragmento da ficção autobiográfica que segue é representativo<<strong>br</strong> />

dessas operações de sentido:<<strong>br</strong> />

Na escola, ensinaram-me a dizer meu nome. Emmanuelle.<<strong>br</strong> />

Mas Emmanuelle é um pouco uma pessoa exterior a mim.<<strong>br</strong> />

Ou um duplo. Quando falo de mim, digo:<<strong>br</strong> />

- Emmanuelle escuta...<<strong>br</strong> />

- Emmanuelle fez isso ou <strong>aqui</strong>lo...<<strong>br</strong> />

Levo em mim a Emmanuelle surda, e tento falar dela,<<strong>br</strong> />

como se fôssemos duas.<<strong>br</strong> />

Sei pronunciar também algumas outras palavras, algumas<<strong>br</strong> />

pronuncio mais ou menos bem, outras não. O método<<strong>br</strong> />

ortofônico consiste em colocar a mão so<strong>br</strong>e a garganta do<<strong>br</strong> />

reeducador <strong>para</strong> sentir as vi<strong>br</strong>ações da pronunciação.<<strong>br</strong> />

Aprendemos o “r”, o “r” vi<strong>br</strong>a como “ra”. Aprendemos os<<strong>br</strong> />

“f”, os “ch”. O “ch” é problemático <strong>para</strong> mim, nunca<<strong>br</strong> />

consigo. Das consoantes <strong>para</strong> as vogais, so<strong>br</strong>etudo as<<strong>br</strong> />

consoantes, passamos <strong>para</strong> as palavras inteiras.<<strong>br</strong> />

Repetimos a mesma palavra por horas inteiras. Imito o<<strong>br</strong> />

que vejo sob os lábios, a mão colocada so<strong>br</strong>e o pescoço da<<strong>br</strong> />

ortofonista; trabalho como um mac<strong>aqui</strong>nho.<<strong>br</strong> />

[...] É cansativo, e repetimos uma palavra em seguida da<<strong>br</strong> />

outra, sem entendê-la. Um exercício de garganta, um<<strong>br</strong> />

método de papagaio.<<strong>br</strong> />

Os surdos não conseguem articular tudo, é uma mentira<<strong>br</strong> />

afirmar o contrário. E quando conseguem, a expressão fica<<strong>br</strong> />

sempre limitada (Laborit, 1994, p.45).<<strong>br</strong> />

21

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!